quarta-feira, 8 de maio de 2019

Cia. de Teatro Heliópolis encerra temporada da montagem (IN)JUSTIÇA no dia 19 de maio

Foto de Caroline Ferreira

Termina no dia 19 de maio a temporada da montagem (IN)JUSTIÇA da Cia. de Teatro Heliópolis

O espetáculo está em cartaz na Casa de Teatro Maria José de Carvalho (sede do grupo), no bairro Ipiranga, às sextas e sábados (às 20h) e domingos (às 19 horas), com ingressos no sistema ‘pague quanto puder’. A direção é de Miguel Rocha e a dramaturgia é assinada por Evill Rebouças em processo colaborativo com os integrantes da Companhia.

(IN)JUSTIÇA é um ensaio cênico, guiado pela indagação ‘o que os veredictos não revelam?’, que reflete sobre aspectos do sistema jurídico brasileiro. Para tanto, conta a história do jovem Cerol que, involuntariamente, pratica um crime. A partir daí, surgem diversas concepções sobre o que é justiça, seja a praticada pelo judiciário ou aquela sentenciada pela sociedade.

Permeado por imagens-sínteses (característica da Cia. de Teatro Heliópolis) e explorando a performance corporal, o espetáculo coloca em cena a complexidade da justiça no país, deixando a plateia na posição de júri em um tribunal. O embate entre os dois lados da justiça - da vítima e do criminoso - se estabelece em um jogo contundente que expõe com originalidade a crua realidade dos jovens pobres e negros. A música ao vivo confere ainda mais densidade poética ao ‘relato’, que foge de qualquer abordagem clichê.

A história de Cerol é contada de forma não linear. Exímio empinador de pipas, ele vive com sua avó, pois a mãe morreu no parto e o pai, assassinado. Depois de uma briga por conta do alto volume da música na vizinhança, Cerol foge e acaba disparando involuntariamente um tiro em uma mulher, que morre em seguida. Ele acaba preso e é submetido ao julgamento da lei e da sociedade.

Com base nesse argumento, a Companhia de Teatro Heliópolis discute direitos humanos à luz da Constituição Nacional. A encenação recupera também a ancestralidade brasileira em passagens ritualísticas. “Queremos pensar o homem negro e a justiça, desde a nossa origem até os dias de hoje”, afirma o diretor Miguel Rocha.

Cenas impactantes e desconcertantes surpreendem todo o tempo. A encenação de Miguel Rocha, alinhavada pela dramaturgia de Evill Rebouças, mostra como a democracia pode ser manipulada. O crime versus a vítima ou o criminoso versus a justiça aparecem de forma não superficial nem previsível. A abordagem de (IN)JUSTIÇA parte do ponto de vista mais íntimo para aquele mais coletivo: da comunidade para a sociedade, da moral pessoal às convenções sociais. Isso permite, igualmente, as leituras de um mesmo caso jurídico, como no julgamento - defesa e promotoria -, onde ambos os discursos são tão contundentes quanto convincentes. “Para falar de justiça, temos que falar das relações humanas contraditórias, pois a justiça se apresenta pelas contradições”, reflete o diretor.

Permeado por emoções e sensações que fogem da obviedade, o espetáculo tem quadros coreografados que trazem o respiro necessário à dinâmica da encenação: cidadãos urbanos, policiais, advogados com suas togas desfilam pela área cênica e hipnotizam o espectador. Os depoimentos inseridos nas cenas humanizam e tornam crível a proposta da montagem, sejam eles densos, desconcertantes, ou mesmo lúdicos. Segundo o diretor, os três pontos de vista sobre justiça – “o pessoal, o divina e o do homem” – são considerados na concepção de (IN)JUSTIÇA, bem como a máxima que diz “só quem passou por uma injustiça sabe o que é justiça”.

O cenário (Marcelo Denny) situa a força da ancestralidade, presente na terra e no terreiro, na força fria do zinco, na estética religiosa que foge dos estereótipos. Traz também o símbolo da lentidão da justiça com toda sua burocracia em pilhas e pilhas de papéis e processos. Elementos como areia, terra, projéteis de bala e pipas compõem a área de encenação, onde predomina a cor cinza. A trilha (de Meno Del Picchia) e os efeitos sonoros são executados em sincronismo com as cenas. Os atores interpretam cantos de tradição que reforçam a busca pela humanização e pela ancestralidade propostas pelo espetáculo.

O espetáculo integra o projeto Justiça - O que os Vereditos Não Revelam, contemplado pela 31ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.

Ficha técnica

Encenação: Miguel Rocha. Texto: Evill Rebouças (criação em processo colaborativo com a Cia de Teatro Heliópolis). Elenco: Alex Mendes, Cícero Junior, Dalma Régia, Danyel Freitas, David Guimarães, Gustavo Rocha, Karlla Queiroz e Walmir Bess. Cenografia/instalação: Marcelo Denny. Assistência de cenografia: Denise Fujimoto. Figurino: Samara Costa. Iluminação: Fagner Lourenço e Miguel Rocha. Direção musical: Meno Del Picchia. Oficina de voz: Bel Borges. Oficina de canto: Luciano Mendes de Jesus. Músicos: Amanda Abá (violoncelo e violino), Bel Borges (violão e percussão) e Fernanda Broggi (percussão). Provocação teórica e prática: Maria Fernanda Vomero. Provocação / teatro épico: Alexandre Mate. Provocação / teatro performático: Marcelo Denny. Direção de movimento: Lúcia Kakazu e Miguel Rocha. Preparação corporal: Lúcia Kakazu. Coreografia: Camila Bronizeski, Lucia Kakazu e Miguel Rocha. Oficina de dança: Camila Bronizeski. Oficina de mímica: Thiago Cuimar. Operação de luz: Fagner Lourenço e Viviane Santos. Operação de som e sonoplastia: Giovani Bressanin. Mesas de debates: Viviane Mosé, Gustavo Roberto Costa, Ana Lúcia Pastore e Cristiano Burlan. Mediadora/debates: Maria Fernanda Vomero. Comentador convidado: Bruno Paes Manso. Organização de textos do programa: Maria Fernanda Vomero. Direção de produção: Dalma Régia. Produção executiva: Elaine Vital Marciano. Fotos: Caroline Ferreira e Donizete Bomfim. Design gráfico: Camila Teixeira. Assessoria de imprensa: Eliane Verbena. Realização: Companhia de Teatro Heliópolis. Apoio: 31ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.

Serviço

Espetáculo: (IN)JUSTIÇA
Temporada: 25 de janeiro a 19 de maio
Horários: sextas e sábados (às 20h) e domingos (às 19 horas)
Ingressos: Pague quanto puder (bilheteria: 1h antes das sessões)                 
Duração: 90 minutos. Gênero: Experimental / Ensaio cênico. Classificação: 14 anos

Casa de Teatro Maria José de Carvalho
Rua Silva Bueno, 1533. Ipiranga/SP. Tel: (11) 2060-0318
Capacidade: 60 lugares. Não possui acessibilidade. Não possui estacionamento.

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