“O ímpeto transformador é evidenciado pelo modo como o
caldeirão temático - os
preconceitos de gênero, de raça, de credo, de orientação
sexual e de ideologia, para ficar
nessa paleta - é posto em contraste na criteriosa
encenação de Sutil Violento.”
(Valmir Santos)
Foto de Geovanna Gellan |
Sutil Violento - com texto assinado por Evill Rebouças e encenação por Miguel Rocha (diretor e fundador da companhia) - trata da violência sutil - visível ou comodamente invisível - presente em nosso cotidiano.
A encenação começa com um frenesi cotidiano, as pessoas correm. Não param. Mal se percebem. Desviam umas das outras, em alguns momentos se esbarram e, em átimos de atenção, reparam que existem outros, tão próximos e tão parecidos (ou tão diferentes?). Ali, logo ali, há um corpo caído no chão. Será um homem ou um bicho? Apenas se cansou ou não respira mais? Queria comunicar algo, será que conseguiu? Um olhar mais atento ao entorno começa a revelar abusos, agressões, confrontos e opressões diárias: formas de coerção privadas ou públicas; sutis violências do nosso tempo, tão sutis que se tornam invisíveis, naturalizadas.
Miguel Rocha explica que o espetáculo aborda as microviolências por meio de uma estrutura fragmentada, tanto na cena quanto no texto. “A dramaturgia é composta por um conjunto de elementos: ações físicas, movimentos, música ao vivo e texto”, diz. Na encenação não há personagens com trajetórias traçadas, mas figuras cujas relações com o contexto social estão em foco, a exemplo da ‘mulher que é silenciada’ e do ‘jovem que usa sapatos de salto diante de olhares atravessados’. “As microviolências se revelam a partir dessas relações que se estabelecem entre essas pessoas e a sociedade”, argumenta.
A trilha sonora (Meno Del Picchia) executada ao vivo (guitarra, violoncelo e percussão) também tem sua carga dramatúrgica em Sutil Violento, ajudando a estabelecer as tensões entre as figuras. Muitas vezes a força do discurso está na musicalidade ou na própria canção interpretada. Outro ponto de destaque é o espaço cênico. A Companhia de Teatro Heliópolis optou pela instalação, criada por Marcelo Denny (1969-2020). Nada convencional, o cenário cedeu lugar a um ambiente todo na cor vermelha (piso, paredes e arquibancadas) que propõe sensações diversas, já no primeiro contato do espectador.
Foto de Bob Sousa |
Miguel Rocha conclui que o espetáculo quer pontuar as microviolências do nosso tempo, do Brasil de hoje; quer mostrar que as pequenas ou sutis violências se potencializam mediante suas naturalizações. “Sutil Violento é muito mais provocação que denúncia. Cada pessoa vai compreender o espetáculo pela sua perspectiva. Por isso acho importante trabalhar com símbolos em cena, que reverberam sempre de forma diferente para cada um. O espectador vai se deparar com alguns deles em Sutil Violento. É importante fazer pensar. E um artifício bom para isto é mesmo a provocação”, afirma.
As apresentações integram o projeto CÁRCERE - Aprisionamento em Massa e Seus Desdobramentos, contemplado pela 35ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo (elaborado para festejar os 20 anos que aa Companhia de Teatro Heliópolis completou em 2020). A temporada também acolhe oito sessões pelo ProAC Expresso Lei Aldir Blanc, Edital 44/2022 - Prêmio por Histórico de Realização em Teatro - Grupos, Companhias e Corpos Estáveis.
FICHA TÉCNICA - Encenação: Miguel Rocha. Texto: Evill Rebouças (em processo colaborativo com a Cia. de Teatro Heliópolis). Elenco: Álex Mendes, Arthur Antonio, Dalma Régia, Davi Guimarães, Klaviany Kozy e Walmir Bess. Cenografia/instalação: Marcelo Denny. Assistência de cenografia: Denise Fujimoto. Figurino: Samara Costa. Iluminação: Toninho Rodrigues e Miguel Rocha. Direção musical e preparação vocal: Meno Del Picchia. Assistência de iluminação: Raphael Grem. Direção de movimento e preparação corporal: Lúcia Kakazu. Músicos/musicista: Amanda Abá (violoncelo), Alisson Amador (percussão), Edézio Aragão (guitarra e sonoplastia). Oficinas de dança: Nina Giovelli e Camila Bronizeski. Oficinas de voz e canto: Olga Fernandez, Sofia Vila Boas e Lu Horta. Provocação teórica e prática: Maria Fernanda Vomero. Provocação / teatro épico: Alexandre Mate. Provocação / teatro performático: Marcelo Denny. Mesas de debates: Marcia Tiburi, Leonardo Sakamoto, Bruno Paes Mando e Zilda Iokoi. Direção de produção: Dalma Régia. Produção executiva: Davi Guimarães e Leidi Araújo. Assessoria de imprensa: Eliane Verbena. Idealização/produção: Companhia de Teatro Heliópolis. Estreou: 27/05/2017.
Espetáculo: Sutil Violento
De 28 de julho a 4 de setembro de 2022
Quinta, sexta e sábado, às 20h | Domingo, às 19 horas.
Duração: 60 minutos. Gênero: Experimental. Classificação: 14 anos.
Ingressos: Grátis - Reservas: Sympla - https://www.sympla.com.br
Casa de Teatro Maria José de Carvalho
Rua Silva Bueno, 1533 - Ipiranga. SP/SP. Tel: (11) 2060-0318
Capacidade: 40 lugares.
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imprensa: VERBENA ASSESSORIA
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