Espetáculo concebido por Dimos Goudaroulis,
virtuose do violoncelo, faz temporada em outubro tendo o músico “dialogando” ao
vivo com a arte de premiado elenco de coreógrafos, conduzidos pela sublime
música de Bach.
O Sesc Vila Mariana apresenta, nas duas últimas
semanas de outubro, Logos-Diálogos - 6
Suítes de J. S. Bach para Violoncelo Solo e Dança. O espetáculo -
concebido pelo violoncelista Dimos Goudaroulis e idealizado por Luiz
Felipe d’Ávila - reúne criações originais de seis importantes coreógrafos
brasileiros contemporâneos, especialmente para as seis Suítes de Bach.
Os coreógrafos são: Jorge Garcia, Luis Arrieta e Henrique
Rodovalho (criadores para a primeira trilogia, apresentada nos dias 18,
19 e 20 de outubro) e Tíndaro Silvano, Ismael Ivo (foto) e Deborah
Colker (segunda trilogia, nos dias 25, 26 e 27 de outubro). No
palco, uma performance única que coloca a música de Bach, executada ao
vivo por Dimos Goudaroulis, em constante diálogo e sintonia com a dança.
Goudaroulis estreou Logos-Diálogos
em maio de 2012, no Teatro Alfa, em São Paulo. A curta temporada só não atingiu o
ápice porque o músico sofreu um acidente fraturando o punho direito, fato que o
impediu de tocar durante as apresentações. O espetáculo seguiu com a música
mecânica de seu álbum Johann Sebastian Bach - 6 Suítes a Violoncello Solo.
Em 2013, o Sesc SP encampou a realização, pela originalidade em levar ao palco
toda a complexidade da obra do compositor, reunindo expoentes da dança
contemporânea brasileira. E Dimos traz novamente o espetáculo à cena, agora
apresentado na real forma de sua concepção.
Dimos Goudaroulis é o fio condutor deste singelo e também sofisticado jogo
entre a multiplicidade cênica dos coreógrafos e a unidade musical do
compositor. Cada um exibe sua leitura poética em forma de dança para esta obra
prima universal. Jorge Garcia abre a primeira trilogia com uma leitura
teatral, muito propícia ao início, à criação, ao Gênesis. Na Suíte II, de
tonalidade mais escura, Luis
Arrieta interioriza Bach, em solo mais conceitual para
simbolizar a queda, o sofrimento. Fechando a primeira trilogia, com a eloquente
e sonora Suite III, Henrique Rodovalho inspira-se na luminosidade para
expressar o sentimento que eleva e liberta a alma.
A coreografia de Tíndaro Silvano para a Suíte IV
(primeira da segunda trilogia) tem estética neoclássica para reportar à figura
do Pai, à nobreza, à reverência. Para a Suíte V, a mais escura e profunda de
toda a obra, Ismael Ivo apresenta uma performance contemporânea/instalação
de corpo e música, interiorizando as notas de Bach carregadas do simbolismo da
Paixão. Fechando a trilogia, bem como o espetáculo concebido por Goudaroulis, Deborah
Colker traz para a excepcional e virtuosística Suíte VI uma coreografia que
simboliza a transformação, a salvação, a iluminação.
“Minha opção é a de tocar as suítes
o mais fielmente possível ao original” (D.G.)
Para todos os grandes violoncelistas, as seis Suítes Para
Violoncelo Solo de Bach são fontes inesgotáveis de todo conhecimento e
sabedoria, um caminho para a iluminação. “As Suítes de Bach têm me acompanhado
durante toda a minha vida de músico. Elas são o meu pão de cada dia, o texto
sagrado que nunca parei de tentar entender, explicar, decodificar,
interpretar...”, afirma o músico grego, radicado no Brasil desde 1996.
A música de J. S. Bach tem intensa carga de simbolismos que
passam por religião e numerologia. As Suítes, divididas em duas trilogias, são
perfeitamente simétricas na forma e no significado, tendo o número 3 (e a
simbologia da Trindade) no cerne da construção da obra.
Logo depois do lançamento, em Julho de 2011, de seu álbum
duplo Johann Sebastian Bach - 6 Suítes a Violoncello Solo, executadas
com violoncelo barroco e absoluta fidelidade ao manuscrito de Anna Magdalena, Goudaroulis
passou a se dedicar ao audacioso projeto Logos-Diálogos
- 6 Suítes de J. S. Bach para Violoncelo Solo e Dança.
O músico propôs a cada um dos coreógrafos convidados uma
determinada suíte. A partir do diálogo contínuo sobre o caráter e cor de cada
suíte, eles trabalharam individualmente na concepção e elaboração das
coreografias. “As Suítes são música pura, íntima, profunda; e a música de Bach
é um discurso, segue as leis da retórica. Assim, as coreografias foram
concebidas também como discurso. Um discurso de gestos ricos na representação
do simbólico resultando num mergulho profundo em Bach, traduzindo as muitas e
muitas camadas de significado que estão presentes na obra dele”.
Logos-Diálogos é carregado de significados. “Logos”,
palavra grega, significava inicialmente a palavra, o Verbo, mas também o
Princípio. No cristianismo, passou a referir, especificamente, Jesus Cristo:
“No princípio era o verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” [O
Evangelho Segundo João, 1:1,2]. Ao longo do tempo, acabou ganhando novos
sentidos, passando a traduzir amplamente o conceito de ‘razão’, tanto a
capacidade de racionalização como o princípio cósmico da Ordem e da Beleza.
‘Diálogos’, palavra também vinda do grego [dia = através, logos
= palavra], traduz uma conversação estabelecida entre duas ou mais pessoas. No
caso do projeto simboliza todos os diálogos – entre música e dança, entre som e
movimento, entre passado e presente, que inclui os envolvidos, inclusive a
plateia.
Johann Sebastian Bach & Dimos
Goudaroulis
Johann Sebastian Bach inventou uma linguagem para o instrumento e marcou a história do violoncelo com uma obra inovadora, de alta dificuldade técnica e insuperável profundidade musical. As 6 Suítes a Violoncello Solo Senza Basso foram escritas em Köthen entre 1720 e 1723. As partituras originais se perderam, e o que existe são quatro manuscritos do século XVIII. O mais fiel, e certamente o mais valioso deles, é a cópia feita pela musicista Anna Magdalena Bach, segunda esposa de Bach e sua copista habitual. Consideradas obras máximas obrigatórias a qualquer violoncelista, as seis Suítes são identificadas com os índices BWV
Dimos Goudaroulis lançou em 2008 o CD Bach - 3 Suítes para Violoncelo Solo, com as Suítes I, II e III, que recebeu o Prêmio Bravo! de Cultura como Melhor CD Erudito do ano. Em 2010 voltou ao estúdio para gravar as outras três Suítes; e em 2011 lançou o álbum duplo com a integral: Johann Sebastian Bach - 6 Suítes a Violoncello Solo.
Nas cinco primeiras, utiliza um violoncelo barroco – “meu velho e querido violoncelo francês do final do século XVIII, instrumento nobre com graves generosos e som escuro; e seu som escurece ainda mais na quinta Suíte, a ‘suíte francesa’ da série a mais profunda e dramática de todas com a scordatura requerida no manuscrito, da corda lá afinada em sol e com tonalidade de dó menor”. Na sexta, também como especificado no manuscrito – Suíte 6me à cinques cordes – toca um violoncello piccolo de 5 cordas.
“Existe grande polêmica em torno do manuscrito da Anna
Magdalena”, afirma Dimos. “Muitos se inspiram nele, mas ninguém acredita na
extrema variedade de articulações e arcadas. Com a desculpa de que o manuscrito
seria impreciso e incoerente, os violoncelistas, mesmo os modernos e bem
informados sobre o estilo de interpretação da época, não conseguem admitir as
arcadas aparentemente anárquicas do manuscrito, consideram que vão contra a
regra e são praticamente inexecutáveis... E partem para interpretações
pessoais, cada vez mais distanciadas do original.”
Segundo Dimos, as arcadas no manuscrito da Anna Magdalena
Bach não estão lá por acaso; ao contrário, são extremamente bem pensadas e
construídas e fazem parte integral da composição e do discurso. “As
articulações e arcadas são de variedade e riqueza surpreendentes, propondo e
definindo soluções musicais na interpretação do texto. A técnica de arco é
realmente muito difícil, mas a musica fica bem eloquente! Toco todas as
articulações e arcadas escritas, sem nunca corrigir o arco, sempre “como vem”...
Surpresa agradável: mesmo dentro de uma visão tão focada, encontra-se tanta
liberdade, espaço para se mover, sonhar, interpretar!”
Ficha técnica
Espetáculo:
LOGOS-DIÁLOGOS
6 Suítes de J. S. Bach para Violoncelo Solo e Dança
6 Suítes de J. S. Bach para Violoncelo Solo e Dança
Concepção,
direção artística e violoncelo: Dimos Goudaroulis
Realização:
Sesc SP
Idealização:
Luiz Felipe d’Ávila
Coreógrafos:
Jorge Garcia, Luis
Arrieta , Henrique Rodovalho, Tíndaro Silvano,
Ismael Ivo e Déborah Colker.
Cenografia
e figurinos: Fábio Namatame
Iluminação:
Joyce Drummond
Direção de
produção: Darson Ribeiro
Serviço
Dias 18, 19 e 20 de outubro (sexta a domingo) - primeira trilogia:
- Jorge
Garcia e seis
bailarinos da J.Gar.Cia: Suíte I
- Luís
Arrieta solo: Suíte
II
- Henrique Rodovalho e nove bailarinos da Quasar Cia. de Dança: Suíte III
Dias 25, 26 e 27 de outubro (sexta a domingo) - segunda trilogia:
- Tíndaro
Silvano e nove
bailarinos do Grupo Vórtice: Suíte IV
- Ismael
Ivo solo:
Suíte V
- Deborah Colker e seis bailarinos convidados: Suíte VI
Sesc Vila Mariana (Teatro)
Rua Pelotas, nº 141. Vila Mariana/SP. Tel: (11) 5080-3000
Horários: sextas e sábados (21 horas) e domingos (18 horas)
Ingressos: R$ 32,00 (inteira), R$ 16,00 (usuário e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública), R$
6,40 (trabalhador no comércio e dependentes) -
INGRESSOSESC (unidades ou Portal Sesc).
Bilheteria: Terça a sexta (9h-21h30),
sábado (10h-21h30), domingo/feriado (10h-18h30).
Aceita cartões. Classificação etária: 12 anos. Duração: 75 min (1ª trilogia)
e 80 min (2ª trilogia)
Capacidade: 611 lugares. Acesso universal. Ar condicionado. Estacionamento: R$3,00 (+ R$1,00, hora adicional): matriculados. R$ 6,00 (+ R$2,00, hora adicional): não matriculados.
Site: www.sescsp.org.br
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