sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Ney Piacentini estreia solo com contos de Machado de Assis e Guimarães Rosa

Ney Piacentini (fotos de João Caldas)
Em O Espelho, obras homônimas, a abordagem de Machado conversa e, ao mesmo tempo, contrasta com texto humanamente genuíno de Guimarães.

O espetáculo Espelhos – estrelado por Ney Piacentini e dirigido por Vivien Buckupestreia no dia 20 de outubro (quinta-feira, às 20h) na Oficina Cultural Oswald de Andrade, com entrada franca. A encenação reúne os contos O Espelho, de Machado de Assis (integrante de Papéis Avulsos, publicado pela primeira vez em 1882) e O Espelho, de Guimarães Rosa (publicado em 1962, integrando seu livro Primeiras Estórias).

A montagem é o resultado de pesquisas e experimentações cênicas, realizadas ao longo do ano de 2015, para apresentar na íntegra os dois contos, compondo um único trabalho teatral que explora as relações entre literatura e teatro.

Espelhos é um solo de 50 minutos com cenografia e desenho de luz de Marisa Bentivegna, figurino de Fábio Namatame, assistência de direção de Aline Meyer, criação de som de Miguel Caldas e direção de produção de Maurício Inafre.

No primeiro ato, Piacentini investe-se de Jacobina, personagem de Machado de Assis que conta a amigos uma misteriosa passagem de sua juventude na qual precisou enfrentar a solidão. Em seguida, o ator assume a personagem criada por Guimarães Rosa que parte em busca de sua essência. O trabalho propõe o diálogo entre a aguda percepção de Machado acerca da formação do sujeito brasileiro e a poética descoberta que Rosa nos oferece com sua inquieta personagem. 
  
Espelhos é provocador: propõe uma reflexão sobre as relações entre imagem e subjetividade por meio do pensamento de dois escritores, referências fundamentais da literatura e da arte brasileira. Ney Piacentini afirma que a peça volta-se para o Brasil colocando em cena uma literatura de qualidade inquestionável. “Em minhas leituras da obra Machadiana, encontrei em O Espelho a forma literária com grandes possibilidades de encenação. Fui seduzido pela construção do texto, carregado de elementos da formação do caráter do sujeito brasileiro, vulnerável às influências externas”.

A diretora conta que o projeto nasceu com a obra de Machado de Assis, mas tanto ela quanto o Ney percebiam a necessidade de algo mais para compor a encenação. “Foi pesquisando críticas e estudos sobre o texto de Machado que chegamos ao conto homônimo de Guimarães Rosa, escrito 80 anos depois. Era o que faltava para completar o espetáculo: estávamos diante de dois momentos do Brasil, tão diferentes na forma quanto complementares para o que buscávamos”.

Vivien Buckup ainda explica que a justificativa para montar essas duas obras “é o desejo de trabalhar com autores nacionais e fazer da língua ‘brasileira’ o ponto de partida da encenação com tudo o que se configura como sua identidade - explorando origens, influências, formas, sonoridades e dizeres para narrar e registrar histórias e tradições”.

Por não se tratarem de textos dramatúrgicos propriamente ditos, o empenho maior foi em sublinhar o caráter narrativo dos contos e permitir que a força literária de cada um encontrasse seu equivalente em teatralidade. A encenação confere ao espectador a oportunidade de entrar em contato com a lucidez e a sutileza das palavras de dois grandes intérpretes da cultura brasileira, tanto do ponto de vista estético quanto histórico. “Da mesma forma com que as palavras de Machado de Assis e Guimarães Rosa nos transformaram ao longo do processo de montagem de Espelhos, esperamos que os espectadores sejam tocados pelo pensamento desses dois grandes autores e suas obras singulares”, finaliza Ney Piacentini.

Por Dante Moreira Leite e José Miguel Wisnik

Segundo o cientista social Dante Moreira Leite, em O Espelho de Guimarães Rosa, “ao contrário do que ocorre no conto de Machado de Assis, a exteriorização perde qualquer significado, e o herói-narrador procura devassar a sua intimidade, em busca de elementos fundamentais.”

Pela ótica do ensaísta e professor José Miguel Wisnik, que analisou as duas criações, “(...) Se em ambos os contos o imaginário, entendido como o jogo de imagens através do qual se constitui a função do eu, sofre o impacto de um real que o desarma, cada um deles leva a mesma síndrome a consequências distintas, senão opostas, no percurso simbólico da sua narratividade”.

Ficha técnica

Textos: Machado de Assis e Guimarães Rosa
Interpretação: Ney Piacentini
Direção: Vivien Buckup
Assistência de direção: Aline Meyer
Figurino: Fábio Namatame
Cenário e iluminação: Marisa Bentivegna.
Preparação vocal: Mônica Montenegro
Criação de som: Miguel Caldas
Direção de produção e administração: Maurício Inafre
Programação visual: Regilson Feliciano
Fotografia: João Caldas
Assessoria de imprensa: Eliane Verbena

Apoio: Prêmio Zé Renato de apoio à produção e desenvolvimento da atividade teatral para a cidade de São Paulo.

Serviço

Espetáculo: Espelhos
Estreia: 20 de outubro. Quinta-feira, às 20h
Oficina Cultural Oswald de Andrade (Sala 7)
Rua Três Rios, 363 ­ Bom Retiro/SP. Tel: (11) 3221­5558
Temporada: quintas e sextas (às 20h) e sábados (às 18h) – Até 19/11
Ingressos: Grátis (devem ser retirados 2h antes das sessões)
Duração: 50 min. Gênero: Drama. Classificação: 14 anos
Capacidade: 45 lugares. Não possui acessibilidade.

Perfis

Ney Piacentini (ator) - Iniciou sua carreira, em 1979, na Universidade Federal de Santa Catarina e, em Florianópolis, fundou o Grupo A de Teatro com o qual ganhou o Prêmio Bastidores (1982) de Melhor Espetáculo e Melhor Ator Infantojuvenil, pela criação coletiva Vira e Mexe, também encenada em São Paulo, em 1986. Foi ator e apresentador do programa Revistinha, da TV Cultura (Prêmio APCA de Melhor Programa Infantojuvenil de 1989 e 1990); participou de diversos filmes de curta e longas-metragens como Trabalhar Cansa, de Marco Dutra e Juliana Rojas, e Quanto Vale É por Quilo, de Sérgio Bianchi, mas se dedicou principalmente ao teatro ao longo de sua trajetória de mais de 35 anos de ofício. Dos mais de 50 espetáculos teatrais em que atuou, estão Crepúsculo de Uma Tarde de Outono (1991), de Friedrich Dürrenmattt, O Legítimo Inspetor Perdigueiro (1992), de Tom Stoppard, O Catálogo, de Jean-Claude Carrière, Budro (1994), de Bosco Brasil, e Um Céu de Estrelas (1996), de Fernando Bonassi. Em 1997, a convite de Sérgio de Carvalho, ingressou na Companhia do Latão, tendo feito todas as peças do grupo até 2014, entre as quais se destacam: Ensaio Sobre o Latão (indicado para o Prêmio Mambembe de 1997 de Melhor Ator Coadjuvante), O Nome do Sujeito (indicado para o Prêmio Mambembe de 1998 de Melhor Ator), O Círculo de Giz Caucasiano (Prêmio Villanueva de 2007 de Melhor Espetáculo Estrangeiro, em Cuba) e O Patrão Cordial (Prêmio Questão de Crítica de 2013 de Melhor Dramaturgia e Melhor Elenco). Ney possui mestrado e é doutorando em Pedagogia Teatral pela Escola de Comunicação e Artes (ECA/USP) e publicou os livros Eugênio Kusnet: do Ator ao Professor e STANISLAVSKI Revivido (Org. com Paulo Fávari). Foi presidente da Cooperativa Paulista de Teatro, entre 2005 e 2013, onde idealizou e realizou diversos projetos como a Mostra Latino-Americana de Teatro de Grupo, na qual esteve à frente, junto com Alexandre Roit, até a sua oitava edição.  Em 2014, Piacentini ganhou o Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro - Categoria Especial - pela sua contribuição ao teatro paulista.

Vivien Buckup (diretora) - Iniciou a carreira em Artes Cênicas como bailarina e coreógrafa, passando à preparação corporal de atores e direção teatral. Trabalhou em parceria com profissionais como Paulo Autran, Roberto Lage, William Pereira, Gabriel Villela, Fauzi Arap, Marcio Aurélio, José Possi Neto, Renata Melo, Márcia Abujamra e Fernando Bonassi, entre outros. Dentre seus trabalhos mais importantes destacam-se O Evangelho Segundo Jesus Cristo (2001), de José Saramago, Sonho de um Homem Ridículo (2005), de Dostoievski, Ricardo III (2006), de W. Shakespeare, e O Incrível Menino na Fotografia (2007), de Fernando Bonassi.  Desde 1996, dedica-se a ministrar cursos, oficinas e workshops para atores, bailarinos e cantores em diversas cidades do país. Foi professora de Corpo no curso de formação de atores do Teatro Escola Célia Helena, de 2005 a 2011, e fez parte do corpo de pedagogos da Pós-graduação na mesma instituição. Como coreógrafa, participou da realização de importantes óperas nos teatros municipais de São Paulo e Rio de Janeiro. Realizou seu primeiro trabalho de direção com a encenação de Aguadeira (1994), de Patrícia Gaspar. A partir de então dirigiu Cenas de Um Casamento (1996), de Ingmar Bergman, Para Sempre (1997), de Maria Adelaide Amaral, Oscar Wilde (1997), de Elias Andreato, O Barril (1999), de Angela Dip, Clarices (2006), da obra de Clarice Lispector, Não Uma Pessoa (2010), de Daniela Schittini, e Pessoas ao Sol (2011), a partir da obra do pintor norte-americano Edward Hopper. Por seus trabalhos já recebeu os prêmios APETESP, Shell e Cultura Inglesa de Teatro.

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