A Cia. Provisório-Definitivo estreia As Estrelas
Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigo no dia 25 de
fevereiro, segunda-feira, no Sesc Consolação, às 21 horas. O
espetáculo – cuja direção tem a assinatura de Nelson Baskerville - foi
concebido a partir da livre adaptação de relatos contidos no livro Diários
de Guerra - Vozes Roubadas (de Zlata Filipovic e Melanie Challenger)
e no Diário de Anne Frank.
Sem obedecer a uma narrativa linear e cronológica, a peça
utiliza trechos de 12 diários escritos por crianças e jovens durante conflitos
de guerra. A narrativa fragmentada retrata passagens ocorridas desde Primeira
Guerra Mundial até a mais recente invasão do Iraque, passando pelo Vietnã, pela
Intifada palestina e por vários momentos da Segunda Guerra Mundial; como é o
caso da jovem russa que ingressou no front, em 1940, atrás de um grande amor,
ou da menina de Cingapura que narrou agruras de sua vida durante esta guerra. O
diretor explica que “o olhar puro, sem interferência sobre a guerra, não
mascara ideologicamente a verdade do que acontece”.
As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas
do Inimigonasceu
de um processo colaborativo entre os atores-criadores da Cia.
Provisório-Definitivo (Carlos Baldim, Paula Arruda, Pedro Guilherme
e Thaís Medeiros) e Nelson Baskerville. Esta peça-documentário (termo
que o grupo adotou por considerar mais apropriado) faz recortes teatrais dos
relatos das crianças e jovens – com direito a licenças poéticas, onde o rigor
histórico cede lugar à liberdade de criação. “Esta foi a melhor forma que
encontramos para contar as histórias, mais do que uma cópia fiel dos fatos
históricos, nos interessou a leitura artística que poderíamos fazer sobre esses
fatos”, argumenta Pedro Guilherme. Além dos textos inspirados nos diários,
outros foram escritos pelos próprios atores e pelo diretor.
O Brasil não ficou de fora. O diretor e o grupo decidiram
inserir também um personagem da guerra do tráfico na periferia paulistana.
Neste caso, o jovem (Washington) teve sua história retratada no documentário Jardim
Ângela, de Evaldo Mocarzel. “Era importante trazer esse tema da guerra
também para os trópicos; é importante questionarmos sobre qual é a guerra de
cada um”, comenta o diretor.
A montagem tem linguagem épica e, para reforçar o quadro
cênico, iluminação não convencional (concebida por Aline Santini e Nelson
Baskerville), bonecos cenográficos confeccionados especialmente para a peça
e projeções em vídeos (cenas de filmes, reportagens de guerra, imagens
abstratas e cenas com os atores criadas com o auxílio de Lucas Bêda). A
cenografia (de Cynthia Sansevero e Baskerville) estabelece uma
atmosfera onírica que busca o distanciamento da crueza da realidade do que está
sendo dito. “O cenário é lúdico para expor uma camada de ilusão sobre a
verdade”, explica Baskerville, que completa: “composta por caixas que vão se
alternando formas e funções, em um ambiente tomado pela neve e fumaça, a
cenografia exibe um quadro pouco nítido, garantindo uma encenação não
apelativa”.
Ao espectador cabe refletir e “encontrar” respostas para as
perguntas desses jovens, vítimas dos conflitos de guerra. Para a Cia.
Provisório-Definitivo, “a busca do entendimento sem maniqueísmos ou
manipulações é um importante instrumento da arte e da educação”. Os atores
ainda vêem o panorama das guerras - refletido pelos olhos de crianças - como um
importante ponto de reflexão sobre o mundo atual: ainda existem utopias
transformadoras? Temos como interferir na marcha real da história? Estas são
algumas das indagações propostas em As Estrelas Cadentes
do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigo. “O espectador, colocado
dentro desta‘caixa de guerra’, é levado pensar sobre os conflitos. Quem causa a
guerra somos nós, pela posse, pela propriedade. Queremos algo que é do outro e
vamos tomar à força”. Afirma o diretor.
Nelson Baskerville cita Tennessee Williams: “Sou o contrário
de um mágico. Ele faz a mentira parecer verdade e eu faço a verdade parecer
mentira”. Ele diz que esta frase permeia toda a encenação. “É importante esta
nevoa de fumaça para nos aproximar das histórias, porque tudo é verdadeiro”.
Ao dar identidade a anônimos, em meio a grandes conflitos do
século XX e XXI, a peça exibe um profundo panorama documental dessas
questões.“Muito além de eleger heróis ou vilões, parece-nos necessário indagar
sobre o nosso papel nos processos evolutivos da sociedade”, refletem os membros
da companhia. Segundo eles, as histórias apresentadas não falam simplesmente de
crianças, mas de seres humanos que, independente da idade, origem ou crença,
protagonizam histórias tão próximas e ao mesmo tempo distantes, tão coerentes e
absurdas, tão belas e apavorantes. É nessa trilha de antagonismos que transita
a encenação de As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do
Inimigo.
O projeto nasceu de uma antiga paixão de Paula Arruda pela
vida da Anne Frank. No final de 2007, Pedro Guilherme lhe mostrou outras
histórias de crianças e jovens que também escreveram diários em tempos de
guerra. A pesquisa teve início em 2009 e, no ano seguinte, a ideia foi
compartilhada com os outros integrantes da Cia. Provisório-Definitivo, Carlos
Baldim e Thaís Medeiros. Decidiram contar essas histórias e, desde então, o
grupo vem trabalhando não só na montagem como na viabilização do espetáculo.“Esses
anos também foram importantes para o amadurecimento do projeto”, explica Paula.
Esse espetáculo foi contemplado pelo 4º Concurso de Montagem Teatral do
Centro da Cultura Judaica e ProAC ICMS (Programa de Ação Cultural do Estado de
São Paulo).
Espetáculo: As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigo
Dramaturgia: Carlos Baldim, Paula Arruda, Pedro Guilherme e Thaís Medeiros e Nelson Baskerville
Direção: Nelson Baskerville
Elenco: Carlos Baldim, Paula Arruda, Pedro Guilherme e Thaís Medeiros
Assistência de direção: Sandra Modesto
Preparação corporal: Neca Zarvos
Cenário: Cynthia Sansevero e Nelson Baskerville
Figurino: Marichilene Artisevskis
Iluminação: Aline Santini e Nelson Baskerville
Sonoplastia: Gregory Slivar
Projeto audiovisual: Lucas Bêda
Visagismo: Emi Sato
Assistência de visagismo: Valeria Gomes
Adereços: PalhAssada Ateliê (Karina Diglio e Marcos Tadeu Diglio)
Costureiras: Judite Gerônimo de Lima e Desolina
Operação de vídeo: Samuel Gambini
Operação de som: Vinícius Andrade
Design gráfico: Benoit Jeay
Assistência de produção: Maria Medeiros
Registro em vídeo: Edson Kumasaka
Contabilidade: Paula Romano e Raquel Chaves
Coordenação geral: Paula Arruda
Produção executiva: Cia. Provisório-Definitivo
Realização: Sesc São Paulo
Estreia: dia 25 de fevereiro - segunda-feira – às 21 horas
Sesc Consolação - Espaço Beta (3º andar) - www.sescsp.org.br
Rua Dr. Vila Nova, 245 – Tel: (11) 3234-3000
Temporada: segundas e terças-feiras – às 21 horas – Até 19/03/2013
Ingressos : R$ 10,00 (inteira); R$ 5,00 (usuário matriculado e dependentes, +60 anos, professores da rede pública e estudantes); R$ 2,50 (trabalhador no comercio e serviços matriculado e dependentes). Dração: 60 min - Classificação: 14 anos - Gênero: Drama
Nelson Baskerville
Ganhador, em 2012, dos prêmios Shell e da Cooperativa
Paulista de Teatro como melhor diretor, prêmios APCA e Governador do Estado
(Júri Popular) de melhor espetáculo para Luis Antonio-Gabriela, Nelson
Baskerville é ator, diretor e autor teatral além de artista plástico. Formado
pela EAD (Escola de Arte Dramática da Universidade de são Paulo) em 1983,
Nelson trabalhou como ator e assistente de direção de Fauzi Arap durante os
anos de 1980, quando integrou a memorável montagem de Uma Lição Longe Demais,
de Zeno Wilde.
Em maio de 2011, recebeu o convite para dirigir As
Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigo. Um ano
depois, começaram os primeiros encontros para a criação da dramaturgia.
Enquanto isso, em 2012 ele estreou 17XNelson – Se Não é Eterno Não é Amore
7 Gatinhos, de Nelson Rodrigues, no Teatro de Arena, além de Brincando
com Fogo (no Sesc Pompéia) e Os Credores (no Sesc Ipiranga), ambos
de Strindberg, e Córtex (no CCBB). Também dirigiu o espetáculo Auto
da Independência, no parque da Independência.
Cia. Provisório-Definitivo
Criada em 2001 por formandos em Artes Cênicas na
ECA-USP, a Cia. Provisório-Definitivo comemora 12 anos de história. O grupo
sempre trabalha com um diretor convidado a cada trabalho, o que possibilita
aprendizado e ampliação do “olhar teatral”. Em 2011, a companhia foi
contemplada pela 18º Edição da Lei de Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo
para o projeto Cia. Provisório-Definitivo 10 anos.
As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do
Inimigo é o décimo
espetáculo do grupo, que montou também: Gangue (de Pedro Guilherme e
direção de Mauro Baptista Vedia, 2012); Pelos Ares (de Pedro Guilherme e
direção de Lavínia Pannunzio, 2011-10); Família Dragão (de Pedro
Guilherme e direção de Soledad Yunge; 2011-2009); Tape (de Stephen
Belber e direção de Mário Bortolotto, 2009-08); De Onde O Sol Se Esconde
–Histórias do Japão (de Paula Arruda e Pedro Guilherme, 2011-07); Todo
Bicho Tudo Pode Sendo o Bicho Que Se É (de Pedro Guilherme e direção de
Hugo Possolo e Henrique Stroeter, 2011-06); O Colecionador (de John
Fowles e direção de Marcos Loureiro, 2006-05); Bulgóia, Repenique &
Tropeço (de Hugo Possolo e direção de Cris Lozano, 2004-03); Verdades,
Canalhas (de Mário Viana e direção de Hugo Possolo, 2002-01).
Cia. premiada, o espetáculo Pelos Ares venceu
o Prêmio de Melhor Peça Infantil no Cultura Inglesa Festival (2010); Gangueteve
quatro indicações ao Prêmio FEMSA 2012 (Melhor Espetáculo Infanto-Juvenil, Ator
Coadjuvante - Marco Barretho, Melhor Atriz Coadjuvante - Paula Arruda e Melhor
Autor - Pedro Guilherme) e Família Dragão foi indicada ao Prêmio
FEMSA 2009 de Melhor Ator Coadjuvante - Carlos Morelli. Já Todo Bicho
Tudo Pode Sendo o Bicho Que Se É ganhou o Prêmio Funarte Petrobrás para
Montagem de Textos Inéditos e indicação ao Prêmio FEMSA 2007 de Melhor Autor -
Pedro Guilherme.
O primeiro trabalho do grupo - Verdades, Canalhas-
recebeu vários prêmios em festivais: 11º Mostra Nascente de Talentos – TUSP;
16º Festivale de São José dos Campos (prêmios para sonoplastia, iluminação,
ator revelação - Pedro Guilherme, atriz revelação - Paula Arruda e espetáculo;
indicações para cenário e direção); 8º Festival de Teatro do Rio UVA (prêmios
para ator - Pedro Guilherme, atriz - Paula Arruda, diretor e espetáculo;
indicações para iluminação, figurino e ator - Daniel Dottori); 4º Mostra de
Teatro de Jales (prêmios para cenário, sonoplastia e espetáculo; indicações
para iluminação, figurino, direção, atriz - Paula Arruda, ator - Daniel Dottori
e Pedro Guilherme); VII Festival Nacional Curta Teatro / SESI Sorocaba (prêmios
para iluminação, ator - Pedro Guilherme, 2º melhor espetáculo e indicação para
sonoplastia).
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