Canto das Ditas - Fragmentos
Afrografados de Cidade Tiradentes integra a
programação da mostra OUNJE - Alimento dos Orixás (programação
aqui) que
acontece no Sesc Ipiranga, no período de 19
de junho a 25 de agosto. A exposição
faz uma imersão artística na culinária e na
cultura das religiões afro-brasileiras.
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Foto de Luciana Ponce |
Para refletir sobre como a África se manifesta no dia a dia
das moradoras de Cidade Tiradentes, o grupo encarou o desafio de ‘afrografar’ o
bairro - referência ao termo ‘afrografias’ da poetisa e ensaísta Dra. Leda
Maria Martins, que coloca em evidência e consciência a nossa herança
africana. O trabalho do Núcleo Filhas da Dita
mapeou esse legado ancestral por vários ângulos: ao próprio redor, junto a parentes,
pessoas próximas e até desconhecidas que caminham pelo bairro.
A partir da investigação proposta, Canto
das Ditas coloca em cena histórias de mulheres negras de Cidade
Tiradentes que se entrecruzam com histórias de Yabás (orixás femininas). A
montagem busca o reflexo das histórias do cotidiano em um espelho ‘mítico’ das
personagens sagradas.
A diretora Antonia Mattos explica que os depoimentos
colhidos pelo grupo aparecem no texto e na dramaturgia de forma não linear,
fragmentada “A narrativa é espiralada, pois procura se relacionar com um tempo
mítico, da memória e da ancestralidade. As personagens reais correspondem, de
forma arquetípica, às personagens míticas. Recorremos ao ‘espírito ancestral feminino’,
às ‘grandes mães da humanidade’, às yabás para contar e cantar as histórias
dessas mulheres, as Ditas, que fundaram Cidade Tiradentes”.
As atrizes que interpretam as quatro mulheres - Bendita/Nanã,
Marta/Iemanjá Maria/Iansã, e Joana Nega Su/Obá - são Ellen Rio Branco, Lua Lucas, Luara Sanches e Thábata Letícia, respectivamente.
Segundo Antonia, a poética cênica é atravessada por elementos e saberes
ancestrais, num tempo/espaço espiralado que aponta para um movimento rumo às
reminiscências de um passado sagrado, para fortalecer o presente e deslumbrar o
futuro. A origem da humanidade na África e a fundação de Cidade Tiradentes são
contadas simultaneamente: o passado sagrado se revela no presente e passado
recente.
A origem do bairro passa pela força dessas mulheres negras
que alí chegaram, se instalaram e fizeram a história local. E são delas as
histórias contadas na encenação Canto das Ditas - Fragmentos Afrografados de Cidade Tiradentes,
onde a música tem papel fundamental, trazendo a voz e o canto dessas mulheres
em um cenário lúdico que se estabelece entre o ritual e o urbano contemporâneo. “Tempos
e lugares diferentes mostram que, apesar de toda a repressão sofrida, as
mulheres sempre se reuniram em grupos para buscar alternativas, para desafiar o
sistema patriarcal e mudar sua condição, seja na sociedade secreta africana de
Eleko, seja na Casa Anastácia (Centro de Defesa e Convivência da
Mulher) em Cidade Tiradentes”, reflete Antonia
Mattos.
"São evocadas as mães, as avós, as netas e filhas que ainda nem nasceram para exaltar essa ancestralidade sagrada: o poder feminino da mulher negra. Pedimos licença às ‘Grandes Mães Pássaros’ e saudamos nossa ancestralidade africana e afro-brasileira, por meio de gestos, música, canto, narrativas e oralituras que trazem milênios de existência e dão pistas para o futuro". Depoimento das atrizes do Núcleo Teatral Filhas da Dita.
“Só quando ‘chegou’ aqui foi que a gente percebeu que tinham
construído só os prédios mesmo, ‘né’?! Não tinha mais nada ‘pra’ gente
aqui. Foi quando eu percebi que se a gente quisesse alguma coisa, tinha
que pôr a mão na massa. Foi isso que a comunidade fez."
Depoimento de Dona Geralda Marfisa, moradora de Cidade Tiradentes, há 34 anos.
Depoimento de Dona Geralda Marfisa, moradora de Cidade Tiradentes, há 34 anos.
O grupo - O Núcleo Teatral Filhas da Dita nasceu no Centro Cultural
Arte em Construção, em 2007, e vem mantendo um processo contínuo de criação
artística. Em seu repertório estão os espetáculos: Sonho de Tatiane - uma Poética sobre Juventudes (2017), A Guerra (2013) e Os Tronconenses (2007). Em 2015, brotou a faísca de um desejo: a
construção do fazer artístico novo, mas que mantivesse a memória progenitora.
“Afinal, se somos Filhas, nossas mães têm cara, voz e corpo nos nossos
processos. Dessa constatação desemboca um estudo aprofundado sobre a feminilidade
e suas subjetividades com recorte de raça/etnia”, relatam os integrantes do
grupo. Atualmente, com a realização de Fragmetos
Afrografados de Cidade Tiradentes, buscam visibilizar narrativas que
constantemente foram, e ainda são negligenciadas. Nesses anos de trabalho é
evidente o aprofundamento de uma prática artística com e no território e a
articulação em rede com outros coletivos periféricos.
FICHA TÉCNICA
Direção e Dramaturgia:
Antonia Mattos. Elenco: Ellen Rio Branco, Lua Lucas, Luara Sanches, Thábata
Letícia, Cláudio Pavão e Rafael Pantoja. Direção
musical: Jonathan Silva. Concepção
de luz: Antonia Mattos e Fernando Alves. Cenário e figurino: Eliseu Weide. Assessoria de Imprensa: Verbena Comunicação. Produção: Núcleo Teatral Filhas da Dita. Realização: Sesc.
SERVIÇO
Com: Núcleo Teatral Filhas da Dita
Mostra: OUNJE -
Alimento dos Orixás
Dias 12, 13 e 14 de julho
Sexta e sábado (às 21h) e domingo (às 18h)
Local: Teatro (200 lugares)
Gênero: Teatro Adulto. Duração: 90 min. Classificação: 14
anos.
Ingressos: R$ 20,00
(inteira). R$ 10,50 (meia: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos,
aposentados e pessoas com deficiência). R$ 6,00 (credencial plena do Sesc:
trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e
dependentes).
Sesc Ipiranga
Rua
Bom Pastor, 822, Ipiranga
– SP/SP
Tel: 3340-2000
Twitter
e Facebook: @sescipiranga
Assessoria de imprensa: VERBENA COMUNICAÇÃO
Eliane Verbena / João Pedro
Tel: (11) 2738-3209 / 99373-0181- verbena@verbena.com.br
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