Participaram profissionais convidados – brasileiros e estrangeiros – das áreas de educação física e esportes, fisioterapia e educação física adaptada, os quais trouxeram suas experiências em conferência, cursos e vivências. Paralelamente, seguindo uma das premissas do evento de proporcionar a reflexão do público sobre assuntos relacionados à questão das pessoas com deficiências e com necessidades especiais, aconteceram atividades culturais e esportivas, durante os dias do evento.
Na abertura do Simpósio o Prof. Dr. Odilon José Roble apresentou a conferência “Corpos diferentes: normalidade e potência sob a ética do olhar”. No mesmo dia ocorreu o lançamento do Manual Sesc de Ações Práticas - Atendimento da pessoa com deficiências na área físico-esportiva.
Entre as diversas atividades, a programaçãopromoveu cursos ministrados por: Prof. Dr. Cláudio Teodoro de Souza, Prof. Ms. Sean Healy (EUA), Prof. Ms. Gerson de Oliveira, Profa. Ds. Thays Martins Vital, Prof. PhD. Samuel Hodge (EUA), Prof. Felipe Ferreira, Profa. Ms. Fernanda Cruciani, Prof. Ms. Cássio Mascarenhas Robert Pires, Profa. Ms. Eliane Mahl, Profa. Dra. Mey de Abreu van Munster e Prof. Ms. Fábio Otuzi Brotto. O evento teve ainda bate-papo com corredora cega Terezinha Guilhermina e seu guia Guilherme Santana, show com a banda Surdodum (com integrantes surdos), apresentação de dança em cadeira de rodas e de teatro com o grupo Teatro Novo (RJ).
O
objetivo do Simpósio Sesc de Atividades Físicas Adaptadas é promover a
inserção de pessoas com deficiências ou necessidades especiais, de qualquer
idade e classe social, na prática de atividades físicas e/ou esportivas,
possibilitando que profissionais, educadores, alunos e público em geral entrem
em contato com técnicas de atividades físicas adaptadas, pela difusão do
conhecimento produzido por cientistas e profissionais da área de Educação
Física Adaptada. Ao informar e inserir a comunidade nos debates, a atividade conscientiza
sobre a necessidade de evitar preconceitos e discriminação em relação às
diferenças.
O evento, que teve sua primeira edição em 1997, destaca-se por ser pioneiro no assunto, na instituição e ser efetivado em uma entidade particular não vinculada a Universidades. O público participante é proveniente de todo o Brasil – em 2012 os participantes vieram de 10 estados - e basicamente é formado por professores e alunos de Educação Física, Educação Física Adaptada, Fisioterapia, Educação Especial, Psicologia, Terapia Ocupacional e Pedagogia, além de interessados em geral.
Conferência inaugural com Odilon José Roble
Graduado em Filosofia e Educação Física, Odilon José Roble é Doutor
em Educação pela Universidade Estadual de Campinas. Atualmente é professor do
Departamento de Educação Motora da Faculdade de Educação Física da UNICAMP. Sua conferência partiu
do princípio de que conviver é um ato ético que se expressa de muitas formas,
entre elas pela dinâmica do olhar. O corpo, nosso primeiro e mais fundamental
modo de expressão é, simultaneamente, sujeito e objeto dessa ética. Sob os
rótulos de normalidades e diferenças dos corpos constroem-se percepções,
preconceitos e políticas.
O filósofo argumentou que o homem, por viver coletivamente, depara-se com a realidade política: “precisamos conviver uns com os outros e encarar os choques de costumes.” Ele cita Thomas Hobbes que diz que “o estado de natureza é o de guerra, guerra de todos contra todos. E quando essa regra deixa de existir, toma-se o que é do outro, o que houver pela frente”. Por isso Hobes alega a necessidade do contrato social, senão o estado de natureza falará sempre mais alto. “Pra que convivamos tem que haver um contrato entre nós”.
Odilon José Roble defende que a pessoa com deficiência tem condições de apresentar alternativas que jamais imaginamos. Por isso é fundamental observarmos e convivermos para que elas não pensem que “romperam o contrato com sociedade” por serem diferentes. A ainda hoje as pessoas com deficiência não têm o mesmo contrato social. Explica e completa dizendo que o caminho para solucionar a questão não é o da piedade, pois ela, de modo algum, proporciona a inclusão no contrato. “É comum pensarmos que pessoas com corpos diferentes não são um problema nosso, mas da humanidade”.
Robre conclui a reflexão: “a unidade física e a unidade de direito do corpo expressam-se nos discursos sobre "pessoa" e "coisa" podendo conduzir para uma ação na qual a concepção de polimorfia (corpos de diferentes formas) supere a de dismorfia (corpos com deformidades)”. Ainda explica que quando alguém é encarado como uma ‘coisa’ rompe-se a unidade física e ele é transformado em ‘objeto’. “Quando se observa a individualidade sem deixar que ela se conecte com aquilo que a circunda, estamos ‘coisificando’ o que seria o conceito de humano”. E finaliza a conferência abordando o direito de acesso a que todo indivíduo tem: “quem não tem acesso a determinados dispositivos está sendo privado de sua unidade de direito”.
Segundo dia do Simpósio: público participa de bate-papo, jogos e vivencia experiências dos deficientes
No segundo dia do Simpósio Sesc de Atividades Físicas Adaptadas o público participou de duas aulas abertas gratuitas: Atividades Físicas Adaptadas para Pessoas com Lesão Medular, ministrada pelo instrutor de atividades físicas do Sesc Santo Amaro Vagner Martins, e Yoga Adaptada à Deficientes Visuais, ministrada pela professora Odeci Benatti. As duas atividades contaram com a participação do público presente que vivenciou as mesmas sensações dos portadores de deficiência.
Professor há 16 anos, Vagner Martins iniciou a aula aberta com participação de quatro cadeirantes e terminou com 11 pessoas integrando as atividades. Durante a aula, o público foi convidado para sentar em cadeira de rodas e vivenciar os exercícios e jogos adaptados como pega-pega, passe de bola, basquete e outras brincadeiras.
A ideia da aula de atividades voltadas para pessoas com lesão medular era pegar um exercício feito por pessoas sem deficiência e mostrar que é possível adaptá-lo. Um exemplo disso foi o “pega-pega”, brincadeira realizada de diferentes modos: em um deles, o participante tinha que conseguir encostar a cadeira no adversário para pegá-lo. Em um outro, o cadeirante carregava uma bola no colo e precisava conseguir colocar a bola no colo do outro adversário para vencer. Segundo o professor, é preciso saber as limitações de cada grupo para pensar na atividade física a ser dada. “Eu procuro sempre sentir o grupo para ver o que posso oferecer para eles. A gente não tem um manual do que é certo ou errado na atividade adaptada, é preciso apenas pensar na prática e na didática. O objetivo maior de tudo isso é mostrar para o portador de deficiência que ele pode fazer aquilo, que as coisas são possíveis e não são absurdas”.
Um dos participantes sem deficiência, Everton de Oliveira, elogiou a didática do professor e o modo como ele realizava as brincadeiras. “Ele explica bem os jogos e fica fácil entender como funciona, tanto para quem tem deficiência quanto para quem não tem, e está ali brincando. Esse tipo de aula e evento ajuda a dissipar um certo estranhamento que as pessoas sentem ao ver uma pessoa com deficiência praticando esporte”, disse.
Outra atividade realizada no segundo dia foi Yoga Adaptada à Deficientes Visuais, ministrada pelas professoras Odeci Araufo Benatti e Roberta Kaji. Composto por cegos e não cegos, o grupo foi aumentando no decorrer da aula chegando a 15 participantes. Quem não possuía a deficiência tinha seus olhos vendados para participar da aula e vivenciar a primeira sensação que a professora propôs: “Vamos todos sentir primeiro a sensação de não enxergar, perceber apenas os nossos pés, o nosso pisar e o nosso corpo”. Com um colchão e uma bola de tênis, a professora Odeci orientava os movimentos a serem seguidos pelos alunos, enquanto a professora Roberta corrigia e orientava as posições dos participantes.
O aluno José Carlos Moroni, 65, pratica o Yoga adaptado para deficientes visuais há um ano. Cego há oito, Moroni tem retinose pigmentar, doença degenerativa que causa a perda da visão e ocorre geralmente na segunda década de vida. Apesar da yoga não ser tão bem conhecida pelos deficientes visuais, ele afirma que ela traz uma série de benefícios para quem a pratica. “Eu consigo perceber uma enorme diferença no Moroni de antes para o Moroni de agora. A Yoga me trouxe benefícios musculares, mentais, agilidade, resistência e uma série de coisas. Para nós que somos cegos, ela é essencial para ajudar no reflexo, posicionamento e habilidade, mas nem todo mundo sabe disso”.
E para fechar o segundo dia de evento, o público pôde conferir um bate-papo com a atleta paraloímpica Terezinha Guilhermina e o atleta-guia Guilherme Santana. Juntos, os dois contaram histórias das olimpíadas e relacionamento com outros atletas enchendo o público de otimismo e gargalhadas. Durante a conversa, Terezinha compartilhou sua história de vida e como nunca desistiu ser a melhor do mundo. “Eu acreditava que se eu fosse a melhor do mundo, eu conseguiria realizar uma mudança na minha própria vida e hoje sei que consegui”.
Por Verbena Comunicação
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