Foto de Marta Baião |
Com
encenação e direção de Marta Baião,
o espetáculo Ouvindo Vozes: da Marginalização à Loucura é uma montagem da Pião
Produções Artísticas, livremente inspirada no livro Ouvindo Vozes, de Edmar Oliveira, com dramaturgia assinada por Cynthia Regina.
Iniciadas
em junho, as apresentações (gratuitas)
ocorrem em espaços públicos não convencionais, frequentados ou a serviço da
comunidade, na zona leste de São Paulo. Em agosto as seções são na E. E. Prof. Aroldo de Azevedo (3 e 4/8,
quarta e quinta, às 20h) e SASF Iguatemi II (10/8, quarta, às 20h).
A
temporada é acompanhada por rodas de
conversa sobre Saúde Mental na Periferia com participação de Cristina Melo
(psicóloga e arteterapeuta), de Monica Soares (arteterapeuta), da diretora e do
elenco, além de sessões com tradução em
Libras, por Mile Silva (da LibrArte). Este projeto foi
viabilizado pelo Programa VAI -
Programa para Valorização de Iniciativas Culturais, da Secretaria Municipal de
Cultura de São Paulo.
Pelo
viés do teatro épico performativo, a montagem traz a história de três clientes,
como eram chamadas as pessoas em tratamento no Instituto Nise da Silveira, no Engenho
de Dentro (RJ), que descobriram vida
na loucura em um lugar marcado pelas ideias da médica psiquiatra, uma
revolucionária no tratamento mental pela arteterapaia que garantiu àqueles(as)
com ‘manias de liberdade’, as saídas
de suas profundezas para o encontro com a vida. Os atores Everton Santos, Juliana
Morelli e Rogério Nascimento
fazem releituras das histórias, não comprometidos com o normal ou anormal, mas com
a desconstrução da ideia de loucura.
O
livro Ouvindo Vozes aborda o processo
de reestruturação do Instituto por meio da história de pessoas em tratamento com
diagnóstico de esquizofrenia, privadas de acesso aos direitos básicos de
sobrevivência. O enredo da peça explora a realidade exposta no livro e as
vivências dos(as) artistas periféricos(as) participantes desta produção,
alinhavadas por suas memórias frente à realidade sobre a saúde a mental em seus
territórios: os Distritos de Iguatemi e Sapopemba, em São Paulo. Marta Baião
explica que o processo criativo conjunto foi conduzido para revelar “corpos
aprisionados que fogem do modelo estipulado pela sociedade, corpos
indisciplinados que não cumprem um papel esperado”.
Everton
Santos traz para a cena a história de um jovem, o mais velho de três irmãos.
Por ser fruto de uma relação extraconjugal da mãe com um político, vivia
trancado, afastado do convívio social. Ele é internado como louco quando, em um
acesso de raiva, ele rasga o vestido de noiva de sua irmã ao descobrir que ela
iria se casar sem a sua presença. Rogério Nascimento vive um jovem sonhador,
predestinado para passar 20 anos no hospital do Engenho de Dentro, apenas por
ser uma pessoa sem controle emocional. Quando alcança o direito de ir para uma
casa acolhedora, ele busca conhecer o mundo, busca a liberdade que lhe foi
tolhida. Juliana Morelli interpreta uma moça com problemas psiquiátricos que, ao
ser internada, conta com a surpreendente adesão das duas irmãs, que decidem se
internar junto com a irmã para ficarem juntas.
Segundo
a diretora, os elementos cênicos (atuação, cenário, figurino e música) dialogam
pela simbologia metafórica. A cenografia concebida por ela sugere o aprisionamento
em espaços delimitados que se interligam por estruturas altas e vazadas, situando
a prisão individual das personagens, bem como as possibilidades de libertação
com portas e saídas. A cor branca e transparências predominam nas estruturas e
nas cortinas, representando a tênue linha entre a sanidade e a loucura, e
também ganham a conotação de telas/mandalas que serão pintadas pelo público
antes das sessões, numa referência à arteterapia de Nise da Silveira. Projeções
em video mapping - com imagens
referentes ao trabalho da Dra. Nise e encenação de métodos físicos de
tratamento - potencializam a abordagem e fazem o público pensar. Técnicas de
teatro de sombras são usadas para representar a possibilidade de morte. Os
figurinos (de Marta Baião) carregam simbologias do universo das personagens;
trazem alegorias que reportam à busca pela libertação desses corpos. E a trilha
sonora original, de Eduluz, conta
com músicas que assumem funções dramatúrgicas na encenação, compostas pelos
próprios atores.
Toda
equipe artística envolvida na montagem foi submetida a um processo
arteterapêutico, baseado nas práticas de Nise da Silveira, com o intuito de
ampliar as percepções e fundamentar o trabalho. Para os realizadores, Ouvindo
Vozes: da Marginalização à Loucura
quer contribuir para a conscientização da importância das artes cênicas como um
dos elementos fundamentais para conscientizar sobre saúde mental nas regiões
periféricas. “As pessoas da periferia são menos acolhidas em todas as
situações. O morador periférico é marginalizado, junto com tudo que lhe diz
respeito, e não é diferente com a loucura, quando a pessoa é simplesmente
descartada”, afirma Everton Santos. “Queremos sensibilizar pessoas moradoras das
nossas regiões como a arte da linguagem teatral, visando reflexão e discussão
acerca dos transtornos mentais e suas abordagens nas margens da cidade”, finaliza.
A
ideia de montar Ouvindo Vozes: da Marginalização à Loucura surgiu, em 2016, quando Michele Araújo e Everton Santos
- fundadores da Pião Produções Artísticas - tiveram contado com o livro de Edmar
Oliveira (Ouvindo Vozes). No ano
seguinte partiram para o Rio de Janeiro, rumo ao Museu de Imagens do
Inconsciente e ao Instituto Municipal Nise da Silveira (antigo Hospital
Psiquiátrico D. Pedro II), dando início ao processo de gestação de ideias. Em
2019, voltaram ao Museu com propósitos mais definidos para estruturação do
projeto, junto com Monica Soares, recém-integrada ao grupo. “Fizemos uma visita
guiada que intensificou o nosso desejo de mergulhar nesse universo. Acessamos
imagens, esculturas e histórias que despertaram em nós o anseio de criar”, relembra
Michele, produtora da peça. Também retornaram ao Instituto para saber melhor da
sua história e visitaram a Casa das Palmeiras para conhecer de perto as
práticas terapêuticas de Nise da Silveira. Essas vivências reverberaram,
provocando reflexões sobre essa realidade nos territórios de Everton e Michele:
ele, nascido, criado e morador do Distrito de Iguatemi, e ela, nascida, criada
e moradora do Distrito de Sapopemba, ambos na Zona Leste paulistana, onde
também atuam como artistas, produtor/produtora e educador/educadora. Um longo
trabalho de construção cênica e o mergulho na arteterapia resultaram no
espetáculo que busca diálogo entre o fazer teatral e a estruturação da saúde
mental na periferia.
FICHA
TÉCNICA – Livremente inspirado no livro Ouvindo
Vozes, de Edmar Oliveira. Dramaturgia:
Cynthia Regina em processo criativo da Pião Produções Artísticas. Direção/encenação: Marta Baião. Elenco: Everton Santos, Juliana Morelli
e Rogério Nascimento. Concepção de
cenário e figurino: Marta Baião. Execução/cenário:
Daíse Neves. Execução/figurino: Isa
Santos. Iluminação e operação de luz:
Decio Filho. Trilha sonora original,
projeção e operação de som: Eduluz. Músicas:
Rogério Nascimento, Juliana Morelli e Everton Santos. Coreografia: Drama Extreme. Voz
de Nise da Silveira: Leila Silva Gomes. Voz em off: Edmar Oliveira. Arteterapeutas:
Cristina Melo e Monica Soares. Psicóloga
mediadora: Cristina Melo. Tradutora
intérprete de Libras: Mile Silva (LibrArte). Identidade visual: Renan Preto. Fotos/divulgação: Marta Baião. Social
media: Rosana Cardoso. Filmagem: Lado Sujo da Frequência. Produção executiva: Michele Araújo e Everton Santos. Idealização e produção geral: Pião
Produções Artísticas. Realização:
Prefeitura Municipal de São Paulo - Secretaria Municipal de Cultura de São
Paulo, por meio do Programa VAI - Programa para Valorização de Iniciativas
Culturais.
Programação
Espetáculo:
Ouvindo
Vozes: da Marginalização à Loucura
Com:
Pião Produções Artísticas
Grátis. Duração: 60 min.
Gênero: Drama. Classificação: 16 anos.
Nas
redes: Fabebook/piaoproducoesartisticas | Instagram/pião_producoes
3 de agosto. Quarta,
às 20h
E. E. Prof. Aroldo de
Azevedo
Rua Filipa Álvares, s/n - Jardim Planalto / Sapopemba. SP/SP.
Roda de conversa: Saúde Mental na Periferia - com Cristina Melo e Monica Soares.
Tradutora intérprete de Libras: Mile Silva (LibrArte)
4 de agosto. Quinta,
às 20h
E. E. Prof. Aroldo de
Azevedo
Rua Filipa Álvares, s/n - Jardim Planalto / Sapopemba. SP/SP.
Roda de conversa: Saúde Mental na Periferia - com elenco e encenadora Marta Baião.
10 de agosto. Quarta,
às 20h
SASF Iguatemi II – Serviço de Assistência
Social à Família
Rua João Crispiniano Soares, 98 - Parque Boa Esperança - SP/SP
Roda de conversa: Saúde Mental na Periferia - com Cristina Melo e Monica Soares.
Tradutora intérprete de Libras: Mile Silva (LibrArte).
Marta Baião – Capixaba radicada
em São Paulo, Marta Baião é doutora em Artes pela USP e cursa pós-doutorado na
USP/FFLCH / Diversitas - Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e
Conflitos. Possui mestrado e doutorado em Artes Cênicas / USP, pós-graduação
Lato Sensu - formação em Psicodrama e graduação em Artes Plásticas pela UFES. É
pesquisadora, repórter fotográfica, atriz, encenadora e diretora teatral,
ilustradora, artivista feminista e criadora de instalações performativas. Entre
várias outras atividades, Marta é encenadora do grupo de teatro feminista Mal-Amadas: Poética do
Desmonte e coordenadora do Centro Informação
Mulher (CIM), maior acervo da América Latina sobre a história de luta das
mulheres, criado em 1979.
Pião Produções
Artísticas
- A Pião Produções surgiu com o sonho dos atores/produtores Michele Araújo e
Everton Santos em realizar ações culturais nas periferias de São Paulo. Everton
e Michele se conheceram estudando teatro na EMIA/Santo André (Escola de
Iniciação Artística), em 2001. São nascidos(as) e criados(as) no berço da zona
leste de São Paulo, Sapopemba e Iguatemi, respectivamente. Desde 2015, quando
fizeram a primeira produção executiva teatral, estiveram à frente de
aproximadamente 20 produções, além da elaboração de projetos culturais,
inclusive para editais públicos. Everton é pós-graduado em Gestão de Projetos
pela Fundação Getúlio Vargas e Bacharel em Artes Cênicas pela Faculdade
Paulista de Artes. Michele é pós-graduada em A Arte de Contar História na
Faculdade de Conchas e Licenciada em Artes Cênicas pela Faculdade Paulista de
Artes. Juntes realizaram o Curso de Extensão Elaboração, Viabilização e Gestão
de Projetos Culturais em Artes Cênicas, com orientação de Daniela Machado (SP
Escola de Teatro). Com amor pela produção periférica compreendem que não tem “progresso
sem acesso”, por isso querem que todas as pessoas das periferias do Brasil,
tenham acesso aos bens culturais e sociais e que artistas consigam produzir sua
arte na periferia para a periferia. Em 2019, Monica Soares juntou-se à dupla,
no processo de pesquisa para Ouvindo
Vozes: da Marginalização à Loucura
surgiu, e em 2020, o núcleo se completou com a atriz Juliana Morelli e o ator Rogério
Nascimento.
Informações à
imprensa: VERBENA ASSESSORIA
Eliane Verbena
(11) 99373-0181 - verbena@verbena.com.br
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