quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Opressão violenta do consumo é abordada de forma onírica no espetáculo Quarenta e Duas

Fotos de Cacá Bernardes
Com texto de Camila Damasceno, o espetáculo Quarenta e Duas – da Cia Artehúmus e do Núcleo Tumulto! - estreia no dia 23 de março (sexta, às 21h) na SP Escola de Teatro com direção conjunta de Daniel Ortega e Emerson Rossini.

O enredo aborda, de forma onírica, desde temas como a opressão do consumo à busca permanente do gozo como sinônimo de felicidade.

A encenação se dá a partir da perspectiva dos últimos momentos de vida de Robson, um adolescente compulsivo que morre após se masturbar 42 vezes. O mundo particular desse garoto é apresentado com suas idiossincrasias e seus desejos tão comuns quanto absurdos, convidando o público a adentrar nos conflitos de uma geração bombardeada por links, likes e imagens editadas.

Em cena, Cibele Bissoli, Cristiano Sales e Daniel Ortega alternam-se nos vários papeis. Álvaro Franco assina os figurinos e divide com Daniel Ortega o cenário e os adereços. A iluminação é de Thatiana Moraes, e a trilha sonora é criação de Vinícius Árabe Penna.

Em ritmos de zapping, flashes de memória e imagens da vida de Robson (vivido por Sales e Ortega) vão expondo questões contemporâneas pelo viés desse adolescente. A relação com o pai ausente, as expectativas idealizadas da mãe, a relação com os padrões sociais e religiosos, o peso de ter que se encaixar em regras, os impulsos primários dos desejos e a solidão nas relações virtuais são como quadros que se alternam no subconsciente de Robson, transbordando tudo que lhe oprime, que lhe consome.

O exagero consumista - não só material, mas também humano e psicológico - aparece com dimensões também extremas em Quarenta e Duas: “a metáfora está nas mutilações presentes na encenação, apontando o quanto nos automutilamos diante do mundo, pois o autoconsumo é uma ferramenta para sobrevivermos”, argumenta Rossini.

Para trazer ao palco as reflexões levantadas no texto, os diretores fazem uso da linguagem da performance ao abordar o universo onírico que conduz a trajetória da personagem. A encenação não se propõe a responder as questões, mas ressaltar a relevância dos temas no contexto atual, quando a agilidade da informação e o descarte humano ocupam lugar de destaque no frenesi urbano. A distorção do tempo e a sobreposição de símbolos permitem que o espectador amplie sua percepção diante da cena e da poesia nesses momentos finais de Robson.

A encenação
 
A dramaturgia foi elaborada a partir de uma notícia veiculada em sites de fake news, em 2012, sobre a suposta morte de um adolescente, no interior de Goiás, após se masturbar 42 vezes, ininterruptamente.

As referências passam pela profusão de informações e pelo ritmo acelerado dos dias atuais. Cenas de filmes, animes, comerciais, redes sociais e situações cotidianas tecem um quadro denso desse “estranho mundo de Robson”, como Ortega costuma se referir, onde não é necessário definir o que é alucinação. “A internet é o universo fake onde se pode ser o que quiser assim como a falsa notícia sobre Robson”, reflete o diretor Emerson Rossini.

Quarenta e Duas quebra a linearidade do tempo onde fantasias e realidades se mesclam no universo das personagens. A opção pela narrativa zapping, pela descontinuidade e fragmentação de imagens e gestos ajuda a revelar o ponto de vista de Robson no momento de epifania diante da morte: uma zona turbulenta onde seu subconsciente se expande.

Os figurinos, objetos de cena e a presença do látex, aplicados sobre algumas peças, trazem a reflexão sobre esse mundo fake em que estamos inseridos. O figurino é composto por peças brancas que fogem ao cotidiano e permitem uma integração maior entre os atores. Com ares nonsense, as personagens vestem saias com tule, reportando ao tutu das bailarinas clássicas. “O contraponto está no figurino e nos traz a leveza do momento onírico, a doçura para essa abordagem densa”, comenta Daniel Ortega.

O cenário segue a linha onírica da encenação. De uma armação suspensa em forma de guarda-chuva surge um emaranhado de fios pretos que envolvem o espaço. Luvas pretas flutuam. Os adereços - máscaras de animais, regadores de plantas, partes de bonecas, moedor de carnes, martelo, serrote, refrigerante - são resignificados e transformados em símbolos para a linha narrativa. Esses elementos dialogam entre si e a cenografia.

A iluminação recortada desenha poeticamente as linhas do caminho de Robson. A trilha sonora criada com base no mundo virtual - é uma referência pop e também é texto. Ela potencializa nossa dependência do consumo enraizado e pincela um quadro cruel de uma realidade quase distópica. Para os diretores, o expectador irá presenciar em Quarenta e Duas um mundo paralelo e individualista, síntese de um aspecto degenerativo da sociedade moderna.
Ficha técnica


Dramaturgia: Camila Damasceno
Direção: Daniel Ortega e Emerson Rossini
Elenco: Cibele Bissoli, Cristiano Sales e Daniel Ortega.
Criação e operação de luz: Thatiana Moraes
Sonoplastia: Vinícius Árabe Penna
Figurinos: Álvaro Franco
Cenário e adereços: Álvaro Franco e Daniel Ortega
Identidade visual: Gustavo Oliveira
Fotografia: Cacá Bernardes
Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação
Produção: Cia Artehúmus
Produção executiva: Daniele Aoki - Árvore Azul Produções Artísticas
Realização: Cia Artehúmus e Núcleo Tumulto!

Serviço

Sinopse: Quarenta e Duas aborda a violência da sociedade de consumo que nos impõe o gozo constante como sinônimo de felicidade, a partir da perspectiva dos últimos dias de vida de um adolescente, que morre após se masturbar 42 vezes. Por meio de uma espécie de zapping, vê-se o mundo de Robson em uma geração bombardeada por links, likes e imagens editadas.

Espetáculo: Quarenta e Duas
Estreia: 23 de março. Sexta, às 21 horas
Local: SP Escola de Teatro (Sala R1)
Praça Franklin Roosevelt, 210 - Consolação. SP/SP
Tel: (11) 3775-8600
Temporada: 23/03 a 23/04
Dias e horários: sextas, sábados e segundas (às 21h) e domingos (às 19h)
Ingresso: R$ 30,00 (meia entrada: R$ 15,00)
Bilheteria: 1h antes das sessões. Aceita cartão de débito e dinheiro.
Duração: 70 min. Classificação: 14 anos. Gênero: Drama. Capacidade: 50 lugares.
Acesso universal. Ar condicionado.

Perfis

Daniel Ortega - É ator formado pela Escola de Arte Dramática - USP. Atuou em mais de 30 espetáculos, além de novelas, minisséries e longas-metragens. Em sua trajetória como ator de teatro, foi dirigido por nomes importantes como Zeno Wilde, José Rubens Siqueira, Luís Damasceno, Cristiane Paoli Quito, Regina Galdino, Marco Antônio Braz, Rubens Rusche, Bete Dorgam, Evill Rebouças, Kiko Mascarenhas e Marcelo Marcus Fonseca. Em 2004, passou a integrar a Cia Artehúmus de Teatro, vencedora de prêmios como APCA, Shell, Mambembe e Coca-cola FEMSA, onde iniciou pesquisa teatral para espaços não convencionais. Em de 2015, o Prêmio Fomento ao Teatro de SP viabilizou a realização da intervenção urbana e performance teatral Neverland ou as (in)existentes Faixas de Gaza. Em 2014, foi convidado pela diretora sueca Bim de Verdier a fazer parte da peça Dissecar uma Nevasca, texto de Sarah Strindberg, que fez temporada no Odin Theater, em Copenhagen, na Dinamarca. Atualmente, assina sua primeira direção na montagem de Quarenta e Duas, na qual também participa como ator.

Emerson Rossini - Bacharel em direção teatral pela USP e ator pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo - USP. Trabalhou como Coordenador de Ação Cultural no CEU Heliópolis, da Prefeitura Municipal de São Paulo. Como ator atuou em espetáculos dirigidos por Luis Fernando Ramos, Luis Valcazaras e Júlio Avanci, além de ter trabalhado com a Cia. do Latão e com a Cia. Teatro de Narradores. Dirigiu grupo de teatro no Projeto Memórias de Heliópolis e participou como orientador no Projeto Ademar Guerra 2012.

Camila Damasceno - É dramaturga do Núcleo Tumulto! de Investigação Cênica. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena da Unicamp, ela é também mestra pela mesma instituição com orientação de Matteo Bonfitto. Formada no curso regular de Dramaturgia da SP Escola de Teatro, ela já desenvolveu dramaturgias para a Cia Tenda, coletivo Os Pescadores e Projeto Espetáculo Fábrica de Cultura Vila Nova Cachoeirinha.

Cristiano Sales - É Ator. No teatro, atuou em mais de 15 espetáculos e no cinema participou de longas e curtas-metragens. Entre os diretores teatrais com quem trabalhou estão nomes como Marco Antônio Rodrigues, Regina Galdino, André Garolli, Marco Antônio Braz, Juliana Galdino, Carla Candiotto (Cia. Le Plate du Jour) e Evill Rebouças, entre outros. Cristiano é formado pela Escola de Arte Dramática da USP e possui especialização em circo, clown, commedia dell’arte, canto e dança popular.

Cibele Bissoli - É atriz, contadora de histórias, bonequeira e arte-educadora. Formada pela EAD USP e pela Escola Livre de Teatro de Santo André, atuou em Noel Rosa, O Poeta da Vila e seus Amores (ProAC, em 2009) e Vinicius, de Vida, Amor, Morte, montagens da Cia Coisas Nossas, dirigidas por Dagoberto Feliz. Entre os outros espetáculos em que atuou, destaque para: Bruto, com Direção de Luiz Fernando Marx, texto de Alexandre Dal Farra; Balada de um Palhaço, direção de Gustavo Trestine (Prêmio Miriam Muniz 2007); e Gota D’Água Breviário, musical com direção de Heron Coelho e Georgette Fadel (Prêmio Shell de Melhor Atriz), da Cia Breviário.


Assessoria de imprensa: VERBENA COMUNICAÇÃO
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