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Fotos: Heloísa Bortz |
Com
direção de Hugo Coelho, o espetáculo
À
Espera, de Sérgio Roveri,
estreia no dia 8 de junho, sexta-feira,
na Oficina Cultural Oswald de Andrade,
às 20h. A pré-estreia para convidados acontece no dia anterior (7/6, às 20h).
Com
elenco formado por Ella Bellissoni, Jean Dandrah e Regina Maria Remencius, a história traz três personagens que podem
estar em qualquer lugar, em qualquer tempo: duas mulheres, sem nenhum tipo de
memória acordam todos os dias na mesma hora, à espera de algo – até que um dia
recebem a visita inesperada de um homem que veio comemorar um aniversário.
A
ação acontece no despertar do que deveria ser um sono profundo: Uma (Remencius) e Outra (Bellissoni) se deparam com o sol que insiste em nascer todos
os dias, numa indecifrável realidade. Uma é a mais velha. Não anda, vive na
cadeira de rodas, não dorme nunca, não sonha e gosta de falar. À noite, conta
os pingos que caem de uma torneira e, durante o dia, ocupa-se ouvindo relatos
dos sonhos de Outra. Uma não tem memória, nem lembrança do passado. Outra é
jovem e cuida de Uma. Sente medo. Dorme, sonha e inventa sonhos para entreter
Uma. Ela também não tem memória de quem foi. Ambas não sabem como foram parar
ali e esperam que um dia haja explicação para tamanha espera.
Ele (Dandrah) chega sem
avisar para uma festa de aniversário, trazendo duas garrafas de bebida, a
promessa de um bolo e algumas histórias. Ele conta que em uma festa já foi
capaz de cantar 137 vezes uma mesma canção. Logo após sua chegada, Outra
aproveita para sair e conhecer o mundo lá fora, e volta com algumas respostas.
Sérgio
Roveri diz que o texto, escrito há cerca de dois anos, foi inspirado em uma
imagem do juízo final que sempre o perseguiu, desde criança. “Como seria
acordar em um (não) lugar apocalíptico e nada acontecer? Embora não saibam
exatamente o que estão fazendo ali, os personagens têm as mesmas inquietações,
têm a consciência de que haja algum propósito. Estariam aguardando o tal dia do
juízo final?”. Ele explica ainda que, nessa espera atemporal, o que os une
talvez seja a esperança. “Eles podem representar o fim, mas nada impede que
seja também um início. Ainda que o juízo final seja um conceito muito ligado à
religião, não é esta particularidade que o texto aborda, completa o autor”.

Ao contrário do que seria um espetáculo realista, À Espera coloca o
espectador diante da intrigante historia dessas personagens que se encontram em
lugar e tempo indefinidos. “Apesar de não terem qualquer pista que as remetam a
alguma ideia de tempo e identidade, essas mulheres não se desesperam”,
diz Bellissoni. “Ao levar uma existência misteriosamente rotineira, acreditam
que algo maior está por acontecer, que alguma coisa pode alterar ou mesmo dar
um sentido a um cotidiano tão vazio. Não é uma espera por acomodação. Não tem
outra possibilidade”, diz Remencius.
Embora
se encontrem em uma situação de contornos extremados, os três personagens podem
ser uma metáfora do ser humano diante do risco, do perigo, do desconhecido e,
principalmente, diante da necessidade de reconstrução. Abordando a
impossibilidade de entendimento da vida, do significado da nossa existência, a
peça questiona dois caminhos possíveis, o da desistência ou da possibilidade de
enfrentá-la. Para o diretor Hugo Coelho, “À Espera é um texto que induz
à reflexão. Não reafirma certezas, propõe questionamentos sobre nossos
posicionamentos diante da vida, fazendo do teatro um espaço de reflexão crítica
sobre a realidade. A falta de memória - dos personagens assim como da nossa
história - nos impossibilita de construirmos uma identidade e decidirmos o
nosso destino”.
Sobre
a encenação, Sérgio Roveri diz que sua expectativa é estética: ver no palco o
olhar do diretor e dos atores para algo que ele, talvez, nem enxergasse ao
escrever a peça. “O que me surpreende sempre é a expansão do entendimento”,
afirma ele. “À Espera pretende ser um espelho por vezes poético, por vezes
trágico, por vezes comovente de um mundo onde aflição e conformismo travam um
debate eterno”, finaliza o autor.
A
encenação
Segundo
o diretor, Sérgio Roveri escreve um drama fantástico que também pode ser uma
tragédia contemporânea. “E, por requinte, ele compõe seu texto nos moldes
clássicos, com unidade de lugar, tempo e ação. Paradoxalmente, desconstrói a
tragédia clássica nos provocando a questionar o lugar, o tempo e a ação da
peça, onde passado, presente e futuro se entrelaçam numa desconexa realidade.
Roveri tem uma densidade poética que eu espero alcançar: traduzir sua poesia de
forma cênica”.
Hugo
Coelho comenta que os três personagens vivendo em um cenário pós-apocalíptico,
esperando por algo que não se sabe o quê, possibilita múltiplas interpretações.
“O texto nos desafia a não identificar onde se passa a ação. Esse cenário
poderia ser mera representação dos lares modernos, dentro dos quais as pessoas
se enclausuram com medo do diferente, do outro, do que está do lado de
fora”.
O
diretor explica que a ação da peça se constitui pela palavra, pela força do
ator. A clareza das falas, a densidade, o ritmo e o fluxo são fundamentais para
o entendimento do espetáculo. “Esta é a celebração de um ato teatral intenso,
uma experiência forte. O texto traz questões filosóficas numa situação em que
estamos perdidos em um mar de possibilidades”, reflete. “À Espera também tem
humor. Seus diálogos são vibrantes, seus personagens pulsam, sua ironia e
desespero são cotidianos e prosaicos. A nossa tragédia é estarmos diante do
tempo e procurar entender o significado da existência. Estamos à espera de dias
melhores, de uma sociedade mais justa e menos violenta onde a alegria e a
vontade de viver sejam possíveis”, completa.
A
ambientação não é realista, é uma instalação cenográfica (de David Schumaker)
feita de tecidos em tons de branco, dispostos em simetrias e assimetrias
geométricas e simbólicas para que todos os universos sejam possíveis. “Pode ser
uma casa ou o mundo interno de cada um”, explica Hugo. O figurino (de Adriana
Vaz Ramos) também escapa à configuração realista para pessoas que não sabemos
quem são nem o que representam. “Tipificar os personagens seria reduzi-los,
estreitar as possibilidades de leitura que eles oferecem”, argumenta o diretor.
Os figurinos trazem tons de cinza com predominância de brancos, tão difusos
como o espaço e a condição de vida de Uma, Outra e Ele.
A
iluminação (Fran Barros) explora as muitas possibilidades que o cenário
permite, desde o foco fechado no rosto dos atores para realçar a palavra,
passando pelo amarelo intenso do nascer do sol que invade “a casa” todas as
manhãs, até o preenchimento do ambiente fazendo uso de cores, alternando e
enfatizando os climas das cenas. E a trilha sonora (Ricardo Severo),
originalmente composta, descreve o clima, o vazio, a incerteza e pontua a
repetição dos dias. Ora comenta, ora pontua, ora acentua a ação dramática.
Uma
não pode andar. Ironicamente, seus sapatos que trazem as marcas de outro tempo,
ganham a cena. É nos sapatos que estão impressas as memórias que ela não
consegue lembrar. O público, então, é convidado a tirar seus sapatos para
compor a instalação. E, no transcorrer do espetáculo, suas memórias, através
dos sapatos iluminados na cena, podem dialogar com o texto e com a encenação de
forma mais próxima e sensível, para além da fruição intelectual que muitas
vezes o teatro propicia.
Ficha
técnica / Serviço
Texto:
Sergio Roveri
Direção:
Hugo Coelho
Elenco:
Ella Bellissoni, Jean Dandrah e Regina Maria Remencius
Cenário:
David Schumaker
Iluminação:
Fran Barros
Design de aparência de atores: Adriana Vaz Ramos
Música
original, produção musical e desenho de som: Ricardo Severo e Rafael Thomazini
Assistência
de direção: Fernanda Lorenzoni e Larissa Matheus
Direção
de produção: Fernanda Moura
Produção:
Palimpsesto Produções Artísticas
Assistência
de produção: Fernanda Ramos
Fotos:
Heloísa Bortz
Identidade
visual: Denise Bacellar
Mídias
sociais: Verá Papini
Assessoria
de imprensa: Verbena Comunicação
Realização:
Ella Bellissoni, RMR Produção Artística e Núcleo 137
Sinopse - Duas mulheres
acordadas do que deveria ser um sono profundo se deparam com o sol que insiste
em nascer, todos os dias, na mesma hora numa indecifrável realidade. Elas
recebem a visita inesperada de um homem para uma festa de aniversário. Embora
não saibam exatamente o que estão fazendo naquele lugar, os personagens têm
consciência de que estão ali por algum propósito.
Espetáculo:
À
Espera
Pré-estreia:
7 de junho. Quinta, às 20h
Estreia:
8 de junho. Sexta, às 20h
Temporada: 8 de junho a 21 de julho
Horários: Quintas e sextas (às 20h) e sábados (18h)
Ingressos:
Grátis - Retirar
com 1h de antecedência.
Classificação: de 14 anos. Gênero: Drama. Duração: 60 min.
Oficina Cultural Oswald de Andrade (Sala 7)
Rua Três Rios, 363 - Bom Retiro - São Paulo/SP
Tel:
(11) 32215558. Capacidade: 30 lugares.
Acessibilidade. Café. Não possui estacionamento.
http://www.oficinasculturais.org.br/oswald-de-andrade
Assessoria de imprensa: VERBENA Comunicação
Eliane Verbena / João Pedro