Fotos / por Vitor Meloni |
A peça reúne histórias e fanfarronices
de um típico mentiroso do sertão, numa encenação recheada por canções inéditas.
Publicado em 1944 por Graciliano, o livro traz contos coletados na memória oral
do folclore nordestino, resgatando crenças, costumes e mitos da região. Na
transposição para o palco, foram selecionadas algumas histórias, respeitando e
mantendo na íntegra as palavras do autor.
Alexandre é um homem já velho; tem um
olho torto e fala bonito: um típico contador de histórias. Está sempre
acompanhado pelos moradores das redondezas e até por pessoas de consideração,
que vem à sua modesta casa para ouvir as narrativas “fanhosas” que conta: Seu
Libório, cantador de emboladas; o cego preto Firmino; mestre Gaudêncio
Curandeiro, que reza contra mordedura de cobras; e Das Dores, benzedeira de
quebranto. Cesária, mulher de Alexandre, está sempre por perto, e pronta para
socorrer o marido quando ele se “engancha” ou é questionado em suas narrativas.
Apropriando-se do universo linguístico
e das imagens sugeridas por Graciliano Ramos, Histórias de Alexandre dá
corpo e voz à palavra escrita, tecendo uma “colcha de retalhos” onde os atos de
contar, cantar e dramatizar se entrecruzam e criam uma poética propícia à
invocação da memória afetiva.
A diretora fala da importância que
teve a apropriação das palavras pelos atores no processo criativo, já que o
texto foi escrito há mais de 70 anos, com um vocabulário distinto do atual: “é
fundamental que as histórias sejam compreendidas por todas as crianças, tanto
as menores quanto os adolescentes, por isso as experimentações que fizemos com
a presença do público foram tão importantes para encontramos o caminho da
encenação”, explica Cristiane Paoli Quito.
A montagem reflete a atmosfera
aconchegante da obra literária para receber os ouvintes das histórias de
Alexandre: o espectador compartilha o mesmo ambiente com os atores/contadores,
sem a tradicional separação entre palco e plateia. Essa proximidade promove uma
experiência de troca onde a simplicidade e o despojamento do ato cênico,
realizado em roda, em tom de conversa, convocam a participação e imaginação de
todos.
A musicalidade, característica dos
trabalhos do Grupo 59 de Teatro, tem lugar de destaque no espetáculo. Todas as
canções foram criadas coletivamente a partir de passagens do livro, inclusive
com algumas citações ao cancioneiro popular brasileiro. O repertório inclui embolada,
repente, reza, canções populares e modas de viola que são interpretadas pelo
coro de atores, acompanhados por instrumentos acústicos (violão, viola,
acordeom, flautas, pífaro, berimbau e percussão) executados ao vivo. A palavra
cantada não só dá suporte à narrativa como também exerce função narrativa nas
formas épica, lírica e dramática.
Com a encenação de Histórias
de Alexandre o grupo dá continuidade à investigação iniciada, em 2009,
com O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
(espetáculo também dirigido por Cristiane Paoli Quito), na qual busca uma forma
de se comunicar com a criança por meio de um jogo-brincadeira de contação de
história, apoiado fundamentalmente na palavra e no trabalho corporal dos
atores. A arte do grupo busca estimular nos pequenos espectadores a
criatividade, a imaginação e a inventividade, características típicas das
tradicionais brincadeiras de rua e de quintais.
Sinopse
Na pequena sala de Alexandre os amigos
se reúnem para ouvir suas aventuras e façanhas, sempre narradas com exagero e
entusiasmo. Sua mulher, Cesária, acompanha tudo de perto e nunca deixa o marido
perder o fio da meada. São essas histórias de Alexandre que o Grupo 59 de
Teatro “conta cantando” e “canta contando”: um convite a todas as idades para a
deliciosa aventura de imaginar o possível e o impossível, pelas palavras de
Graciliano Ramos.
Ficha
técnica / Serviço
Texto:
Graciliano Ramos. Roteiro:
Cristiane Paoli Quito e Grupo 59 de Teatro. Direção geral: Cristiane Paoli Quito. Elenco: Grupo 59 de Teatro – Carol
Faria, Felipe Alves, Felipe Gomes Moreira, Fernando Oliveira, Gabriel Bodstein,
Gabriela Cerqueira, Jane Fernandes, Nathália Ernesto, Nilcéia Vicente, Ricardo
Fialho e Thomas Huszar. Figurino:
Claudia Schapira. Iluminação e
ambientação: Cristina Souto. Preparação
corporal: Letícia Sekito. Direção
musical: Felipe Gomes Moreira e Thomas Huszar. Registro audiovisual: Vítor Meloni. Produção: Grupo 59 de Teatro. Realização:
Prêmio Zé Renato de Apoio à Produção e Desenvolvimento da Atividade Teatral
para a Cidade de São Paulo - 3ª edição. Assessoria
de imprensa: Verbena Comunicação.
Espetáculo: Histórias de Alexandre
Estreia: 18 de março. Sábado, às 16h
Local: Armazém 19
Rua Mário Costa, 13. Vila Maria Zélia
(ZL). SP/SP. Tel: (11) 2081-4647
Temporada: 18 de março a 9 de abril
Horários: sábados e domingos, às 16
horas
Ingressos: R$ 20,00 (meia: R$ 10,00).
Aceita dinheiro e cartões de débito.
Duração: 60 minutos. Classificação
indicativa: 6 anos. Capacidade: 80 lugares
Estacionamento no local: grátis.
Acessibilidade.
Perfis
Graciliano
Ramos - O alagoano Graciliano Ramos, um dos mais
importantes escritores brasileiros, publicou obras fundamentais de nossa
literatura como Vidas Secas, São Bernardo, Angústia e Infância. Sua
atuação como escritor abrange a colaboração em jornais do Brasil e do exterior
como contista, cronista e colaborador. Exerceu cargos públicos como o de
prefeito de Palmeira dos Índios, em 1928, e diretor da Instrução Pública do
Estado de Alagoas, em 1933. Em 1936 foi preso em Maceió, sem culpa formada, sob
a alegação de ser comunista. Na cadeia, onde ficou por quase um ano, reuniu
anotações para o livro Memórias do
Cárcere, publicado após sua morte. Em 1945, filiou-se ao Partido Comunista
do Brasil. Sua obra, constantemente revisitada por críticos e estudiosos, já
ganhou adaptações para o cinema, o teatro e a televisão.
Sobre
a diretora Cristiane Paoli Quito - Diretora
e pesquisadora, Cristiane Paoli Quito projetou-se
na cena teatral paulista nos anos 90, pelos de seus espetáculos recheados de
técnicas e referências da commedia dell'arte. Na segunda metade da década,
voltou-se para a dança, e desenvolveu linguagem própria, calcada na pesquisa
sobre a dramaturgia do intérprete em improvisação. Como diretora, investiga as
intersecções entre as linguagens teatro, dança, circo, teatro de bonecos,
música e performance; desenvolve pesquisas de linguagem que investigam a
capacidade criativa do criador-intérprete. Como reconhecimento de seu trabalho,
recebeu indicações e foi agraciada com os prêmios SHELL, APCA e FEMSA em
diversas ocasiões. É professora na Escola de Arte Dramática (EAD/ECA/USP).
Sobre o
Grupo 59 de Teatro - O Grupo 59 de Teatro é o encontro de 12 atores
oriundos da Escola de Arte Dramática (EAD/ECA/USP) que encontra no modo
colaborativo de criação, gestão e produção terreno fértil para expressão
artística múltipla e heterogênea. Desde sua fundação, em março de 2011,
realizou mais de 300 apresentações na região sudeste do país, recebeu o Prêmio
Cooperativa Paulista de Teatro 2011 na categoria Grupo Revelação e participou
de festivais. Entre as apresentações do Grupo 59 estão:
TUSP (2011), Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (FIT
2011); V Festival Internacional Paidéia de Teatro para Infância e Juventude
(2011); 6º Fentepira - Festival Nacional de Teatro de Piracicaba; Festival SESC
de Inverno 2012 (Petrópolis e Teresópolis, RJ); V Festival de Arte para
Crianças de Salto, SP (2012); Virada Cultural de São Paulo (2012), Virada
Cultural do Interior (2012, 2013 e 2014); Festival Nacional de Teatro de
Taubaté (2013); Festival Nacional de Teatro de Araçatuba (2013), 21º Floripa
Teatro - Festival Isnard Azevedo (Florianópolis, SC); 1ª Mostra de Artes
Cênicas de Mogi das Cruzes (2015); 1ª Mostra Aparte, em Diadema. Foi contemplado
pelo ProAC - Programa de Ação Cultural, da Secretaria de Estado da Cultura de
São Paulo, em 2011 (circulação de O Gato
Malhado e a Andorinha Sinhá) e 2014 (circulação de Mockinpó – Estudo Sobre um Homem
Comum) para turnê no interior do estado; pelo Viagem Teatral do SESI,
edições 2012 e 2013; pelo ProArt 2012 (circulação nos CEUs da capital); pelo
Mosaico Cultural 2012; e pelo Circuito Cultural Paulista de 2013. No início de
2013, a convite da Universidade de São Paulo (USP), apresentou seu repertório
na programação do XX Festival Internacional de Teatro Universitário da
Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), na Cidade do México.
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