Foto de Caroline Ferreira |
Termina no dia 19 de maio a temporada da montagem (IN)JUSTIÇA
da Cia. de Teatro Heliópolis.
O espetáculo está em cartaz na Casa de Teatro Maria José de Carvalho (sede do grupo), no bairro Ipiranga, às sextas e sábados (às 20h) e domingos (às 19 horas), com ingressos no sistema ‘pague quanto puder’. A direção é de Miguel Rocha e a dramaturgia é assinada por Evill Rebouças em processo colaborativo com os integrantes da Companhia.
O espetáculo está em cartaz na Casa de Teatro Maria José de Carvalho (sede do grupo), no bairro Ipiranga, às sextas e sábados (às 20h) e domingos (às 19 horas), com ingressos no sistema ‘pague quanto puder’. A direção é de Miguel Rocha e a dramaturgia é assinada por Evill Rebouças em processo colaborativo com os integrantes da Companhia.
(IN)JUSTIÇA é um ensaio cênico, guiado pela
indagação ‘o que os veredictos não revelam?’, que reflete sobre aspectos do
sistema jurídico brasileiro. Para tanto, conta a história do jovem Cerol que,
involuntariamente, pratica um crime. A partir daí, surgem diversas concepções sobre
o que é justiça, seja a praticada pelo judiciário ou aquela sentenciada pela
sociedade.
Permeado
por imagens-sínteses (característica da Cia. de Teatro Heliópolis) e
explorando a performance corporal, o espetáculo coloca em cena a complexidade da
justiça no país, deixando a plateia na posição de júri em um tribunal. O embate
entre os dois lados da justiça - da vítima e do criminoso - se estabelece em um
jogo contundente que expõe com originalidade a crua realidade dos jovens pobres
e negros. A música ao vivo confere ainda mais densidade poética ao ‘relato’,
que foge de qualquer abordagem clichê.
A
história de Cerol é contada de forma não linear. Exímio empinador de pipas, ele
vive com sua avó, pois a mãe morreu no parto e o pai, assassinado. Depois de
uma briga por conta do alto volume da música na vizinhança, Cerol foge e acaba
disparando involuntariamente um tiro em uma mulher, que morre em seguida. Ele
acaba preso e é submetido ao julgamento da lei e da sociedade.
Com
base nesse argumento, a Companhia de Teatro Heliópolis discute direitos humanos
à luz da Constituição Nacional. A encenação recupera também a ancestralidade
brasileira em passagens ritualísticas. “Queremos pensar o homem negro e a
justiça, desde a nossa origem até os dias de hoje”, afirma o diretor Miguel
Rocha.
Cenas
impactantes e desconcertantes surpreendem todo o tempo. A encenação de Miguel
Rocha, alinhavada pela dramaturgia de Evill Rebouças, mostra como a democracia
pode ser manipulada. O crime versus a vítima ou o criminoso versus a justiça
aparecem de forma não superficial nem previsível. A abordagem de (IN)JUSTIÇA
parte do ponto de vista mais íntimo para aquele mais coletivo: da comunidade
para a sociedade, da moral pessoal às convenções sociais. Isso permite,
igualmente, as leituras de um mesmo caso jurídico, como no julgamento - defesa
e promotoria -, onde ambos os discursos são tão contundentes quanto
convincentes. “Para falar de justiça, temos que falar das relações humanas
contraditórias, pois a justiça se apresenta pelas contradições”, reflete o
diretor.
Permeado
por emoções e sensações que fogem da obviedade, o espetáculo tem quadros
coreografados que trazem o respiro necessário à dinâmica da encenação: cidadãos
urbanos, policiais, advogados com suas togas desfilam pela área cênica e
hipnotizam o espectador. Os depoimentos inseridos nas cenas humanizam e tornam
crível a proposta da montagem, sejam eles densos, desconcertantes, ou mesmo
lúdicos. Segundo o diretor, os três pontos de vista sobre justiça – “o pessoal,
o divina e o do homem” – são considerados na concepção de (IN)JUSTIÇA, bem como
a máxima que diz “só quem passou por uma injustiça sabe o que é justiça”.
O
cenário (Marcelo Denny) situa a força da ancestralidade, presente na terra e no
terreiro, na força fria do zinco, na estética religiosa que foge dos
estereótipos. Traz também o símbolo da lentidão da justiça com toda sua
burocracia em pilhas e pilhas de papéis e processos. Elementos como areia,
terra, projéteis de bala e pipas compõem a área de encenação, onde predomina a
cor cinza. A trilha (de Meno Del Picchia) e os efeitos sonoros são executados
em sincronismo com as cenas. Os atores interpretam cantos de tradição que
reforçam a busca pela humanização e pela ancestralidade propostas pelo
espetáculo.
O
espetáculo integra o projeto Justiça - O que os Vereditos Não Revelam,
contemplado pela 31ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a
Cidade de São Paulo.
Ficha técnica
Encenação: Miguel Rocha.
Texto: Evill Rebouças (criação em processo colaborativo com a Cia
de Teatro Heliópolis). Elenco: Alex
Mendes, Cícero Junior, Dalma Régia, Danyel Freitas, David Guimarães, Gustavo
Rocha, Karlla Queiroz e Walmir Bess. Cenografia/instalação:
Marcelo Denny. Assistência de cenografia:
Denise Fujimoto. Figurino: Samara
Costa. Iluminação: Fagner Lourenço e
Miguel Rocha. Direção musical: Meno
Del Picchia. Oficina de voz: Bel
Borges. Oficina de canto: Luciano
Mendes de Jesus. Músicos: Amanda Abá
(violoncelo e violino), Bel Borges (violão e percussão) e Fernanda Broggi
(percussão). Provocação teórica e prática: Maria Fernanda Vomero. Provocação / teatro épico: Alexandre Mate. Provocação / teatro performático: Marcelo
Denny. Direção de movimento: Lúcia
Kakazu e Miguel Rocha. Preparação
corporal: Lúcia Kakazu. Coreografia:
Camila Bronizeski, Lucia Kakazu e Miguel Rocha. Oficina
de dança: Camila Bronizeski. Oficina
de mímica: Thiago Cuimar. Operação de
luz: Fagner Lourenço e Viviane Santos. Operação
de som e sonoplastia: Giovani Bressanin. Mesas
de debates: Viviane Mosé, Gustavo Roberto Costa, Ana Lúcia Pastore e
Cristiano Burlan. Mediadora/debates:
Maria Fernanda Vomero. Comentador
convidado: Bruno Paes Manso. Organização
de textos do programa: Maria Fernanda Vomero. Direção
de produção: Dalma Régia. Produção
executiva: Elaine Vital Marciano. Fotos:
Caroline Ferreira e Donizete Bomfim. Design
gráfico: Camila Teixeira. Assessoria
de imprensa: Eliane Verbena. Realização:
Companhia de Teatro Heliópolis. Apoio:
31ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São
Paulo.
Serviço
Espetáculo: (IN)JUSTIÇA
Temporada: 25 de janeiro a 19
de maio
Horários: sextas e sábados (às
20h) e domingos (às 19 horas)
Ingressos: Pague quanto puder
(bilheteria: 1h antes das sessões)
Duração: 90 minutos. Gênero:
Experimental / Ensaio
cênico. Classificação: 14 anos
Casa de Teatro Maria José de
Carvalho
Rua Silva Bueno, 1533.
Ipiranga/SP. Tel: (11) 2060-0318
Capacidade: 60 lugares. Não
possui acessibilidade. Não possui estacionamento.
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