Depois da bem sucedida temporada de estreia no Espaço da Cia. do Feijão, o espetáculo Facas nas Galinhas, do escocês David Harrower, volta ao cartaz para uma breve e popular temporada a 10 reais. A reestreia acontece no dia 6 de outubro, sábado, no Espaço Elevador, às 21 horas. Com direção de Francisco Medeiros, a montagem tem Eloisa Elena, Cláudio Queiroz e Thiago Andreuccetti no elenco.
Encenada em 25 países, Facas nas Galinhas é um texto poético e simbólico sobre uma mulher jovem que se passa em uma aldeia, em um tempo arcaico, não definido. Casada com um camponês rude e, talvez, adúltero, ela tem um encontro com o odiado moleiro (dono do moinho) que a impulsiona no percurso da descoberta de si mesma. Essa mulher perfaz uma trilha que a leva da ignorância à consciência, do literal ao imaginário, da escravidão à libertação.
Segundo o diretor Francisco Medeiros, “o percurso desta personagem, num contexto cheio de intrigas e elementos inusitados, é a construção de uma identidade, o desvendamento de um ser. É conquista de uma individualidade”. Essa mulher apresentada por David Harrower é o arquétipo da mulher servil ao marido e que ainda não tem aflorado o exercício da metáfora, do simbólico. De forma brilhante e singular o autor a conduz ao encontro dela com ela mesma, como se fosse a construção de um ser.
Considerado por muitos um texto difícil de encenar, Facas nas Galinhas exige dos atores sua máxima potência cênica. Quanto a isto o diretor confessa: “a peça é de uma simplicidade desconcertante, tão absurda que nos desafia na visualização de uma encenação”. Ele ainda explica que a comunicação calcada na simplicidade não é a mais simples de encenar. “Esta ficção dramática é descamada de truques, desprovida de efeitos e de golpes de teatro, mas tem fortes e potentes ingredientes narrativos”. A direção não se desprende desta simplicidade e explora a força das palavras e situações. “Nosso propósito é evitar a ilustração, a redundância, e convocar o espectador ser parceiro ativo para que, só assim, a obra se complete.” Explica Medeiros.
“Facas nas Galinhas se abre a múltiplas leituras para cada pessoa da plateia”, afirma Francisco Medeiros. Ele completa: “não sou um encenador do tipo que entra num trabalho com a concepção geral pronta. Prefiro ser provocado. Minha tarefa é estabelecer uma conexão com as forças dos atores e dos outros artistas envolvidos na montagem e tentar encontrar a organização mais intrigante, capaz de afetar poderosamente a plateia”.
A solução cenográfica é outro desafio: tem que possibilitar o jogo multifacetado proposto por Harrower, numa cronologia não linear, e apelar para a imaginação do espectador diante de uma lógica bem particular. Nesta montagem brasileira o cenário (de Marco Lima) é abstrato e provocativo, em combinação com a luz (de Marisa Bentivegna), importantíssima inclusive nas referencias de tempo e nos recortes para criar múltiplos ambientes e atmosferas. No cenário, uma estrutura circular (como a pedra de moinho, cercada por caminhos forrados por grãos, como o trigo de que se faz a farinha) abre várias possibilidades para situar cada cena. E a concretude desse cenário dá forma e magia a um campo, uma casa, um moinho...
A trilha (de Dr Morris) é um “complexo sonoplástico”, uma instalação sonora que combina sons primitivos e naturais, em sua maioria executados ao vivo pelos atores, propondo a harmonia entre o texto e natureza bucólica rural.
Eloisa Elena, atriz e diretora da Barracão Cultural, conta que a “escolha por este texto foi quase sensorial”. Procurava por um autor contemporâneo, leu a sinopse na Internet e descobriu que uma amiga havia montado a peça em Portugal. Entrou em contato com ela e ficou totalmente envolvida por este universo rústico, poético e ao mesmo tempo transbordante de simplicidade. “O que mais me atraiu foi essa possibilidade de poesia permanente, simples, que não aparece à primeira vista e precisa ser descoberta.”
Espetáculo: Facas nas Galinhas
Texto: David Harrower
Tradução: Fábio Ferretti
Direção: Francisco Medeiros
Elenco: Eloisa Elena, Cláudio Queiroz e Thiago Andreuccetti
Trilha sonora: Dr Morris
Cenário e figurino: Marco Lima
Iluminação: Marisa Bentivegna
Coordenação técnica: Maurício Mateus
Instalação sonora: Dr Morris e Maurício Mateus
Preparação corporal: Fabricio Licursi
Designer gráfico: Teresa Maita
Fotografias: João Caldas
Construção de cenário: Ono-Zone Estúdio
Costureira: Benedita Calixtro
Produção executiva: Geondes Antonio
Administração: Marina Porto
Realização: Barracão Cultural - www.barracaocultural.com.br
Temporada: de 6 a 28 de outubro de 2012
Espaço Elevador - www.elevadorpanoramico.com.br
Rua Treze de Maio, 222 – Bela Vista/SP - Tel: (11) 3477-7732
Horários: sábados (às 21 horas) e domingos (às 19 horas)
Ingressos/preço único: R$ 10,00 - Bilheteria: 2h antes das sessões
Aceita cheque e dinheiro - Capacidade: 50 lugares - Informações: (11) 5539-1275
Gênero: Drama - Duração: 80 min - Classificação estaria: 12 anos
Estacionamento conveniado (ao lado do teatro): R$ 20,00.
Críticas
O sedutor (moleiro) (...) tem o dom da escrita. Tudo o que a mulher deseja é exatamente manejar as palavras para definir suas fantasias. Deixa-se envolver porque, além de desconhecer o carinho masculino, o estranho, visto como um criminoso e explorador da labuta alheia, oferece cordialidade e ainda a ensina usar papel, tinteiro e caneta de pena. Algo mágico fora de uma rotina conjugal de ordens e monossílabos grosseiros. (...) O grupo Barracão Cultural apresenta uma montagem com o impacto da cenografia de Marco Lima sugerindo simultaneamente grades e a roda de moer grãos, imagem reforçada pela iluminação misteriosa de Marisa Bentivegna. (Jefferson Del Rios – O Estado de S. Paulo)
Eloisa Elena transita entre a doçura, o inconformismo e a frieza em sutis olhares e entonações de voz. Queiroz e, principalmente, Andreuccetti apresentam-se como contrapontos à altura da protagonista. No entanto, as soluções criadas por Francisco Medeiros, como chuva de farinha ou as gotas de sangue, em meio à simplicidade da produção chamam atenção não só pela criatividade como pelo talento em fazer bom teatro com poucos recursos disponíveis e poesia de sobra. (Dirceu Alves Jr. – Veja São Paulo)
A montagem, encabeçada pelo brilhante diretor Francisco Medeiros (...), revela que a Modernidade nos dias atuais chegou para acusar que ainda estamos vivendo submersos nas “garras das mais primitivas armadilhas” humanas e sociais. (...)o grupo “Barracão Cultural” faz um discurso cênico demolidor ao mesmo tempo cravando expectativas que nos fazem respirar fundo e evocar o “vamo que vamo”. Magnífico! (Jair Alves – Portal Macunaíma)
A direção de Francisco Medeiros, aliada à cenografia e aos figurinos de Marco Lima são enxutas e sinalizam a opção, concretizada, de extrair do poético texto de Harrower sua atemporalidade e não definição do lugar em que se passa a peça, transportando-a para um espaço arquetípico, propício à curiosidade que leva à descoberta. (...) DrMorris cria mais que mera trilha, ele realiza uma sonorização que dialoga o tempo todo com a concepção da cena. Sem dúvidas este é um espetáculo que fica cravado no espírito de quem o assiste. (Michel Fernandes – Aplauso Brasil)
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