quarta-feira, 13 de abril de 2016

Floema, adaptação inédita da obra de Hilda Hilst estreia com direção de Donizeti Mazonas

“Poesia feita de carne, vísceras, ossos. A poética está na construção da linguagem...”. (o diretor)

Com adaptação e direção de Donizeti Mazonas, o espetáculo Floema, texto do livro Fluxo-Floema de Hilda Hilst, estreia no dia 9 de maio (segunda-feira) no Viga Espaço Cênico, às 21 horas.

Nesta primeira obra de ficção da autora há o embate entre o Homem e Deus, onde um evoca o outro: o Homem quer as respostas e Deus lhe oferece as lacunas. As personagens são interpretadas, respectivamente, por Flavia Couto e Maurício Coronado. A cenografia é assinada pela artista plástica Suiá Burger Ferlauto.

Em Floema estamos diante do criador e sua criatura em uma tentativa de diálogo. Koyo, o Homem, carrega o peso do conhecimento, o peso de saber que a essência divina na
verdade é puro pó e, assim mesmo, aceita a vida e busca um sentido para ela. Seu desejo é
tocar a espessura de Deus (Haydum), mas, ao fazê-lo, só encontra o vazio, o nada, o deserto ao seu redor. Koyo sobe todos os dias até o alto de uma montanha e lá fica em sua solidão, esperando respostas, tentando enxergar a face divina. Sua incansável busca por Deus não é pacífica, é árdua. Koyo não possui essa serenidade dos teólogos, mas sim o desconforto dos filósofos. Ele clama, blasfema, e fracassa. Não há resposta concreta, só as lacunas. Haydum, no entanto, em seu monólogo, afirma que nada sabe do homem, e que mesmo quando descansa sofre da angústia de ser.  Haydum-Deus, também  tenta compreender o homem e o mundo que criou para este.

Donizeti Mazonas explica que a peça já começa com as personagens no limite da ação. “Não há desenvolvimento de enredo, o auge é já está lá, no início. A encenação ocorre em dois planos, um vertical onde está Koyo-Homem, preso a um pau-de-sebo (tranças douradas) e outro horizontal, onde está Haydum-Deus, no chão em meio a uma espiral feita com terra (palmas de mãos postas enfileiradas).

A cenografia, criada a partir de uma instalação “Duas Palmas” de Suiá Ferlauto, representa o cerco do confinamento, onde o barro é elemento fundamental dentro imagem arquetípica da concepção humana: “do barro fez se o homem” (Genesis). Outros elementos primitivos reforçam a simbologia da peça: o cerco representa a limitação da existência e o pau-de-sebo, o elo entre o divino e o humano.

De caráter performático, Floema explora os recursos do corpo e da voz dos atores com forte interação do teatro com a dança e com as artes plásticas, tendo as personagens sempre em local de não estabilidade, como se um fosse extensão do outro. “O Deus de Hilst não vive no alto, está mais próximo do grotesco que do sublime. Suas divindades são mais dionisíacas que apolíneas”, argumenta Donizeti. O próprio termo “floema” significa, em botânica, fluidos de cima para baixo.


A constatação da morte é avassaladora para koyo. Floema permeia a loucura questionadora e transgressora do homem em sua condição bestial de condenado que recusa se adaptar à inevitável finitude da matéria. Segundo o diretor, a sensação de confinamento é uma provocação à reflexão sobre a liberdade, sobre as opções do homem em um mundo construído por ele mesmo com paliçadas. O texto não aponta soluções, pois o conflito surge da recusa da personagem em se enquadrar aos limites de sua vida ordinária; pelo contrário, Koyo se depara com o abissal: sua natureza dual – divina e animal.

Para abarcar toda a densidade e poesia dessa obra-prima de Hilst, escrita em 1970, e seus potentes jogos de linguagem, solilóquios incomunicáveis entre si, o diretor e os atores expõem a necessidade de trazer a palavra para a carne, pois a escrita hilstiana pede corpo, pede vísceras, e a dramaturgia corporal tem que ser integrada ao texto. O espetáculo busca traduzir cenicamente o trânsito entre estilos e gêneros no qual escritora construiu sua obra, apontando para um formato que não se molda aos parâmetros da cena dramática convencional, mas que se instaura no limite entre os gêneros.

O projeto Floema – que nasceu do encontro de Flavia, Donizeti e Maurício, incansáveis pesquisadores da obra de Hilda Hilst, e do ensejo de realizar um espetáculo que unisse as dramaturgias do corpo e texto – foi viabilizado com o apoio do ProAc, Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.

Ficha técnica

Texto: Hilda Hilst
Adaptação e direção: Donizeti Mazonas
Elenco: Flavia Couto e Maurício Coronado Cenografia: Suiá Burger Ferlauto
Figurinos: Donizeti Mazonas
Música original: Gregory Slivar
Designer de iluminação: Hernandes de Oliveira
Produção executiva: Flavia Couto e Maurício Coronado
Produção: Maya Produções
Apoio: ProAc

Serviço

Estreia: dia 9 de maio. Segunda-feira, às 21 horas
Viga Espaço Cênico
Rua Capote Valente, 1323. Sumaré/SP. Tel: (11) 38011843
Ingressos (de 09 a 25/05): grátis
Ingressos (de 30/5 a 29/6): R$ 40 (meia: R$ 20)
Temporada: segunda a quarta, às 21 horas – Até 29/06
Gênero: Drama. Classificação etária: 14 anos. Duração: 55 min.
Sala: Piscina. Capacidade: 40 lugares. Bilheteria: 1h antes das sessões.
Aceita cheque e dinheiro. Ar condicionado. Venda online.
Não possui estacionamento. http://www.viga.art.br/

Ensaio aberto
20 e 21 de abril. Quarta e quinta, às 20h
Casa de Teatro Maria José de Carvalho
Rua Silva Bueno, nº 1533. Ipiranga/SP. Tel: (11) 2060-0318

Apresentação / Campinas
28 e 29 de abril. Quinta e sexta, às 21h
Casa do Sol / Instituto Hilda Hilst

R. João Caetano Monteiro, s/n, Quadra B. Tel.: (19) 3257-1076

PERFIS

Hilda Hilst (autora) - Hilda Hilst (1930-2004) nasceu em Jaú. Escritora de família rica, filha de fazendeiro de café e poeta, ela abandonou a carreira de advogada em 1953, em São Paulo, e passou a escrever poesias e odes, em meio à intensa vida social. Aos 33 anos, quando leu Carta a El Greco, do filósofo Nikos Kazantzakis, a escritora abandona tudo e se mudou para Campinas, iniciando a construção da Casa do Sol, onde morou até o fim da vida. No mesmo ano em que a Casa do Sol ficou pronta, 1966, seu pai faleceu. A partir daí, Hilda se entrega à escrita, produzindo incessantemente. No auge da ditadura militar, em 1968, escreveu Rato no Muro; em 1969, Floema e Unicórnio, presentes no livro Fluxo-Floema, que retratam a ausência da liberdade em meio a um sistema asfixiante. Koyo, personagem que representa o Homem em Floema é retratado em uma situação limite de confinamento. As primeiras obras de Hilst escritas na Casa do Sol, entre 1967 e 1969, possuem uma intensidade sem igual e grande influência do momento político, com reverberações filosóficas e, especialmente em Floema, a forte inspiração em Nikos Kazantzakis e seu Ascese. O Instituto Hilda Hilst completa 11 anos de existência em abril de 2016. 

Donizeti Mazonas (adaptação e direção) - Formado em Artes Cênicas pela UNICAMP, Donizeti é ator, dançarino e diretor. Integrou o Centro de Pesquisa Teatral (CPT), coordenado por Antunes Filho de 1998 a 2002. Junto com Wellington Duarte e Daniel Fagundes criou o Núcleo Entretanto, em 2007, que desenvolveu pesquisa voltada para dança-teatro-performance, e participou do Núcleo de Improvisação, dirigido por Zélia Monteiro, de 2006 a 2013. Donizeti é pesquisador da obra de Hilda Hilst e, atualmente, dirige o espetáculo Floema, e também assina a adaptação. Essa é sua quinta montagem da obra de Hilst. Seus principais trabalhos como ator de teatro são: Um Bonde Chamado Desejo (em cartaz), Osmo, de Hilda Hilst, direção de Suzan Damasceno; Pais e Filhos, direção do russo Adolfo Shapiro, com a Mundana Companhia de Teatro; Menos Emergências, de Martim Crimp, direção de Juliana Galdino, para o 16° Festival da Cultura Inglesa; Music-Hall, de Jean-Luc-Lagarce, direção Luiz Paetow; Prêt-à-Porter 3 e 4, sob coordenação de Antunes Filho; As Nuvens, de Aristófanes, Jovens Bárbaros de Hoje e Gira de Romeu e Julieta, estes com direção de Márcio Tadeu. Como diretor, destaque para: A Obscena Senhora D, de Hilda Hilst, com Suzan Damasceno (direção conjunta com Rosi Campos); Soslaio, de Priscila Gontijo, e O Que Você Foi Quando Era Criança?, de Lourenço Mutarelli, ambas com direção conjunta com Gabriela Flores.

Flavia Couto  (atriz e produtora) - Flavia Couto é mestre em Artes Cênicas com a dissertação Mitopoéticas do Corpo e bacharel em Interpreção Teatral pela ECA/USP. Aprimorou seus estudos em Paris com a Cia de teatro físico Pas de Dieux. Flavia pesquisa a obra de Hilda Hilst desde 2003, tendo realizado com Thaís Almeida Prado, na USP, monólogos com trechos de Rato no Muro. Na conclusão de seu mestrado, realizou o solo Espelhos Partidos, livremente inspirado na obra de Hilst. Em 2014, adaptou e atuou no espetáculo O Unicórnio (texto extraído da obra Fluxo-Floema) e, atualmente é atriz na peça Floema, primeira obra de ficção de Hilda Hilst, com adaptação e direção de Donizeti Mazonas. Seus principais trabalhos como atriz de teatro são: Selvagens - Homem de Olhos Tristes (direção Hugo Coelho), O Unicórnio (direção Christina Trevisan), La Voie du Corps (Cia. Pas de Dieux, Paris), Le Repas (direção Rafaella Uihara, Paris), Mentira ou ilusão – a verdadeira história de nossos desejos (direção Tiche Vianna), Quando as Máquinas Param e Abajur Lilás (direção Marco Antônio Braz), Voyage en Terre Intérieur (direção: Léa Dant), Elogio a Tchéckov (direção Eduardo Vendramini) e outros. Também dirigiu espetáculos como Fábula Flamenca, Fronteiras da Alma (também como atriz) e Mosaico Musical. Na TV atuou em Vida Alheia (série da Rede Globo; direção Cininha de Paula e Marco Rodrigo) e no cinema, em Amador (longa de Cristiano Burlan), De Pernas para o Ar (de Roberto Santucci) e Loveless (protagonista; Menção Honrosa no Festival CEN de Porto Alegre).

Maurício Coronado (ator e produtor) - Bacharel em Comunicação Social, pela Instituição de Ensino São Bento, UNIARA (Universidade de Araraquara). Em 1998, iniciou carreira como ator em Araraquara (SP) com a Cia. Trupe dos Truks e Tramas, atuando nas montagens A Folia de Romeu e Julieta do Sertão e O Rico Avarento, de Ariano Suassuna, além de integrar a Cia de Dança Ditirambo. Em 2005, participou do núcleo de atores do Teatro de Tábuas de Campinas, onde atuou no espetáculo Circuito Estradafora; em 2010, ingressou na Cia. Teatro Balagan, como diretor técnico do espetáculo Prometheus – A Tragédia do Fogo. Dois anos depois, fez residência artística em Bogotá (Colômbia) com o grupo de teatro Varasanta. Em 2013, participou de oficina com os atores do OdinTeatret, no SESC Belenzinho. No ano seguinte, idealizou e produzoi Um Brinde à Aventura Obscena, Uma Ode a Hilda, evento de três dias com espetáculos de teatro, leituras e apresentações envolvendo a obra da escritora Hilda Hilst, no Teatro Pequeno Ato. Também atuou no monólogo O Oco, sobre vida e obra da autora, com direção de Natasha Dias e Rafael Truffaut, e, atualmente, é ator no espetáculo Floema, primeira obra de ficção de Hilst, com adaptação e direção de Donizeti Mazonas.

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