sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

CAIXA Cultural apresenta espetáculos da carioca Alfândega 88


A CAIXA Cultural São Paulo apresenta dois espetáculos do repertório da companhia carioca Alfândega 88, sob direção de Moacir Chaves. A temporada – sempre de quinta a domingo, às 19h45 – tem início com a montagem A Negra Felicidade, nos dias 30 e 31 de janeiro e 1º e 2 de fevereiro. Já Labrinto, primeira peça do grupo, encerra o projeto com apresentações entre os dias 6 e 9 de fevereiro. Os ingressos são grátis e devem ser retirados 1 hora antes de cada sessão.

Haverá tradução em libras (linguagem de sinais) nas sessões dos dias 2 e 9 de fevereiro, além de uma oficina gratuita de interpretação com o diretor Moacir Chaves, nos dias 1º e 2 de fevereiro.
 
O drama A Negra Felicidade leva à cena um material tocante com linguagem cênica inovadora. A peça discute o homem como objeto de uso de outro homem, correlacionando o caso verídico de Felicidade, mulher negra e escrava que lutou na justiça pela sua liberdade, na metade do século XIX, e um sermão do Padre Antônio Vieira de meados do século XVII.
 
A comédia Labirinto reúne três textos do consagrado autor gaúcho José Joaquim de Campos Leão - Qorpo-Santo (1829-1883): Hoje Sou Um, e Amanhã Outro; As Relações Naturais; A Separação de Dois Esposos. Sua obra antecipa questões de forte cunho humano e social, como liberdade sexual, direito ao prazer, emancipação feminina e outras que permanecem contundentes e atuais.
 
Serviço / espetáculos
A Negra Felicidade: dias 30 e 31 de janeiro, 1 e 2 de fevereiro
Gênero: drama. Duração: 75 min. Classificação etária: 10 anos
Labirinto: dias 6, 7, 8 e 9 de fevereiro
Gênero: comédia. Duração: 90 min. Classificação etária: 14 anos
Local: CAIXA Cultural São Paulo
Praça da Sé, 111 – Centro/SP. Tel: (11) 3321-4400
Horário: de quinta a domingo – às 19h45
Grátis (retirar ingressos na bilheteria com 1h de antecedência)
Capacidade: 80 lugares. Acesso universal.
Haverá tradução em libras (linguagem de sinais) na sessão do dia 2/2
Patrocínio: Caixa Econômica Federal
Serviço / oficina
Oficina: Interpretação Teatral com Moacir Chaves
Dias 1º e 2 de fevereiro (sáb. e dom.) - 15h às 18h
Local: Sala de Ensaios. Inscrição grátis: enviar breve currículo p/ alfandega88@hotmail.com e aguardar confirmação. Os selecionados devem levar texto decorado de até 5 minutos e usar roupas confortáveis.

 
Os espetáculos
 
A NEGRA FELICIDADE
 
A Negra Felicidade é o segundo espetáculo da Cia. Alfândega 88, que foi vencedora do 25º Prêmio Shell na Categoria Especial pelo seu projeto de residência artística no Teatro Serrador, onde estreou em abril de 2012. O espetáculo foi indicado ao Prêmio Shell na categoria Melhor Direção e ao Prêmio Questão de Crítica nas categorias Melhor Direção e Melhor Espetáculo.
 
A peça não tem como ponto de partida um texto de teatro convencional. É fruto de pesquisa do grupo a partir de dois pilares de composição. O primeiro é um documento histórico: os autos de um processo judicial de 1870, em que uma mulher negra, escrava, de nome Felicidade, moveu uma ação na justiça do Rio de Janeiro contra seu senhor pleiteando sua liberdade. O segundo é o Sermão de Santo Antonio aos Pixes, do padre Antonio Vieira, grande defensor da igualdade entre os homens e da abolição da escravatura. O espetáculo é calcado no contraponto entre a coisificação máxima do ser humano – a escravidão – e o profundo respeito à vida humana, pregado e defendido por Vieira.
 
Mas esse fato verídico, que por si só já é um resgate da nossa história, não é adaptado a uma dramaturgia convencional, pois os autos da ação de liberdade trazem uma questão fundamental da reflexão a ser feita: de um lado, a nossa familiaridade com a forma jurídica, reconhecida de imediato por qualquer um que já tenha tido algum contato com o aparato judicial (como ao alugar de um imóvel, por exemplo), de outro, o nosso estranhamento - ou repulsa - ao objeto dessa ação: a compra e venda de um ser humano.
 
Porém, é preciso considerar que, em 1870, o tema do processo não causava qualquer estranhamento. Será que daqui a 100 anos perceberemos como afrontosas ações que hoje soam tão naturais? Teremos a capacidade de compreensão assim tão ofuscada pelo simples fato de sermos contemporâneos aos acontecimentos? Cometeremos, agora, o pecado da indiferença semelhante ao cometido pelos nossos ancestrais há tão pouco tempo? Essas questões, que transcendem a pessoalidade e a temporalidade, são pontos crucias da reflexão: o homem como objeto de uso de outro homem.
 
A Negra Felicidade aponta para a triste pergunta: deve a felicidade ser calcada na derrocada do outro, seja ele um continente, um país, uma classe, um concorrente? A conciliação final no processo, quando Felicidade e sua mãe concordam em trabalhar por mais três anos como escravas domésticas para conquistar a liberdade definitiva da filha, parece abolir de vez o espaço de tempo entre aquele Rio de Janeiro e o atual.
 
Sobre Antônio VieiraNascido em 1608, em Lisboa, Antônio Vieira foi religioso, escritor e orador da Companhia de Jesus e um dos mais influentes personagens da política e oratória do século XVII. Destacou-se como missionário no Brasil, defendendo os direitos dos povos indígenas, os judeus e a abolição da escravatura; criticando os sacerdotes de sua época e a própria inquisição. Faleceu na Bahia, em 1697. Chamado por Fernando Pessoa de Imperador da língua portuguesa, seus sermões, de imensa propriedade imaginativa e ora críticos e satíricos, revelam um apurado olhar sobre o comportamento humano e possuem importância literária.
 
Ficha técnica
Textos extraídos de Autos de um processo de 1870, movido pela escrava Felicidade por sua liberdade e do Sermão de Santo Antonio aos Peixes, de Padre Antonio Vieira.
Direção e dramaturgia: Moacir Chaves
Elenco: Andy Gercker, Adriana Seiffert, Danielle Martins de Farias, Edson Cardoso, Elisa Pinheiro, Fernando Lopes Lima, Leonardo Hinckel, rafael Mannheimer, Rita Fischer e Silvano Monteiro.
Assistência de direção e coord. de produção: Danielle Martins de Farias
Figurinos: Inês Salgado
Iluminação: Aurélio de Simoni
Direção musical: Tato Taborda
Projeto gráfico: Maurício Grecco
Montagem de luz e cenotécnica SP: Ton Light Iluminação
Produção: Danielle Martins de Farias, Luísa Pitta e Mariana Guimarães Nicholas

Coordenação de produção: Danielle Martins de Faria
Produção local: Monique Carvalho
Realização: Alfândega 88 e Urbana Produções
 
LABIRINTO
Idealizado e dirigido por Moacir Chaves e realizado, em 2011, junto à companhia Alfândega 88, Labirinto reúne três textos do consagrado autor gaúcho José Joaquim de Campos Leão - Qorpo-Santo. São eles Hoje Sou Um, e Amanhã Outro; As Relações Naturais e A Separação de Dois Esposos.
 
Gênio visionário, o autor antevê em décadas questões formais que só encontrariam a expressão máxima na dramaturgia em meados do século XX, como o Teatro do Absurdo. A obra de Qorpo-Santo mostra a impotência do homem diante do paradoxo de uma estrutura social que, se por um lado é o único freio possível aos violentos instintos humanos, por outro serve como instrumento de dominação e manutenção do status quo, revelando um abismo entre a utopia dos valores morais e éticos almejados pela coletividade e a possibilidade real de exercê-los.
 
Na montagem, o encenador Moacir Chaves e seu grupo exploram as possibilidades cênicas da dramaturgia de Qorpo-Santo, resultando em um espetáculo impactante, tanto em seu caráter estético como em seu conteúdo humano e social, valorizando seu alto potencial de comunicação com a plateia. A equipe de criação traz nomes como Fernando Mello da Costa na cenografia, Aurélio de Simoni na iluminação, Tato Taborda na direção musical, Inês Salgado, nos figurinos e Maurício Grecco na programação visual. Juntos com o diretor, eles já realizaram mais de 20 espetáculos e conquistaram inúmeros prêmios e indicações.
 
Os textos de Labirinto
 
As Relações Naturais é uma peça que retrata uma família em que as filhas são prostitutas, das quais o pai é cliente e a mãe é cafetina. O Criado é amante da Mãe e aliado do Pai contra a mesma. Se, por um lado, toda organização social é percebida como embuste, cuja função é permitir qualquer tipo de exploração, da sexual à força do trabalho, por outro, há um anseio pelo cumprimento das normas, sem questionar seus fundamentos. A peça é, como diz o autor na rubrica a respeito da Cena Primeira do Ato Quarto, “um labirinto, em que ninguém se entende...”.
 
A Separação de Dois Esposos mostra a relação de um casal que se mantém sob o mesmo teto para cumprir o papel social que lhe cabe. O marido encontra a mulher com um amante e decide tornar-se um imoral: carregando um punhal, sai à rua em busca de prazer sexual, constatando a impossibilidade de adequação do ser humano a uma estrutura social que o impele à hipocrisia, mas também admite a impossibilidade de viver sem regras ou preceitos. A peça encerra-se com um hilariante diálogo entre os criados - o primeiro casal homossexual da dramaturgia brasileira.
 
Hoje Sou Um, e Amanhã Outro revela o anseio de uma alma por fazer o bem, na esfera da governança pública, a partir da percepção da falta de importância dos títulos e cargos, da fatuidade do orgulho e da vaidade e, ao fim e ao termo, da insignificância dos próprios indivíduos. A peça se constitui em uma fantasia de bom governo, de um reino de justiça e paz, sem perder, contudo, a virilidade necessária nos momentos de perigo. O que, entretanto, se percebe, é exatamente a impossibilidade, ou ao menos a ausência no mundo real, desta forma de agir, e o desespero de uma alma que anseia que as coisas se passem dessa maneira.

Ficha técnica
Textos: José Joaquim de Campos Leão / Qorpo-Santo
Direção: Moacir Chaves
Elenco: Adriana Seiffert, Andy Gercker, Danielle Martins de Farias, Denise Pimenta, Elisa Pinheiro, Fernando Lopes Lima, Gabriel Gorosito, Leonardo Hinckel, Luísa Pitta, Rafael Mannheimer, Rita Fischer e Silvano Monteiro.
Assistência de direção e coord. de produção: Danielle Martins de Farias
Iluminação: Aurélio De Simoni
Cenário: Fernando Mello da Costa
Cenário: Fernando Mello da Costa
Figurinos: Inês Salgado
Direção musical: Tato Taborda
Projeto gráfico: Maurício Grecco
Montagem de luz e cenotécnica SP: Ton Light Iluminação
Produção: Danielle Martins de Farias, Luísa Pitta e Mariana Guimarães Nicholas
Coordenação de produção: Danielle Martins de Faria
Produção local: Monique Carvalho
Realização: Alfândega 88 e Urbana Produções

Um comentário:

  1. Estive na oficina de interpretação proposta pelo grupo alfandega 88. Fui avisado da minha participação no mesmo dia da oficina, horas antes, chegando lá para a minha surpresa encontrei apenas duas pessoas. Fiquei sabendo que fora dezessete inscritos, este não compareceram provavelmente porque não foram avisados em tempo hábil. O diretor chegou atrasado. A sala era inadequada. Não sei como é no Rio de Janeiro, mas nós artista paulistanos primamos pelo horário, pelo compromisso e pelo respeito as pessoas que nos procuram.

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