quinta-feira, 21 de junho de 2018

Segundas de julho têm sessões extras do espetáculo À Espera


Remencius, Dandrah e Bellissoni - foto por Heloisa Bortz
Nos dias 2, 9 e 16 de julho (segundas-feiras), espetáculo À Espera, faz sessões extras na Oficina Cultural Oswald de Andrade, às 20h. A montagem – que tem texto de Sérgio Roveri e direção de Hugo Coelho -segue em cartaz até o dia 21 de julho, com apresentações às quintas e sextas (às 20h) e sábados (às 18h). Os ingressos são grátis.

Com elenco formado por Ella Bellissoni, Jean Dandrah e Regina Maria Remencius, a história traz três personagens que podem estar em qualquer lugar, em qualquer tempo: duas mulheres, sem nenhum tipo de memória acordam sempre na mesma hora, à espera de algo, até que um dia recebem a visita inesperada de um homem que veio comemorar um aniversário.

A ação acontece no despertar do que deveria ser um sono profundo, Uma (Remencius) e Outra (Bellissoni) se deparam com o sol que insiste em nascer todos os dias, numa indecifrável realidade. Uma é a mais velha. Não anda, vive na cadeira de rodas, não dorme nunca, não sonha e gosta de falar. À noite, conta os pingos que caem de uma torneira e, durante o dia, ocupa-se ouvindo relatos dos sonhos de Outra. Uma não tem memória, nem lembrança do passado. Outra é jovem e cuida de Uma. Sente medo. Dorme, sonha e inventa sonhos para entreter Uma. Ela também não tem memória de quem foi. Ambas não sabem como foram parar ali e esperam que um dia haja explicação para tamanha espera.

Ele (Dandrah) chega sem avisar para uma festa de aniversário, trazendo duas garrafas de bebida, a promessa de um bolo e algumas histórias. Ele conta que em uma festa já foi capaz de cantar 137 vezes uma mesma canção. Logo após sua chegada, Outra aproveita para sair e conhecer o mundo lá fora, e volta com algumas respostas.

Sérgio Roveri diz que o texto, escrito há cerca de dois anos, foi inspirado em uma imagem do juízo final que sempre o perseguiu, desde criança. “Como seria acordar em um (não) lugar apocalíptico e nada acontecer? Embora não saibam exatamente o que estão fazendo ali, os personagens têm as mesmas inquietações, têm a consciência de que haja algum propósito. Estariam aguardando o tal dia do juízo final?”. Ele explica ainda que, nessa espera atemporal, o que os une talvez seja a esperança. “Eles podem representar o fim, mas nada impede que seja também um início. Ainda que o juízo final seja um conceito muito ligado à religião, não é esta particularidade que o texto aborda, completa o autor”.

Ao contrário do que seria um espetáculo realista, À Espera coloca o espectador diante da intrigante historia dessas personagens que se encontram em lugar e tempo indefinidos. “Apesar de não terem qualquer pista que as remetam a alguma ideia de tempo e identidade, essas mulheres não se desesperam”, diz Bellissoni. “Ao levar uma existência misteriosamente rotineira, acreditam que algo maior está por acontecer, que alguma coisa pode alterar ou mesmo dar um sentido a um cotidiano tão vazio. Não é uma espera por acomodação. Não tem outra possibilidade”, diz Remencius.

Regina Maria Remencius - foto por Heloisa Bortz
Embora se encontrem em uma situação de contornos extremados, os três personagens podem ser uma metáfora do ser humano diante do risco, do perigo, do desconhecido e, principalmente, diante da necessidade de reconstrução. Abordando a impossibilidade de entendimento da vida, do significado da nossa existência, a peça questiona dois caminhos possíveis, o da desistência ou da possibilidade de enfrentá-la. Para o diretor Hugo Coelho, “À Espera é um texto que induz à reflexão. Não reafirma certezas, propõe questionamentos sobre nossos posicionamentos diante da vida, fazendo do teatro um espaço de reflexão crítica sobre a realidade. A falta de memória - dos personagens assim como da nossa história - nos impossibilita de construirmos uma identidade e decidirmos o nosso destino”.

Ficha técnica / Serviço

Texto: Sergio Roveri. Direção: Hugo Coelho. Elenco: Ella Bellissoni, Jean Dandrah e Regina Maria Remencius. Cenário: David Schumaker. Iluminação: Fran Barros. Design de aparência de atores: Adriana Vaz Ramos. Música original, produção musical e desenho de som: Ricardo Severo e Rafael Thomazini. Assistência de direção: Fernanda Lorenzoni e Larissa Matheus. Direção de produção: Fernanda Moura. Produção: Palimpsesto Produções Artísticas. Assistência de produção: Fernanda Ramos. Fotos: Heloísa Bortz. Identidade visual: Denise Bacellar. Mídias sociais: Verá Papini. Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação. Realização: Ella Bellissoni, RMR Produção Artística e Núcleo 137.

Sinopse - Duas mulheres acordadas do que deveria ser um sono profundo se deparam com o sol que insiste em nascer, todos os dias, na mesma hora numa indecifrável realidade. Elas recebem a visita inesperada de um homem para uma festa de aniversário. Embora não saibam exatamente o que estão fazendo naquele lugar, os personagens têm consciência de que estão ali por algum propósito.

Espetáculo: À Espera
Temporada: 8 de junho a 21 de julho 
Horários: Quintas e sextas (às 20h) e sábados (às 18h)
Apresentações extras: 2, 9 e 16 de julho – segundas, às 20h
Ingressos: Grátis - Retirar com 1h de antecedência.
Classificação: de 14 anos. Gênero: Drama. Duração: 60 min.
Oficina Cultural Oswald de Andrade (Sala 7)
Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro - São Paulo/SP
Tel: (11) 3221­5558. Capacidade: 30 lugares.
Acessibilidade. Café. Não possui estacionamento.

Assessoria de imprensa: VERBENA Comunicação

Eliane Verbena / João Pedro
Tel: (11) 2738-3209 / 99373-0181 - verbena@verbena.com.br

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Sesc Pinheiros recebe estreia do infantil Os Lavadores de Histórias com a Cia de Achadouros


Montagem lúdica, dirigida por Tereza Gontijo, trata de memórias esquecidas da
infância guardadas em objetos abandonados. A temporada vai de 15 de julho a 19 de agosto.

O Sesc Pinheiros recebe a estreia do espetáculo infantil Os Lavadores de Histórias, da Cia. de Achadouros, no dia 15 de julho (domingo), em duas sessões: às 15h e às 17h.

A montagem, dirigida por Tereza Gontijo, tem dramaturgia assinada por Silvia Camossa, concebida em processo colaborativo, a partir das cenas improvisadas pelo grupo em sala de ensaio.

Os Lavadores de Histórias são três personagens - Urucum, Tom Tom e Jatobá - interpretados pelos atores palhaços Emiliano Favacho, Mariá Guedes e Felipe Michelini, respectivamente. À noite, eles visitam quintais abandonados para lavar objetos esquecidos como brinquedos e roupas, e reviver momentos especiais da infância. Eles carregam consigo o “rio da memória”, no qual vão lavando as coisas que encontram e revelando histórias, fantasias, personagens e brincadeiras. Por meio de cenas cômicas, circenses, teatro de sombras e objetos, o espetáculo faz uma sensível reflexão sobre a relação da criança com o mundo real e da imaginação, e lança sobre a infância o olhar lúdico e poético.

Tendo como ponto de partida a potente e delicada poesia de Manoel de Barros, a concepção valoriza a intimidade com as pequenas coisas, a beleza contida em sutilezas, a graça da imaginação, as brincadeiras espontâneas e colaborativas e o contato com a natureza. A partir de uma imersão na obra do poeta, os atores foram para as ruas do bairro São Mateus em busca de histórias reais da memória afetiva de pessoas comuns (moradores antigos e crianças) que foram usadas em cenas da peça. “Um dos poemas de Manoel de Barros que mais nos inspirou foi Desobjeto, que fala sobre como a imaginação pode dar novos sentidos e funções a um objeto e transformá-lo em outras coisas na hora de brincar”, comenta Felipe Michelini. Os protagonistas contam que lembranças de suas próprias infâncias e de outras pessoas envolvidas na produção também estão no enredo.

A diretora Tereza Gontijo – mineira de Belo Horizonte, que também é palhaça, integrante dos Doutores da Alegria e da Cia. Vagalum Tum Tum - enfatiza que Os Lavadores de História foi concebido como um espetáculo para a família. “Enquanto a palhaçaria é diversão garantida para as crianças, o tom lírico e poético da peça toca os adultos ao acionar o dispositivo de suas lembranças da infância”. Ela ainda comenta que o processo junto à Cia. de Achadouros teve como estímulo o prazer do jogo de palhaços no trabalho de criar para o público infantil.

Urucum, Tom Tom e Jatobá sabem que nas coisas esquecidas nos quintas das casas estão guardadas muitas histórias de meninos e meninas que cresceram e já não se lembram de seus sonhos e brincadeiras. As histórias vão surgindo à medida que os objetos e brinquedos vão sendo lavados e revelados.

Ente as cenas está O menino que queria voar: um lençol manchado revela o garoto que queria viajar pelo mundo. Às vezes, fazia xixi enquanto dormia e depois se escondia embaixo da cama, sonhando em voar e unir os quatro continentes. Tem também A menina triste que descobre o que a faz feliz: um lenço colorido traz a história da menina que vivia triste até conhecer um menino mágico. Na história, inspirada nas conversas com a sambista Tia Cida, moradora da região de São Mateus, a menina conhece um amigo quando vai buscar lenha para o fogão e o acompanha até o acampamento cigano, descobrindo ali o seu amor pela música. Outro momento é O menino que vai para a lua com o amigo imaginário: um sapato velho se transforma em um interfone secreto para anunciar a missão da primeira criança a pisar na lua (história do ator Felipe). E ainda A menina que encantava os passarinhos: uma velha escova de cabelos faz as personagens reviverem a história de uma rádio de passarinhos (lembrança da atriz Mariá). Na programação desta rádio muitas aves participam: a andorinha dá receita de bolinho de chuva (chuva mesmo!); o tico-tico, que voa muito alto, faz a previsão do tempo; na transmissão do futebol, os jogadores são pássaros; e a radionovela dramatiza a história do menino que ficou chateado porque ia ganhar uma irmãzinha - não um “irmãozinho para brincar” -, mas ele descobre a alegria dessa nova relação (história do ator Emiliano).

Para o grupo, Os Lavadores de Histórias quer fazer o público lembrar coisas que não deveriam ser esquecidas, lembrar que brincar junto é fundamental em tempos de isolamento, e quebrar as amarras dos adultos pela memória afetiva da infância para que pais e filhos revivam a magia do brincar.

Cia. de Achadouros

A Companhia de Achadouros formou-se em 2012, ainda com o nome de A Melhor da Cidade Cia. Teatral, a partir do encontro de artistas em um curso de máscaras, ministrado por Cida Almeida e Sofia Papo, na SP Escola de Teatro, quando estudaram técnicas do universo das máscaras, passando pela commedia dell’arte e pelo bufão até a menor máscara do mundo: o nariz vermelho do palhaço. Em 2014, o coletivo passou a pesquisar palhaçaria na região de São Mateus, na zona leste de São Paulo. Contemplado com o Programa VAI-2014, o grupo realizou o projeto O Espetáculo Mais Prestigioso do Século Vai a São Mateus que, além da realização da peça, compreendeu uma série de incursões pelo bairro (cortejos cênicos e musicais, saídas livre de palhaço), pesquisando a linguagem do palhaço e sua relação com o público. O Espetáculo Mais Prestigioso do Século - com direção de Sofia Papo e dramaturgia de Cida Almeida – foi concebido como teatro de rua, explorando a linguagem do palhaço e números circenses, trabalho esse que direcionou a pesquisa do grupo para a ação do palhaço na rua como interventor e facilitador de relações. Um palhaço que não necessariamente apresenta números ou cenas, mas que promove uma quebra no tempo-espaço cotidiano, buscando uma relação direta com o interlocutor em momentos de partilha de afeto.

Em 2017, o grupo debruçou-se sobre as questões da infância na região com o projeto Elogio à Infância: Escavando os Meninos que Fomos - trabalho que reúne histórias vividas com pessoas em São Mateus, memórias da infância dos integrantes do grupo e a poesia de Manoel de Barros. O processo resultou no espetáculo Os Lavadores de Histórias, em parceria com a diretora Tereza Gontijo e a dramaturga Silvia Camossa. Em 2018, o grupo passa a se chamar Cia de Achadouros, nome encontrado na poesia de Manoel de Barros que melhor define a essência do coletivo: "Mas eu estava a pensar em achadouros de infâncias. Se a gente cavar um buraco ao pé da goiabeira do quintal, lá estará um guri ensaiando subir na goiabeira. Se a gente cavar um buraco ao pé do galinheiro, lá estará um guri tentando agarrar no rabo de uma lagartixa. Sou hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada às costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos”. Além da pesquisa teatral, os integrantes da companhia também desenvolvem trabalho pedagógico, ministrando aulas de teatro, palhaçaria e intervenção urbana na Casa de Cultura São Mateus, Casa de Cultura Parque São Rafael e Casa de Cultura Chico Science.

Ficha técnica / Serviço

Espetáculo infantil: Os Lavadores de Histórias
Com Cia. de Achadouros
Dramaturgia: Silvia Camossa
Direção: Tereza Gontijo
Atuação: Emiliano B. Favacho (Urucum, Gururu e Cipriano), Felipe Michelini (Jatobá, Burguinha e Menino Cigano) e Mariá Guedes (Tom Tom, Menina Triste e Menina Sarinha)
Cenografia: Alício Silva
Figurinos: Cleuber Gonçalves
Iluminação e fotografia: Giuliana Cerchiari
Adereços: Clau Carmo e Cia. De Achadouros
Música: Kevin Macleod
Preparação corporal: Erickson Almeida e Ana Maíra Favacho
Edição de som: Rodrigo Regis
Grafite do painel: Celso Albino
Produção associada: Escultural Produções de Arte
Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação
Realização: Sesc

Sinopse - Urucum, Tom Tom e Jatobá são lavadores de histórias que, todas as noites, visitam quintais da infância para lavar o que ali fora esquecido e revelar memórias. Eles ficam tocados, mas também se divertem muito com as personagens e segredos de cada história revelada. O espetáculo convida o público a reviver as próprias memórias e relembrar a infância com o intuito de que não se perca o que foi vivido em cada lugar.

Estreia: 15 de julho. Domingo, às 15h e às 17h
Temporada: 15 de julho a 19 de agosto. Domingos, às 15h e às 17h
Ingressos: R$ 17,00 (inteira). R$ 8,50 ((meia: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência). R$ 5,00 (credencial plena do Sesc: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes)
Grátis para crianças até 12 anos, com retirada de ingresso
Duração: 60 min. Livre para todos os públicos (recomendação etária: a partir de 4 anos)
Local: Auditório (3º andar) - 98 lugares

Sesc Pinheiros
Rua Paes Leme, 195
Tel.: (11) 3095-9400
Bilheteria: Terça a sábado (10h às 21h), domingos e feriados (10h às 18)

Estacionamento c/ manobrista: terça a sexta (7h às 21h30), sábado (10h às 21h30) e domingo e feriado (10h às 18h30). Taxas | veículos/motos: credenciados plenos no Sesc - R$ 12,00 (três primeiras horas) e R$ 2,00 (a hora adicional); não credenciados no Sesc - R$ 18,00 (três primeiras horas) e R$ 3,00 (a hora adicional).
Transporte público: Metrô Faria Lima – 500m | Estação Pinheiros – 800m.


Assessoria de imprensa - espetáculo: VERBENA Comunicação
Eliane Verbena / João Pedro
Tel: (11) 2738-3209 / 99373-0181 - verbena@verbena.com.br

Assessoria de Imprensa - Sesc Pinheiros
Poliana Queiroz / José Maurício Lima/ Yuri Pedro
Contatos: (11) 3095.9423 / 9737 / 9425
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quinta-feira, 14 de junho de 2018

Caixa de Fuxico estreia Cabeças Trocadas, da obra de Thomas Mann, na SP Escola de Teatro


Primeira montagem adulta do grupo tem Andrea Cavinato como protagonista de uma história que usa a metáfora para refletir sobre o feminino, do patriarcado aos dias atuais.

O espetáculo Cabeças Trocadas - do grupo Caixa de Fuxico da Cooperativa Paulista de Teatro - estreia no dia 6 de julho (sexta, às 21h) na SP Escola de Teatro, onde cumpre temporada até o dia 6 de agosto.

Adaptada do romance do alemão Thomas Mann pela atriz Andrea Cavinato, a história aborda sentimentos humanos intensos e a forma como as atitudes podem expressar nossos desejos mais secretos. A direção é assinada por Rosana Pimenta.

No dia 15/7, após o espetáculo, haverá debate sobre teatro épico com Samir Signeu Porto Oliveira, coordenador e professor da Escola de Teatro Recriarte e doutor em Artes Cênicas pela USP. Já no dia 5/8, atriz e diretora conversam com a plateia sobre o processo da montagem.  

Esta é a primeira montagem do Caixa de Fuxico, atuante desde 1999, destinada ao público adulto. Fruto de um longo processo de experimentação, a partir da densa e complexa narrativa de Mann, a peça expõe questões ligadas ao patriarcado e ao feminino em uma trama carregada de metáforas e ironia.

O enredo se passa em uma aldeia na Índia. Dois amigos - bem diferentes tanto fisicamente como na condição social e na forma de pensar a vida - vivem uma estranha aventura com uma mulher, a bela Sita. Em um momento de desespero, Sita toma a decisão impensada, ajudada pela deusa Kali, de trocar a cabeça do marido com a do amigo. As consequências de suas escolhas são surpreendentes e acabam por custar a vida desse trio amoroso.

Andrea conta que leu o romance, 18 anos atrás, e sempre carregou consigo o desejo de encená-lo. “As Cabeças Trocadas me impressionou pela complexidade como Mann aborda a representação do feminino, a espiritualidade e o poder do inconsciente usando a metáfora; ele é extremamente irônico e mordaz, mas o faz de maneira ambígua”. Ela ainda afirma que, embora adaptado para a sala de teatro, seu texto mantém as características da história original.

Rosana Pimenta, que tem reconhecido trabalho de pesquisa sobre danças indianas, foi convidada, em um primeiro momento, para fazer a preparação corporal de Andrea, mas acabou assumindo a direção da atriz. Segundo ela, “a peça não aprofunda no conhecimento da cultura oriental, mas propõe questionar e refletir sobre a nossa própria cultura, flertando com os códigos do oriente, a partir da nossa perspectiva ocidental com suas amplitudes e amarras”. E Andrea Cavinato destaca como importante aspecto reflexivo da obra o fato da deusa Kali conduzir a realização dos desejos de Sita, subvertendo as regras patriarcais, onde a mulher é propriedade do pai ou do marido não tendo direito a escolhas ou desejos.

O espetáculo Cabeças Trocadas tem sua estética no teatro épico. A encenação usa o recurso da narrativa, do ritual - somado ao teatro de sombras e à música ao vivo - para compor esse enredo filosófico e discutir as relações entre físico e espiritual, desejo e tabu, sagrado e profano. Andrea Cavinato, que está em cena junto com a musicista Estela Carvalho, conduz a história e interpreta todos os personagens.

A música executada ao vivo é propícia aos climas da narrativa, tanto no âmbito mítico dos mantras como no universo pop que já se instala Índia. Estela toca violão, flauta, escaleta, acordeon e percussão, criando uma paisagem sonora paralela, mas que também compõe a cena junto com gestos, imagens e palavras. E o teatro de sombras propõe um jogo metafórico sobre a vida, fazendo a ponte com o universo dos sonhos e da imaginação.

A atriz explica que o processo foi desenvolvido na sala de ensaio, da adaptação à encenação. “Cabeças Trocadas é um teatro de pesquisa do gesto e do movimento corporal para comunicar imagens por meio do experimento nomeado ‘a carne aberta’, no qual o ator cria um corpo que ‘vibra’ para alcançar a integração com o espírito e dar intenção às palavras”. A dança indiana Barathanatyan foi objeto de treinamentos da diretora com a atriz, explorando o viés narrativo desse estilo, caracterizado pela codificação de gestos. Inserido no jogo da encenação, o expectador se posiciona em círculo e desfruta metaforicamente do “sorteio” dos lances da vida. Como um ritual, a encenação leva o público a conhecer segredos sobre a existência humana.

Sobre o texto original

Thomas Mann (1875 - 1955) foi escritor, romancista, ensaísta, contista e crítico social do Império Alemão. O conto original, no qual se inspirou faz parte dos antigos Vedas, a mais antiga literatura indo-europeia, que são textos escritos em sânscrito, contendo mantras, ensinamentos da antiga Índia e louvor a vários deuses. Ele aparece em Contos do Vampiro: histórias de tradição oral traduzidas do original de Somadeva - estudioso das religiões que viveu no século XI. O conto foi adaptado e romanceado por Mann e publicado como As Cabeças Trocadas, sendo apresentado como uma narrativa erótica, em que o autor constrói um tratado sobre o espiritual e a matéria na busca pela verdade da existência humana. A história, do ponto de vista do narrador europeu, relata como vivia uma mulher na antiga Índia, os costumes, os deuses e rituais. Uma cultura tradicional que preserva segredos, cuja divisão de castas e religião ainda choca e incomoda o Ocidente.

A história parte de Shridaman (brâmane culto e espiritualizado) e Nanda (belo e rude trabalhador da terra), dois jovens amigos inseparáveis. Ambos se apaixonam por Sita, após vê-la tomando o banho de purificação. Nanda, vendo o sofrimento do amigo, ajuda-o a desposar Sita mesmo amando-a. Ela engravida e os três viajam em uma carroça para levá-la até seus pais. Shridamam percebe um olhar de desejo de sua esposa para o amigo e resolve parar no santuário da tenebrosa mãe Kali, onde decepa a própria cabeça para libertar a mulher e o amigo. Nanda vai procurá-lo e percebe que ele está morto; sente-se culpado e resolve seguir seu amigo no suicídio. Sita entra no templo, encontra os dois mortos e decide se enforcar ao perceber sua culpa. A deusa Kali aparece e a impede de cometer o ato, além de lhe dar a chance de tê-los de volta. É quando Sita decide trocar-lhes as cabeças e, a partir daí, terá que viver com as consequências de sua escolha.

Ficha técnica / Serviço

Texto e concepção: Andrea Cavinato – adaptação de As Cabeças Trocadas, de Thomas Mann. Direção: Rosana Pimenta. Interpretação: Andrea Cavinato. Música ao vivo: Estela Carvalho. Direção de arte: Juliana Bertolini. Pesquisa musical: Helena Rosenthal, Juliana Bertolini e Estela Carvalho. Orientação sobre teatro de sombras: Andi Rubinstein. Iluminação: Zhé Gomes. Apoio em produção: Dani Caielli. Fotos: Priscila Reis e Vanderlei Yui. Costureira: Benê Calistro. Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação. Produção: Carlitos Tostes.

Sinopse - Numa aldeia na Índia, dois amigos fisicamente diferentes com formas diversas de pensar a vida, vivem uma estranha aventura com a bela Sita que, num momento de desespero e com a ajuda da deusa Kali, toma a decisão de trocar a cabeça do marido com a do amigo. O espetáculo utiliza dos recursos da narrativa, do ritual, do teatro de sombras e da música ao vivo.

Espetáculo: Cabeças Trocadas
Estreia: 6 de julho. Sexta, às 21h
Temporada: 6 de julho a 6 de agosto
Dias e horários: sexta, sábado e segunda (às 21h) e domingo (às 19h)
Ingressos: R$ 30,00 (meia entrada: R$ 15,00)
Bilheteria: 1h antes das sessões. Aceita cartão de débito e dinheiro.
Duração: 75 min. Classificação: 16 anos. Gênero: Drama.

Bate-papo após sessão
15/7 – Samir Signeu Porto Oliveira: Teatro Épico
5/8 – Rosana Pimenta e Andrea Cavinato: Processo criativo

Local: SP Escola de Teatro (Sala R1)
Praça Franklin Roosevelt, 210 - Consolação. São Paulo/SP
Tel: (11) 3775-8600 - http://www.spescoladeteatro.org.br/
Acesso universal. Ar condicionado. Capacidade: 60 lugares.

Caixa de Fuxico
Facebook: /Caixa-de-Fuxico
Canal no Youtube: /teatrocaixadefuxico

Perfis

Andrea Cavinato (adaptação/interpretação) - Atriz, contadora de histórias, pesquisadora e professora de teatro, Andrea é fundadora do grupo Caixa de Fuxico da Cooperativa Paulista de Teatro com o qual atua, desde 1999, sendo indicada ao prêmio FEMSA de atriz coadjuvante por A Menina, o Príncipe e a Noite. Em 2016, com o Núcleo Macabéa, atuou no espetáculo Epístola.40 Carta (Des)Armada aos Atiradores, com direção de Edgar Castro e dramaturgia de Rudinei Borges. Também integrou os grupos Teatro Ventoforte e Os Satyros, além de desenvolver formação-poética imaginativa para a Trupe Sinhá Zózima e o Núcleo Macabéa. É autora de artigos, capítulos e materiais didáticos publicados em revistas, cadernos e livros. Em sua formação estão presentes nomes como Ilo Krugli, Eugenio Barba, Hassane Koyaté, Regina Machado, Jesser de Souza (Lume), Cristiane Paoli Quito, Tica Lemos, Augusto Omolú, Roberto Bacci, Cacá Carvalho, Tião Carvalho, Isadora Prates Dias e outros. É Doutora em Educação pela USP com a tese Processos de Criação: Teatro e Imaginário (publicada em livro pela Editora CRV). Fez doutorado sanduíche com Bolsa da CAPES para frequentar a universidade italiana Bicocca, em Milão, e participar de atividades do grupo Odin Theatret, dirigido por Eugenio Barba, em Milão e Hostelbro, na Dinamarca. É professora convidada no curso de Especialização em Linguagens da Arte: Teoria e Prática da USP.

Rosana Pimenta (direção) - Atriz, arte-educadora, dançarina e pesquisadora da cultura popular brasileira. Iniciou no teatro com o grupo Ventoforte, dirigido por Ilo Krugli, processo que legitimou a congruência entre arte e educação. Integrou o Grupo Caldeirão, da Cooperativa Paulista de Teatro, de 2008 a 2011, onde atuou como atriz, produtora e preparadora corporal. Desde 2006, pratica as danças clássicas indianas que estruturam seu trabalho com dança-teatro. Em Chennai, Índia, aprimorou-se em bharatanatyam com a professora Maya Vinaya, da Escola Triveni de Danças Clássicas Indianas. Atualmente, dedica-se à arte-educação, trabalha na formação do Bendita Água de Pesquisa Cênica, coletivo de artistas que pretende a partir do estudos da tradições resignificar matérias primas de matrizes populares procurando, investigando e experimentando novas possibilidades nesse fazer, gerando processos criativos que sejam capazes de alimentar a busca pela brasilidade e sua ponte com a universalidade, que foi duas vezes contemplado com o VAI.  É graduanda em Arte-Teatro no Instituto de Artes da UNESP.

Estela Carvalho (música) - É musicista, educadora musical e artista têxtil. Licenciada em Música pela Unesp, atuou como arte-educadora, educadora musical e regente coral em escolas, projetos sociais e centros de cultura. Participou de diversos grupos musicais e teatrais como cantora, compositora e instrumentista. Atualmente integra o núcleo de contadores de histórias do Coletivo Agbalá, o grupo Caixa de Fuxico e o núcleo de criação cênica Desabafo Coletivo, além de desenvolver projetos em arte têxtil (bordado).

Juliana Bertolini (direção de arte) - É designer, musicista e professora. Estudou violão erudito na Universidade Livre de Música (atual CLEM Tom Jobim) e canto com Carmina Juarez. Participou de diversos grupos musicais como instrumentista e cantora, é mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie. Trabalha com direção de arte para teatro e design de moda, é professora  do curso de Desenho Industrial da Universidade Mackenzie.

O Grupo - O Caixa de Fuxico da Cooperativa Paulista de Teatro, fundado em 1999, reúne profissionais – sejam eles integrantes ou colaboradores – que têm em comum o interesse pelo ensino de arte e do teatro para crianças e jovens, bem como pela pesquisa da cultura brasileira em suas manifestações musicais dramáticas, folguedos e festas populares. A linguagem teatral do grupo mescla elementos da narrativa, do imaginário, do teatro de animação e da estrutura das festas da cultura popular. A música é realizada ao vivo, aliada ao texto, para criar imagens pelo teatro e pela palavra. Em clima de espetáculo folclórico vem contando histórias através do teatro e da narrativa e está sempre em busca de novos contos que possuam temas universais. A Caixa de Fuxico realizou temporadas em diferentes teatros e espaços como no Teatro Ventoforte (2004), Sesc Pinheiros (2006), Teatro da Vila (2007), Centro Cultural São Paulo (2007), Teatro Paulo Eiró (2008) e Sesc Santana (2009), além de participar do Circuito Cultural Paulista, em 2009. Os espetáculos do grupo são os seguintes: A Dança das Cores (1999), Um Mar de Outras Histórias (2001), A Odisseia (2001), A Fada Oriana (2002), A Batalha dos Encantados (Histórias e Cânticos dos Reinos Yorùbá) (2003), O Grande Teatro de Olhar o Tempo (O Mahabharatha) (2004), A Menina, o Príncipe e a Noite (2007), Lá em Cima do Telhado Tem... (2010), Histórias Avoadas (2013), A História de Budur e Kamar (2017) e Cabeças Trocadas (2018). O grupo também foi indicado duas vezes ao Prêmio FEMSA de Teatro Infantil: Categoria Especial pela pesquisa e resgate de histórias afro-brasileiras por A Batalha dos Encantados e Atriz Coadjuvante (Andrea Cavinato) por A Menina, o Príncipe e a Noite, além de ter projeto aprovado no PAC 22 - Concurso de Apoio à Produção Profissional de Espetáculos Inéditos de Teatro do Governo do Estado de São Paulo.


Assessoria de imprensa: VERBENA comunicação
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