terça-feira, 27 de junho de 2023

Coletivo de Galochas apresenta Coluna Prestes no Centro Cultural Olido e Teatro de Contêiner

Foto de Lucas Salazar

Em julho, o grupo de teatro Coletivo de Galochas apresenta o espetáculo Coluna Prestes: Encruzilhadas da Marcha da Esperança no Centro Cultural Olido, de 07 a 16/07, sexta e sábado, às 19h, e domingo, às 17h, e no Teatro de Contêiner Mungunzá, de 21 a 30/07, de sexta a domingo, às 19h, com ingressos gratuitos.

Todas as sessões de sextas-feiras contam com intérpretes de Libras e as de domingo com recursos de audiodescrição. Em agosto, a montagem histórico-poética segue para os teatros Flávio Império e Cacilda Becker.

Dirigida por Rafael Presto, que também assina a dramaturgia junto de Antonio Herci, a montagem busca reconstruir cenicamente uma das passagens mais icônicas e importantes da história do Brasil do século XX, a marcha da Coluna Prestes, que tinha por objetivo libertar o povo da exploração e da ignorância, evento que marca o fim da Primeira República.

O enredo se passa no década de 1920, quando a Coluna Prestes rasga o país. Durante a marcha, um grupo de oito pessoas, dos mais diferentes lugares, formam uma inusitada família, entrelaçando e mudando suas vidas. É com essa gente simples que Luiz Carlos Prestes aprende, forjando seu espírito revolucionário.

Coluna Prestes: Encruzilhadas da Marcha da Esperança faz uma imersão na cultura brasileira pelo ponto de vista das pessoas simples, da base do movimento, que fizeram a Coluna caminhar. As personagens da peça foram extraídas dos registros oficiais, com a devida licença teatral. “Não se trata da história de grandes autoridades, mas de figuras singulares com as quais Prestes se relaciona. São mulheres, pessoas pretas e oficiais de baixa graduação que protagonizam a jornada”, comenta o diretor Rafael Presto.

Na montagem, o primeiro plano não pertence ao Comandante Prestes (Kleber Palmeira), líder da revolução, mas sim aos diversos núcleos que combatem ao seu lado durante a Marcha. Isabel Pisca-Pisca (Benedita Maria de Jesus Bueno Dias) e Onça (Silvia Lys) são artistas de Cabaré que seguem com os revolucionários. Onça desenvolve uma relação com Cabo Firmino (Eder dos Anjos), um aguerrido revolucionário saído dos cortiços paulistanos. Santa Rosa (Wendy Villalobos) carrega o fuzil que herdou do marido morto e um filho na barriga, que nasce durante a marcha. O Soldado Ângelo (Daniel Lopes), rapaz sensível e analfabeto, aprende a ler e escrever com Sargento Garcia (Diego Henrique), numa relação que pode ocultar um amor não permitido. Todas essas relações são amarradas por Tia Maria (Mona Rikumbi), com suas ervas, conselhos, rituais e giras, que também representa a Majestade Encruzilhada, abrindo os caminhos e marcando essa saga.

A encenação do Coletivo de Galochas tem como pilares duas linguagens: os núcleos dentro da Coluna Prestes e o coro cênico. Os núcleos trazem as histórias das personagens, a humanização dentro da precariedade do ambiente da revolução e também vislumbram 100 anos à frente, questionando e fazendo o elo com o presente. A trilha das personagens negras, apoiada em uma perspectiva afro-centrada de religiosidade e filosofia, é central na narrativa. Já o coro representa a própria revolução. Coreografado e musicado, ele interage com as cenas e faz atravessamentos poéticos enfatizando os grandes acontecimentos, mas também participando como personagem coletivo da trama. Os atores e atrizes que formam o coro são oriundos das oficinas profissionalizantes, realizadas pelo Galochas, durante o processo criativo.

A música está presente o tempo todo no espetáculo; uma ferramenta cênica recorrente nas montagens do Coletivo de Galochas. A trilha sonora é original e executada ao vivo, sob direção de Antonio Herci, com arranjos contemporâneos e cinco músicos em cena (piano, contrabaixo acústico, sanfona, violão de 7 cordas e percussão). Nove canções integram a dramaturgia em formatos de solos e coros, compostas durante o processo, a partir de poemas criados pelos próprios atores. Apenas uma, o samba “Ai, Seu Mé” (Freire Júnior e Careca), foi garimpada do referido período histórico.

Kleber Montanheiro assina o figurino não naturalista de Coluna Prestes: Encruzilhadas da Marcha da Esperança. As referências da década de 1920 estão presentes, de forma estilizada, em elementos como couro e peças de indumentária militar. O cenário, também de Montanheiro, busca inserir as personagens e os espectadores nas paisagens desse Brasil profundo que a Coluna Prestes atravessa. A poética do movimento está em elementos que se movem em um palco misterioso, diante das incertezas dos passos a seguir.

O Coletivo de Galochas parte da sua experiência em teatro historicista para abordar esse fato do nosso passado recente, negligenciado na narrativa histórica hegemônica, investigando seus vestígios e narrativas durante seis meses de pesquisas e experimentos. A estética da montagem foi trilhada a partir de músicas, trajes, comportamentos e notícias. O grupo imergiu na pesquisa de fotos, vídeos, textos e documentos históricos em diálogo com as tradições culturais e artísticas do período, deglutindo de maneira crítica os traços culturais e desdobramentos políticos da década.

“Em uma montagem teatral historicista, o que se persegue são rastros, restos ou retalhos dessa história, que possam ser a gênese de dramas pessoais, de acontecimentos marcantes: situações colocadas em contexto. Outro compromisso é o de jogar luz em acontecimentos que sofrem um processo de apagamento e, mesmo aonde se conta a história da Coluna, são deixados em segundo plano”, comenta o dramaturgo Antonio Herci. O coletivo optou por articular historicamente o passado, na perspectiva da construção de uma dramaturgia que não significa conhecer esse passado como “de fato foi”, mas apropriando-se das reminiscências. “Pensamos o passado a partir de onde pisamos, o tempo e o espaço que habitamos: aqui e agora. Desse modo, toda experiência da dramaturgia historicista é tingida pelo tempo do agora”, finaliza Rafael Presto, diretor e dramaturgo do espetáculo. Nesse sentido, tanto o elenco quanto o coro cênico equilibram pessoas pretas e brancas na sua composição, conta com uma atriz trans, além de integrar pessoas com deficiência, carregando a encenação com a poética desses corpos e corpas dissidentes, fazendo um diálogo com as lutas de agora.

Coluna Prestes: Encruzilhadas da Marcha da Esperança é resultado do projeto de mesmo nome contemplado na 39ª Edição do Programa de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, da Secretaria Municipal de Cultura. No processo de criação, o Coletivo de Galochas realizou oficinas profissionalizantes, ciclos temáticos de palestras sobre a prática e a fundamentação teórica do teatro historicista e intervenções artísticas em locais que foram bombardeados ou que têm relação com a Revolução Paulista de 1924.

Nascida durante Tenentismo, a Coluna Prestes iniciou, em abril de 1925, a marcha pelo interior do Brasil que atravessou mais de 25 mil quilômetros, passando por 17 estados e atingindo cerca de 3 mil membros. Tendo como bandeira derrubar o mandato de Arthur Bernardes, exigia voto secreto universal, educação para todos, moralização da política, fim da miséria e direto à terra.

FICHA TÉCNICA – Dramaturgia: Antonio Herci e Rafael Presto. Direção: Rafael Presto. Codireção: Eder dos Anjos. Direção musical, arranjos, regência e sonoplastia: Antonio Herci. Assistência de direção: Daniel Lopes. Elenco / personagens: Benedita Maria de Jesus Bueno Dias (Isabel Pisca-Pisca), Daniel Lopes (Soldado Ângelo), Diego Henrique (Sargento Garcia), Eder dos Anjos (Cabo Firmino), Kleber Palmeira (Comandante Prestes), Mona Rikumbi (Tia Maria), Silvia Lys (Onça) e Wendy Villalobos (Santa Rosa). Coro Cênico: Luísa Borsari, Maria Kowales Aguirre, Matheus Kawa, Giovana Carneiro, Jota Silva, Leandro Duarte, Mateus Vicente, Nayra Priscila, Priscila Ribeiro, Tércio Moura e Victor Carriel. Musicistas/músicos: Antonio Herci (piano), Jéssica Nunes e Camila Borges (sanfona), Lula Gama (violão de 7 cordas), Miguel D’Antar (contrabaixo acústico) e Maicon de Moura (percussão). Cenografia: Kleber Montanheiro. Figurino: Kleber Montanheiro e Thaís Boneville. Adereços: Jéssica Freitas. Iluminação: Robson Lima. Coreografiae direção de movimento: Letícia Doretto. Cenotécnica: Nilton Araújo. Técnica de som: Gustavo Trivela e Jotape Hecht. Operação de som:  Jotape Hecht. Provocação cênica: Júlio Silvério. Colaboração na criação: Ivone Dias Gomes, Nicolle Puzzi e Verônica Valentino. Audiovisual: Diogo Gomes. Direção de produção: Gabriela Morato. Produção: Maura Cardoso. Gestão de redes sociais: Dora Scobar. Fotos: Camila Rios, Diogo Gomes e Lucas Salazar. Designer Gráfico: Gustavo Oliveira. Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação. Idealização e realização: Coletivo de Galochas.

Serviço

Espetáculo: Coluna Prestes: Encruzilhadas da Marcha da Esperança
Ingressos: Gratuitos – Retirar na bilheteria 1h antes das sessões.
Duração: 90 minutos. Gênero: Drama musicado. Classificação: 14 anos.
Intérpretes de Libras: sessões de sextas-feiras
Audiodescrição: sessões de domingos

Sinopse: Brasil, década de 1920. A Coluna Prestes rasga o país. Durante a marcha, um grupo de oito pessoas, dos mais diferentes lugares, formam uma inusitada família, entrelaçando e mudando suas vidas. É com essa gente que Luiz Carlos Prestes aprende, forjando seu espírito revolucionário.

Dias 07, 08, 09, 14, 15 e 16 de julho
Sexta e sábado, às 19h, e domingo, às 17h.
Local: Centro Cultural Olido
Av. São João, 473 - Centro Histórico de São Paulo.
Tel.: (11) 2899-7370. 139 lugares. 

Dias 21, 22, 23, 28, 29 e 30 de julho
Sexta, sábado e domingo, às 19h.
Local: Teatro de Contêiner Mungunzá
Rua dos Gusmões, 43 - Santa Ifigênia. SP/SP.
Tel.: (11) 97632-7852. 99 lugares. 

Dias 04, 05, 06, 11, 12, 13 de agosto
Sexta e sábado, às 20h. Domingo, às 18h.
Local: Teatro Flávio Império
Rua Prof. Alves Pedroso, 600 - Cangaíba. SP/SP.
Tel.: (11) 2621-2719. 206 lugares.

Dias 18, 19, 20, 25, 26 e 27 de agosto
Sexta e sábado, às 21h. Domingo, às 19h.
Local: Teatro Cacilda Becker
Rua Tito, 295 - Lapa. SP/SP.
Tel.: 3864-4513. 350 lugares. 

Coletivo de Galochas

O Coletivo de Galochas é um grupo de teatro da cidade de São Paulo criado, em 2010, para pesquisar formas de atuação político-poéticas. Em sua pesquisa continuada optou por temas críticos, realizando espetáculos e processos criativos ao lado de movimentos sociais, grupos parceiros, ocupações e comunidades, fazendo da experiência do teatro um gesto de vida e luta, ocupando os mais diferentes espaços: escolas, museus, ocupações, teatros, ruas, universidades e vielas. Todas as pessoas do elenco são compreendidas como artistas-criadores, equilibrando de maneira paritária artistas brancos e negros, homens e mulheres, com a participação de pessoas com deficiência. Essa multiplicidade de perspectivas se realiza no desenvolvimento da encenação, trazendo elementos que se pautam por olhares de corpos não-normativos na releitura teatral. O Coletivo foi contemplado em duas edições do Programa de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo: em 2016 - com o projeto Cantos de Refúgio; e em 2022 – com Coluna Prestes: Encruzilhadas da Marcha da Esperança. Em sua trajetória constam também vários trabalhos incentivados pelo ProAC, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, além de indicações e premiações teatrais. Espetáculos montados: Piratas de Galochas (2011, remontagem em 2017, 2021), Revolução das Galochas (2014, remontagem em 2017), Cantos de Refúgio (2017, infantil - selecionado ao Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem), Mau Lugar (2017, remontagem em 2020 [em Libras] e 2022) e Coluna Prestes: Encruzilhadas da Marcha da Esperança (2023).

Coletivo de Galochas: www.coletivodegalochas.com.br
@coletivodegalochas | Site/projeto: https://colunaprestes.com.br/

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