sexta-feira, 8 de junho de 2012

Crítica de "Francesca", por Maria Lúcia Candeias

AINDA SOMOS COMO NOSSOS ANTEPASSADOS
Márcio Bueno Dias, Ando camargo e
Tatyana Figueiredo - Foto Bob Sousa
Luis Alberto Abreu nos conta no programa da linda peça “Francesca”, escrita por ele depois de se emocionar com uma parte da “Divina Comédia” de Dante Alighieri, criada no final da idade Média e ainda antes do Renascimento. Quem assiste também se envolve com a trama: casal de filho e nora que não obedecem às ordens amorosas do pai. E a gente se espanta com a semelhança entre nós e as personagens divididas entre emoções e leis, como acontecia na época descrita, há cerca de setecentos anos atrás. Há no texto lindíssimas frases poéticas que Luis Alberto parece ter pinçado dos escritos de Dante, maravilhosas pela poesia e sabedoria que mostra que continuam atuais. Não dá pra não ver.
Não bastassem os acertos de Abreu e Dante, a direção de Roberto Lage (com assistência de Paulo Jordão) é maravilhosa tanto na condução dos dez atores (Tatyana Figueiredo, Márcio Bueno Dias, Renata Zhaneta, Maria do Carmo Soares, Ando Camargo, Marco Aurélio Campos, Fernando Petelinkar, Raquel Marinho, André Grecco e Rodrigo Ramos) que interpretam otimamente com destaque para Renata Zhaneta, como na da encenação. E não é à toa. Cenografia Heron Medeiros, Figurinos Fábio Namatame, Iluminação Wagner Freire, música Paulo Herculano. Todos premiados. É simplesmente inesquecível, corra pra lá.
Esse espetáculo e mais outros voltando à antiguidade, ou mesmo há séculos muito próximos como “De Um Ou De Nenhum” de Pirandello, dirigido por Eduardo Tolentino no Teatro Cacilda Becker, parecem apontar para uma nova tendência, não à fragmentação, sim, e mais importante ainda, ao fato de que “somos e vivemos como nossos pais”, e acrescento como nossos antepassados.
                      Maria Lúcia Candeias
Doutora em teatro pela USP, Livre Docente pela UNICAMP
             

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