Conrado Caputo (foto de Danilo Batista) |
Inspirado nos escritos de São João da Cruz, poeta e místico
espanhol do século XVI, o espetáculo João da Cruz estreia no dia 19 de janeiro (sexta-feira) na Casa das Rosas, às 20 horas.
A
montagem é um solo de Conrado Caputo
com dramaturgia e encenação de Helder
Mariani. A temporada segue até o dia 23 de fevereiro com sessões sempre às
sextas-feiras, às 20 horas.
A
ação se passa durante nove meses em que o Frei João da Cruz - canonizado São
João da Cruz pela Igreja Católica, em 1726 - foi prisioneiro dos Carmelitas
Calçados, seus próprios confrades, numa cela minúscula do Convento de Toledo.
Com
uma poesia e uma mística que ultrapassaram os limites do discurso religioso, a
obra escrita do Frei João Cruz faz parte da literatura clássica espanhola. O
monólogo retrata sua obra literária do santo com suas ideias radicais,
expressas pela palavra escrita e pela sua prática de vida. Ele também carrega
as contradições existenciais da humanidade que, depois da Idade Moderna, se
tornam cada vez maiores. Consumido por uma sede de infinito, de Deus, vivendo
numa “noite escura” espiritual, o poeta carmelita se recusa a abrir mão da luta
para renovar a sua ordem religiosa e a própria Igreja do seu tempo.
O
texto teatral João da Cruz parte de uma colagem de textos traduzidos de
várias obras do santo. A proposta do encenador Helder Mariani é discutir sobre
o homem, o poeta e o místico; sobre a vivência radical de suas ideias,
sentimentos e paixões. “Nosso propósito não é apresentar uma narrativa
biográfica de cunho didático”, afirma. A dramaturgia traz um João da Cruz
consumido pela sede de infinito nos tempos de prisão, solitário e humilhado, sofrendo
altos e baixos emocionais. “Ele reencontra sua pacificação na criação de
poemas, num abandono contemplativo e na recusa a uma resposta meramente
racional às questões existenciais e, principalmente, foca nos seus planos de
fuga – a imaginação artística de um homem que ultrapassa a limitação da
realidade e se lança numa contemplação do divino, invisível, silencioso e
misterioso”.
João da Cruz ficou preso no Convento Carmelita de
Toledo, de meados de dezembro de 1576 a agosto de 1577. Boa parte desse tempo
ele ficou numa cela, que era uma cavidade na parede que servia de latrina para
hóspedes do convento. Sem condições de higiene, com parca comida, recebendo
torturas físicas e psicológicas (inclusive diante da comunidade religiosa do
Carmelo), a única ideia que lhe vinha à cabeça, obsessivamente como uma
inspiração divina, era a de fugir. Nos interrogatórios, o santo permaneceu
firme nas suas convicções de “carmelita descalço”, termo que bem sintetiza as
questões éticas e de poder que estavam em jogo, não só os pés no chão, mas o
desprendimento e a real pobreza evangélica, preconizada pelo cristianismo. O Frei
teve dois carcereiros, e conta-se que o segundo, o jovem Frei João de Santa
Maria, teve participação facilitadora na sua fuga.
A encenação de Mariani apresenta o ator solitário na
cena, que revela o frágil e forte de todo ser humano, o contraditório e
coerente, a ingenuidade e a crítica de um santo. Com uma trilha sonora
contemporânea que dialoga com a narrativa, valendo-se de poucos recursos
cenográficos ou de iluminação, o ator se despoja em cena e abre espaço para a
palavra. O ator se apropria da palavra poética, mística e humana do santo
espanhol e traz as questões existenciais na perspectiva do século XVI para uma
discussão contemporânea, com os desafios éticos e políticos, filosóficos e
espirituais da “pós-modernidade”.
Preso
numa cela minúscula: sem luz - havia um feixe de luz que vinha do teto, ao meio
dia, quando o frei aproveitava para rezar seu breviário - e quase sem
ventilação, João da Cruz responde à crise e a decadência de seu tempo com
poesia e uma mística que ultrapassaram os limites religiosos e o tornaram um
dos mais importantes escritores da Espanha. “Consta que João da Cruz, o poeta da noite escura, tinha um temperamento dócil, mas bem intenso, o que o
torna um personagem cenicamente interessante. Suas buscas espirituais
apaixonadas e suas dúvidas martirizantes tão humanas são vividas numa situação
limite: a prisão e a ideia fixa de fuga”. Finaliza o encenador Helder Mariani.
Frei
João da Cruz
Frei João da Cruz nasceu em Fontiveros, povoado
dos arredores de Ávila, Espanha. O pai, Gonçalo de Yepes, de família nobre, foi
deserdado ao se casar com a humilde Catarina Álvarez; e faleceu quando João
tinha três anos. De lá em diante a vida de João foi de pobreza e miséria. Sua
mãe ia de um lado para outro com os filhos, buscando abrigo, trabalho e comida.
Casas grandes e belas; conventos nos centros das cidades; hábitos religiosos elegantes;
sapatos da moda; túnicas caras com grandes botões de metal, conforme o requinte
da época; punhos e colarinhos delicados, segundo as normas da vaidade... Para Frei
João da Cruz esse não era o espírito que deveria prevalecer na Ordem do Carmelo,
nem na igreja. Esse era o espírito do mundo profano, do luxo e do tédio. Para
ele, era preciso fugir desse mundo que aprisiona na vaidade e no poder.
No
século XVI a Igreja Católica era finalmente contestada, e seu poder político e
econômico questionados pelos novos pensamentos filosóficos, políticos e
científicos que se delineavam na Europa. A tradicional ordem religiosa
monástica dos Carmelitas também não foi poupada das transformações do Renascimento
e passou por uma grande reforma, iniciada pela Madre Teresa, de Ávila, e depois
assumida radicalmente pelo Frei João da Cruz. Quando Teresa d’Ávila propôs
ampliar as reformas que vinha fazendo no Carmelo feminino para o Carmelo
masculino, procurou-lhe um jovem frei, com 25 anos, chamava-se João de Yepes e
usava o nome religioso de Frei João de São Matias. Mais tarde, quando se tornou
o primeiro carmelita descalço, mudou para João da Cruz, nome com o qual ficou
conhecido na Igreja, na literatura espanhola e na história da mística cristã
ocidental.
Ficha técnica /
serviço
Espetáculo: João
da Cruz
Dramaturgia
e encenação: Helder Mariani
Interpretação:
Conrado Caputo
Direção
de arte: Pedro Faraldo
Trilha
sonora: Dagoberto Feliz
Fotos:
Danilo Batista
Vídeo:
Orion Produtora / Nidowilliam Spadotto
Produção
executiva: Paloma Rocha
Realização:
Cia. da Palavra
Sinopse - Monólogo retrata a
obra literária de São João da Cruz, poeta e místico espanhol do século XVI, com
suas ideias radicais, tanto na palavra escrita quanto na prática de vida, e
suas contradições existenciais. Consumido por uma sede infinita de Deus, o
poeta carmelita luta para renovar a Igreja do seu tempo. A ação se passa no
período em que Frei João da Cruz esteve prisioneiro e humilhado pelos seus
próprios confrades numa cela minúscula do Convento de Toledo.
Estreia:
19 de janeiro. Sexta, às 20h
Local:
Casa das Rosas
Av. Paulista, 37 - Paraíso, São
Paulo/SP. Telefone: (11) 3285-6986
Temporada:
19 de janeiro a 23 de fevereiro de 2018. Sextas, às 20h
Ingressos:
R$ 40,00 (meia: R$ 20,00). Bilheteria: 1h antes da sessão.
Duração:
60 min. Gênero: Drama. Classificação: 14 anos.
PERFIS
Helder
Mariani - No teatro, é ator, encenador e dramaturgo. No Grupo
Folias, participou como ator dos dois espetáculos: Folias Galileu e Folias
D’Arc, dirigidos por Dagoberto Feliz. Desde 2005, encena e atua em vários
projetos poético-teatrais na Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de
Poesia e Literatura, sendo os últimos espetáculos apresentados naquela Casa: A
Casa É Sua! Caos de Poesias (2014), Cabaré Falocrático (2015) e
Theresinha (2014 e 2015). Como ator, atuou também na Cia. As Graças (Noite
de Reis, direção de Marco Antonio Rodrigues), no Centro Cultural Silvio
Santos (A Flauta Mágica, direção de Roberto Lage), Teatro Fábrica (Os
Pequenos Burgueses, direção de Roberto Rosa). E ainda nos espetáculos Malkhut,
direção de Denise Weinberg, Cartas ao Futuro, direção de Eduardo
Coutinho, Os Cafundó e Flores Sertanejas, direções de Francisco
Bretas, entre outros. Também como ator: Os Jecas, (da Cia. da Palavra,
premiado como melhor espetáculo pelo júri popular do 43º Fenata, Festival
Nacional de Ponta Grossa-PR), Single Singers Bar (produção de Nossa
Senhora da Produção) e Vinícius, de Vida Amor & Morte (Cia. Coisas
Nossas), com direções de Dagoberto Feliz. Como assistente de direção: Hamlet
ao Molho Picante; e encenador: Theresinha e A lucidez Alucina, Poemas
de Orides Fontela. Como dramaturgo, escreveu Devaneios do Bárbaro
Solitário (ProAC de dramaturgia inédita 2011), sobre os filósofos franceses
Rousseau e Voltaire; Theresinha, a partir dos escritos de Santa Thérèse
de Lisieux; assina a dramaturgia de Os Jecas, Cabaré Falocrático e
A Casa da Mariquinhas. Educador com formação em Direito, Filosofia, Pedagogia,
Psicodrama e Teatro. É professor de filosofia e teatro, com trabalhos em várias
instituições. Mestre em Filosofia pela PUC-SP, com o título: A
Mentira-Verdade do Ator. Hoje, doutorando pela PUC-SP com a pesquisa: O
Ator Iluminista.
Conrado Caputo - Ator formado pela
Escola de Arte Dramática – EAD/ECA/USP, participou de diversos coletivos, entre
eles Teatro da Vertigem, Teatro de Narradores e Cia. Arthur-Arnaldo. Trabalhou
com os diretores Cassio Scapin, Bete Dorgam, Ariela Goldmann, Antonio Araújo,
José Fernando de Azevedo e Dagoberto Feliz. Entre seus principais trabalhos em
teatro estão Bom Retiro 958 Metros,
de Joca Reiners Terron (2012), Cidade
Desmanche, de José Fernando de Azevedo (2009-2013), A Resistível Ascensão de Arturo Ui, de Bertolt Brecht (2013-2014), As Três Irmãs, de Anton Tcheckov (2008),
O Diabo de Tetas, de Dario Fo (2009),
Cidade Fim-Cidade Coro-Cidade Reverso,
de José Fernando de Azevedo (2011-2013), e Vinicius
de Vida, Amor e Morte, criação coletiva (2014). Na televisão, atuou nas
novelas Haja Coração e Alto Astral (Rede Globo) e na série Vida de Estagiário
(Warner Channel - 3 temporadas, sendo duas delas rodadas em Buenos Aires, numa
coprodução Brasil-Argentina). Foi orientador artístico do Projeto Ademar Guerra
e oficineiro no Centro Cultural da Penha, em São Paulo. É professor de expressão
vocal e improvisação.
Assessoria de
imprensa:
VERBENA COMUNICAÇÃO
Eliane
Verbena e João Pedro
Tel (11) 2738-3209 / 9373-0181- verbena@verbena.com.br
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