Cena de Cinema Falado - Acervo Cinemateca Brasileira-SAv-MinC |
Projeto, que investiga o uso da fala no cinema, traz
experimento cênico do filme mudo Fragmentos da Vida, com direção de Dagoberto Feliz, e workshops relacionados à música (Suzana Reck Miranda) e à trilha
sonora (DJ Dolores).
O Cinema
Falado, projeto idealizado pelo Sesc Pompeia propõe uma investigação
sobre a fala, enquanto discurso fílmico, a voz e o roteiro no cinema. Dois
workshops e um experimento cênico-cinematográfico compõem a programação de sua
terceira edição que ocorre em março.
Abrindo
a programação, Suzana Reck Miranda (mestre
e doutora em Cinema) ministra o minicurso O
Uso da Música no Cinema: uma introdução, nos dias 8 e 9 de março (quarta e quinta, das 19h30 às 22h). Um
workshop será conduzido por DJ Dolores
com o tema Escutando Filmes, nos dias 23 e 24 de março (quinta e sexta,
das 19h às 22h).
O experimento cênico desta edição acontece
nos dias 17, 18 e 19 de março (de
sexta a domingo) com direção de Dagoberto
Feliz, a partir de Fragmentos da Vida, filme mudo realizado,
em 1929, por José Medina, pioneiro
do cinema brasileiro. A película conta a história de dois vagabundos que vivem
de pequenos golpes nas ruas da São Paulo dos anos 20.
O argumento provocativo é a investigação do som, para um filme originalmente sem
uso da palavra falada, que foi realizado há 88 anos.
A encenação de Cinema Falado - Fragmentos da
Vida tem participação dos atores Eucir
de Souza, Gabriel Godoy, Rimar Segala (ator e clown, surdo) e Marcellus Beghelle; dos cantores Beto Sargentelli e Juliana Peppi; do diretor musical e pianista Martin Eikemeier; e do sonoplasta Renato Navarro. As sessões têm tradução simultânea para a Linguagem
Brasileira de Sinais - LIBRAS, pela atriz surda Sueli Ramalho.
Elenco de Cinema Falado - foto de Rafael Sampaio |
O diretor Dagoberto Feliz explora de forma
lúdica e bem humorada essa proposta de apresentar o cinema com provocação
teatral a partir da fala; neste caso, a ausência dela. Numa espécie de jogo
cênico, os atores dizem o texto que é exibido nos letreiros, e um deles
- surdo - interpreta as mesmas cenas em LIBRAS. Cantores, piano ao vivo e
sonoplastias incorporam-se às cenas, revivendo a sonorização características
das projeções de cinema mudo do começo do século XX.
Dagoberto Feliz explica que a escolha do
filme Fragmentos da Vida se deu não
somente por razões históricas. “Existia um tema, o som; também uma sequência de
temas do projeto, interpretação e roteiro; e uma provocação: fazer o som ao
vivo. Porém, ‘escutando’, esse verbo pode ser utilizado de várias maneiras; e ‘re/escutando’
os tempos bicudos nos quais vivemos surgem outros temas que o filme também ‘escuta’,
lá em 1929. Entre eles, dois nos interessaram: a desigualdade (explícita) e a
inadequação (do indivíduo inapto). O homem totalmente inserido é o que se deseja;
o homem amansado, aquele que cumpre rigorosamente com suas obrigações. Essa
busca era, e continua sendo, cruel até hoje. E cruel é o tratamento dado ao que
é diferente de nós”. A partir desta reflexão, o diretor encontrou na “arte da
inclusão” o caminho para o experimento cênico: usar atores surdos e atores que
ouvem em um mesmo jogo de cena, palavras, música e sinais.
Por meio das
atividades, o Cinema Falado é um
convite à reflexão sobre a fala no cinema, desde a escrita do roteiro, passando
pelas escolhas da direção, culminando no trabalho do ator e incluindo até mesmo
os desdobramentos políticos da fala enquanto construção narrativa e
representação do outro. Em sua terceira edição, o projeto consolida-se como uma
realização de artes integradas, na qual estéticas como as do teatro e da música
somam-se à arte cinematográfica por múltiplos vieses e diferentes olhares
artísticos. A sequência de temas/provocações foi: interpretação, com direção de
Luiz Fernando Marques, e roteiro com direção de Caetano Gotardo e Marco Dutra, ambos
em 2016; em 2017, o som, com direção de Dagoberto feliz.
Fragmentos da Vida (o
filme)
Dir.
José Medina. 1929. Brasil. 40”.
Fragmentos da Vida (1929), de José Medina (1894-1980), é uma livre adaptação do conto do
norte-americano O. Henry (1862-1910) sobre a história de dois vagabundos –
interpretados por Carlos Ferreira e Alfredo Roussy - que vivem de pequenos
golpes na cidade de São Paulo. Na infância, um deles presencia a morte do pai,
um operário da construção civil que cai de um andaime. Antes de morrer, o pai lhe
aconselha sobre honradez e trabalho como únicos valores do homem, mas o garoto
cresce se torna um malandro das ruas, que procura ser preso pela polícia para
ter abrigo e comida durante o inverno. Junto com o amigo, ele planeja uma série
de golpes, sempre deixando clara a sua culpa e autoria, mas acaba sempre saindo
ileso e sem culpa das situações. Ele se farta em um restaurante e diz que não
tem como pagar a conta, mas um homem paga pela refeição e impede que chamem a
polícia. O vagabundo quebra uma vitrine e confessa o ato, mas o dono da loja
duvida de sua franqueza. Ele também assedia uma moça que passa pela calçada, segurando
seu braço e, surpreendentemente, ela corresponde explicando que dois sujeitos a
estavam seguindo. O vagabundo, sempre acompanhado de seu amigo, fica desolado, entra
em uma igreja e houve o sermão do padre que lembra o conselho de seu pai. Tocado,
revê sua vida inútil e decide trabalhar pelo seu sustento. No momento seguinte
é detido pela polícia por um crime que não cometera. O intertítulo comunica seu
suicídio.
O longa foi realizado com baixo orçamento e
em poucos dias. Apenas duas sequências foram filmadas em estúdio. Com domínio
da linguagem clássica, Fragmentos da Vida
transita entre comédia e drama, cuja atuação sóbria do protagonista (Carlos
Ferreira) foi destaque no cinema brasileiro da época, marcado por gestos largos
e muita maquiagem. Já Alfredo Roussy dá um tom mais realista ao filme, explorando
o sarcasmo que contrasta com as legendas solenes. O filme era exibido com
sonorização gravada em disco, ficando em cartaz no cine Odeon, que indicava êxito
na época. Desapareceu logo depois, sendo encontrada uma cópia, em 1954, em
Minas Gerais. Foi exibido na 2ª Retrospectiva do Cinema Brasileiro e restaurado
pela Cinemateca Brasileira, no início dos anos 90.
José
Medina (diretor/filme)
Ator, estudioso de fotografia e
cineasta, José Medina (1894-1980) nasceu em Soracaba (SP) e veio para a capital
em 1912. Percussor do cinema brasileiro, ele realizou seu último filme - O
Canto da Raça – em 1943,
que foi barrado pela censura na época. Alguns anos antes, um incêndio no
laboratório que dividia com o diretor de fotografia Gilberto Rossi destruiu
parte de sua obra, outras películas foram perdidas em incidentes de projeção. Os
filmes que sobraram foram Exemplo Regenerador (1919), sua
primeira realização, e Fragmentos da Vida (1929), a última.
Medina foi um cineasta ativo produzindo oito filmes, todos mudos. Em 1943,
longe do cinema há 14 anos, tentou retornar com O Canto da Raça, mas fracassou com o ato de censura. Seus filmes fizeram
sucesso nas salas de exibição e eram lucrativos. Segundo consta, os filmes eram
financiados, em grande parte, com recursos próprios. Medina deixa claro em suas obras o talento para
captar de forma fiel e eficaz os hábitos e costumes da época. Os dois filmes abordam
conceitos morais que podemos observar, ainda hoje, no imaginário de muitas
pessoas e suas condutas, bem como nos dilemas dessa conduta moral. O primeiro
tem a elite como mote e o segundo fala de um desajustado. De forma geral, os
dois filmes querem avisar às pessoas que tenham cuidado com o desvio de sua
conduta e de seus objetivos, sempre usando a relação vagabundo/emprego e família/emprego
para dar o seu recado e fazer retratar popular da moralidade e do padrão de
vida do Brasil na época.
Dagoberto Feliz (diretor/experimento cênico)
É membro do Grupo Teatral FOLIAS, desde sua
fundação até hoje. Graduado em Direito pela UNISANTOS, possui cursos de Pós-graduação junto à ECA-USP na
área teatral e Curso de Aperfeiçoamento para Professores - Lato Sensu - SP.
Também músico de formação, pelo curso técnico de piano QP-4. Atuou como regente
e coralista de vários núcleos corais da cidade de Santos e de São Paulo. Junto ao Folias participou como diretor, ator
ou diretor musical de vários espetáculos: Chiquita
Bacana no Reino das Bananas, Folias
d’Arc, Folias Galileu, A Saga Musical de Cecília Santa, A Dócil, Medéia - a Mulher-Fera, Cabaré
da Santa, Orestéia, El Día Que me Quieras, Otelo, Babilônia e Happy End.
Com outros núcleos teatrais: Roque
Santeiro, Rainhas do Orinoco, Peer Gynt,Godspell, A Tempestade, Cabaré Falocrático, Hamlet ao Molho Picante, Single
Singers Bar,Le Devin Du Village, The Pillowman, Processo de Giordano Bruno, Logun-Edé,
Noite na Taverna, Casting, Cabaré das Utopias e muitos outros. É Palhaço ligado aos Doutores
da Alegria como orientador de formação.
Suzana Reck Miranda (mini-curso)
Suzana Reck Miranda é docente do Departamento
de Artes e Comunicação (DAC) e do Programa de Pós-Graduação em Imagem e Som
(PPGIS), ambos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). É graduada em
música (piano) pela UFSM, doutora em Multimeios (cinema) pela Unicamp e autora
de vários artigos/capítulos de livros sobre a relação da música com o cinema.
DJ Dolores (workshop)
DJ Dolores, atua profissionalmente como
músico e produtor, desde 1997, e assinou diversas trilhas para dança e teatro.
No cinema, criou e produziu a trilha sonora dos longas metragens: Tatuagem, de Hilton Lacerda; O Crítico e O Som ao Redor, ambos de Kleber Mendonça Filho; Narradores de Javé, de Eliane Café; A Máquina, de João Falcão; O Rap do Pequeno Príncipe contra as Almas
Sebosas, de Paulo Caldas e Marcelo Luna; Os últimos Cangaceiros, de Wolney Oliveira; Estradeiros
e Amor, Plástico e Barulho, de Sergio Oliveira e Renata Pinheiro; dentre
outros.
SERVIÇO
Minicurso: O Uso da Música no Cinema: uma introdução
Com Suzana Reck Miranda
O curso abordará de forma introdutória o uso
da trilha musical desde o primeiro cinema, passando pelas convenções e
arquétipos da narrativa clássica hollywoodiana bem como por diferentes
propostas estéticas do cinema moderno e contemporâneo.
Dias 8 e 9 de março. Quarta e quinta,
das 19h30 às 22h
Local: Sala 1 das Oficinas de Criatividade
Inscrições:
a partir de 02/03, às 19h, na Central de Atendimento
Preços: R$ 7,50 (credencial
plena/trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes), R$
12,50 (pessoas com +60 anos, estudantes e professores da rede pública de
ensino) e R$ 25,00 (inteira).
Nº de
vagas:
20.
Experimento cênico: Cinema
Falado - Fragmentos da Vida
O filme Fragmentos
da Vida (1929), de José Medina, narra a história de dois vagabundos que
vivem de pequenos golpes nas ruas da São Paulo dos anos 1920. Neste experimento
cênico, atores falam o texto original dos letreiros do filme, realizado
originalmente sem uso da palavra falada, e um deles - surdo - interpreta em
LIBRAS. Cantores e piano ao vivo resgatam a sonorização característica das
projeções do começo do século 20. As sessões possuem tradução simultânea para a
linguagem brasileira de sinais - LIBRAS.
Ficha técnica: Direção do experimento cênico: Dagoberto
Feliz. Direção do filme: José Medina.
Elenco: Beto Sargentelli, Eucir de
Souza, Gabriel Godoy, Juliana Peppi, Marcellus Beghelle, Rimar Segala e Sueli
Ramalho. Direção de som e música:
Martin Eikemeier. Sonoplastia:
Renato Navarro. Luz: Tulio Pezzoni. Direção de arte e figurino: Juliana
Lobo. Produção: Lara Lima | Lira
Cinematográfica.
De 17 a
19 de março. Sexta e sábado, às 21h. Domingo, às 19h.
Local: Teatro
(300 lugares)
Ingressos: R$ 9,00 (credencial
plena/trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes), R$
15,00 (pessoas com +60 anos, estudantes e professores da rede pública de
ensino) e R$ 30,00 (inteira).
Venda
online a partir de 7 de março, terça-feira, às 17h30.
Venda presencial
nas unidades do Sesc SP a partir de 8 de março, quarta-feira, às 17h30.
Não recomendado para menores de 14 anos. Duração:
60 min.
Workshop: Escutando Filmes
Com DJ Dolores
DJ Dolores, experiente compositor de música
para cinema, conversa com o público sobre filmes e trilhas sonoras. O encontro
é dividido em duas partes. Num primeiro momento, o autor discute o conceito de
música cinematográfica, apresenta trechos de filmes que o influenciaram,
destaca soluções criativas na combinação entre imagem e som e analisa aspectos
técnicos e artísticos das obras exibidas. A segunda etapa, focada no trabalho
do próprio artista, aborda sua a metodologia de criação, analisando
especificamente algumas de suas obras, a relação compositor/diretor/roteirista
e o papel da música na narrativa cinematográfica.
Dias 23
e 24 de março, quinta e sexta, das 19h às 22h.
Local: Sala 1 das Oficinas de Criatividade
Inscrições:
a partir de 02/03, às 19h, na Central de Atendimento
Preços: R$ 7,50 (credencial
plena/trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes), R$
12,50 (pessoas com +60 anos, estudantes e professores da rede pública de
ensino) e R$ 25,00 (inteira).
Nº de
vagas:
20.
Rua Clélia, 93. São Paulo/SP. Tel: (11) 3871-7700
Ar condicionado. Acessibilidade. Não possui estacionamento.
Ar condicionado. Acessibilidade. Não possui estacionamento.
Para informações sobre outras programações,
acesse o portal sescsp.org.br/pompeia.
instagram.com/sescpompeia
facebook.com/sescpompeia
twitter.com/sescpompeia
facebook.com/sescpompeia
twitter.com/sescpompeia
Assessoria
de Imprensa - Cinema Falado / VERBENA COMUNICAÇÃO
Eliane
Verbena / João Pedro
Tel:
(11) 2738-3209 / 99373-0181 - verbena@verbena.com.br
Assessoria de Imprensa
- Sesc Pompeia:
Fernanda Porta Nova |
Bianca Alcântara | Camila Cetrone (estagiária)
Telefone: (11) 3871-7720 - imprensa@pompeia.sescsp.org.br
Telefone: (11) 3871-7720 - imprensa@pompeia.sescsp.org.br
Juliana Gontad - Telefone:
(11) 3871-7740 - julianag@pompeia.sescsp.org.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário