quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

PAINEL SUSTENTÁVEL: Projeto leva capacitação profissional e artística a Ermelino Matarazzo a partir da reutilização de garrafas de vidro

Evandro Damasceno (divulgação)
A comunidade do bairro Ermelino Matarazzo, na zona leste paulistana, ganha o projeto Painel Sustentável que tem como pilar a economia circular, a partir da reciclagem de garrafas de vidro, da capacitação e formação profissional para sua transformação e da valorização da história local por meio da arte e da consciência ambiental.

Numa parceria entre a comunidade, instituições sociais, profissionais, artistas locais e a Owens Illinois (maior fabricante de embalagens de vidro do mundo, instalada em Ermelino Matarazzo), o projeto tem início em janeiro de 2021. A programação (toda gratuita) oferece oficinas de formação e capacitação para jovens, workshops e palestras para os moradores e alunos de escolas da região, além da entrega de um minidocumentário (sobre o projeto e o bairro) e do Painel Sustentável (obra de arte com 50 m² que resultará das oficinas e ficará exposta permanentemente em local público como um presente para os moradores).

No dia 5 de janeiro começam as oficinas regulares de Design em Vidro pelo Método Fusing. A técnica do fusing - aprimorada, ao longo de 10 anos de pesquisa, pelo artista plástico Evandro Damasceno - permite transformar a garrafa de vidro em peças artísticas pela alta temperatura (800ºC). Evandro vai ministrar as aulas teóricas e assinar o Painel Sustentável, construído em pastilhas de vidro reciclado de garrafas, que será criado coletivamente durante as oficinas, tendo como inspiração a história do bairro Ermelino Matarazzo.

Paralelamente, acontecem as Oficinas de Audiovisual (de foto e vídeo) para o público jovem, com coordenação do professor Alexandre de Oliveira, cujo resultado final será a produção de um minidocumentário com o registro do processo de reciclagem e transformação das garrafas de vidro até a criação do Painel Sustentável, além e apresentar o bairro com suas histórias e curiosidades. Completando a programação, ocorrem palestras nas escolas sobre economia circular (reciclar / reduzir / reutilizar) e encontros com a comunidade por meio de palestras e workshops com o intuito de conscientizar e informar sobre a importância da economia sustentável, os benefícios da redução de resíduos vítreos e as oportunidades - de trabalho, artísticas e de empreendedorismo - que essa atitude consciente é capaz de gerar para a população.

As oficinas serão realizadas na Fábrica de Vidro Palmares, coordenada pelo líder comunitário Khondi, que é uma instituição especializada na área do fusing artesanal e artístico com foco em garrafas de vidro, gerando economia solidária e transformação pela arte em Ermelino Matarazzo. Foi desta instituição que Evandro Damasceno emergiu como especialista na técnica. Na adolescência, integrava um projeto social que despertou nele o interesse em transformar a garrafa de vidro em arte. Sobre o Painel Sustentável, Khondi diz que “espera que o projeto inspire outras comunidades a montarem suas fábricas de reciclagem de garrafas de vidro, retirando-as das ruas e dos rios, gerando renda para artistas plásticos pela transformação do ‘lixo’ em ‘luxo’”.

Evandro Damasceno e Gisele Rosa
O vidro, que leva milhares de anos para se decompor na natureza, tem infinitas possibilidades de transformação. A elaboração do projeto levou em conta a questão ambiental, diante do baixíssimo valor pago pelas garrafas nos centros de recolhimento de material reciclável, desestimulando o seu recolhimento. O projeto Painel Sustentável foi desenvolvido após estudos sobre a garrafa de vidro, tendo a técnica desenvolvida por Evandro Damasceno como alternativa para retirar esse resíduo da natureza por meio da reciclagem artística. O local escolhido para dar corpo a esta iniciativa não poderia ser mais apropriado. Além de Ermelino Matarazzo ser um bairro periférico com escassas possibilidades de trabalho e de formação para os jovens, abriga a maior fabricante de garrafas de vidro (a Owens Illinois que abraçou e patrocina o projeto) e também a única fábrica de reciclagem das mesmas garrafas de que se tem conhecimento (a Fábrica de Vidro Palmares, que vai abrigar as oficinas).

Integrar a comunidade ao seu ambiente pela conscientização e geração de renda local, diminuindo o índice de vulnerabilidade e potencializado o sentido de cidadania é o propósito do projeto. “É importante mostrar para os jovens que há possibilidades de trabalho e renda no próprio bairro, partindo da oportunidade de uma formação agregada à versatilidade da reciclagem das garrafas e ao estímulo para a criatividade artística”, finaliza Gisele Rosa, curadora do Painel Sustentável, artista plástica e design de peças feitas com garrafa de vidro.

Protocolos de segurança para prevenção da covid-19 – Durante a realização do projeto Painel Sustentável serão respeitados todos os protocolos de segurança indicados Governo do Estado de São Paulo, como uso de máscara, viseiras, álcool em gel, medição de temperatura e distanciamento entre as pessoas. As oficinas ocorrerão com número reduzido de alunos em espaço amplo e arejado, e aulas teóricas estão sendo avaliadas para o formato online, se necessário, assim com as palestras e os workshops.

O projeto Painel Sustentável é uma realização da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo por meio do ProAC - ICMS - Programa de Ação Cultural, com patrocínio da Owens Illinois, produção da Lenci Cultura Incentivada e apoio institucional da Fábrica de Vidro Palmares. O projeto tem a direção geral de Marcos Lenci com assistência de Kiko Vianello e Fernanda Couto, curadoria de Gisele Rosa, oficinas de vídeo com Alexandre de oliveira e Mitcho, consultoria de Khondi, Evandro Damasceno como artista plástico convidado e administração de Cleo Chaves.

Projeto: Painel Sustentável
Local: Bairro Ermelino Matarazzo, Zona Leste. São Paulo/SP.
Todas as atividades são gratuitas
Oficina 1: Design em Vidro pelo Método Fusing
Oficina 2: Oficinas de Audiovisual
Início: 5 de janeiro de 2020
Dias/horários: terças e quintas - 9h às 12h ou 14h às 17h
Vagas: 20 (cada oficina). Publico: jovens a partir de 18 anos
Informações e inscrições: painelsustentavel@gmail.com (com Gisele Rosa)
Palestras / Workshops / Inauguração do Painel Sustentável: Datas e horários serão divulgados oportunamente.

Informações à imprensa: VERBENA Assessoria
Eliane Verbena / João Pedro
(11) 2548-8409 / 99373-0181- verbena@verbena.com.br

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Arte urbana em projeto do Teatro do Incêndio visa consciência coletiva e valorização histórica do Bixiga

Mural Saracura em construção.
A Cia. Teatro do Incêndio dá início ao projeto Cidade Extensão da Gente, idealizado e coordenado pelo coletivo teatral cuja sede está localizada na esquina das ruas Treze de Maio e Santo Antônio, imóvel histórico, de 1905, na entrada do tradicional bairro Bixiga, região da Bela Vista, em São Paulo, em parceria com a Secretaria Municipal do Turismo e curadoria e produção do Instagrafite. O imóvel é tombado como Patrimônio Cultural e Bem Imaterial pelo CONPRESP - Conselho Municipal de preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo.

O belo e singelo mural de arte urbana, o ‘Saracura’, criado pelo artista visual e muralista Diego Mouro, é a primeira ação (em andamento) do projeto, entre várias que buscam transformar o espaço urbano em lugar de vida e convivência. O tema do painel alinha os afetos cotidianos da comunidade com a história do bairro, ocupando o paredão superior do prédio anexo à sede do Teatro do Incêndio, como uma grande proa vista em perspectiva logo na entrada do bairro. A conexão do Diego com o Instagrafite foi importante para a realização. “A escolha do Diego foi fundamental para retratar o histórico desse bairro que precisa ser ouvido e interpretado. A parceria rendeu uma simbiose assertiva com o histórico e contexto do projeto”, divide Marina Bortoluzzi do Instagrafite.

No painel, Diego Mouro retrata uma mulher preta estendendo roupa no varal que, segundo ele, “é um retrato do cotidiano, uma atividade que, de alguma forma, reúne as pessoas pelas peças de roupas em um mesmo varal, uma imagem comum a muitos nessa comunidade”. O artista se inspirou no fato do Bixiga ter sido o primeiro quilombo urbano, chamado Saracura, para onde alguns escravizados fugiam, passavam-se por trabalhadores junto aos alforriados e eram acolhidos por alguém que lhes oferecia um quarto. Isto fortaleceu a criação da comunidade: um bairro com tantas pensões, local de chegada de muitas pessoas.

“Uma mulher preta estendendo um lençol branco onde está escrito ‘Saracura’ é como ter uma mulher colocando para secar um passado que foi lavado, e também o embranquecimento de histórias”, comenta Diego. Para ele, “o painel fala sobre afetos coletivos e comunitários, traz essa nostalgia e retrata pessoas que vivem e se fortalecem até hoje, a partir e para as comunidades”.

Cidade Extensão da Gente

Panorâmica, teatro visto de cima
O projeto Cidade Extensão da Gente entende o direito à cidade como um direito a si mesmo e traz uma proposta baseada em desejos e necessidades de pessoas que usam, moram, trabalham e visitam a localidade, conforme pesquisa realizada pelo coletivo. As questões levantadas culminam em ações para mudanças que trazem benefícios imediatos ao espaço público e às pessoas que moram ou o frequentam.

A iniciativa concentra-se no planejamento e desenho de uma área urbana que contribua para o bem estar e melhoria da qualidade de vida da comunidade local. Segundo Gabriela Morato, atriz e produtora do Teatro do Incêndio, também idealizadora do projeto, “o Bixiga carrega em suas paredes históricas marcas de diversidade, contudo, ao caminhar pelas ruas, identificamos estruturas esquecidas, excluídas, degradadas e muitas vezes invisíveis ao olhar do transeunte e do morador, que não mais enxerga a cidade como espaço de manifestação e manutenção da vida”. A partir da fala “a estética tem função social”, de Mário de Andrade, figura-símbolo eleita pelo coletivo, a ideia de transformação do espaço e seu entorno começa a tomar corpo. “Acreditamos que a cidade pode ser ponto de convergência, solução para problemas de crescimento desordenado e não planejando, além de uma possibilidade iminente de transformação social e cultural”, argumenta Marcelo Marcus Fonseca, diretor e fundador do Teatro do Incêndio.

O cuidado com a esquina da Rua 13 de Maio com a Rua Santo Antônio é o ponto inicial da contribuição que a Cia. Teatro do Incêndio pretende desenvolver para o bem estar urbano, social, cultural e econômico da comunidade. As pretensões do projeto vão além, em busca de proporcionar moradia de qualidade, respeitando os valores históricos e agregados ao longo do tempo pela diversidade na estrutura do local. “A ocupação do espaço público é um direito. As calçadas, as ruas, as praças e tudo aquilo que forma nosso bairro é extensão de nossas casas e deve alimentar o sentimento de pertencimento, fortalecer a conexão entre as pessoas e a cidade. Fomentar interação para melhorar a comunidade é uma ferramenta inspiradora de reinvenção de nós mesmos - quando atuamos coletivamente - e do espaço público”, argumenta o diretor.

Etapas do projeto

Painel ‘Saracura’ (em andamento) - Painel de grafite que toma o paredão superior do prédio anexo à sede do teatro, logo na entrada do bairro. Ação em parceira com a Secretaria Municipal de Turismo. Produção e curadoria: Instagrafite. Valor: R$ 70.000,00.


Fachada Preservada
- Criação de uma obra de arte (pintura) nas paredes externas do Teatro do Incêndio que exalte a cultura do Bixiga, dialogando com a história do bairro retratada no Painel Saracura. Orçamento para compra de material: R$ 2.000,00.

Ecoponto
- Criação de ecoponto para descarte correto do lixo reciclável e orgânico, em parceria com um artista gráfico e com artistas do teatro e da música para intervenções de conscientização da comunidade. Orçamento para compra de lixeiras: R$ 3.000,00.

Calçada
- Manutenção das calçadas por meio de requerimentos e ações junto à prefeitura da capital.

Parklet
– Instalação de espaço público mantido pela iniciativa privada, na Rua Treze de Maio, para ações culturais e sociais para a comunidade local. Ação em fase de aprovação na Subprefeitura. Orçamento para instalação: R$ 15.000,00 + manutenção.

TEATRO DO INCÊNDIO & BIXIGA - O diretor do Teatro do Incêndio, Marcelo Marcus Fonseca, fundou a companhia, há mais de 24 anos. A atual sede, à Rua Treze de Maio, 48, no Bixiga, foi adquirida com recursos próprios, em 2017, e inaugurada no mês de agosto com sua peça autoral ‘A Gente Submersa’. Além doas montagens teatrais da companhia, o espaço abriga residências artísticas, oficinas de teatro e dança e o projeto Sol-Te que, há seis anos, ministra oficinas livre de teatro para crianças e adolescentes do bairro. A esquina onde o teatro se localiza é a porta de entrada para o Bixiga. O famoso casarão abrigou a Boate Igrejinha, frequentada por nomes como Dalva de Oliveira, onde a cantora Maysa fez sua última temporada e Grande Otelo realizou o show em comemoração aos seus 50 anos de carreira. Mais tarde, se tornou o Café Soçaite, um dos principais redutos da boemia paulistana dos anos 1980.

SOBRE DIEGO MOURO - Artista autodidata e muralista, que vive e trabalha em São Paulo, oriundo da periferia de São Bernardo do Campo, ABC Paulista, cuja população é majoritariamente negra. Seus trabalhos abordam questões raciais e promovem o encontro de elementos e símbolos tradicionais da cultura negra em relação ao Brasil para refletir sobre o regionalismo, construído em cima dos hábitos africanos e transformados em costumes e crenças que só existem aqui, como o congado e o candomblé. Suas técnicas e influências vão da arte tradicional à arte de rua, passando pela pintura contemporânea, percebidas em obras que misturam realismo e traços inacabados. Seu trabalho respeita a tradição do muralismo, na qual a narrativa não verbal é parte da construção de uma nova narrativa histórica da arte e das culturas tradicionais.

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