Com direção de Alexandre
Tenório, a peça Brincando com a Morte (Funeral
Games) do dramaturgo inglês Joe
Orton estréia no dia 15 de março, sexta, no Teatro Cultura Artística – Itaim, às 21 horas. Suspense, humor negro, situações surreais, comédia
e melodrama permeiam a montagem que fala do uso da fé como instrumento de
manipulação e geração de riquezas, de um suposto adultério e de assassinatos.
Traduzida por Eduardo
Muniz, o espetáculo tem elenco formado por Fernanda Couto, Edu
Guimarães, Kiko Vianello, Tadeu Di Pyetro e Rodrigo Sanches. A ficha técnica tem ainda Theodoro Chocrane na criação do
figurino, Chris Aizner na
cenografia, Caetano Vilela na iluminação,
Dr. Morris na trilha sonora e Carlos
Mamberti na
produção.
Brincando com a Morte foi escrita, originalmente, para a televisão, em 1966, no período mais
criativo da carreira de Joe Orton que vai até 1967. O diretor Alexandre Tenório afirma que o texto é mais atual e contundente hoje,
dentro da realidade brasileira, do que quando foi escrito. “Funeral Games tem a força necessária
para entrar no subconsciente da sociedade, pela fresta do social e emocional”.
Carregada de um humor ácido, a peça é uma sátira à caridade cristã. Critica
a hipocrisia, as falsas religiões e também a moral vigente. Orton, em sua curta
e intensa carreira surpreende, choca e diverte com refinamento e deboche,
revelando as contradições humanas.
A trama
As referências geográficas mais
específicas da peça, originalmente inglesas, foram adaptadas para o Brasil
atual. No enredo, Pringle (Kiko
Vianello) é pastor de uma irmandade vigarista que recebe uma carta anônima que
acusa sua esposa Tessa (Fernanda Couto) de manter um relacionamento com outro
homem, McCork (Tadeu Di Pyetro). Ele contrata o detetive Caulfield (Edu
Guimarães) para investigar o caso. O possível amante, por sua vez, é também suspeito
de ter assassinado a própria esposa. O adultério é um equivoco. Tessa é
inocente. Mas a confusão se instala quando Pringle diz que a esposa “partiu” e todos pensam que
ele a matou. Situações surreais com uma lógica toda particular se
sucedem, onde ética e moral estão a serviço da conveniência de cada personagem.
A montagem
A encenação parte do princípio de que todo ser humano é esquecido e
todos viram pó. Apesar dos homens se digladiarem por fama, fortuna e poder,
eles terminarão sempre no cemitério. No início da peça é como se o público
adentrasse em um cemitério; as personagens começam e terminam a história como
se fossem estátuas de pedra. O diretor Alexandre Tenório conta que a impressão
primeira do público tem relação com a estranheza, mas depois a trama constrói
uma lógica que envolve o espectador.
O diretor também explica que a montagem brinca com a farsa e com a
realidade: “a peça tem estrutura de farsa, muito ligada ao suspense. Nos dois
gêneros você precisa acreditar que o corpo está no porão, que o amante está no
armário, que a mão escondida dentro da lata é humana”. Ele explica que a peça é
atual com referências contemporâneas, mas a estética é medieval. “O mundo atual
está mergulhado em memórias góticas”, completa.
O ambiente da história de Orton é amoral. O que lhe
importa são os interesses pessoais e políticos, a imagem pública. Ele critica
tudo numa trama que envolve vários níveis políticos, sociais e raciais. E não
perdoa nada. Coloca em cheque tanto os fatores políticos, econômicos e
religiosos, quanto a imprensa, a moral e a sociedade. O diretor comenta que “Brincando com a
Morte pretende causar no
espectador a sensação de que ele está em um sonho, ou pesadelo, mas há de
perceber que os fatos absurdos testemunhados são como aqueles que nos acometem
no dia a dia e que aceitamos como se tudo fosse plausível”.
O cenário (Chris Aizner) é composto por áreas que se
sobrepõem. Uma única peça com duas salas e um escritório ao centro acolhe as
cenas. A cenografia tem um tom eclesiástico, remetendo à religiosidade. O
figurino (Theodoro Chocrane) valoriza a importância da imagem, a sedução, os
personagens usam roupas alinhadas e cabelos bem penteados.
Espetáculo: Brincando
com a Morte
Texto: Joe Orton Tradução: Eduardo Muniz
Direção: Alexandre Tenório
Elenco: Fernanda Couto, Edu Guimarães, Kiko Vianello, Tadeu Di Pyetro e Rodrigo Sanches
Figurino: Theodoro Chocrane
Cenário: Chris Aizner
Iluminação: Caetano Vilela
Trilha sonora: Dr. Morris
Programação visual: Estúdio Bogari
Fotos: Alexandre Catan
Direção de produção:
Produção executiva: Daniel Palmeira
Realização: Ananda Produções e CD4 Produções
Patrocínio: Carbocloro, Porto Seguro e Vedacit
Apoio: ProAC – ICMS (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo)
Estréia: Dia 15 de março – sexta-feira – às 21 horas
Teatro Cultura
Artística - Itaim
Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 1830 - Itaim
Bibi/SP - Tel: (11) 3256-0223
Temporada: sextas (21h30), sábados (21 horas)
e domingos (18 horas) – Até 02/06
Ingresso: R$ 40,00 (sexta
e sábado) e R$ 30,00 (domingo)
Classificação etária: 16 anos. Duração: 70
min. Gênero: Suspense
Capacidade: 303 lugares. Bilheteria: Terça a
quinta (15h-19h), sexta e sábado (após 15h) e domingo (após 14h). Aceitas todos
os cartões. Ar condicionado.
Acesso universal. Ingresso p/ telefone: (11)
3258-3344. Estacionamento: R$ 18,00
Joe Orton - autor
(Informações retiradas da biografia Prick up Your Ears, de John Lahr)
Entre 1963, quando sua primeira peça foi montada, e 1967, quando morreu, o inglês Joe Orton se tornou um dramaturgo de reputação internacional.
Sua obra era pequena, mas seu impacto era imenso. Em 1967, o termo “orthonesco”
estava incorporado ao vocabulário inglês, um adjetivo compacto para descrever
cenas violentamente ultrajantes. Orton escreveu três grandes peças – Entertaining Mr. Sloane (Entretendo o Sr.
Sloane), Loot (O Olho Azul da
Falecida) e, a postumamente montada, What
the Butler Saw (Aquilo que o Mordomo Viu), além de outras quatro peças
curtas. Em sua meteórica carreira, foram feitos dois filmes baseados em suas
peças; e Loot recebeu o prêmio do Evening Standard de melhor peça de 1966.
As peças de Orton sempre escandalizavam as plateias, mas sua sagacidade (wit) fazia o ultraje memorável. A morte de Orton – tão intrinsecamente atada à ironia de seu fascínio
pelo grotesco – despertou grande interesse público. Nenhum outro dramaturgo
havia tido um fim tão medonho. A notícia foi primeira página em todos os
grandes jornais ingleses. O obituário do The
Times (escrito pelo crítico de teatro Irving Wardle) dizia que Orton era
“um dos mais refinados estilistas da nova dramaturgia britânica... um legítimo
artista do diálogo e um anarquista por natureza”. Foi a melhor crítica que
Orton recebeu em toda sua vida. Quase que instantaneamente a morte de Orton se
tornou mais famosa que sua obra. Muitos a interpretaram como resposta a sua implacável
postura anárquica e seu humor. Mas Orton nunca se submeteu à condição de um
mártir constrangido pela sociedade. Tão pouco foi vítima do culto ao êxtase que
tirou a vida de tantos artistas pop dos anos 60. Orton foi assassinado a
marteladas por seu companheiro Kenneth Halliwell, que pouco tempo depois,
dominado pelo remorso cometeu suicídio.
Alexandre Tenório - diretor
Alexandre
Tenório se graduou em Direção Teatral pela
Universidade do Rio de Janeiro, em 1980. Além de trabalhar com peças de teatro,
ele integrou o corpo docente da Escola Livre de Teatro de Santo André,
coordenando o Núcleo de Interpretação da escola entre 2010 e 2011.O diretor possui muitos textos
contemporâneos em seu currículo como diretor teatral, entre eles destaque para A Serpente no Jardim, de Alan Ayckbourn,
Blackbird, de David Harrower, a
leitura dramática de O Rei Está Morrendo,
de Ionesco, Ato Único, de Jane Bodie,
Fedra, de Racine, A Estufa e Paisagem e Silêncio, ambos de Harold Pinter (Cultura Inglesa
Festival), entre outros. Também assina a direção de Lendo Pinter, ciclo de leituras de peças de Harold Pinter, além de O Monta Cargas, do mesmo autor, Gente Fina é a Mesma Coisa/Não Explica que
Complica, de Alan Ayckbourn, Entre
Quatro Paredes, de Jean-Paul Sartre, e Anna
Christie, de Eugene O’Neill. Como tradutor, Alexandre Tenório
assina textos de autores como Harold Pinter, Jon Fosse, Bernard Shaw, Graham
Greene, Alan Ayckbourn, Noel Coward, Henrik Ibsen, Sam Sheppard, Michael
Cullen, David Bridell, Lindsay Price, Amy Rosenthal, Lizzie Nunnery, Robert
James Waller e Guilbert de Pixérécourt. Ele também é responsável pela
cenografia dos espetáculos Bregópera,
de Américo Neuman Júnior e Ricardo Tibau, Blackbird,
de David Harrower, Paisagem e Silêncio,
de Harold Pinter, O Nome, de Jon
Fosse, e Anna Weiss, de Mike Cullen.
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