Peça dirigida por Darson Ribeiro tem forte estética inspirada no butoh com intenso trabalho corporal de Henrique Ponzi.
O espetáculo “Abrigo”, do jovem dramaturgo Raphael Ramos, estreia no dia 9 de abril, segunda-feira, às 21 horas, no Espaço Beta, do SESC Consolação, dentro do projeto Primeiro Sinal. Com direção de Darson Ribeiro, a montagem é um solo estrelado pelo premiado ator pernambucano Henrique Ponzi, convidado especialmente para atuar nesta montagem, que ainda tem participação da bailarina Janaina Brizola.
Primeiro Sinal é um projeto do SESC SP que abre espaço para primeiras produções de artistas em experiências que estimulem a reflexão, seja pela dramaturgia, performance, interpretação ou mescla de linguagens, buscando visibilidade para distintas e novas formas de pensar a poética teatral contemporânea.
“Abrigo”, primeiro texto encenado de Raphael Ramos, propõe um corte psicológico entre três personagens que têm como elo um mesmo lugar – “abrigo”, cuja história é permeada por uma figura feminina. Assim, impõe-se a subversão na ordem do dramático pela ousadia no uso da linguagem que, brincando com a lógica, resulta enigmática e fragmentada.
Abrigo é o espaço onde deflagra o embate das personagens (Velho, Moço e Ela) com suas memórias, emitidas por um único interlocutor. Este ator em cena emerge da sombra para a revelação de tensões numa busca incessante do humano – do ter alguém para “abrigar-se” ou do simples e eficaz dar “abrigo”. Henrique Ponzi explica que a dramaturgia de Raphael lhe envolveu pela diferente abordagem da contenção do tempo. “Ele nos apresenta 10 anos em dois segundos. Como representar isto fisicamente?” Por isso, aceitou o convite para protagonizar a trama, pela primeira vez fora de Pernambuco.
Perguntado sobre o que o seduziu a dirigir o texto de estreia de Raphael Ramos, Darson explicou que achou desafiador e estimulante a “não entrega” que sentiu na primeira leitura. “Elas vão até o limite, mas o desfecho não acontece. A solidão fica mais forte e a vida volta a ser buscada. O texto contempla essa intensa busca para suprir certo oco no peito. Emociona e provoca sensações. Além de uma dor lancinante. Depois do denso trabalho com Disney Killer, me senti novamente provocado e absorvido. Por esse motivo, busquei o butoh,” completa.
O enredo
As personagens foram desenhadas, primeiramente, com um intenso trabalho corporal, intensificando as relações com o outro, e com o mundo, revelando “o quê” as mantém “interligadas”. A primeira personagem vivida por Henrique Ponzi é um “Velho” que “abriga” uma jovem mulher durante uma intensa chuva, até ela transformar essa ajuda em desprezo e asco. A segunda, “Moço”, vive uma conturbada relação de dominação com a dona do mesmo “abrigo” - intercalando o presente impiedoso sem o pai (Velho) com o passado feliz com a mãe, em análoga comparação de sentimentos. Esta mesma mulher, “Ela”, aparece no que Darson denominou III Ato, e vem pra mostrar sua real relação com os homens. Aqueles dois e os do mundo – cuja força simboliza a potencialização do feminino, seja no útero da mãe, na simples amizade e relações afetivas, e no sexo.
A encenação
Segundo o diretor Darson Ribeiro, “a linguagem proposta vem alinhada com o grande desafio da dramaturgia atual que é possibilitar conflitos que podem até não serem reais, mas que, de alguma forma, criem tensões – com desdobramentos e especificidades que proporcionem vivências a um público desacostumado a novas experimentações – principalmente no ‘ser e estar’. O butoh fala disso: é com a tensão do corpo que se tenta extirpar o sofrimento.”
O diretor conta que por isso reforçou ao aspecto psicológico do texto de Raphael Ramos com a densidade de filosofias orientais. “A tensão da alma é exteriorizada pelo estiramento do corpo, resultando também numa fala necessária e pujante. Essas partituras corporais traduzem a máxima leitura das personagens e traz a simbologia do texto para o físico”. Argumenta Darson.
A sutileza e a delicadeza dos movimentos possibilitam o embate entre oposição e tensão, redução e expansão dos movimentos. “O trabalho busca reduzir o movimento a um estado corporal preciso para a melhor percepção do público sobre a intenção da cena”, explica o preparador corporal Gustavo Torres.
O cenário – assinado pelo diretor – também contempla esta atmosfera psicológica e visceral do texto: uma caixa preta delineada por telas de PVC traduz o singelo do texto – como numa caixinha de música – onde, depois da corda, a pequena bailarina dança, dança e dança... Isto, somado à luz e sombra, e técnicas de ilusionismo, intensificam o realismo-fantástico, também apresentado em lampejos e silhuetas, apoiados no corpo da bailarina Janaina Brizola.
Darson explica que o espetáculo proporciona ao público a experiência de se manter em constante estado de busca – como as personagens da peça - na tentativa de desnudar o “Abrigo”, ou ainda de entender a relação existente entre elas (EU) e o próprio espectador (TU). Ator/personagem e espectador entram em um ambiente de crueldade psicológica que os levará a um estado de angústia reflexiva e de pensamento crítico sobre si.
Espetáculo: “Abrigo”
Texto: Raphael Ramos
Direção: Darson Ribeiro
Interpretação: Henrique Ponzi
Bailarina convidada: Janaina Brizola
Assistente de direção e de produção: Ivo Leme
Cenografia e trilha sonora: Darson Ribeiro
Figurino: Cássio Brasil
Iluminação: Mirella Brandi
Preparação corporal: Gustavo Torres
Ilusionismo: Issao Yamamura
Fotografia: Eliana Souza
Programação visual: Gabriel Azevedo
Produção executiva e realização: DR - Darson Ribeiro Produções
Serviço
Estreia: dia 9 de abril - segunda-feira – às 21 horas
SESC Consolação - Espaço Beta (3º andar)
Rua Dr. Vila Nova, 245 – Tel: (11) 3234-3000
Temporada: segundas e terças-feiras – às 21 horas – Até 08/05
(Dia 1º de maio não haverá espetáculo)
Ingressos: R$ 10,00, R$ 5,00 e R$ 2,50 - 45 min – Class. etária: 14 anos
Gênero: Drama - Site. http://www.sescsp.org.br/
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