Crédito: Alessandra Fratus |
Abre a Janela - Zé Guilherme Canta Orlando Silva faz justa reverência
ao Cantor das Multidões e mostra o
olhar de um intérprete contemporâneo para um clássico da música brasileira.
O Sesc Belenzinho apresenta, no dia 11
de dezembro (sexta-feira, às 21 horas), show de lançamento do CD Abre
a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva, terceiro trabalho do
artista cearense radicado em São Paulo. O disco é uma bela homenagem a um dos mais
significativos intérpretes da música popular brasileira, que completaria 100
anos em 2015. O trabalho é norteado por uma releitura
delicada e pessoal do repertório do Cantor das Multidões.
Zé Guilherme interpreta de forma autêntica
e contemporânea 18 canções que foram
selecionadas em um longo processo de pesquisa sobre a trajetória e o repertório
de Orlando Silva. Não foi tarefa fácil para o artista escolher diante da
extensa lista de músicas. As eleitas foram: “Abre a Janela”, “Cidade
Brinquedo”, “Malmequer”, “A Jardineira”, “A Primeira Vez”, “Pela Primeira Vez”,
“Curare”, “Dama do Cabaré”, “Lábios Que Beijei”, “Preconceito”, “Aos Pés da
Cruz”, “O Homem Sem Mulher Não Vale Nada”, “Meu Consolo É Você”, “Lealdade”,
“Meu Romance”, “Cidade do Arranha-céu”, “Faixa de Cetim” e “Alegria”.
No show, Zé Guilherme também tece
alguns comentários, entre uma e outra canção, a respeito da vida e obra de
Orlando Silva, bem como sobre o contexto social da época e as razões que
nortearam sua escolha do repertório. A banda que o acompanha é formada por Adriano Busko
(percussão), Bré Rosário (percussão), Cezinha Oliveira (direção musical,
violão, baixo e vocal), Luque Barros (violão de 7 cordas, baixo
e vocal), Maik Oliveira (cavaquinho e bandolim) e Pratinha Saraiva
(flautas e bandolim). O espetáculo tem ainda direção
de cena assinada por Mario Tommaso, figurino de Elísio Kamers e iluminação de Silvestre
Júnior
Concepção do CD
A trajetória de Orlando Silva é marcada por apurado
critério e rigor na escolha das canções. Segundo o próprio, só cantava o que
lhe tocava a alma. O colorido, o swing e a brasilidade da obra é o mote
principal das escolhas de Zé Guilherme. A seleção das músicas levou em
consideração, além da afinidade artística, a época de seu apogeu - de 1935, ano
em que gravou o primeiro disco, até 1942 - e privilegiou composições menos
densas. O roteiro contempla um perfil mais leve e alegre do cantor como na
maioria dos sambas que trazem sempre um toque de humor nas letras.
Zé Guilherme não esconde a relação afetiva com esse
trabalho: “eu abri a janela do meu coração para me
apossar, com respeito e reverência,
dos sucessos de Orlando Silva e reapresentá-los ao público pela minha voz, pela minha forma de cantar”. O artista
conta que cultivou o anseio de se debruçar sobre seu legado por mais de 10 anos. “Resgatar e reler
a obra desse artista que foi, desde
a minha infância, o combustível para a chama do desejo de ser
cantor. É um momento ímpar na minha carreira. Minha principal diversão
era ouvir no rádio
a voz majestosa e brejeira do cantor, considerado
a maior voz masculina do Brasil”.
A produção musical é assinada pelo músico, arranjador
e produtor musical Cezinha Oliveira, que inseriu elementos clássicos nos
arranjos como piano, baixo acústico, acordeon, trombone e violão de sete
cordas, entre outros, dando “requinte” sonoro ao disco sem cair no mero
saudosismo. Abre a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva foi concebido
com base no tripé interpretação, arranjos e composições, e mostra que a chamada
“música antiga” do Brasil pode se manter clássica em sua origem, popular em sua
apresentação e sofisticada em sua concepção.
Sobre a concepção dos arranjos, Cezinha
explica que, para todos os sambas, buscou inspiração nos conjuntos regionais da
época e nas orquestras que acompanhavam os artistas nas rádios. O instrumental
era, geralmente, formado por acordeon, violão, percussão e instrumento solo de
sopro. Apenas as marchinhas “A Jardineira” e “Malmequer” seguem outro caminho.
A primeira tem introdução influenciada pela música barroca e a segunda ganhou
um andamento mais jazzístico.
Músicos de primeira linha
participam de Abre a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando
Silva: Thadeu Romano (acordeon), Breno Ruiz (piano), Meno Del
Picchia (baixo acústico), Maik Oliveira (cavaquinho), Pratinha (flautas e
bandolim), Adriano Busko (percussão), Allan Abbadia (trombone), Luque Barros
(violão de 7 cordas e vocal), Cezinha Oliveira (violão,
guitarra e vocal) e João Pedro Verbena (guitarra).
As canções
Abrindo o disco, uma das mais populares
marchinhas de carnaval de todos os tempos: “A
Jardineira” (Benedito Lacerda e Humberto Porto - 1938) que marca a
participação de Orlando Silva no filme Banana
da Terra, de J. Rui. “Apresento minha visão pessoal desta canção auxiliado
por belo arranjo que traz introdução com o piano de Breno Ruiz, fazendo referência
ao estilo barroco”. “Dama do Cabaré”
(Noel Rosa - 1936) traduz o clima boêmio dos cabarés da Lapa carioca. “A
genialidade de Noel e o brilhantismo da interpretação de Orlando Silva
nortearam sua inclusão no repertório”. A terceira canção, “A Primeira Vez” (Armando Marçal e Bide - 1940) “é uma canção que
remete à inocência da paixão juvenil e me faz rememorar as desilusões
passageiras da juventude”. Zé Guilherme explica porque escolheu “Abre a Janela” (Marques Júnior e
Roberto Roberti - 1937) para dar nome ao disco: “minha intenção é convidar o
público para apreciar comigo a obra de Orlando”. Este foi o primeiro sucesso carnavalesco do Cantor
das Multidões que estourou na festa carioca de 1938.
Sobre a quinta música, um dos maiores sucessos
de Orlando Silva, “Aos Pés da Cruz”
(Marino Pinto e Zé da Zilda - 1942), Zé Guilherme conta que esta é uma das suas
prediletas, desde infância. Seguindo, vem “Cidade
do Arranha Céu” (Edgard Cardoso, Ranchinho e Alvarenga – 1936), uma linda e
graciosa homenagem à São Paulo. “Ela registra também o meu desejo de
reverenciar a cidade que me acolheu, quem devo a construção do meu percurso
musical”, diz o cantor. Já “Cidade
Brinquedo” (Silvino Neto e Plínio Bretas - 1939) é uma marchinha que canta
as peculiaridades geográficas do Rio de Janeiro. As morenas cariocas brejeiras,
comparadas a um bando de andorinhas, faz dessa canção uma homenagem pitoresca e
original à cidade maravilhosa.
“Curare” (Bororó – 1940) é
uma composição que sempre fez parte do repertório de Zé Guilherme. “A singeleza
da letra e a malemolência da melodia me emocionam; é um deleite cantar esta
canção, cheia de brasilidade e suingue”. Na sequência, outra obra carregada de
brasilidade, “Faixa de Cetim” (Ary
Barroso - 1942), característica marcante nas escolhas de Orlando. Já “Lábios Que
Beijei” (J. Cascata e Leonel Azevedo 1937) era a canção preferida de sua
mãe, grande responsável por sua paixão pela música e pelo encantamento por
Orlando Silva. “Ela contém toda a carga afetiva que alimentou por décadas o meu
desejo de reverenciar o ídolo inspirador”. E “Lealdade” (Wilson Batista e Jorge de Castro - 1942) mantém a linha
romântica; é uma canção que foi muito regravada por outros artistas. A próxima,
muito conhecida como marchinha carnavalesca, “Malmequer” (Newton Teixeira e Cristovão de Alencar - 1939) ganhou
um andamento mais lento, mais jazzístico com a divisão rítmica mais voltada para
ciranda do que para a marcha.
Seguem duas lindas composições que não estão
no roll das mais populares do
repertório de Orlando Silva: “Meu
Consolo é Você” (Nássara e Roberto Martins - 1938) e “Meu Romance” (J. Cascata - 1938). Esta última canta o bairro da
Mangueira e sua escola de samba, cenário para os “malandrinhos” se apaixonarem.
Em seguida, o samba “O Homem Sem Mulher
Não Vale Nada” (Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti - 1938) segue na
contramão da linha machista da época, cuja letra fala de um homem em busca de
sua amada; seguida pela romântica “Pela
Primeira Vez” (Noel Rosa e Cristovão de Alencar - 1936). Se fosse composta
nos dias de hoje, “Preconceito”
(Marino Pinto e Wilson Batista - 1941) seria politicamente incorreta ao falar
das barreiras para o amor nas diferenças sociais: narra de forma graciosa o
amor de um negro do morro por uma moça branca. E, fechando com a dignidade que
Orlando Silva e Zé Guilherme merecem, vem o samba-exaltação “Alegria” (Assis Valente e Durval Maia
- 1937) “que sintetiza minha satisfação com esta feliz realização de um o
sonho”, finaliza o cantor. É mesmo pra festejar!
Zé Guilherme
Cearense
nascido em Juazeiro do Norte, Zé Guilherme cresceu ouvindo grandes nomes do
cenário musical brasileiro, tais como Orlando Silva, Dalva de Oliveira, Ângela
Maria, Cauby Peixoto, Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, entre outros, além de
cantadores, repentistas, violeiros, banda cabaçal, maracatu, frevo e boi-bumbá,
influências de fundamental importância para a realização do sonho de ser
cantor. Em São Paulo, desde 1982, cantou no circuito de casas noturnas da
cidade, participando de inúmeros shows ao lado de amigos e parceiros musicais
como Maurício Pereira, Cris Aflalo, Madan, Cezinha Oliveira, Marcelo
Quintanilha, Péri, entre outros.
Em 1998, estreou o
show Clandestino,
no Espaço Anexo Domus, com
direção musical de Swami Jr. e direção geral do ator Luiz Furlanetto. Mais
tarde, apresentou o show Zé
Guilherme e Convidados no Teatro
Crowne Plaza, com a participação especial de Carlos Careqa, Maurício
Pereira, Vânia Abreu, Zé Terra e René de França. Cantou nos projetos Arte
nas Ruas, Clima do Som no Parque da Aclimação e MPB nas Bibliotecas, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo;
Quinta Mariana, do SESC Vila
Mariana, e Quatro Vozes, do Centro Experimental de Música do SESC Consolação.
Em 2000, Zé Guilherme lançou seu primeiro CD,
Recipiente (Lua Discos)
com produção musical e arranjos de Swami Jr., que foi apresentado no Teatro Crowne Plaza, Sesc Ipiranga, Vila Mariana e Pompeia (Prata da Casa), Supremo
Musical, Centro Cultural São
Paulo e outros. Em 2002, a
interpretação de Zé Guilherme para Mosquito Elétrico, de Carlos Careqa,
foi incluída na coletânea Brazil
Lounge: New Electro-ambient Rhythms from Brazil, lançada pela
gravadora portuguesa Música
Alternativa. Em 2003 participou do CD homônimo do mineiro Cezinha Oliveira (faixa “Seca”).
Em 2004, Zé Guilherme estreou o show Canto Geral, com canções de seu CD
de estreia e músicas inéditas de Marcelo Quintanilha, Carlos Careqa, Péri,
Alexandre Leão, entre outros. Em 2005, apresentou-se no projeto Música no Museu, do Museu da Casa Brasileira, em São Paulo.
Lançou, em 2006, o segundo CD, Tempo ao
Tempo, com produção e arranjos de Serginho
R., direção artística do próprio Zé
Guilherme, que assina também a coprodução em parceria com Marcelo Quintanilha. Em 2007, cantou no CD ao vivo Com
os Dentes - Poesias Musicadas, de Reynaldo Bessa. Atualmente, dedica-se ao lançamento de seu novo CD Abre
a Janela – Zé Guilherme Canta Orlando Silva, resgate e releitura da
obra do cantor Orlando Silva, em comemoração ao centenário de nascimento do
Cantor das Multidões que faria 100 anos em 2015.
CD: Abre a Janela – Zé Guilherme
Canta Orlando Silva / Artista: Zé Guilherme
Distribuição: Tratore (www.tratore.com.br). Preço sugerido: R$
27,00
Teaser CD: https://youtu.be/r4_mzdX9qwo / EPK: https://youtu.be/5V6AF61KNuI
Site do artista: www.zeguilherme.com.br / https://www.facebook.com/oficialzeguilherme
Serviço
Show: Zé Guilherme
Dia 11 de
dezembro. Sexta-feira, às 21h
Sesc Belenzinho - Teatro
(3º andar)
Rua Padre Adelino, 1000. Belenzinho. São
Paulo/SP
Telefone: (11) 2076-9700
Ingressos: R$ 20,00 (inteira), R$
10,00 (meia-entrada) e R$ 6,00 (comerciário)
Classificação: livre. Duração: 80 min.
Capacidade: 392 lugares
Estacionamento: R$ 6,00 (não
matriculado) e R$ 3,00 (matriculado no SESC)
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