sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Facas nas Galinhas volta com temporada no Tucarena

Produção esmerada da Barracão Cultural está indicada ao Prêmio Shell de Teatro pela direção, cenário e música e ao Prêmio CPT pela direção. Peça será apresentada na Mostra Oficial 2013 do Festival de Curitiba.

Depois de duas temporadas de sucesso em 2012, o espetáculo Facas nas Galinhas volta ao cartaz para uma breve temporada no Tucarena. A reestreia acontece no dia 9 de março, sábado, às 21 horas. Com texto do escocês David Harrower e direção de Francisco Medeiros, a montagem tem elenco formado pelos atores Eloisa Elena, Cláudio Queiroz e Thiago Andreuccetti.

Encenada em 25 países, Facas nas Galinhas é um texto poético e simbólico sobre uma mulher jovem que se passa em uma aldeia, em um tempo arcaico, não definido. Casada com um camponês rude e, talvez, adúltero, ela tem um encontro com o odiado moleiro (dono do moinho) que a impulsiona no percurso da descoberta de si mesma. Essa mulher perfaz uma trilha que a leva da ignorância à consciência, do literal ao imaginário, da escravidão à libertação.

Segundo o diretor Francisco Medeiros, “o percurso da personagem, num contexto cheio de intrigas e elementos inusitados, é a construção de uma identidade, o desvendamento de um ser. É conquista de uma individualidade”. Essa mulher apresentada por Harrower é o arquétipo da mulher servil ao marido e que ainda não tem aflorado o exercício da metáfora, do simbólico. De forma brilhante e singular o autor a conduz ao encontro consigo mesma, como se fosse a construção de um ser. 

Considerado por muitos um texto difícil de encenar, Facas nas Galinhas exige dos atores sua máxima potência cênica. Quanto a isto o diretor confessa: “a peça é de uma simplicidade desconcertante, tão absurda que nos desafia na visualização de uma encenação”. Ele ainda explica que a comunicação calcada na simplicidade não é a mais fácil de encenar. “Esta ficção dramática é descamada de truques, desprovida de efeitos e de golpes de teatro, mas tem fortes e potentes ingredientes narrativos”. A direção não se desprende desta simplicidade e explora a força das palavras e situações.“Nosso propósito é evitar a ilustração, a redundância, e convocar o espectador para ser parceiro ativo para que, só assim, a obra se complete.” 
 
A solução cenográfica foi outro desafio. Ela possibilita o jogo multifacetado proposto por Harrower, numa cronologia não linear, e apela para a imaginação do espectador diante de uma lógica bem particular. Nesta montagem brasileira o cenário (de Marco Lima) é abstrato e provocativo, em combinação com a luz (de Marisa Bentivegna), importante, inclusive, nas referencias de tempo e nos recortes para criar múltiplos ambientes e atmosferas. No cenário, uma estrutura circular (como a pedra de moinho, cercada por caminhos forrados por grãos, como o trigo de que se faz a farinha) abre várias possibilidades para situar cada cena. E a concretude desse cenário dá forma e magia a um campo, uma casa, um moinho...
 
A trilha (de Dr Morris) é um “complexo sonoplástico”, uma instalação sonora que combina sons primitivos e naturais, em sua maioria executados ao vivo pelos atores, propondo a harmonia entre o texto e natureza bucólica rural.
 
Eloisa Elena, atriz e diretora da Barracão Cultural, conta que a “escolha por este texto foi quase sensorial”. Procurava por um autor contemporâneo, leu a sinopse na Internet e descobriu que uma amiga havia montado a peça, em Portugal. Entrou em contato com ela e envolveu-se por este universo rústico, poético e transbordante de simplicidade. “O que mais me atraiu foi essa possibilidade de poesia permanente, simples, que não aparece à primeira vista e precisa ser descoberta.”

Sinopse
 Uma mulher jovem leva uma vida de subserviência ao Marido, sem questionar, sem observar, sem apreciar. Apenas vive. O marido é um rude lavrador que tem uma relação não bem esclarecida com os cavalos, que estão sempre em primeiro plano. Eles moram numa cabana, no final do vilarejo, onde todos dependem do moinho para processar os grão e fazer a farinha. O moleiro (homem que possui livros e gosta de escrever e beber) é odiado por todos os habitantes, considerado um explorador (porque quem faz o trabalho é o moinho), um bruxo (sabe de tudo que se fala por ali) e pode ser até um assassino.

Um dia essa mulher sai da cabana e vai levar o almoço para o marido no campo e, pela primeira vez, ela para por um momento e tem sua primeira experiência de contato, de relação, com o mundo. Passa a observar e refletir sobre os fenômenos e as coisas da natureza. Começa aí sua transformação, seu despertar.

Sua relação com o moleiro se dá quando o marido, ocupado com o parto de uma égua, incumbe-a de levar os grãos até o moinho, dizendo que ela só precisa entregar os sacos, aguardar pela farinha e odiar o moleiro. Mas ela encontra um homem que é o oposto do marido, que lhe observa e oferece ajuda. Esse homem colabora para o seu despertar para a vida. É ele quem lhe apresenta, por exemplo, uma caneta. Ela, até então, só usara o giz e as palavras pronunciadas.

Com o desgaste da pedra do moinho a população resolve levar uma pedra nova para agilizar o serviço, quando o moleiro lhes oferece uma bebida. Isto resulta numa série de desdobramentos e envolvimentos entre ele, a mulher e o marido. O desfecho se dá quando vão guardar a pedra velha nos fundos da casa do moleiro e algo inesperado acontece. 

Espetáculo: Facas nas Galinhas
Texto: David Harrower
Tradução: Fábio Ferretti
Direção: Francisco Medeiros
Elenco: Eloisa Elena, Cláudio Queiroz e Thiago Andreuccetti
Trilha sonora: Dr Morris
Cenário e figurino: Marco Lima
Iluminação: Marisa Bentivegna
Coordenação técnica: Maurício Mateus
Instalação sonora: Dr Morris e Maurício Mateus
Preparação corporal: Fabricio Licursi
Designer gráfico: Teresa Maita
Fotografias: João Caldas
Construção de cenário: Ono-Zone Estúdio
Costureira: Benedita Calixtro
Produção executiva: Geondes Antonio
Administração: Marina Porto
Realização: Barracão Cultural - www.barracaocultural.com.br
Temporada: 9 de março a 28 de abril
Não haverá espetáculo nos dias 30 e 31/3 (grupo estará no Festival de Curitiba)
Tucarena - http://www.teatrotuca.com.br
Rua Monte Alegre, 1024 (entrada pela Rua Bartira) – Perdizes/SP
Horários: sábados (às 21 horas) e domingos (às 19 horas) - Tel: (11) 3670-8455
Ingressos: R$ 40,00 (meia: R$ 20,00). Bilheteria: terça a domingo (14h às 20h)
Gênero: Drama - Duração: 70 min - Classificação: 12 anos
Ingressos antecipados: www.ingressorapido.com.br e tel: (11) 4003-1212
Estacionamento: R. Monte Alegre, 835 (R$ 15,00).

Nenhum comentário:

Postar um comentário