A Kiwi Companhia de Teatro apresenta a montagem
Morro Como Um País, que dá continuidade ao trabalho de pesquisa
desenvolvido com foco na reflexão política social e estética. Com direção de Fernando
Kinas, a estreia acontece no dia 1º de março, sexta-feira, no Sótão
do Teatro Grande Otelo, às 20 horas.
O espetáculo não segue
um padrão formal de encenação; não há uma história com princípio, meio e fim. A
Kiwi usou como referência o texto literário Morro Como Um País, escrito
em 1978 por Dimitris Dimitriadis (nascido em 1944), que é um verdadeiro
testemunho de como o povo grego viveu a “ditadura dos coronéis” (1967/1974).
A concepção de Fernando
Kinas articula mais de 30 tableaux (cenas independentes) que, uma vez
articulados pelo espectador, dão sentido ao trabalho. Morro Como Um País
delineia quadros como em um jogo onde todos os presentes estão inseridos. O
espaço alternativo onde acontece a encenação e uma referência a brincadeiras
coletivas infantis, complementam o cenário deste jogo cênico, em que prazer e
conhecimento se complementam.
Um dos objetivos da peça
é colocar em foco a discussão sobre o “estado de exceção permanente”, definido
pela suspensão de direitos mesmo em períodos de “normalidade democrática”. São
situações em que a ilegalidade tem aparência legal. Outro objetivo é apresentar
momentos históricos de especial tensão entre o desejo de transformação e justiça
social e a violência praticada pelo Estado.
Com a intenção de
inquietar o espectador, o trabalho se inspira e utiliza recursos tanto do
teatro documentário como da matriz brechtiana, inpirando-se ainda na obra do
diretor russo Meyerhold. O material retirado da realidade e empregado em cena é
formado por relatos, matérias jornalísticas, depoimentos, imagens, canções,
brincadeiras infantis, poemas, trechos de romances e letras de músicas.
Segundo o diretor, “não
há carga emocional pela reconstrução psicológica, a contundência se dá mais
pela informação narrativa do que pelos recursos dramáticos convencionais”. A
atriz Fernanda Azevedo completa dizendo que “não temos as respostas para tudo,
mas tentamos fazer as perguntas certas”.
A música é usada com função
dramatúrgica, a exemplo da música cigana (povo historicamente perseguido), dos
clássicos de exaltação nacionalista durante a ditadura (Eu te amo meu Brasil
etc.) e das músicas de protesto. A companhia trabalha com alguns conceitos na
montagem, entre eles, o de cânone, figura musical que supõe um padrão de
repetição (há um relógio em cena com mostrador e mecanismo invertidos) e
desmontagem das personagens clássicas em favor do depoimento e da exposição de
contradições, tanto na forma como no conteúdo do que é exposto cenicamente. A
iluminação – assinada por Heloísa Passos, cineasta e diretora de fotografia em
curtas e longas-metragens – é mais cinematográfica do que teatral, priorizando
luzes frias.
O projeto do grupo, que
existe há 15 anos, alia reflexão à experimentação estética. Isto tem relação
com a trajetória de Fernando Kinas, que tem Doutorado em Teatro pela Sorbonne
Nouvelle e Universidade de São Paulo. Uma longa pesquisa de cerca de oito meses
foi desenvolvida para este trabalho, que incluiu viagem à Argentina para
investigar processos autoritários na América Latina.
O projeto Morro Como
Um País - A Exceção e a Regra, com duração de 14 meses, tem apoio do
Programa de Fomento ao Teatro (Secretaria de Cultura da cidade de São Paulo) e
inclui encontros, intervenções urbanas, seminários, apresentação da montagem
anterior do grupo, Carne. Diversas organizações e movimentos
sociais são parceiros do projeto, como o Coletivo Merlino, a Comissão de
Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e a Comissão Estadual da
Verdade. Haverá debates no final de apresentações (a agenda será divulgada
oportunamente), evento sobre livro A Periferia Grita, do Movimento Mães
de Maio e debate especial no dia 31 de março (data do golpe militar no Brasil).
Trabalho cênico: Morro
Como Um País
Roteiro e direção geral:
Fernando KinasElenco: Fernanda Azevedo
Cenário: Júlio Dojcsar
Figurino: Maitê
Chasseraux
Iluminação: Heloísa
Passos
Pesquisa e música
original: Eduardo Contrera e Fernando Kinas
Pesquisa e tratamento de
imagens: Maysa Lepique
Assessoria e treinamento
musical: Luciana Fernandes e Armando Tibério
Direção de produção:
Luiz Nunes
Assistência de produção:
Dani Embón
Programação visual:
Paulo Emílio Buarque Ferreira e Camila Lisboa
Realização e produção: Kiwi Companhia de Teatro
Estréia: dia 1º de março
– sexta-feira – às 20 horas
Teatro Grande Otelo (Sótão)
Alameda Nothmann, 233 -
Campos Elíseos/SP - Tel:
(11) 2307-0020
Temporada: sextas e
sábados (20 horas) e domingos (19 horas) - Até 28/04
Ingressos: R$ 10,00 - Bilheteria: quarta a domingo
(após 16h)
Gênero: Drama – Classificação
etária: 14 anos – Duração: 95 min.
Não possui acesso universal - Aceita
dinheiro e todos os cartões.
Ingressos antecipados: www.ingressorapido.com.br (4003-1212)
Estacionamento (interno) pela Al. Dino Bueno, 353: R$ 15,00.
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