quinta-feira, 19 de maio de 2022

SESI A.E. Carvalho recebe As Conchambranças de Quaderna, de Suassuna, em sessões gratuitas

Foto de Erik Almeida


O espetáculo As Conchambranças de Quaderna, primeira montagem paulistana da obra de Ariano Suassuna, tem sessões gratuitas no Teatro do SESI SP A.E. Carvalho, nos dias 10 e 11 de junho, sexta e sábado, às 20h, com reservas pelo site Sesisp.org.br.

Dirigida por Fernando Neves, a montagem da Cia. Vúrdon de Teatro Itinerante e Beijo Produções Artísticas traz o universo fantástico de uma farsa de circo sertaneja com pitadas de pura realidade cômica. Suassuna transporta para o palco o personagem Pedro Dinis Quaderna, de seu Romance d’A Pedra do Reino, lançado em de outubro de 1971, em Recife, um ano após o lançamento do Movimento Armorial. Portanto, Quaderna completou 50 anos, em 2021, quando o espetáculo estreou. Trata-se de uma comédia de caráter popular e diálogo direto que une a estética sertaneja, inspirada no romanceiro nordestino, do trovador ibérico, ao circo-teatro que tanto fascinava Ariano, para apresentar os imbróglios de Quaderna.

A direção preciosa de Fernando Neves, mestre no ofício do circo-teatro, conta com a colaboração do artista plástico Manuel Dantas Suassuna, na criação visual da obra e nas pinturas exclusivas dos telões do cenário, e com figurinos assinados por Carol Badra. Na criação musical, o talento e a criatividade de Renata Rosa (cantora, compositora e rabequeira) que criou a paisagem sonora. E dando vida à brincadeira teatral está um elenco de atores/cômicos: Jorge de Paula, Fábio Espósito, Guryva Portela, Henrique Stroeter, Carlos Ataíde, Bruna Recchia e Abuhl Júnior, trazendo o circo pela estrada.

“Conchambrança” é uma corruptela de “conchamblança”, que significa conchavo, combinação. Foi na forma de “conchambrança” que Suassuna ouviu a palavra pela primeira vez, no sertão da Paraíba (Carlos Newton Jr). Forma que se ajusta perfeitamente ao universo da peça, uma vez que o protagonista Quaderna (interpretado pelo pernambucano Jorge de Paula) conta suas lembranças em narrativa direta.

A peça completa é formada por três imbróglios em que Quaderna toma parte, fazendo uma série de conchavos para resolver situações, tirando proveito de tudo e de todos como é esperado de um bom pícaro. Devido ao distanciamento social imposto pela pandemia do coronavírus, a produção traz somente o primeiro ato: O Caso do Coletor Assassinado. Quaderna usa sua astúcia para driblar as tensões entre o sertão e a cidade para resolver uma crise política entre o governo do estado da Paraíba e o seu Padrinho e protetor Dom Pedro Sebastião (líder da oligarquia rural), durante as investigações sobre um “suposto” desfalque dado pelo coletor de impostos da cidade.

Na versão para o teatro, Suassuna traz uma das facetas do seu Quaderna: alma de palhaço de circo popular, um rei lunático do sertão, astrólogo, intelectual sertanejo e imperador do Sete-Estrelo do Escorpião. O Quaderna do palco é divertido e sedutor, combinando os arquétipos tanto das manifestações e brincadeiras populares quanto do povo sertanejo. Com humor ácido e preciso, a peça é uma obra rica e delirante que fala para todos os públicos. O texto envolve a plateia em um jogo de ‘sobrevivência’, com truques para driblar as armadilhas e com astúcia para sobreviver. Quaderna - rei e palhaço - é um personagem rico de personalidade megalomaníaca e exuberante, autoproclamado imperador, um verdadeiro pícaro e gracioso palhaço de circo popular.

A concepção de Fernando Neves é uma reinterpretação do circo-teatro, estética à qual se dedica, há quase duas décadas, junto ao grupo Os Fofos Encenam e, desde a infância, com a sua família Santoro Neves. É uma junção do circo-teatro com a obra de Suassuna. O diretor ressalta que no eixo da encenação está o protagonista com seu tipo e temperamento. “A questão técnica deve ser preciosa na composição do ator: tempo e ritmo são fundamentais para o protagonismo de cada cena”, comenta.

A trilha sonora, de Renata Rosa, confere o espírito festivo à peça. A música, segundo o diretor, é o chão para as personagens, potencializa os dramas e as sonoridades incidentais ajudam a revelar emoções, sensações e reações. “A peça é como uma partitura. A música no circo-teatro cumpre funções importantíssimas. É tema das personagens, cria o clima das cenas e dá o ritmo e o tempo para a atuação, revelando estados emocionais e ligando as situações que preparam o público para o final”, afirma.

O cenário com painéis de Manuel Dantas Suassuna, com traços e elementos característicos da cultura popular do nordeste, ambienta as cenas no universo visual de Ariano Suassuna. “Tivemos a sorte de contar com o talento de Dantas Suassuna, alguém que vive e faz essa cultura que estamos abordando, que nasceu inserido nela”, comenta Fernando Neves.

“Trazer Suassuna para o circo é juntar padrões que estavam separados pelas escolhas estéticas e de conteúdo dos artistas criadores do circo-teatro no Brasil. Trabalhando com o melodrama e o vaudeville, o circo-teatro seguiu um caminho menos crítico com histórias recheadas de heróis e heroínas vitimizados por vilões, que eram castigados no final diante do triunfo da virtude”, argumenta Fernando Neves. Ele explica que o circo-teatro caminhou, até meados do século XX, criando conceitos refletidos na geografia da cena, na cenografia de telões pintados e gabinetes, na música e principalmente em personagens arquetípicos, calcados na tipologia dos atores. “Os elementos e conceitos criados pelo circo-teatro são os melhores anfitriões para receber a dramaturgia corrosiva de Ariano Suassuna, mágica, sem vínculo psicológico, repleta de metáforas”. Ele finaliza: “o encontro da commedia dell'arte com o circo-teatro, que tem como base a primeira, traz um sentido histórico de ascendência artística que se enriquece com a incorporação de elementos do teatro popular nordestino, repleto de fantasias e impregnado da loucura criativa de Ariano”.

Suassuna teve contato pela primeira vez com o teatro dentro de um circo, nos melodramas e espetáculos de mamulengos (teatro popular de boneco nordestino). As apresentações aconteciam em circos pobres que chegavam à Taperoá. As Conchambranças de Quaderna marca a retomada teatral do autor, em 1987, depois de 25 anos se dedicando a outras vertentes literárias e artísticas. A peça é composta por três atos: “O Caso do Coletor Assassinado” (que é encenado nesta produção), “Casamento com Cigano pelo Meio” e “A Caseira e a Catarina ou O Processo do Diabo”. Teve apenas três montagens – em Recife (1987 e 2004) e no Rio de Janeiro (2011) – e foi publicada somente em 2018, no teatro completo e em texto individual.

FICHA TÉCNICA - Texto: Ariano Suassuna. Direção: Fernando Neves. Elenco por ondem de entrada: Jorge de Paula, Fábio Espósito, Guryva Portela, Henrique Stroeter, Carlos Ataíde e Bruna Recchia. Músico ao vivo: Abuhl Júnior. Cenografia: Manuel Dantas Suassuna. Assistência de cenografia: Guryva Portela. Trilha sonora: Renata Rosa. Pinturas e desenhos exclusivos para a montagem: Manuel Dantas Suassuna. Cenotécnica: Marcos Tadeu e Marcelo Andrade. Figurino e Adereços: Carol Badra. Assistência de figurino: Bruna Recchia. Costureira: Maria José de Castro. Criação de luz e operação: Rodrigo Belladona. Identidade visual peças gráficas: Ricardo Gouvêia de Melo. Assessoria de imprensa: Eliane Verbena. Fotos: Erik Aolmeida. Produção: Beijo Produções Artísticas e Cia Vúrdon de Teatro Itinerante. Estreou em: 18/10/2021.

Serviço

Espetáculo: As Conchambranças de Quaderna
10 e 11 de junho. Sexta e sábado, às 20h
Teatro do SESI SP A.E. Carvalho - @sesiaecarvalho.
Rua Deodato Saraiva da Silva, 110 - Cidade A.E. Carvalho. São Paulo/SP.
Grátis - Reservas pelo Sesisp.org.br.
Gênero: Comédia. Duração: 55 min. Classificação: 12 anos.

Instagram: @quadernasuassuna | Facebook: @asconchambrançasdequaderna

Perfi

Ariano Suassuna (1927-2014 - autor) - É natural da Cidade da Paraíba, hoje capital do estado, Suassuna é um dos mais importantes escritores brasileiros, dono de uma escrita única. Autor de obras expressivas como o Romance da Pedra do Reino e a peça Auto da Compadecida, foi poeta, romancista, ensaísta, dramaturgo e professor. Em 1989, foi eleito para a cadeira de número 32 da Academia Brasileira de Letras. Em 1947, escreveu sua primeira peça e única tragédia para o teatro, Uma Mulher Vestida de Sol, e, em 1955, escreveu Auto da Compadecida. Em 1970, criou o Movimento Armorial com o objetivo de valorizar os vários aspectos da cultura do Nordeste brasileiro, entre os quais a literatura de cordel, a música, a dança e o teatro, as artes plásticas e arquitetura. Iniciou, em 1971, uma trilogia com o Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue que Vai-e-Volta que teve sequência, em 1976, com a História d'O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão: ao Sol da Onça Caetana. Em 1987, retornou à dramaturgia com a peça As Conchambranças de Quaderna. Em dezembro de 2017, foi publicada sua obra inédita e póstuma A Ilumiara – Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores, reunindo escritos de seus últimos 30 anos de vida. A obra é dividida em dois volumes, O Jumento Sedutor e O Palhaço Tetrafônico, sendo considerada pela crítica seu "testamento literário". (“Ariano Suassuna – Wikipédia, a enciclopédia livre”) O próprio autor considerava a obra como "o livro da sua vida". Ariano sempre deixou clara sua paixão pelo circo e foi por causa do circo-teatro nordestino que começou a escrever teatro.

Fernando Neves (diretor) - É fundador e diretor da Cia. Os Fofos Encenam. Estre os espetáculos que dirigiu, destaque para: Auto de Natal Caipira (de Carlos Alberto Soffredini, 1992), A Mulher do Trem (de Maurice Hanequin, com Os Fofos Encenam, 2003/04), Ferro em Brasa (de Antonio Sampaio, com Os Fofos Encenam, 2006), O Médico e os Monstros (adaptação de Mário Viana, rodução La Mínima Cia e SESI Paulista, 2008), Maconha, o Veneno Verde (Montagem do Circo de Teatro Tubinho, 2011) e O Deus da Cidade (de Cássio Pires, com Os Fofos Encenam, 2016). Em 2013, com Os Fofos Encenam, criou o projeto Baú da Artehuzza com a montagem de cinco espetáculos de acervo do Ciro-Teatro Arethuzza. Recebeu os prêmios: Governador do Estado de SP (Melhor ator por Lampião e Maria Bonitinha no Reino do Divino, 1988), Festivale – Festival de Teatro do Vale, São José dos Campos (A Mulher do Trem ganhou vários prêmios, entre os quais Melhor Espetáculo e Direção, 2003) e Qualidade Brasil (Melhor Ator por Assombrações do Recife Velho, 2005). Vindo de família circense (o avô veio de Portugal), o cobntato com a arte embaixo da lona foi inevitável. Estudou Letras e Teatro Brasileiro e iniciou carreira de ator profissional aos 26 anos.

Renata Rosa – Cantora, compositora e rabequeira nascida em São Paulo, radicada no Recife, que recebeu o Choc de l'Année 2004, um dos principais prêmios da música mundial, pelo Le Monde - de la Musique por seu primeiro CD, Zunido da Mata, e o Prêmio da Música Brasileira 2009 como Melhor Cantora Regional pelo disco Manto dos Sonhos. Por convite do Museu do Louvre, desenvolveu a criação musical Duos Éphémères – Tèrre com a qual se apresentou no Grande Auditório do Museu do Louvre. Renata Rosa atuou como rabequeira no cavalo-marinho Boi Brasileiro, de Condado, e produziu o CD Pimenta com Pitú, de Seu Luiz Paixão, expoente da rabeca nordestina e seu mestre no instrumento. Como atriz, foi a protagonista feminina Maria Safira da minissérie A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, na Rede Globo, em 2007, dirigida por Luiz Fernando Carvalho. Renata também foi responsável pela composição e direção das músicas dos coros para essa obra. Foi a idealizadora do Projeto Le Cor de la Rosa (criação de polifonias vocais com o Grupo Marselhês Lo Cor de la Plana), e desenvolveu a Criação a partir das polifonias vocais.

Manuel Dantas Suassuna (direção de arte / cenário) - Filho de Ariano Suassuna e Dona Zélia (o terceiro de seis filhos), Dantas desenvolveu desde cedo o caminho da pintura e escultura. Sua mãe era quem fazia as gravuras para os livros de Ariano, e foi nessa estrada que Dantas seguiu. Junto ao seu pai, ele percorreu o sertão nordestino, vivenciando seu misticismo, sua arte, suas historias. E essa é sua maior influência, assim como a obra do pai. Dantas iniciou a trajetória como pintor aos 17 anos. Como artista plástico, já expôs em salões no Brasil e exterior, com destaque para sua última exposição, Em Nome do Pai.

 

Informações à imprensa | Espetáculo
VERBENA COMUNICAÇÃO
Eliane Verbena
Tel: (11) 99373-0181- verbena@verbena.com.br

 

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