Programação
inclui ainda debate e curso sobre Teatro Documentário.
O Sesc
Belenzinho apresenta Manual de Autodefesa Intelectual, nova montagem da Kiwi
Companhia de Teatro, grupo paulistano criado em 1996. O
trabalho - que estreia no dia 9 de abril, quinta-feira, às 21h30 -
aborda, por meio de 30 cenas, um conjunto de temas relacionado às mistificações
e crendices contemporâneas. Da peça também fazem parte reflexões filosóficas,
principalmente a partir da obra de René Descartes (1596-1650), e números de
mágica.
O
trabalho cênico utiliza recursos do teatro documentário (além de música, dança
e audiovisual), prosseguindo as pesquisas recentes do grupo com a linguagem
narrativa, como em Teatro/mercadoria e Morro Como Um País.
Por este último trabalho a atriz Fernanda Azevedo recebeu o Prêmio Shell de
Melhor Atriz, em 2014.
Manual
de Autodefesa Intelectual investiga temas tão diversos quanto a numerologia, o
horóscopo, o pensamento circular, a mídia empresarial, o surgimento da
publicidade moderna, as religiões e as teorias da conspiração (“Elvis não
morreu”, “o homem não foi à Lua” etc.).
Em cena
está um elenco de três atrizes (Fernanda
Azevedo, Maíra Chasseraux, Maria Carolina Dressler), um ator (Vicente Latorre) e dois músicos (Eduardo Contrera e Elaine Giacomelli). Heloísa
Passos, conhecida pela sua atuação no cinema, assina a iluminação. Julio
Dojcsar é responsável pela cenografia. Roteiro e direção são de Fernando
Kinas e a produção é da Kiwi.
Segundo
o diretor Fernando Kinas, as superstições e o analfabetismo científico fazem
com que muitas pessoas não apenas acreditem, mas organizem suas vidas a partir
de explicações místicas e ficções. “A confusão frequente entre opinião e
conhecimento (doxa e episteme); os erros oriundos do pensamento circular e das
relações inexistentes de causa e efeito; a presença ostensiva da fé no
cotidiano; a tendência a aceitar premissas falsas como verdadeiras; a ausência
da verificação das fontes; a aceitação passiva de argumentos de autoridade,
entre outros procedimentos baseados na intuição, no senso comum, na mídia
hegemônica e nas experiências imediatas e pessoais criam um ambiente propício
ao engano e ao erro”, explica.
A
produção deste espetáculo foi viabilizada pela Lei de Fomento ao Teatro para a
Cidade de São Paulo 2014/2015.
Mentiras,
fraudes, pensamentos descuidados, imposturas e desejos mascarados como fatos
não se restringem à magia de salão, nem a conselhos ambíguos sobre assuntos do
coração. Infelizmente, eles estão infiltrados nas questões econômicas,
religiosas, sociais e políticas dos sistemas de valores dominantes em todas as
nações. (Carl Sagan)
Curso e debate
No dia
19 de abril (domingo), logo após a apresentação de Manual de Autodefesa
Intelectual, haverá debate com participação do cientista social José
Correa Leite sobre o tema Obscurantismo, pensamento crítico e
estética.
Um curso
de Teatro Documentário, ministrado pelo diretor Fernando Kinas (doutor
em teatro pela Sorbonne Nouvelle e USP), será oferecido nos dia 5 e 6 de
maio, terça e quarta-feira, das 14h às 18 horas. Inscrições (grátis) devem ser feitas até o dia
28/04 pelo e-mail teatrodocumentario@belenzinho.sescsp.org.br.
Manual de Autodefesa Intelectual – por Fernando Kinas
É
inequívoca a importância do fenômeno relacionado às crenças, superstições,
obscurantismos e pseudociência nos dias atuais, seja do ponto de vista econômico,
seja das suas implicações sociais, culturais e políticas. Uma lista nada
exaustiva destas práticas incluiria: visões, êxtases, telepatia, profecias,
psicoquinese, levitação, curas mágicas, milagres, abdução por extraterrestres,
quiromancia, viagem astral, astrologia, precognição, homeopatia, uso de
cristais e amuletos (alho, pata de coelho, trevo de quatro folhas), comunicação
com os mortos, telecinesia… A lista é longa. Há também um número enorme e
recorrente de lendas: monstro do lago Ness, Triângulo das Bermudas, continente
perdido de Atlântida, profecias de Nostradamus, loira do elevador, Bicho Papão,
entre milhares de outras. Se algumas são folclóricas, outras envolvem
charlatanismo, golpes e ações criminosas.
Também
não é difícil encontrar pessoas dispostas a acreditar em aparições de santas e
fantasmas, em estátuas que choram ou vertem sangue e muitas que juram que Elvis
está vivo. Outras pessoas batem três vezes na madeira, não passam embaixo de
escadas ou diante de gatos pretos e não repetem determinadas palavras.
Associado
ao fenômeno da superstição, há situações talvez ainda mais preocupantes, como a
dificuldade, bastante disseminada, no manuseio de informações veiculadas pelos
meios de comunicação de massa. Credulidade, ingenuidade e voyeurismo mórbido,
cuidadosamente alimentados, impedem ou dificultam a compreenção do sistema de
produção das informações nas sociedades contemporâneas. O comediante francês
Coluche afirmou, décadas atrás, que "não se pode dizer a verdade na
televisão, porque tem muita gente olhando".
A mesma
dificuldade vale quando se trata de compreender os principais mecanismos da
ação política, uma vez que eles envolvem processos cada vez mais sofisticados
baseados, entre outras estratégias, na simplicação da realidade, persuasão e
sedução.
Não
faltam exemplos cotidianos do que se pode chamar de adestramento para a
credulidade. Passamos das antigas "correntes" que funcionavam
através de cartas enviadas pelo correio às formas contemporâneas turbinadas
pela internet e pelas redes sociais. Os velhos "contos do vigário"
são atualizados e suas vítimas se multiplicam. Horóscopos continuam sendo
publicados em jornais e revistas, inclusive nos que se pretendem sérios. Mapas
astrais ainda fazem muito sucesso. Remédios milagrosos e simpatias não perderam
o prestígio. Os exemplos, também aqui, contam-se às centenas.
Em
resumo, o analfabetismo científico, que faz com que muitos acreditem em
explicações místicas e ficções; a confusão frequente entre opinião e
conhecimento (doxa e episteme); os erros oriundos do pensamento circular e das
relações inexistentes de causa e efeito; a presença ostensiva da fé no
cotidiano; a tendência a aceitar premissas falsas como verdadeiras; a ausência
quase completa da verificação das fontes; a aceitação passiva de argumentos de
autoridade, entre outros procedimentos baseados quase que exclusivamente na
intuição, no senso comum e nas experiências imediatas e pessoais, criam um
ambiente propício ao engano e ao erro.
A
adesão a teorias pseudo-científicas, a imposturas e ideias oriundas do senso
comum podem levar, ainda, a todo tipo de preconceito, como xenofobia, racismo e
sexismo. Neste ambiente, índios são preguiçosos, ciganos trapaceiros, judeus
gananciosos. Loiras são burras, argentinos arrogantes, baianos lentos. A
relação, extensa, é proporcional ao rebaixamento intelectual, terreno fértil
para os fundamentalismos.
Um
sem-número de ações cotidianas, como apostar em loterias ou se benzer ao passar
diante de igrejas, indicam que o livre arbítrio e a faculdade do julgamento nem
sempre são plenamente exercidos. A cientologia, a título de exemplo, tem
milhares de adeptos mundo afora, especialmente entre as chamadas celebridades.
O fundador da seita/igreja, L. Ron Hubbard, afirmou certa vez ter visitado uma
lua de Vênus. E ele não estava brincando.
A
credulidade sempre foi arma decisiva para o controle de populações e
normalmente é utilizada na manutenção de privilégios. Afinal, diziam nossas
avós, "sempre vão existir ricos e pobres". Técnicas sofisticadas
foram desenvolvidas para que não tenhamos dúvidas a respeito das armas de
destruição de massa do Iraque ou da boa-fé das elites francesas ao exportarem
os valores da Revolução de 1789 para suas colônias e protetorados. Na mesma
linha de raciocínio, não resta dúvida que Duque de Caxias é herói e Calabar
traidor.
A
ausência ou a insuficiência de crítica, da dúvida e do pensamento cético,
contribuem para o crescimento de fenômenos como a constituição de bancadas
religiosas e o ataque à laicidade do Estado. Episódios recentes, como a
proposta da Lei do Nascituro no Congresso, sinalizam esta indigência
intelectual. O obscurantismo é a outra face da falência da reflexão. Talvez por
este motivo nossa experiência teatral se debruce, metafórica e literalmente, sobre
a ideia de refletir. Em muitos casos, para além de divergências
políticas, culturais ou filosóficas, estão em jogo mistificações e manipulações
grosseiras que ganham força pela ausência de informações, do debate público
plural e pela tibieza no exercício do pensamento crítico. Isto não significa
dizer que seja possível mudar o mundo mudando as ideias, mas que mudar as
ideias exige a mudança do mundo. Nesta dificílima tarefa, Platão não nos ajuda,
Descartes deu pistas valiosas e Marx escancarou as portas.
Ficha
técnica
Trabalho cênico: Manual de Autodefesa Intelectual
Roteiro e direção geral: Fernando Kinas
Elenco: Fernanda Azevedo, Maíra Chasseraux, Maria
Carolina Dressler e Vicente Latorre
Músicos: Eduardo Contrera (percussão, violão e flauta) e Elaine Giacomelli (teclados)
Direção musical e composições originais: Eduardo
Contrera
Cenário: Julio Dojcsar
Iluminação: Heloísa Passos
Coreografia: Luiz Fernando Bongiovanni
Figurino: Madalena Machado
Vídeos: Carolina Abreu, Filipe Vianna (colaboração de
Maysa Lepique)
Direção de produção: Luiz Nunes
Assistência de produção: Daniela Embón
Produção executiva (temporada Sesc): Adriana Balsanelli
Programação visual: Camila Lisboa
Assistência de iluminação, operação de luz e som: Clébio
de Souza (Dedê)
Assessoria de imprensa: Eliane Verbena
Produção: Kiwi Companhia de Teatro
Realização: Sesc
Serviço
Estreia:
9 de abril, quinta-feira, às 21h30
Temporada:
9 de abril a 10 maio de 2015
Horários:
quinta a sábado, às 21h30 e domingo, às 18h30
Local:
Sala de Espetáculos I (100 lugares)
Duração: 1h50. Gênero: drama. Classificação etária: 14
anos
Ingressos:
R$ 25,00 (inteira); R$ 12,50 (aposentado, + 60 anos, pessoa com deficiência,
estudante e servidor da escola pública); R$ 7,50 (Credencial Plena). Venda: pelo
www.sescsp.org.br, a partir de 31/03, às 15h30, e nas
unidades, a partir de 01/04, às 17h30.
Sesc
Belenzinho
Endereço:
Rua Padre Adelino, 1000. Belenzinho. São Paulo/SP
Telefone:
(11) 2076-9700. ww.sescsp.org.br/belenzinho
Estacionamento: R$ 6,00 (não matriculado); R$ 3,00 (matriculado no SESC).
Estacionamento: R$ 6,00 (não matriculado); R$ 3,00 (matriculado no SESC).
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