Mergulho no surreal contempla símbolos e fantasias da metrópole paulistana, aos olhos da Cia. Teatro do Incêndio.
A Cia. Teatro do Incêndio apresenta seu novo espetáculo São Paulo Surrealista, ritual teatral dirigido por Marcelo Marcus Fonseca. Com estreia marcada para dia 2 de março (sexta-feira, às 21h30), a montagem inaugura a programação teatral da casa noturna Madame (antiga Madame Satã que reabriu suas portas totalmente reformada e sob nova direção).
Este novo projeto da companhia, contemplado pela Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, é uma ode à cidade e seus personagens, confrontando - em um jogo de imagens sobrepostas - as contradições e fantasias da metrópole. Em São Paulo Surrealista o público confere o resultado da primeira fase desta pesquisa do Teatro do Incêndio.
O espetáculo não conta, necessariamente, uma história. Para revelar a cidade real, nada é realista. Os textos são colagens emolduradas por imagens e figuras da metrópole, sejam elas reais ou distorcidas, tendo na música ao vivo um elemento essencial para traduzir sua pulsação.
“Esta montagem propõe também que o público perceba a cidade pelos olhos de André Breton, um dos criadores do surrealismo, em um jogo que ressalta pontos turísticos, monumentos, terreiros, restaurantes e bordeis paulistanos”, explica o diretor Marcelo Marcus Fonseca.
Mário de Andrade, Roberto Piva, Pagu, nativos, cidadãos comuns, ninfas e animais recebem o surrealista André Breton, observado por Antonin Artaud (dramaturgo francês, surrealista), para um mergulho na capital paulista, percorrendo Os Nove Círculos do Inferno de Dante Alighieri.
Em cena, 25 atores em uma celebração musical da cidade com alusões ao cinema de Pier Paolo Pasolini e Frederico Fellini e textos escritos durante o processo pelo próprio grupo, com base na escrita automática característica do Surrealismo. Todas as canções foram compostas por Marcelo Fonseca e Wanderley Martins especialmente para o espetáculo, algumas delas “em parceria” com Arthur Rimbaud e Charles Baudelaire.
São Paulo Surrealista é um espetáculo que interage com o público, questionando a existência pela natureza histórica, política, sensual e caleidoscópica de uma cidade anárquica num delicado equilíbrio de contrários. O público é recebido com uma taça de vinho (quem quiser beber outras terá que comprá-las) e também pode degustar o absinto, mas oferecido pelos atores em conta gotas. O espetáculo ainda propicia a experiência surreal de ver uma escola de samba tocando peça de Heitor Villa-Lobos.
Os Nove Círculos do Inferno, por São Paulo Surrealista
Os Nove Círculos do Inferno são os degraus propostos pelo espetáculo, inspirados na primeira parte da Divina Comédia, para explorar os signos, ou infernos, da cidade de São Paulo. No primeiro círculo, “Pagãos no Limbo”, André Breton é batizado no Candomblé, abrindo passagem para a imersão nas contradições e tradições da metrópole, como a “Luxúria”, onde a paixão pelo dinheiro impera, e a “Gula”, retratando a filosofia da comida em um banquete a la Píer Pasolini e frases do poeta francês Benjamin Péret. No quarto círculo, a “Avareza” se materializa em um homem velho, personagem que expulsa as pessoas desse banquete e guarda tudo para si.
Uma aparição de Antonin Artaud, com fios elétricos ligados à sua cabeça, representa a “Ira”, justificada em texto que questiona a própria existência. “Heresia” é o sexto circulo: uma freira tortura um padre enquanto lê, para Artaud, uma carta ao Papa criticando a religião. Em “Violência e Bestialidade” nosso personagem mergulha nas baladas noturnas dos jogadores de futebol e seus empresários que molestam adolescentes (passagem pontuada por textos bestiais e violentos do Conde de Lautréamont, poeta uruguaio que viveu na França, precursor do Surrealismo).
“Fraude” é o oitavo círculo, que faz cair por terra o sétimo: as jovens molestadas saem de dentro de sacos de lixos, mas estão “grávidas” de bolas de futebol. No último, a “Traição”, traz o mapa de São Paulo marcado por pontos turísticos, mesclados a tumores diversos. E Artaud conclui que a cidade doente e que trai a si própria.
Espetáculo: São Paulo Surrealista
Com: Cia. Teatro do Incêndio
Roteiro e direção geral: Marcelo Marcus Fonseca
Co-direção e figurinos: Liz Reis
Elenco: Liz Reis, Marcelo Marcus Fonseca, João Sant'Ana, Wanderley Martins, Sérgio Ricardo, David Guimarães, Giulia Lancellotti, Talita Righini, Sonia Molfi e outros.
Direção musical: Wanderley Martins
Iluminação: Rodrigo Alves
Fotos: Bob Sousa
Composições originais: Marcelo Marcus Fonseca e Wanderley Martins
Produção e realização: Cia. Teatro do Incêndio
Apoio: Lei de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo
Estreia: 2 de março de 2012 – sexta-feira – 21h30
Local: Madame (antiga Madame Satã) – http://www.madameclub.com.br/
R. Conselheiro Ramalho, 873 - Bela Vista/SP - Tel: (11) 2592-4474
Temporada: sexta (às 21h30) e sábado (às 21 horas) – Até 19/05/12
Ingressos: R$ 30,00, o ingresso dá direito à balada após sessão.
Bilheteria: 1h antes da sessão - Aceita dinheiro e cartões de crédito.
Gênero: Surrealismo - Duração: 70 min - Classificação: 18 anos
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