Solo de Vandré Silveira revive o universo do artista plástico Farnese de Andrade. Peça foi indicada ao Prêmio Shell de Melhor Cenário.
A CAIXA Cultural São Paulo apresenta, de 10 a 27 de abril, o espetáculo Farnese de Saudade, interpretado por Vandré Silveira e dirigido por Celina Sodré. A montagem contempla a vida e obra do artista plástico mineiro Farnese de Andrade (1926-1996), gênio esquecido e ícone internacional nos anos 1970, que tem a sua vida e obra abordadas, pela primeira vez, em um espetáculo teatral. As apresentações são gratuitas e contam com o patrocínio da Caixa Econômica Federal.
Ao final de cada apresentação, haverá bate-papo com a plateia. Nos dias 11 e 13 de abril a diretora Celina Sodré ministrará a oficina Objeto-Personagem sobre o processo criativo e dramatúrgico do espetáculo instalação. Vandré Silveira participa com seu testemunho sobre a experiência.
Ao final de cada apresentação, haverá bate-papo com a plateia. Nos dias 11 e 13 de abril a diretora Celina Sodré ministrará a oficina Objeto-Personagem sobre o processo criativo e dramatúrgico do espetáculo instalação. Vandré Silveira participa com seu testemunho sobre a experiência.
Além de interpretar, Vandré Silveira também é responsável pela concepção do monólogo. Ele conta que se encantou pela história do conterrâneo, a partir do livro homônimo lançado pela CosacNaify, e mergulhou na pesquisa. "Apaixonei-me pela possibilidade que Farnese me deu de poder desvendar uma obra marcada pelo afeto, e discutir, com minha arte, a questão da gênese, da vida com suas inexplicáveis nuances. Farnese de Saudade situa o ser humano no mundo, a partir de uma mente genial, a partir da arte de um homem que não se enquadra em nenhuma escola, em nenhum estilo". Explica o ator.
Vandré encarna o artista e narra as suas experiências em primeira pessoa. Textos, entrevistas, depoimentos de pessoas próximas e até uma passagem do curta-metragem Farnese, de Olívio Tavares de Araújo, são fontes que, conjugadas, formam o texto da peça. O espectador não vê uma "cópia" do artista plástico. O personagem brotou das sensações e impressões que o ator experimentou ao entrar em contato com sua história, com sua capacidade de exprimir o inconsciente nos objetos que criava. Na montagem paira um tempo que não existe mais: as memórias de família, a infância, o aprisionamento ao passado, os objetos simbólicos de uma época, a religiosidade incutida na cultura mineira. "Farnese de Saudade elucida esse homem que foi salvo pela arte", comenta Vandré.
A estrutura cênica (indicada ao Prêmio Shell) de Farnese de Saudade é uma gaiola de ferro (desmontável) no formato de uma cruz incrustada em um espaço repleto de areia (referência às praias que Farnese percorria na busca pelos objetos de suas obras). O espetáculo tem dois momentos, um dentro e outro fora da gaiola. Na primeira parte o ator procura acessar o "pensamento criativo" de Farnese, como se pudéssemos vê-lo "construindo" o seu inconsciente em cenas permeadas pelos símbolos sacros, pelos fragmentos de memória da infância no interior de Minas Gerais. O cenário vai sendo montado, os objetos vão sendo colocados em cena de forma ritualística, como era a composição da obra do artista. Na segunda parte, a encenação se dá do lado de fora da gaiola. "E sua chegada ao rio de Janeiro, quando ele encontra o mar e outra fase se inicia em sua vida", diz o ator. Neste momento o personagem fala mais diretamente com o público.
"Completamente imbuído do personagem, o ator entrega uma atuação segura, que vai crescendo conforme o espetáculo caminha para o final." (Rafael Teixeira. Veja Rio. Novembro/2012).
Farnese de Saudade – a gênese
Em 2007, Vandré Silveira teve o primeiro contato com a obra de Farnese e começou a investigar sua história e as características de sua arte. "Eu tive a certeza de que esta história dizia respeito a mim", afirma o ator. "Passei a compreender e admirar a visão de mundo do Farnese e a materialização de algo intangível, de uma esfera metafísica, na construção dos seus objetos". No mesmo ano, o ator procurou Charles Cosac, dono da editora CosacNaify, que lançou os livros "Farnese de Andrade" e "Farnese (Objetos)". Cosac, além de admirador e colecionador, era amigo do artista mineiro. Através dele, Vandré conheceu Jô Frazão, pesquisadora que organizou o material de Farnese para os livros. Ele teve acesso a entrevistas, documentos, fotos e recortes de jornais sobre diversos assuntos que o próprio Farnese recortou e guardou. Conheceu Dona Bia, irmã mais velha do artista plástico, que autorizou o espetáculo; e o irmão Atabalipa de Andrade, o Xuca, que cuida de sua obra.
Em 2008, Vandré esteve em Paris onde visitou a exposição de Louise Bourgeois. "Quando avistei a obra Passage Dangereux (1997) fiquei em choque", lembra o ator. "Era como se outra pessoa no mundo tivesse feito a obra de Farnese num outro suporte, numa outra linguagem". Em 2010, tendo como inspiração a obra de Louise, Vandré projetou a instalação de Farnese de Saudade, uma gaiola de ferro, no formato de uma cruz, em referência à religiosidade mineira, que é também uma delimitação do espaço da encenação, exigindo espaço com pé direito alto.
A instalação é uma extensão do trabalho de ator de Vandré. A partir de peças e símbolos do universo farnesiano, Vandré garimpou, durante dois anos, objetos nas areias das praias de Botafogo e do Flamengo, em antiquários e na feira da Praça XV no Rio de Janeiro, locais que fizeram parte da trajetória do artista plástico, que morou no Rio de Janeiro. "Saí à procura de cabeças de bonecas, ex-votos, imagens de gesso de santos, oratórios, gamelas, caixas", lembra Vandré, que continua frequentando a feira da Praça XV, que era a segunda casa de Farnese. "Comprei apenas elementos que ele usaria em suas montagens. As cabeças de bonecas de porcelana utilizadas são assinadas, de origem francesa e alemã. O oratório utilizado em cena, assim como uma das gamelas pertenciam ao próprio Farnese". São objetos caros que se misturam com outros, mais simples, como madeiras desgastadas pela ação do tempo.
Vandré Silveira, que atuou nos espetáculos TransTchecov e Dois Jogos: Sete Jogadores, do Studio Stanislavski, convidou Celina Sodré para dirigir a montagem. "É uma diretora com grande apuro estético, o que torna a identificação ainda maior. Todos os trabalhos dela têm estreita relação com as artes plásticas e desta forma foi natural a continuidade", conta. "O olhar dela foi fundamental no direcionamento de tanto material coletado".
Farnese de Saudade foi contemplado com o Prêmio Montagem Cênica 2011, da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, e com o FATE 2012 (Fundo de Apoio ao Teatro), da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro. A estreia aconteceu no dia 10 de março, no Espaço Cultural Sérgio Porto, para dois meses de temporada. Uma segunda temporada foi realizada em setembro e outubro de 2012, no Instituto do Ator, também no Rio.
Ficha técnica
Espetáculo: Farnese de Saudade
Texto e concepção: Vandré Silveira
Direção: Celina Sodré
Elenco: Vandré Silveira
Assistente de direção: Tuini Bitencourt
Instalação cênica: Vandré Silveira
Iluminação: Renato Machado
Figurino: Celina Sobré
Pintura artística (cabeça e camisa): Antonio Sodré Schreiber
Vídeo: Sylvio Lima (Granmídia)
Fotografia de cena: Rodrigo Castro
Direção de produção: Davi de Carvalho
Produção local: Geondes Antônio
Assessoria de imprensa: Eliane Verbena
Cenotécnica: Felício Alves (Companhia Cenográfica, BH/MG) e Hélio Lopes Barcelos
Realização: Travessia Produções
Apoio: Instituto do Ator / Studio Stanislavski
Patrocínio: CAIXA
Serviço
Serviço
Estreia: dia 10 de abril – quinta – às 19h15
Local: CAIXA Cultural São Paulo
Praça da Sé, 111 – Centro/SP. Tel: (11) 3321-4400
Temporda: de quinta a domingo – às 19h15 - Até 27 de abril
Entrada franca (retirar ingressos na bilheteria com 1h de antecedência)
Gênero: Drama: Classificação etária: 16 anos. Duração: 45 min
Capacidade: 80 lugares. Acesso universal.
Oficina
Dias 11 e 13 de abril – sexta-feira e domingo
Tema: Objeto-Personagem
Ministrante: Celina Sodré (participação: Vandré Silveira)
Horário/duração: das 9h às 12h (total de 6 horas)
Público alvo: profissionais e estudantes de do teatro. Nº de vagas: 20
PERFIS
Farnese de Andrade nasceu em Araguari, cidade do Triângulo Mineiro, e, posteriormente, mudou-se para Belo Horizonte. Estudou na Escola do Parque, com o mestre Alberto da Veiga Guignard. Em 1950, Farnese foi para o Rio de Janeiro e estabeleceu uma forte ligação com o mar. Desse contato, o artista experimenta um sentimento "oceânico" que influenciou profundamente sua obra. Seu primeiro objeto exposto foi, em 1966, na Petite Galerie (RJ). Na construção de seus Objetos (Assemblages), Farnese utilizava caixas, oratórios e gamelas (numa fase posterior) que serviam como suporte para a composição de suas obras, a partir de elementos diversos, como cabeças de bonecas, ex-votos, santos, pedaços de madeira e materiais desgastados pela ação do tempo e do uso humano. Materiais estes carregados de afeto, de lembranças e reminiscências. Farnese foi precursor no uso da resina de poliéster, onde encerrava fotografias, imagens de santos, cabeças, como forma de suprimir o tempo. Onde o ar não entra, não existe a deterioração causada pela ação do tempo. E tudo continua sempre.
Vandré Silveira - ator/autor
Formou-se no Curso Profissionalizante de Teatro da Fundação Clóvis Salgado (CEFAR - Palácio das Artes), em Belo Horizonte, em 2005. No teatro, atuou nos espetáculos: Momo e o Senhor do Tempo, com direção de Cristina Moura (2013), Botequim ou Céu Sobre Chuva, com direção de Antonio Pedro Borges (2013), O Menino que Vendia Palavras, com direção de Cristina Moura (2012), Dois Jogos: Sete Jogadores, com direção de Celina Sodré (2011), Trans Tchekhov, com direção de Celina Sodré (2010), Amor e Restos Humanos, de Brad Fraser e direção de Carlos Gradim (2005), e Festa de Casamento, adaptação de O Casamento do Pequeno Burguês, de Brecht, com direção de Eid Ribeiro (2005). No cinema, atuou no curta Bárbara (35mm), com direção de Carlos Gradim (2007), e recebeu prêmios de melhor ator nos seguintes festivais de cinema: Primeiro Plano (Juiz de Fora, MG), Ibero-Americano de Cinema / Curta-SE (Sergipe), For Rainbow (Fortaleza, CE) e VI Festival de Cinema de Maringá (Paraná). Vandré estudou Desenho e Pintura com Suzana Queiroga, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, EAV-RJ, e Cenografia com Raul Belém Machado no CEFAR (Centro de Formação Artística da Fundação Clóvis Salgado - Palácio das Artes, BH/MG). Na televisão, atualmente, está no ar em Amor Veríssimo (série da GNT), direção de Arthur Fontes, e na novela Além do Horizonte (Rede Globo) com o personagem Diniz. Logo estará em cartaz nas séries A Segunda Vez Que te Conheci (Multishow), Lillyhammer (Netflix) e Caipirinha Sunrise (TV Azteca, seriado mexicano).
Celina Sodré - diretora
Há 21 anos, Celina Sodré dirige o Studio Stanislavski, companhia de teatro que tem o foco na experimentação. Desde 2008, coordena o Instituto do Ator, espaço de investigação da arte do ator tendo como mestres Constantin Stanislavski e Jerzy Grotowski, na Lapa. Essa pesquisa gerou a criação e produção de mais de 30 espetáculos apresentados em temporadas e festivais no Brasil e na Europa. Em 1992, Celina foi indicada para o Prêmio Shell na categoria especial, pela criação do Projeto Mizanceni, tendo sido indicada também, em 1995, pela continuidade da pesquisa. Em 1996, São Hamlet foi indicado como melhor espetáculo e melhor cenografia (José Dias) para o Prêmio Cultura Inglesa. No ano seguinte, Luisa Pasello foi indicada para o prêmio UBU, na Itália, de melhor atriz pela atuação em Killing Maria. Ainda em 1997, o espetáculo Amor Consciente foi indicado para o Prêmio Shell, de iluminação, para Mauricio Cardoso. Celina também é professora de interpretação da CAL - Casa das Artes de Laranjeiras, desde 1995, e, atualmente, é doutoranda da UNIRIO.
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