sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

"O Fingidor", de Samir Yazbek, comemora 15 anos com temporada no Tucarena

Foto de João Caldas
Com texto e direção de Samir Yazbek, o espetáculo "O Fingidor" (Prêmio Shell 1999 de Melhor Autor), uma das mais festejadas montagens da Companhia Teatral Arnesto nos Convidoureestreia no dia 7 de março, sábado, no Tucarena, às 21 horas.

Inspirado na vida e obra de Fernando Pessoa, o espetáculo está comemorando 15 anos, juntamente com os 80 anos de morte do poeta. A temporada também integra a programação de 50 anos do TUCA, festejados em setembro.

A peça, que segue em cartaz até o dia 19 de abril (com exceção dos dias 27, 28 e 29 de março), é uma obra de ficção. “O Fingidor” apresenta o poeta em seus últimos dias, quando se candidata disfarçado a uma vaga de datilógrafo, oferecida por um crítico literário, profundo conhecedor de sua obra. Envolvendo personagens reais e fictícios, inclusive os heterônimos de Pessoa, o espetáculo traz uma visão bem-humorada sobre a poética do autor.

Este retorno ao palco traz parte do elenco da montagem original, encabeçado por Helio Cicero que divide o palco com Daniela Duarte, Douglas Simon, Fause Haten, Fernando Oliveira, Fernando Trauer, Gabriela Flores, Luiz Eduardo Frin e Marcelo Cozza.

Esta é a sexta temporada de “O Fingidor” em São Paulo, tendo ainda se apresentado com sucesso em Portugal (XXV FITEI, no Porto, e no I Encontro Luso-brasileiro de Cultura, em Serpa), além de outras cidades brasileiras. O texto também foi adaptado para a televisão (Rede Cultura, projeto “Direções”), publicado duas vezes em português e traduzido para outros idiomas, como o francês e o espanhol. Para 2015, está previsto o lançamento de uma nova edição de “O Fingidor", pela Editora Giostri, e está em andamento um projeto de recriá-lo no cinema, pelo diretor Ugo Giorgetti.

A Companhia Teatral Arnesto nos Convidou é responsável também pela montagem de “As Folhas do Cedro” (Prêmio APCA 2010 de melhor autor), entre outras, e já prepara a estreia de “Post Scriptum” (texto e direção de Samir Yazbek) na Mostra Oficial da próxima edição do Festival de Curitiba.

O enredo

Foto de Fernando Stankuns
Segundo Samir Yazbek, "O Fingidor" não pretende ser um recital de poesia, tampouco uma biografia teatralizada do poeta. A peça serve-se da heteronímia, recurso por meio do qual Pessoa criava personalidades literárias, para apresentar, em carne e osso, uma personagem que Pessoa nunca imaginou: um “certo” Jorge Madeira (Helio Cicero). 

No enredo, Fernando Pessoa, vivendo seus últimos dias, disfarça-se como o datilógrafo Madeira, para conhecer José Américo, o crítico literário que o admira e prepara uma conferência sobre a sua obra. A partir daí, temos uma história com muitas surpresas. As situações se desenrolam com personagens reais e fictícias, tais como a governanta Amália, de quem Pessoa enamora-se, a irmã do poeta, o editor de uma revista literária, um jovem estudante de literatura e os principais heterônimos de Pessoa, resultando numa parábola sobre papel do artista na sociedade moderna.

A montagem

A direção de Yazbek valoriza o trabalho do elenco por meio da trajetória das personagens, investindo na comunicação com o público, abarcando desde a comédia de costumes até o drama existencial, revelando os aspectos mais sombrios da personalidade do poeta. Inspirada nas múltiplas vozes de Pessoa, a encenação transita entre a realidade e a imaginação, fazendo com que a crítica Mariângela Alves de Lima dissesse à época da estreia, no jornal O Estado de São Paulo: “Samir Yazbek faz um espetáculo encantador pela simplicidade com que trama o imaginário e o ‘real’”.

Dialoga com essa concepção o cenário de Marisa Rebolo, formado por painéis deslizantes que, conforme a condução do elenco, ora se apresentam de forma opaca, com os escritos de Fernando Pessoa, compondo os ambientes realistas, ora de forma transparente, revelando outros planos de ação.

O figurino de Elena Toscano é inspirado na linguagem de época, mas, no caso dos heterônimos Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis, aproxima-se do expressionismo, traduzindo as contradições da poética de Pessoa. Em se tratando do heterônimo vivo, Jorge Madeira, o figurino revela uma identidade farsesca, remetendo a um referencial brasileiro de cultura popular. A sonoplastia de Raul Teixeira e a iluminação de Celso Marques intensificam as ambigüidades presentes na encenação.
Ficha técnica

Espetáculo: “O Fingidor”
Texto e direção: Samir Yazbek
Elenco: Helio Cicero (Fernando Pessoa e Jorge Madeira), Daniela Duarte (Amália Conceição), Douglas Simon (José Américo), Fause Haten (Álvaro de Campos), Fernando Oliveira (Afonso Camargo), Fernando Trauer (Alberto Caeiro), Gabriela Flores (Henriqueta Madalena), Luiz Eduardo Frin (Ricardo Reis) e Marcelo Cozza (Miguel Escudero).
Dramaturgismo: Maucir Campanholi
Direção original de movimento: Dani Hu
Cenografia: Marisa Rebolo
Figurino: Elena Toscano
Concepção de luz original: Celso Marques
Iluminação e operação de luz: Guilherme Trindade
Sonoplastia: Raul Teixeira
Assistência de direção e operação de som: Izabel Hart
Programação visual: Carlos Henrique Lopes de Araújo
Assistência de produção: Marília Yazbek
Assistência de palco: Umberto Alves David
Produção executiva: Marcela Sanchez
Direção de produção: Silvia Marcondes Machado
Administração: Mecenato Moderno
Apoio Cultural: Porto Seguro
Realização: Companhia Teatral Arnesto nos Convidou
Site: www.arnesto.art.br
Facebook: facebook.com/arnestonosconvidou

Serviço

Reestreia: Dia 7 de março - sábado - às 21h
Local: Tucarena  - www.teatrotuca.com.br
Rua Monte Alegre, 1024 - Perdizes/SP (entrada pela R. Bartira). Tel: (11) 3670-8455
Temporada: Sexta (às 21h30), sábado (às 21h) e domingo (às 19h) - Até 19/04/2015
Não haverá espetáculo nos dias 27, 28 e 29 de março.
Ingressos: R$ 50,00; R$ 25,00 (meia); R$ 10,00 (estudantes, professores e funcionários da PUC-SP). Antecipados: www.ingressorapido.com.br (4003-1212). Grupos: (11) 5571-1407
Duração: 1h40. Gênero: Drama cômico. Classificação etária: 14 anos. 170 lugares.
Ar condicionado. Acesso universal. Estacionamento: R$ 14,00 (R. Monte Alegre, 835)

Histórico de “O Fingidor”

Desde a sua estreia, em 20 de agosto de 1999, após cinco temporadas em São Paulo (1999, 2002, 2006, 2009 e 2013), apresentando-se no Rio de Janeiro (2002) e participando do Porto Alegre em Cena (2007), “O Fingidor” acumulou uma série de distinções. Em 1999, Samir Yazbek recebeu o Prêmio Shell de melhor autor pela peça. Em 2002, o trabalho representou o Brasil no XXV FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica), do Porto, em Portugal, e no I Encontro Luso-brasileiro de Cultura, em Serpa, Portugal. Em 2004, a Editora Ática, por meio do PNBE (Programa Nacional de Biblioteca da Escola), do Ministério da Educação, distribuiu a peça para 475 mil alunos da rede pública de ensino. Em 2005 o texto foi traduzido para o francês, teve leitura dramática no XX Festival de Cádiz, na Espanha, e foi montado por diversos grupos em estados brasileiros como Amazonas, Ceará, Curitiba etc. Em dezembro de 2005, em sua edição de número 100, a Revista Bravo! colocou “O Fingidor” em 16º lugar, entre os 100 melhores espetáculos de teatro e dança dos últimos oito anos. Em 2006, o Banco Santander Banespa patrocinou uma temporada da peça em homenagem aos 70 anos de morte de Fernando Pessoa, no Teatro TUCA. No mesmo ano, a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo lançou pela Coleção Aplauso, além de “O Fingidor”, outros dois textos premiados do autor: “A Terra Prometida” e “A Entrevista”. Em 2008, Samir Yazbek adaptou “O Fingidor” para a televisão, com o mesmo elenco da temporada anterior, no programa “Direções”, uma parceria da TV Cultura com o SESC TV. Em 2009, “O Fingidor” realizou temporada comemorativa dos dez anos, novamente no Teatro TUCA. Em 2013, o espetáculo integrou a programação do projeto “Imersão Samir Yazbek”, realizado pelo Sesc São Paulo, abarcando o repertório da Companhia Teatral Arnesto nos Convidou, leituras dramáticas de outros textos do autor, além de workshops de dramaturgia e interpretação. Nos últimos anos, a peça foi publicada pela revista cubana Conjunto, da Casa de Las Américas, além da editora mexicana Libros de Godot, com mais três obras destacadas do autor.

Fortuna crítica de “O Fingidor”

O autor desvenda o íntimo de Fernando Pessoa nessas cenas divertidas, bem-humoradas e que conseguem atingir, plenamente, o objetivo de revelar as outras facetas de sua personalidade. (...) E é esse Fernando Pessoa humanizado pelas suas próprias ações, e não apenas pela sua poesia ou pelos seus textos, que emerge em ‘O Fingidor’ e encanta o público. Aguinaldo Ribeiro da Cunha (Diário de São Paulo)
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Escolha que promete dar dor de cabeça ao júri é a da categoria autor com Samir Yazbek pelo ótimo texto de ‘O Fingidor’, cuja montagem mereceria voltar ao cartaz. (...) O autor constrói sua peça sobre a relação fictícia entre o poeta Fernando Pessoa, um renomado crítico teatral e sua empregada, num espetáculo que nada tem de recital, mas provoca uma interessante discussão sobre o sentido da criação artística. Beth Néspoli (Estadão)
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Um momento de poesia e raro refinamento no teatro. Carmelinda Guimarães (A Tribuna de Santos)
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Texto e direção são originais, ao apresentar um poeta realmente fingidor, o que é narrado de modo intenso pelo elenco. Jefferson Del Rios (Revista Bravo!)
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Samir Yazbek faz um espetáculo encantador pela simplicidade com que trama o imaginário e o ‘real’. Mariângela Alves de Lima (O Estado de São Paulo)
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’O Fingidor’ contempla o exemplo de ética que pautou a existência e a carreira de Fernando Pessoa, perseguidor incondicional das mais recônditas essências do ser humano. E o espetáculo procura fazer o mesmo, reservando fortes emoções sem jamais desbotar o lirismo. (...) Deliciosa e instigante ficção sobre Fernando Pessoa. Valmir Santos (Diário de Mogi)

O resultado é cuidadoso e transbordante de admiração e carinho. Bárbara Heliodora (O Globo / RJ)
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O achado permite o estabelecimento de uma curiosa relação, assim como o texto faculta à platéia uma visão abrangente da personalidade do poeta. Lionel Fischer (Tribuna da Imprensa / RJ)
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O texto poderia incorrer no reducionismo do recital poético, caso Samir Yazbek não o ampliasse até o plano de um texto teatral que o transforma em biógrafo de sua poética. Macksen Luiz (Jornal do Brasil / RJ)


Em termos gerais, a encenação de Samir Yazbek recupera de forma interessante a complexidade interior de Pessoa, através da utilização de diálogos labirínticos entre o poeta e os heterônimos Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiro (presenças constantes e geradoras de uma tensão dramática de agonia, volúvel e mortal) e brilha pelas excelentes interpretações de Helio Cicero, Douglas Simon e Denise Coutourké. Anastácio Neto (O Comércio / Portugal)
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