“Poesia feita de carne, vísceras, ossos. A poética está na construção da
linguagem...”. (o diretor)
Com adaptação e
direção de Donizeti Mazonas, o espetáculo Floema,
texto do livro Fluxo-Floema de Hilda Hilst, estreia no dia 9 de maio (segunda-feira) no Viga Espaço Cênico, às 21 horas.
Nesta primeira obra
de ficção da autora há o embate entre o Homem e Deus, onde um evoca o outro: o
Homem quer as respostas e Deus lhe oferece as lacunas. As personagens são
interpretadas, respectivamente, por Flavia
Couto e Maurício Coronado. A cenografia
é assinada pela artista plástica Suiá
Burger Ferlauto.
Em Floema estamos diante do criador e
sua criatura em uma tentativa de diálogo. Koyo, o Homem, carrega o peso do conhecimento, o peso de saber que a essência divina
na
verdade é puro pó e, assim mesmo, aceita a
vida e busca um sentido para ela. Seu desejo é
tocar a espessura de Deus (Haydum), mas,
ao fazê-lo, só encontra o vazio, o nada, o deserto ao seu redor. Koyo sobe todos os dias até o alto de uma montanha e lá fica em sua solidão,
esperando respostas, tentando enxergar a face divina. Sua incansável busca por
Deus não é pacífica, é árdua. Koyo não possui essa
serenidade dos teólogos, mas sim o desconforto dos filósofos. Ele clama,
blasfema, e fracassa. Não há resposta concreta, só as lacunas. Haydum, no
entanto, em seu monólogo, afirma que nada sabe do
homem, e que mesmo quando descansa sofre da angústia de ser. Haydum-Deus, também tenta compreender o homem e o mundo que criou
para este.
Donizeti Mazonas explica que a peça já
começa com as personagens no limite da ação. “Não há desenvolvimento de enredo,
o auge é já está lá, no início. A encenação ocorre em dois planos, um vertical
onde está Koyo-Homem, preso a um pau-de-sebo (tranças douradas) e outro
horizontal, onde está Haydum-Deus, no chão em meio a uma espiral feita com
terra (palmas de mãos postas enfileiradas).
A cenografia, criada a partir de uma
instalação “Duas Palmas” de Suiá Ferlauto, representa o cerco do
confinamento, onde o barro é elemento fundamental dentro imagem arquetípica da concepção humana: “do barro fez se o homem” (Genesis).
Outros elementos primitivos reforçam a simbologia da peça: o cerco representa a
limitação da existência e o pau-de-sebo, o elo entre o divino e o humano.
De caráter performático, Floema
explora os recursos do corpo e da voz dos atores com forte interação do teatro
com a dança e com as artes plásticas, tendo as personagens sempre em local de
não estabilidade, como se um fosse extensão do outro. “O Deus de Hilst não vive
no alto, está mais próximo do grotesco que do sublime. Suas divindades são mais
dionisíacas que apolíneas”, argumenta Donizeti. O próprio termo “floema” significa, em botânica,
fluidos de cima para baixo.
A constatação da
morte é avassaladora para koyo. Floema permeia a loucura questionadora e transgressora do
homem em sua condição bestial de condenado que recusa se adaptar à
inevitável finitude da matéria. Segundo
o diretor, a sensação de confinamento é uma provocação à reflexão sobre a
liberdade, sobre as opções do homem em um mundo construído por ele mesmo com
paliçadas. O texto não aponta soluções, pois o conflito surge da recusa da
personagem em se enquadrar aos limites de sua vida ordinária; pelo contrário,
Koyo se depara com o abissal: sua natureza dual – divina e animal.
Para
abarcar toda a densidade e poesia dessa obra-prima de Hilst, escrita em 1970, e
seus potentes jogos de linguagem, solilóquios incomunicáveis entre si, o diretor
e os atores expõem a necessidade de trazer a palavra para a carne, pois a
escrita hilstiana pede corpo, pede vísceras, e a dramaturgia corporal tem que
ser integrada ao texto. O espetáculo busca traduzir cenicamente o trânsito entre estilos e
gêneros no qual escritora construiu sua obra, apontando para um formato que não
se molda aos parâmetros da cena dramática convencional, mas que se instaura no
limite entre os gêneros.
O projeto Floema
– que nasceu do encontro de Flavia, Donizeti e Maurício, incansáveis pesquisadores da obra de Hilda Hilst, e do ensejo de realizar um espetáculo
que unisse as dramaturgias do corpo e texto – foi viabilizado com o apoio do ProAc,
Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.
Ficha técnica
Texto: Hilda Hilst
Adaptação e direção:
Donizeti Mazonas
Elenco: Flavia Couto
e Maurício Coronado Cenografia: Suiá
Burger Ferlauto
Figurinos: Donizeti Mazonas
Música original:
Gregory Slivar
Designer de
iluminação: Hernandes de Oliveira
Produção executiva:
Flavia Couto e Maurício Coronado
Produção: Maya
Produções
Apoio: ProAc
Serviço
Estreia: dia 9 de maio. Segunda-feira, às 21 horas
Viga Espaço Cênico
Rua Capote Valente, 1323. Sumaré/SP. Tel: (11) 38011843
Ingressos (de 09 a 25/05): grátis
Ingressos (de 30/5 a 29/6): R$ 40 (meia: R$ 20)
Temporada: segunda a quarta, às 21 horas – Até 29/06
Gênero: Drama. Classificação etária: 14 anos. Duração: 55 min.
Sala: Piscina. Capacidade: 40 lugares. Bilheteria:
1h antes das sessões.
Aceita cheque e dinheiro. Ar condicionado. Venda online.
Não possui estacionamento. http://www.viga.art.br/
Ensaio aberto
Ensaio aberto
20 e 21 de abril. Quarta e quinta, às 20h
Casa de Teatro Maria José de Carvalho
Rua Silva Bueno, nº 1533. Ipiranga/SP. Tel:
(11) 2060-0318
Apresentação
/ Campinas
28 e 29 de abril.
Quinta e sexta, às 21h
Casa do Sol /
Instituto Hilda Hilst
R. João Caetano Monteiro, s/n, Quadra B. Tel.:
(19) 3257-1076
PERFIS
Hilda Hilst (autora) - Hilda Hilst (1930-2004) nasceu em
Jaú. Escritora de família rica, filha de fazendeiro de café e poeta, ela
abandonou a carreira de advogada em 1953, em São Paulo, e passou a escrever
poesias e odes, em meio à intensa vida social. Aos 33 anos, quando leu Carta a El Greco, do filósofo Nikos
Kazantzakis, a escritora abandona tudo e se mudou para Campinas, iniciando a
construção da Casa do Sol, onde morou até o fim da vida. No mesmo ano em que a Casa
do Sol ficou pronta, 1966, seu pai faleceu. A partir daí, Hilda se entrega à
escrita, produzindo incessantemente. No auge da ditadura militar, em 1968,
escreveu Rato no Muro; em 1969, Floema e Unicórnio, presentes no livro Fluxo-Floema,
que retratam a ausência da liberdade em meio a um sistema asfixiante. Koyo,
personagem que representa o Homem em Floema
é retratado em uma situação limite de confinamento. As primeiras obras de Hilst
escritas na Casa do Sol, entre 1967 e 1969, possuem uma intensidade sem igual e
grande influência do momento político, com reverberações filosóficas e,
especialmente em Floema, a forte
inspiração em Nikos Kazantzakis e seu Ascese.
O Instituto Hilda Hilst completa 11 anos de existência em abril de 2016.
Donizeti Mazonas (adaptação e direção) - Formado em Artes Cênicas pela UNICAMP,
Donizeti é ator, dançarino e diretor. Integrou o Centro de Pesquisa Teatral (CPT),
coordenado por Antunes Filho de 1998 a 2002. Junto com Wellington Duarte e
Daniel Fagundes criou o Núcleo Entretanto, em 2007, que desenvolveu
pesquisa voltada para dança-teatro-performance, e participou do Núcleo de
Improvisação, dirigido por Zélia Monteiro, de 2006 a 2013. Donizeti é pesquisador
da obra de Hilda Hilst e, atualmente, dirige o espetáculo Floema, e também assina a
adaptação. Essa é sua quinta montagem da obra de Hilst. Seus principais trabalhos como ator de teatro são: Um Bonde Chamado Desejo (em cartaz), Osmo, de Hilda Hilst, direção
de Suzan Damasceno; Pais e Filhos, direção do russo
Adolfo Shapiro, com a Mundana Companhia de Teatro; Menos Emergências, de Martim Crimp, direção de Juliana Galdino, para o 16°
Festival da Cultura Inglesa; Music-Hall,
de Jean-Luc-Lagarce, direção Luiz Paetow; Prêt-à-Porter 3 e 4, sob
coordenação de Antunes Filho; As Nuvens, de Aristófanes, Jovens
Bárbaros de Hoje e
Gira de Romeu e Julieta, estes com direção de Márcio Tadeu.
Como diretor, destaque para: A Obscena Senhora D, de Hilda
Hilst, com Suzan Damasceno (direção conjunta com Rosi Campos); Soslaio,
de Priscila Gontijo, e O Que Você Foi Quando Era Criança?,
de Lourenço Mutarelli, ambas com direção conjunta com Gabriela Flores.
Flavia Couto (atriz
e produtora) - Flavia Couto é mestre
em Artes Cênicas com a dissertação Mitopoéticas
do Corpo e bacharel em Interpreção Teatral pela ECA/USP. Aprimorou
seus estudos em Paris com a Cia de teatro físico Pas de Dieux. Flavia pesquisa
a obra de Hilda Hilst desde 2003, tendo realizado com Thaís Almeida Prado, na USP,
monólogos com trechos de Rato no Muro.
Na conclusão de seu mestrado, realizou o solo Espelhos Partidos, livremente inspirado na obra de Hilst. Em 2014,
adaptou e atuou no espetáculo O Unicórnio
(texto extraído da obra Fluxo-Floema)
e, atualmente é atriz na peça Floema,
primeira obra de ficção de Hilda Hilst, com adaptação e direção de Donizeti
Mazonas. Seus principais trabalhos como atriz de teatro são: Selvagens - Homem de Olhos Tristes (direção
Hugo Coelho), O Unicórnio (direção
Christina Trevisan), La Voie du Corps (Cia.
Pas de Dieux, Paris), Le Repas (direção
Rafaella Uihara, Paris), Mentira
ou ilusão – a verdadeira história de nossos desejos (direção Tiche Vianna),
Quando as Máquinas Param e Abajur Lilás (direção
Marco Antônio Braz), Voyage en Terre Intérieur (direção: Léa Dant), Elogio a Tchéckov (direção Eduardo
Vendramini) e outros. Também dirigiu espetáculos como Fábula Flamenca, Fronteiras da
Alma (também como atriz) e Mosaico
Musical. Na TV atuou em Vida Alheia (série da Rede Globo; direção Cininha de Paula e Marco Rodrigo) e no
cinema, em Amador (longa de Cristiano Burlan), De Pernas para o Ar (de Roberto Santucci) e Loveless (protagonista; Menção Honrosa no Festival CEN de Porto
Alegre).
Maurício Coronado (ator e
produtor) - Bacharel em Comunicação Social, pela
Instituição de Ensino São Bento, UNIARA (Universidade de Araraquara). Em 1998,
iniciou carreira como ator em Araraquara (SP) com a Cia. Trupe dos Truks e
Tramas, atuando nas montagens A Folia de
Romeu e Julieta do Sertão e O Rico Avarento,
de Ariano Suassuna, além de integrar a Cia de Dança Ditirambo. Em 2005, participou
do núcleo de atores do Teatro de Tábuas de Campinas, onde atuou no espetáculo Circuito Estradafora; em 2010, ingressou
na Cia. Teatro Balagan, como diretor técnico do espetáculo Prometheus – A Tragédia do Fogo. Dois anos depois, fez residência
artística em Bogotá (Colômbia) com o grupo de teatro Varasanta. Em 2013, participou de oficina com os atores
do OdinTeatret, no SESC Belenzinho. No ano seguinte, idealizou e produzoi
Um Brinde à Aventura Obscena, Uma Ode a
Hilda, evento de três dias com espetáculos de teatro, leituras e
apresentações envolvendo a obra da escritora Hilda Hilst, no Teatro Pequeno
Ato. Também atuou no monólogo O Oco,
sobre vida e obra da autora, com direção de Natasha Dias e Rafael Truffaut, e,
atualmente, é ator no espetáculo Floema,
primeira obra de ficção de Hilst, com adaptação e direção de Donizeti Mazonas.
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