terça-feira, 27 de março de 2012

Primeiro Sinal do SESC Consolação apresenta “Abrigo”, de Raphael Ramos

Peça dirigida por Darson Ribeiro tem forte estética inspirada no butoh com intenso trabalho corporal de Henrique Ponzi.

O espetáculo “Abrigo”, do jovem dramaturgo Raphael Ramos, estreia no dia 9 de abril, segunda-feira, às 21 horas, no Espaço Beta, do SESC Consolação, dentro do projeto Primeiro Sinal. Com direção de Darson Ribeiro, a montagem é um solo estrelado pelo premiado ator pernambucano Henrique Ponzi, convidado especialmente para atuar nesta montagem, que ainda tem participação da bailarina Janaina Brizola.

Primeiro Sinal é um projeto do SESC SP que abre espaço para primeiras produções de artistas em experiências que estimulem a reflexão, seja pela dramaturgia, performance, interpretação ou mescla de linguagens, buscando visibilidade para distintas e novas formas de pensar a poética teatral contemporânea.

“Abrigo”, primeiro texto encenado de Raphael Ramos, propõe um corte psicológico entre três personagens que têm como elo um mesmo lugar – “abrigo”, cuja história é permeada por uma figura feminina. Assim, impõe-se a subversão na ordem do dramático pela ousadia no uso da linguagem que, brincando com a lógica, resulta enigmática e fragmentada.

Abrigo é o espaço onde deflagra o embate das personagens (Velho, Moço e Ela) com suas memórias, emitidas por um único interlocutor. Este ator em cena emerge da sombra para a revelação de tensões numa busca incessante do humano – do ter alguém para “abrigar-se” ou do simples e eficaz dar “abrigo”. Henrique Ponzi explica que a dramaturgia de Raphael lhe envolveu pela diferente abordagem da contenção do tempo. “Ele nos apresenta 10 anos em dois segundos. Como representar isto fisicamente?” Por isso, aceitou o convite para protagonizar a trama, pela primeira vez fora de Pernambuco.

Perguntado sobre o que o seduziu a dirigir o texto de estreia de Raphael Ramos, Darson explicou que achou desafiador e estimulante a “não entrega” que sentiu na primeira leitura. “Elas vão até o limite, mas o desfecho não acontece. A solidão fica mais forte e a vida volta a ser buscada. O texto contempla essa intensa busca para suprir certo oco no peito. Emociona e provoca sensações. Além de uma dor lancinante. Depois do denso trabalho com Disney Killer, me senti novamente provocado e absorvido. Por esse motivo, busquei o butoh,” completa. 

O enredo

As personagens foram desenhadas, primeiramente, com um intenso trabalho corporal, intensificando as relações com o outro, e com o mundo, revelando “o quê” as mantém “interligadas”. A primeira personagem vivida por Henrique Ponzi é um “Velho” que “abriga” uma jovem mulher durante uma intensa chuva, até ela transformar essa ajuda em desprezo e asco. A segunda, “Moço”, vive uma conturbada relação de dominação com a dona do mesmo “abrigo” - intercalando o presente impiedoso sem o pai (Velho) com o passado feliz com a mãe, em análoga comparação de sentimentos. Esta mesma mulher, “Ela”, aparece no que Darson denominou III Ato, e vem pra mostrar sua real relação com os homens. Aqueles dois e os do mundo – cuja força simboliza a potencialização do feminino, seja no útero da mãe, na simples amizade e relações afetivas, e no sexo.

A encenação

Segundo o diretor Darson Ribeiro, “a linguagem proposta vem alinhada com o grande desafio da dramaturgia atual que é possibilitar conflitos que podem até não serem reais, mas que, de alguma forma, criem tensões – com desdobramentos e especificidades que proporcionem vivências a um público desacostumado a novas experimentações – principalmente no ‘ser e estar’. O butoh fala disso: é com a tensão do corpo que se tenta extirpar o sofrimento.”

O diretor conta que por isso reforçou ao aspecto psicológico do texto de Raphael Ramos com a densidade de filosofias orientais. “A tensão da alma é exteriorizada pelo estiramento do corpo, resultando também numa fala necessária e pujante. Essas partituras corporais traduzem a máxima leitura das personagens e traz a simbologia do texto para o físico”. Argumenta Darson.

A sutileza e a delicadeza dos movimentos possibilitam o embate entre oposição e tensão, redução e expansão dos movimentos. “O trabalho busca reduzir o movimento a um estado corporal preciso para a melhor percepção do público sobre a intenção da cena”, explica o preparador corporal Gustavo Torres.

O cenário – assinado pelo diretor – também contempla esta atmosfera psicológica e visceral do texto: uma caixa preta delineada por telas de PVC traduz o singelo do texto – como numa caixinha de música – onde, depois da corda, a pequena bailarina dança, dança e dança... Isto, somado à luz e sombra, e técnicas de ilusionismo, intensificam o realismo-fantástico, também apresentado em lampejos e silhuetas, apoiados no corpo da bailarina Janaina Brizola.

Darson explica que o espetáculo proporciona ao público a experiência de se manter em constante estado de busca – como as personagens da peça - na tentativa de desnudar o “Abrigo”, ou ainda de entender a relação existente entre elas (EU) e o próprio espectador (TU). Ator/personagem e espectador entram em um ambiente de crueldade psicológica que os levará a um estado de angústia reflexiva e de pensamento crítico sobre si.

Espetáculo: “Abrigo”
Texto: Raphael Ramos
Direção: Darson Ribeiro
Interpretação: Henrique Ponzi
Bailarina convidada: Janaina Brizola
Assistente de direção e de produção: Ivo Leme
Cenografia e trilha sonora: Darson Ribeiro
Figurino: Cássio Brasil
Iluminação: Mirella Brandi
Preparação corporal: Gustavo Torres
Ilusionismo: Issao Yamamura
Fotografia: Eliana Souza
Programação visual: Gabriel Azevedo
Produção executiva e realização: DR - Darson Ribeiro Produções
Serviço
Estreia: dia 9 de abril - segunda-feira – às 21 horas
SESC Consolação - Espaço Beta (3º andar)
Rua Dr. Vila Nova, 245 – Tel: (11) 3234-3000
Temporada: segundas e terças-feiras – às 21 horas – Até 08/05
(Dia 1º de maio não haverá espetáculo)
Ingressos: R$ 10,00, R$ 5,00 e R$ 2,50 - 45 min – Class. etária: 14 anos
Gênero: Drama - Site. http://www.sescsp.org.br/

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