Montagem com 14
atores, músicos ao vivo e momentos de lutas coreografadas traz versão inspiradora
da heroína francesa para discutir a mulher de todos os tempos, inserida no
contexto de uma sociedade capitalista e seus interesses. O projeto baseado em documentos
originais, de 1.431, arquivados na Biblioteca Nacional da França, tem texto
inédito de Aimar Labaki, direção musical e trilha original de Miguel Briamonte
e direção artística de Fernando Nitsch.
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Fotos: Bob Sousa |
O
espetáculo O Julgamento Secreto de Joana D’Arc estreia no dia 26 de julho (quinta-feira, às 20h)
no Teatro Oficina, em São Paulo, com
direção artística de Fernando Nitsch
e direção musical de Miguel Briamonte.
O texto de Aimar Labaki foi escrito por uma encomenda de Silmara Deon, que vive a heroína francesa numa trajetória épica que inspira coragem, há mais de 500 anos,
onde o verdadeiro embate está entre a ameaça que o feminino pode provocar nas
instituições estruturadas
a partir do poder masculino.
De
forma lúdica, a peça reproduz o ambiente de seu julgamento inquisitório e
apresenta a ‘virgem de Orleans’ como uma mulher de estética comum, derrubando
padrões e estereótipos impostos pela Igreja, reforçados pela maioria dos filmes
e documentários que contam sua história. A peça condensa os últimos quatro meses
de vida da heroína, a partir de sua captura e do confronto com o inquisidor
Pierre Cauchon, interpretado por Rubens Caribé. A cenografia é assinada
por Marisa Bentivegna, a iluminação
por Wagner Pinto e o figurino por Daniel Infantini.
Aimar
Labaki explica que não é exatamente a história de Joana D'Arc que a peça
apresenta, mas a forma como é espelhada por outros olhos, principalmente os de
seu inquisidor. “Esse é um processo político, mas também um julgamento íntimo
que deflagra uma crise íntima; a crise de fé de Cauchon. E se tornou metáfora
do processo de mediação de cada um de nós para viver o cotidiano, acreditando em
algo superior para resolver as questões”, comenta o autor.
A
encenação não realista é carregada de força e sensações ao expor o medo do
feminino deflagrado por Joana D’Arc. O enredo aborda desde o momento em que ela
é capturada pelos borgonheses numa emboscada - quando ia para a batalha em
Paris - até sua morte. “Esta é uma
história aberta. Existem muitas versões de um mesmo fato, portanto temos
liberdade de apresentar ‘nossa Joana’ com reflexos nos dias de hoje, representando
todas as mulheres, seja ela da época da inquisição ou do mundo atual. Para
isso, temos um recurso épico, além do fato da condução deste julgamento ser,
por natureza, um grande circo de horrores”, argumenta o diretor Fernando
Nitsch.
As
personagens de O Julgamento Secreto de Joana D’Arc mantêm seus nomes reais, mas
ganharam personalidades inventadas, subjetivas, abrindo uma licença poética
para o inquisidor que, na encenação, faz visitas à prisioneira na cela, cheio
de dúvidas e curiosidades, demonstrando fascínio pela sua determinação. E,
vislumbrando a possibilidade de projeção no seu primeiro julgamento importante,
Cauchon não percebe que também é uma peça de manipulação no jogo, onde somente
um veredito seria possível.
Joana
reunia atributos que incomodavam. Era mulher, analfabeta e uma guerreira com um
carisma arrebatador, cuja liderança ganhava fama. Carregava armadura, espada e
estandarte (em cima de um cavalo), comandava soldados, lutava nas batalhas e
conquistava propósitos absolutamente masculinos numa época em que para a mulher
não era permitida nenhuma expressão. Segundo Fernando Nitsch, a peça revela
essa mulher determinada, que buscava a verdade, acima de tudo, e acreditava ter
a missão de libertar a França.
E
o diretor argumenta: “Em nenhum momento deram à Joana a possibilidade de se
defender. Um acordo entre França e Inglaterra entra em ação para tirar de cena
aquela mulher que subvertia as regras, com tudo que ela representava; e a
igreja também se aproveita daquele momento. Os dois grandes poderes – a
política e a igreja - se unem para condená-la como bruxa e, posteriormente, transformá-la
em santa francesa. O espetáculo busca ressignificar essa história pautada pelo
capital, onde a condenação de Joana D’Arc serviu a ele, e sua redenção como
padroeira, também”.
“Como
seria essa mulher?”, questiona Silmara. “O fato de ela ser uma santa da igreja
católica, além de não haver nada que comprove sua aparência real, fez com que a
sua imagem fosse sempre comparada à de uma jovem angelical, frágil e ingênua,
cujos feitos seriam ordens divinas, desconsiderando sua determinação,
inteligência e ações. Sua história é muito próxima dos clássicos da dramaturgia
mundial. A personagem Joana D'Arc, de 19 anos, transcende todos os padrões de
biótipo e idade, possibilitando uma grande liberdade de interpretação”, comenta.
Segundo
a atriz, a proposta de seu projeto é estimular um diálogo sobre a condição da
mulher nos dias de hoje, sem julgamentos ou críticas, para fortalecer nas
pessoas o sentido de equidade. “Ao apresentar Joana quando as relações de poder
serviam somente aos homens e suas instituições, a peça expõe a importância da
aceitação e do entendimento das questões sobre gêneros e suas evolutivas
sociais”, comenta. Para se proteger de possíveis retaliações inglesas, não
sofrer abusos e pela praticidade na função de soldado, a heroína cortou os
cabelos e se vestia com roupas masculinas, contrariando as regras estabelecidas
e sua natureza feminina quando, pelas normas da Igreja (detentora do saber das
“leis de Deus”), as mulheres serviam unicamente para casar, cuidar dos afazeres
domésticos e ter filhos. “Olhando para esse passado distante, transportamos-nos
para os dias de hoje ao ver os acontecimentos mundiais de intolerância e
violência contra a mulher”, finaliza Silmara Deon.
A encenação
O
elenco é formado por 17 integrantes, entre atores, coro de seis atrizes
cantoras e três músicos. As músicas foram compostas especialmente para a peça, com
exceção de uma canção de origem francesa. O maestro Briamonte criou arranjos e
melodias para letras de Aimar Labaki, Bruna Alimonda, Ricardo Severo e Isabel Oliveira. “Seguindo
a estética da montagem, a trilha é contemporânea, mas traz referências sonoras
de séculos passados, contextualizando as cenas sem datá-las”, explica. Além do
coro, as personagens Joana e Cauchon também cantam ao vivo (em conjunto ou
solos) acompanhadas por piano, guitarra e violoncelo. Em alguns momentos,
timbres percussivos tirados do próprio cenário completam a sonoridade explorada
pelo maestro. As intervenções musicais propiciam leveza e trazem o respiro
necessário à plateia, bem como potencializam a atmosfera lúdica do espetáculo.
No coro de ‘joanas’, as atrizes representam todas as diferentes mulheres que
foram para a fogueira. Enquanto a protagonista representa força, determinação e
resistência, o coro traz uma camuflada e, ao mesmo tempo, evidente feminilidade
em diferentes tipos e personalidades.
Sobre
o palco da montagem, o diretor comenta: “É um desafio delicioso montar o
espetáculo no Teatro Oficina, não só pelo espaço, mas também pelo atual momento
político-social que está vivendo; e evocar Joana D’Arc dentro do Oficina faz
todo o sentido”. Silmara Deon completa dizendo que “a estrutura inusitada do
espaço é muito propícia ao contexto da peça e às batalhas coreografadas”.
Quanto
à cenografia e figurinos, O Julgamento Secreto de Joana D’Arc parte
da estética medieval e rústica para uma leitura contemporânea. A ambientação,
em sintonia com o espaço, traz cenários sobre grandes objetos, possibilitando o
jogo cênico, onde estão presentes também elementos naturais como terra, madeira
e lama. Nas roupas, tecidos desgastados, couro e cores terrosas.
Origem do espetáculo
Silmara
conta que, desde adolescência, quando leu a história de Joana D’Arc, carregou
consigo o desejo de interpretar a personagem. Há quatro anos, deu início à
concepção do espetáculo, pesquisou documentos originais dos processos de
condenação e de reabilitação de Joana D’Arc e convidou Aimar Labaki para
conceber o texto. Ela também foi à Orleans e visitou Donremy, local onde Joana nasceu,
morou e foi batizada. “Li várias biografias e nenhuma história pode ser
considerada crível em sua totalidade, pois não existem imagens, registros,
objetos, relíquias... nada que comprove como ela era. Tudo foi queimado. Temos
uma Joana apresentada por olhos alheios”, comenta.
O
autor explica que o desafio proposto por Silmara era apresentar a mulher como
afirmação do feminino dentro de um processo político mascarado pelo processo
judicial. Para fazer uma leitura contemporânea dessa personagem arquetípica, Labaki
revela que fez uma longa pesquisa, buscando inspiração em várias fontes. Ele
conta que leu muitas biografias e livros, pesquisou peças teatrais com as mais
variadas versões sobre a heroína e assistiu a filmes que contavam sua história.
Ficha técnica
Texto:
Aimar Labaki
Direção:
Fernando Nitsch
Direção
musical: Miguel Briamonte
Elenco:
Silmara Deon, Rubens Caribé, Ricardo Arantes, Rafael Costa, Yorran Furtado, Jerônimo
Martins, Decio Pinto Medeiros e Mario Luiz.
Coro:
Bruna Alimonda, Carol Cavesso, Giovana Cirne, Jamile Godoy, Maísa Lacerda e Priscila
Esteves.
Músicos:
Bruno Monteiro (piano) e Leandro Goulart (guitarra)
Assistente
de direção: Isabel Oliveira
Assistente
de direção musical: Carol Weingrill
Cenografia:
Marisa Bentivegna
Iluminação:
Wagner Pinto
Figurinos:
Daniel Infantini
Coreografia
de lutas e preparação corporal: Mario Luiz
Preparação
e coreografias do coro: Katia Naiane
Fotos:
Bob Sousa
Identidade
gráfica visual: Rosane Andrade / Inquieto Art Studio
Assessoria
de imprensa: Verbena Comunicação
Produção
executiva: Paloma Rocha e Regilson Feliciano
Direção
de produção: Silmara Deon
Realização:
Nossa Senhora da Produção
Serviço
Espetáculo:
O
Julgamento Secreto de Joana D’Arc
Estreia: 26 de julho – quinta, às 20h
Temporada: 26/7 a 20/9 - quartas e quintas, às 20h
Ingressos: R$ 50,00 e R$ 25,00 (meia). Moradores da
Bela Vista (c/ comprov. de residência): R$ 20,00.
Bilheteria: 1h antes das sessões. Aceita cartões de
débito e dinheiro.
Duração: 100 min. Classificação: 16 anos. Gênero: Drama
musical.
Teatro Oficina (350
lugares)
Rua Jaceguai, 520 - Bela Vista, SP/SP.
Assessoria de imprensa: VERBENA Comunicação
Eliane Verbena / João Pedro
Tel: (11) 2738-3209 / 99373-0181 - verbena@verbena.com.br
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