quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

João da Cruz estreia na Casa das Rosas com direção de Helder Mariani e interpretação de Conrado Caputo

Conrado Caputo (foto de Danilo Batista)
Inspirado nos escritos de São João da Cruz, poeta e místico espanhol do século XVI, o espetáculo João da Cruz estreia no dia 19 de janeiro (sexta-feira) na Casa das Rosas, às 20 horas.

A montagem é um solo de Conrado Caputo com dramaturgia e encenação de Helder Mariani. A temporada segue até o dia 23 de fevereiro com sessões sempre às sextas-feiras, às 20 horas.

A ação se passa durante nove meses em que o Frei João da Cruz - canonizado São João da Cruz pela Igreja Católica, em 1726 - foi prisioneiro dos Carmelitas Calçados, seus próprios confrades, numa cela minúscula do Convento de Toledo.

Com uma poesia e uma mística que ultrapassaram os limites do discurso religioso, a obra escrita do Frei João Cruz faz parte da literatura clássica espanhola. O monólogo retrata sua obra literária do santo com suas ideias radicais, expressas pela palavra escrita e pela sua prática de vida. Ele também carrega as contradições existenciais da humanidade que, depois da Idade Moderna, se tornam cada vez maiores. Consumido por uma sede de infinito, de Deus, vivendo numa “noite escura” espiritual, o poeta carmelita se recusa a abrir mão da luta para renovar a sua ordem religiosa e a própria Igreja do seu tempo.

O texto teatral João da Cruz parte de uma colagem de textos traduzidos de várias obras do santo. A proposta do encenador Helder Mariani é discutir sobre o homem, o poeta e o místico; sobre a vivência radical de suas ideias, sentimentos e paixões. “Nosso propósito não é apresentar uma narrativa biográfica de cunho didático”, afirma. A dramaturgia traz um João da Cruz consumido pela sede de infinito nos tempos de prisão, solitário e humilhado, sofrendo altos e baixos emocionais. “Ele reencontra sua pacificação na criação de poemas, num abandono contemplativo e na recusa a uma resposta meramente racional às questões existenciais e, principalmente, foca nos seus planos de fuga – a imaginação artística de um homem que ultrapassa a limitação da realidade e se lança numa contemplação do divino, invisível, silencioso e misterioso”.

João da Cruz ficou preso no Convento Carmelita de Toledo, de meados de dezembro de 1576 a agosto de 1577. Boa parte desse tempo ele ficou numa cela, que era uma cavidade na parede que servia de latrina para hóspedes do convento. Sem condições de higiene, com parca comida, recebendo torturas físicas e psicológicas (inclusive diante da comunidade religiosa do Carmelo), a única ideia que lhe vinha à cabeça, obsessivamente como uma inspiração divina, era a de fugir. Nos interrogatórios, o santo permaneceu firme nas suas convicções de “carmelita descalço”, termo que bem sintetiza as questões éticas e de poder que estavam em jogo, não só os pés no chão, mas o desprendimento e a real pobreza evangélica, preconizada pelo cristianismo. O Frei teve dois carcereiros, e conta-se que o segundo, o jovem Frei João de Santa Maria, teve participação facilitadora na sua fuga.


A encenação de Mariani apresenta o ator solitário na cena, que revela o frágil e forte de todo ser humano, o contraditório e coerente, a ingenuidade e a crítica de um santo. Com uma trilha sonora contemporânea que dialoga com a narrativa, valendo-se de poucos recursos cenográficos ou de iluminação, o ator se despoja em cena e abre espaço para a palavra. O ator se apropria da palavra poética, mística e humana do santo espanhol e traz as questões existenciais na perspectiva do século XVI para uma discussão contemporânea, com os desafios éticos e políticos, filosóficos e espirituais da “pós-modernidade”.

Preso numa cela minúscula: sem luz - havia um feixe de luz que vinha do teto, ao meio dia, quando o frei aproveitava para rezar seu breviário - e quase sem ventilação, João da Cruz responde à crise e a decadência de seu tempo com poesia e uma mística que ultrapassaram os limites religiosos e o tornaram um dos mais importantes escritores da Espanha. “Consta que João da Cruz, o poeta da noite escura, tinha um temperamento dócil, mas bem intenso, o que o torna um personagem cenicamente interessante. Suas buscas espirituais apaixonadas e suas dúvidas martirizantes tão humanas são vividas numa situação limite: a prisão e a ideia fixa de fuga”. Finaliza o encenador Helder Mariani.

Frei João da Cruz

Frei João da Cruz nasceu em Fontiveros, povoado dos arredores de Ávila, Espanha. O pai, Gonçalo de Yepes, de família nobre, foi deserdado ao se casar com a humilde Catarina Álvarez; e faleceu quando João tinha três anos. De lá em diante a vida de João foi de pobreza e miséria. Sua mãe ia de um lado para outro com os filhos, buscando abrigo, trabalho e comida. Casas grandes e belas; conventos nos centros das cidades; hábitos religiosos elegantes; sapatos da moda; túnicas caras com grandes botões de metal, conforme o requinte da época; punhos e colarinhos delicados, segundo as normas da vaidade... Para Frei João da Cruz esse não era o espírito que deveria prevalecer na Ordem do Carmelo, nem na igreja. Esse era o espírito do mundo profano, do luxo e do tédio. Para ele, era preciso fugir desse mundo que aprisiona na vaidade e no poder.

No século XVI a Igreja Católica era finalmente contestada, e seu poder político e econômico questionados pelos novos pensamentos filosóficos, políticos e científicos que se delineavam na Europa. A tradicional ordem religiosa monástica dos Carmelitas também não foi poupada das transformações do Renascimento e passou por uma grande reforma, iniciada pela Madre Teresa, de Ávila, e depois assumida radicalmente pelo Frei João da Cruz. Quando Teresa d’Ávila propôs ampliar as reformas que vinha fazendo no Carmelo feminino para o Carmelo masculino, procurou-lhe um jovem frei, com 25 anos, chamava-se João de Yepes e usava o nome religioso de Frei João de São Matias. Mais tarde, quando se tornou o primeiro carmelita descalço, mudou para João da Cruz, nome com o qual ficou conhecido na Igreja, na literatura espanhola e na história da mística cristã ocidental.

Ficha técnica / serviço

Espetáculo: João da Cruz
Dramaturgia e encenação: Helder Mariani
Interpretação: Conrado Caputo
Direção de arte: Pedro Faraldo
Trilha sonora: Dagoberto Feliz
Fotos: Danilo Batista
Vídeo: Orion Produtora / Nidowilliam Spadotto
Produção executiva: Paloma Rocha
Realização: Cia. da Palavra

Sinopse - Monólogo retrata a obra literária de São João da Cruz, poeta e místico espanhol do século XVI, com suas ideias radicais, tanto na palavra escrita quanto na prática de vida, e suas contradições existenciais. Consumido por uma sede infinita de Deus, o poeta carmelita luta para renovar a Igreja do seu tempo. A ação se passa no período em que Frei João da Cruz esteve prisioneiro e humilhado pelos seus próprios confrades numa cela minúscula do Convento de Toledo.

Estreia: 19 de janeiro. Sexta, às 20h
Local: Casa das Rosas
Av. Paulista, 37 - Paraíso, São Paulo/SP. Telefone: (11) 3285-6986
Temporada: 19 de janeiro a 23 de fevereiro de 2018. Sextas, às 20h
Ingressos: R$ 40,00 (meia: R$ 20,00). Bilheteria: 1h antes da sessão.
Aceita dinheiro e cartão de débito. Antecipados: www.compreingressos.com
Duração: 60 min. Gênero: Drama. Classificação: 14 anos.
Capacidade: 25 lugares. Acessibilidade. Site: http://www.casadasrosas.org.br/

PERFIS

Helder Mariani - No teatro, é ator, encenador e dramaturgo. No Grupo Folias, participou como ator dos dois espetáculos: Folias Galileu e Folias D’Arc, dirigidos por Dagoberto Feliz. Desde 2005, encena e atua em vários projetos poético-teatrais na Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura, sendo os últimos espetáculos apresentados naquela Casa: A Casa É Sua! Caos de Poesias (2014), Cabaré Falocrático (2015) e Theresinha (2014 e 2015). Como ator, atuou também na Cia. As Graças (Noite de Reis, direção de Marco Antonio Rodrigues), no Centro Cultural Silvio Santos (A Flauta Mágica, direção de Roberto Lage), Teatro Fábrica (Os Pequenos Burgueses, direção de Roberto Rosa). E ainda nos espetáculos Malkhut, direção de Denise Weinberg, Cartas ao Futuro, direção de Eduardo Coutinho, Os Cafundó e Flores Sertanejas, direções de Francisco Bretas, entre outros. Também como ator: Os Jecas, (da Cia. da Palavra, premiado como melhor espetáculo pelo júri popular do 43º Fenata, Festival Nacional de Ponta Grossa-PR), Single Singers Bar (produção de Nossa Senhora da Produção) e Vinícius, de Vida Amor & Morte (Cia. Coisas Nossas), com direções de Dagoberto Feliz. Como assistente de direção: Hamlet ao Molho Picante; e encenador: Theresinha e A lucidez Alucina, Poemas de Orides Fontela. Como dramaturgo, escreveu Devaneios do Bárbaro Solitário (ProAC de dramaturgia inédita 2011), sobre os filósofos franceses Rousseau e Voltaire; Theresinha, a partir dos escritos de Santa Thérèse de Lisieux; assina a dramaturgia de Os Jecas, Cabaré Falocrático e A Casa da Mariquinhas. Educador com formação em Direito, Filosofia, Pedagogia, Psicodrama e Teatro. É professor de filosofia e teatro, com trabalhos em várias instituições. Mestre em Filosofia pela PUC-SP, com o título: A Mentira-Verdade do Ator. Hoje, doutorando pela PUC-SP com a pesquisa: O Ator Iluminista.

Conrado Caputo - Ator formado pela Escola de Arte Dramática – EAD/ECA/USP, participou de diversos coletivos, entre eles Teatro da Vertigem, Teatro de Narradores e Cia. Arthur-Arnaldo. Trabalhou com os diretores Cassio Scapin, Bete Dorgam, Ariela Goldmann, Antonio Araújo, José Fernando de Azevedo e Dagoberto Feliz. Entre seus principais trabalhos em teatro estão Bom Retiro 958 Metros, de Joca Reiners Terron (2012), Cidade Desmanche, de José Fernando de Azevedo (2009-2013), A Resistível Ascensão de Arturo Ui, de Bertolt Brecht (2013-2014), As Três Irmãs, de Anton Tcheckov (2008), O Diabo de Tetas, de Dario Fo (2009), Cidade Fim-Cidade Coro-Cidade Reverso, de José Fernando de Azevedo (2011-2013), e Vinicius de Vida, Amor e Morte, criação coletiva (2014). Na televisão, atuou nas novelas Haja Coração e Alto Astral (Rede Globo) e na série Vida de Estagiário (Warner Channel - 3 temporadas, sendo duas delas rodadas em Buenos Aires, numa coprodução Brasil-Argentina). Foi orientador artístico do Projeto Ademar Guerra e oficineiro no Centro Cultural da Penha, em São Paulo. É professor de expressão vocal e improvisação.

Assessoria de imprensa: VERBENA COMUNICAÇÃO
Eliane Verbena e João Pedro
Tel (11) 2738-3209 / 9373-0181- verbena@verbena.com.br

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