Fábio Ferreti (foto de Denise Lima) |
Ferretti
protagoniza e assina a tradução de peça inédita francesa.
O espetáculo Terça no Hiper – solo
estrelado por Fábio Ferretti - estreia no dia 15 de março,
sexta-feira, na Sala Experimental do Teatro Augusta, às 21h30, sob
direção de Vany Alves. O texto, assinado pelo dramaturgo francês Emmanuel
Darley e traduzido pelo próprio ator, tem como fio condutor a delicada
relação entre uma filha e seu pai.
Com narrativa não linear Terça no Hiper
apresenta o drama de Paula. Depois de muitos anos sem qualquer contato, ela
sente-se impelida a cuidar do pai idoso, após a morte da mãe. Mesmo ele não
aceitando seu jeito de ser, além de ainda chamá-la pelo nome de “Paulo”, a
personagem mantém semanalmente o ritual.
Esta é a primeira vez que Darley tem uma obra
sua traduzida e montada no Brasil. Segundo Fábio Ferretti o que o fez escolher
este texto para protagonizar foi o nó existente na relação do pai com a filha
de 50 anos. “É difícil entender como ela, que é uma transexual, consegue
frequentar uma cidade da qual não gosta para manter esse compromisso com o pai
que sempre a rejeitou. Que afeto é esse que a mantém ligada ao pai?”. Questiona
o ator.
Terça no Hiper faz o recorte em um
desses dias de visita. Todos aqueles que aparecem na história são apresentados
pela memória de Paula de
forma narrativa, mas carregados pelo tom da fala dessas pessoas. A retomada da convivência com o pai e o reencontro com os
moradores da cidade, personagens de sua história já esquecida, colocam Paula em
confronto com as sombras do seu passado.
A diretora Vany Alves explica que as memórias da
personagem começam com um tom mais narrativo até o momento em que as lembranças
surgem adornadas pela dor e pela angustia. “A cada dia percebo mais o quanto
este texto é rico e complexo. Ele tem uma abordagem universal e
contemporânea ao discutir a questão da identidade que, muitas vezes, é o fator
que mais dificulta as relações afetivas entre pais e filhos, sejam
heterossexuais, homossexuais ou transexuais”. Ela ainda ressalta a pertinência
da obra em expor a questão da necessidade dos filhos cuidarem dos pais idosos.
Ferretti explica que este monólogo é uma
narrativa poética que caminha pelo labirinto da memória da personagem. Emmanuel
Darley escreve de forma sensível sobre um ser humano e sua real identidade,
sobre a incomunicabilidade entre pessoas que se amam e sobre a busca incansável
pelo laço afetivo um dia perdido.
A cenografia (de Osvaldo Gonçalves) tem proposta
simbólica, não retrata espaço algum. Até o final do espetáculo o público não
identifica que lugar abriga a protagonista e suas memórias. No cenário, este
labirinto emocional é representado por camadas de tecido muito fino que formam
trilhas e protege sutilmente a cena do olhar direto do espectador.
O enredo
Durante algum tempo, sempre às terças-feiras,
Paula se desloca da cidade grande onde mora até a cidade que abandonou quando
jovem, para se dedicar ao pai, André. Ela passa o dia com ele. Arruma e limpa
sua casa, lava e passa ferro em suas roupas. Apesar de tanta dedicação ele
quase não conversa com a filha.
Paula e o pai vão ao Hiper fazer as compras da
semana. O suficiente para alimentá-lo até a próxima terça-feira. O caminho da
casa ao supermercado é sempre percorrido pelo pai de forma lenta e distante,
uma maneira de evitar a companhia da filha. No Hiper, após pequenos rituais
entre as prateleiras de produtos, é chegado o momento de encarar a fila do
caixa. Todos os olhares se voltam para eles, especialmente para Paula que
lamenta a não cumplicidade do pai. E ela é forçada a se lembrar que um dia,
naquela cidade onde passou sua infância, ela já foi Paulo.
Sobre o texto
Sobre o texto Le Mardi à Monoprix (nome
original de Terça no Hiper), o autor Emmanuel Darley conta: "Costumo fazer minhas compras no centro da cidade aqui em Narbonne,
França. Em um supermercado local. É próximo da minha casa. Aqui se pode
encontrar, ver, ouvir, todos os tipos de pessoas. Um dia, provavelmente numa
terça, eu vi na minha frente na fila para o caixa, um casal muito estranho.
Ele, um homem pequeno de idade avançada, um senhor, ela, uma mulher grande, mas
bastante apresentável... Tinha uma beleza estranha, mas muito distinta. Muito
meticulosa em cada detalhe. Parecia que todos os olhos, estavam sobre ela. Uma
beleza estranha, muito viril. Um travesti ou transexual. Eu tentei imaginar a
vida, pensamentos, palavras, tentei sentir como é ter todos os olhos sobre
você. Naquele momento, senti o desejo de escrever sobre um dia, comum e normal,
na vida de um pai e seu filho- filha. "
Le Mardi à Monoprix foi encenado pela
primeira vez em 2006, na França, com direção e atuação de Jean-Marc Bourg. No
mesmo país, o texto foi encenado por vários atores, entre eles Patrick Desrues,
Patrick Sueur, Laurence Teysseyré e por Jean-Claude
Dreyfus que, desde 2009, realiza turnés com o espetáculo pela França e por
países europeus. Na Grã Bretanha, ele foi montado pela Assembly, parte integral
do Festival Fringe de Edinburgh, pelo ator de Quatro Casamentos e um Funera
l, Simon Callow. A peça também foi traduzida e montada na Grécia, Italia,
Espanha e portugal.
Espetáculo: Terça no Hiper
Texto: Emmanuel DarleyTradução e interpretação: Fábio Ferretti
Direção: Vany Alves
Cenografia e figurino: Osvaldo Gonçalves
Trilha sonora: Dr Morris
Programação visual: Claudio Queiroz
Estreia: 15 de março – sexta-feira – às 21h30
Teatro Augusta - Sala Experimental - www.teatroaugusta.com.br
Rua Augusta, 943 – Cerqueira César/SP - Tel: (11) 3151- 4141
Temporada: de 15 de março a 28 de abril
Horários: sexta (21h30), sábado (21 horas) e domingo (19 horas)
Ingressos: R$ 30,00 (meia: R$ 15,00). Faz reserva por telefone.
Gênero: Drama. Duração: 60 min Classificação etária: 16 anos
Antecipados: www.ingressorapido.com.br (tel: 4003-1212).
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