Mural Saracura em construção. |
O belo e singelo mural de arte urbana, o ‘Saracura’, criado pelo artista visual e muralista Diego Mouro, é a primeira ação (em andamento) do projeto, entre várias que buscam transformar o espaço urbano em lugar de vida e convivência. O tema do painel alinha os afetos cotidianos da comunidade com a história do bairro, ocupando o paredão superior do prédio anexo à sede do Teatro do Incêndio, como uma grande proa vista em perspectiva logo na entrada do bairro. A conexão do Diego com o Instagrafite foi importante para a realização. “A escolha do Diego foi fundamental para retratar o histórico desse bairro que precisa ser ouvido e interpretado. A parceria rendeu uma simbiose assertiva com o histórico e contexto do projeto”, divide Marina Bortoluzzi do Instagrafite.
No painel, Diego Mouro retrata uma mulher preta estendendo roupa no varal que, segundo ele, “é um retrato do cotidiano, uma atividade que, de alguma forma, reúne as pessoas pelas peças de roupas em um mesmo varal, uma imagem comum a muitos nessa comunidade”. O artista se inspirou no fato do Bixiga ter sido o primeiro quilombo urbano, chamado Saracura, para onde alguns escravizados fugiam, passavam-se por trabalhadores junto aos alforriados e eram acolhidos por alguém que lhes oferecia um quarto. Isto fortaleceu a criação da comunidade: um bairro com tantas pensões, local de chegada de muitas pessoas.
“Uma mulher preta estendendo um lençol branco onde está escrito ‘Saracura’ é como ter uma mulher colocando para secar um passado que foi lavado, e também o embranquecimento de histórias”, comenta Diego. Para ele, “o painel fala sobre afetos coletivos e comunitários, traz essa nostalgia e retrata pessoas que vivem e se fortalecem até hoje, a partir e para as comunidades”.
Cidade Extensão da Gente
O projeto Cidade Extensão da Gente entende o direito à cidade como um direito a si mesmo e traz uma proposta baseada em desejos e necessidades de pessoas que usam, moram, trabalham e visitam a localidade, conforme pesquisa realizada pelo coletivo. As questões levantadas culminam em ações para mudanças que trazem benefícios imediatos ao espaço público e às pessoas que moram ou o frequentam.A iniciativa concentra-se no planejamento e desenho de uma área urbana que contribua para o bem estar e melhoria da qualidade de vida da comunidade local. Segundo Gabriela Morato, atriz e produtora do Teatro do Incêndio, também idealizadora do projeto, “o Bixiga carrega em suas paredes históricas marcas de diversidade, contudo, ao caminhar pelas ruas, identificamos estruturas esquecidas, excluídas, degradadas e muitas vezes invisíveis ao olhar do transeunte e do morador, que não mais enxerga a cidade como espaço de manifestação e manutenção da vida”. A partir da fala “a estética tem função social”, de Mário de Andrade, figura-símbolo eleita pelo coletivo, a ideia de transformação do espaço e seu entorno começa a tomar corpo. “Acreditamos que a cidade pode ser ponto de convergência, solução para problemas de crescimento desordenado e não planejando, além de uma possibilidade iminente de transformação social e cultural”, argumenta Marcelo Marcus Fonseca, diretor e fundador do Teatro do Incêndio.
O cuidado com a esquina da Rua 13 de Maio com a Rua Santo Antônio é o ponto inicial da contribuição que a Cia. Teatro do Incêndio pretende desenvolver para o bem estar urbano, social, cultural e econômico da comunidade. As pretensões do projeto vão além, em busca de proporcionar moradia de qualidade, respeitando os valores históricos e agregados ao longo do tempo pela diversidade na estrutura do local. “A ocupação do espaço público é um direito. As calçadas, as ruas, as praças e tudo aquilo que forma nosso bairro é extensão de nossas casas e deve alimentar o sentimento de pertencimento, fortalecer a conexão entre as pessoas e a cidade. Fomentar interação para melhorar a comunidade é uma ferramenta inspiradora de reinvenção de nós mesmos - quando atuamos coletivamente - e do espaço público”, argumenta o diretor.
Etapas do projeto
Painel ‘Saracura’ (em andamento) - Painel de grafite que toma o paredão superior do prédio anexo à sede do teatro, logo na entrada do bairro. Ação em parceira com a Secretaria Municipal de Turismo. Produção e curadoria: Instagrafite. Valor: R$ 70.000,00.
Fachada Preservada - Criação de uma
obra de arte (pintura) nas paredes externas do Teatro do Incêndio que exalte a
cultura do Bixiga, dialogando com a história do bairro retratada no Painel
Saracura. Orçamento para compra de material: R$ 2.000,00.
Ecoponto - Criação de ecoponto para descarte
correto do lixo reciclável e orgânico, em parceria com um artista gráfico e com
artistas do teatro e da música para intervenções de conscientização da
comunidade. Orçamento para compra de lixeiras: R$ 3.000,00.
Calçada - Manutenção das calçadas por meio de
requerimentos e ações junto à prefeitura da capital.
Parklet – Instalação de espaço público
mantido pela iniciativa privada, na Rua Treze de Maio, para ações culturais e
sociais para a comunidade local. Ação em fase de aprovação na Subprefeitura.
Orçamento para instalação: R$ 15.000,00 + manutenção.
TEATRO DO INCÊNDIO & BIXIGA - O diretor do Teatro do Incêndio, Marcelo Marcus Fonseca, fundou a companhia, há mais de 24 anos. A atual sede, à Rua Treze de Maio, 48, no Bixiga, foi adquirida com recursos próprios, em 2017, e inaugurada no mês de agosto com sua peça autoral ‘A Gente Submersa’. Além doas montagens teatrais da companhia, o espaço abriga residências artísticas, oficinas de teatro e dança e o projeto Sol-Te que, há seis anos, ministra oficinas livre de teatro para crianças e adolescentes do bairro. A esquina onde o teatro se localiza é a porta de entrada para o Bixiga. O famoso casarão abrigou a Boate Igrejinha, frequentada por nomes como Dalva de Oliveira, onde a cantora Maysa fez sua última temporada e Grande Otelo realizou o show em comemoração aos seus 50 anos de carreira. Mais tarde, se tornou o Café Soçaite, um dos principais redutos da boemia paulistana dos anos 1980.
SOBRE DIEGO MOURO -
Artista autodidata e muralista, que vive e trabalha em São Paulo, oriundo da
periferia de São Bernardo do Campo, ABC Paulista, cuja população é
majoritariamente negra. Seus trabalhos abordam questões raciais e promovem o
encontro de elementos e símbolos tradicionais da cultura negra em relação ao
Brasil para refletir sobre o regionalismo, construído em cima dos hábitos
africanos e transformados em costumes e crenças que só existem aqui, como o
congado e o candomblé. Suas técnicas e influências vão da arte tradicional à
arte de rua, passando pela pintura contemporânea, percebidas em obras que
misturam realismo e traços inacabados. Seu trabalho respeita a tradição do
muralismo, na qual a narrativa não verbal é parte da construção de uma nova
narrativa histórica da arte e das culturas tradicionais.
Assessoria de
imprensa: VERBENA COMUNICAÇÃO
Eliane Verbena / João
Pedro
Tel: (11) 2548-38409 /
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