Primeiro CD autoral de cantora chega
depois de seis décadas de dedicação à música brasileira. Em Pindamonhangaba, o show de
lançamento acontece no dia 10 de outubro
(sexta, às 20 horas) no Teatro Galpão, com entrada franca.
Projeto viabilizado pelo ProAC.
A cantora e compositora Alaíde Costa completa 79 anos no final
de 2014. Figura ímpar na história da música popular brasileira, Alaíde realiza
o antigo sonho de gravar um disco somente com composições próprias. Com a mesma
afinação e a mesma interpretação personalíssima dos tempos pré-bossa nova,
quando iniciou a carreira como crooner do Avenida Dancing no Rio de Janeiro , em 1954, a intérprete se
consagra definitivamente também como autora, com o lançamento do álbum Canções
de Alaíde (selo Nova Estação), que tem produção musical de Thiago
Marques Luiz.
Alaíde compôs a sua primeira canção
aos 17 anos. Ao longo do tempo, mesmo tendo prevalecido o lado intérprete, as
novas melodias sempre permearam sua carreira. Várias de suas canções foram
escritas em parceria com amigos, ilustres poetas e compositores da música
brasileira. Alguns de seus parceiros estão no CD, entre eles Vinícius de Moraes, Antônio Carlos Jobim, Johnny Alf, Hermínio Bello de Carvalho e Geraldo
Vandré, além de Geraldo Julião, José
Márcio Pereira, João Magalhães e
Paulo Alberto Ventura.
A cantora conta que lhe trouxe
também muita alegria o fato de gravar acompanhada por músicos com os quais
trabalha há mais de 30 anos: o pianista Giba
Estebez (grande parceiro de palco, que também assina a direção musical do
CD e a maioria dos arranjos), o flautista Vitor
Alcântara e os violonistas Conrado
Paulino e Fernando Corrêa
(também arranjadores de algumas faixas). O disco tem ainda participação
especial do pianista Gilson Peranzzeta,
da cantora Adyel Silva, do baixista Mário Andreotti e de seu filho, o
cantor e violonista Marcelo Lima.
A capa do CD também representa uma
passagem importante em sua história musical. Nela, Alaíde aparece feliz e na
intimidade com o piano, instrumento que utiliza para compor as suas melodias. E
o que tem na sala de sua casa não é um piano qualquer. Suas teclas foram as
primeiras tocadas por Alaíde, desde que começou a tomar aulas com o maestro
Moacir Santos. Mais tarde o instrumento lhe foi dado de presente pelo amigo e
parceiro Vinícius de Moraes.
Canções de Alaíde mostra uma cantora autêntica, que nunca se dobrou aos
modismos comerciais, mantendo-se fiel ao seu próprio estilo. Ela revela que
enfrentou dificuldades na profissão por buscar por “uma música que fosse
diferente”. “O que me fascinava era o que soava diferente aos meus ouvidos”,
confessa. E se lembra de quando conheceu Johnny Alf, grande parceiro e amigo
com quem trabalhou no Brasil e na Europa. “Eu gostava de sua música especial”.
Eles se conheceram em 1952, no Rio de Janeiro ,
quando ela o ouviu tocando “O Que é Amar” em um
programa de TV: “fiquei encantada com aquela música que não era comum, ele
tinha uma forma única de tocar”. Mas, com a timidez mútua, só foram se
aproximar anos depois, em
São Paulo. A primeira vez que ela cantou ao som de seu piano
foi dando uma canja em uma boate onde Johnny se apresentava. Ela escolheu
“Dindi” (Tom Jobim), mas pediu que fosse em si maior. E ele
retrucou: “não tinha um tom melhor não?”, diverte-se Alaíde ao lembrar.
A semente desse disco foi lançada no
final da década de 90, quando Alaíde Costa fez um show no Teatro Denoy de
Oliveira cantando suas músicas a convite de Luiz Carlos Bahia com produção de
Nelson Valência. Poucos sabiam, até então, que ela é a autora de todas as melodias
de suas composições. Muitos anos se passaram e muitas pessoas estavam
interessadas em realizar esse sonho da artista: Cervantes Sobrinho e Paulo Gomes ( atuais
produtores executivos de Canções de Alaíde), Thiago Marques
Luiz, Gilson Peranzzetta.
Em 2012, Valência produziu um novo
show de Alaíde. Paulo e Cervantes então constataram que
o CD já estava delineado. Faltava o registro. “Era o momento”, comenta Cervantes. Amigos e
admiradores da cantora, eles se empenharam na busca de recursos para fazer o
disco, que foi viabilizado com o apoio do ProAC. “Alaíde sempre se destacou
pelo timbre e afinação impecável. No início, ela encantava - e até intrigava -
pela erudição que emanava naturalmente de seu canto: uma cantora de música
popular com requintes próprios do canto lírico na interpretação.” Comenta
Cervantes, fã declarado de Alaíde Costa.
As Canções de Alaíde
O CD Canções de Alaíde abre
com uma temática comum na obra da compositora: o amor. A música “Qual a Palavra” fala de uma grande
paixão, abrindo passagem para a primeira parceria com Vinícius de Moraes,
presente no disco, “Tudo o Que É Meu”.
Alaíde conta que recebeu essa letra durante uma visita que fez ao ‘poetinha’, quando
estava esse internado na Clínica São Vicente, no Rio
de Janeiro . “Ele disse que havia um presente para mim na
gaveta e o presente era um papel dobrado com a letra da canção”.
A terceira faixa reúne duas canções
com arranjos do pianista e amigo Gilson Peranzzetta. “Ternura” tem letra de Geraldo Julião, mas a cantora conta que esta
é a segunda versão, pois a primeira foi assinada por uma amiga que faleceu
antes de autorizar a gravação. E “Cadarços”, que ganhou o requinte do
piano do arranjador, registra um momento mágico na história da artista com o
Hermínio Bello de Carvalho. No início dos anos 80, ela foi participar da
gravação de um disco do compositor/poeta: mostrou-lhe a melodia e ele não só
fez a letra, como a incluiu entre as faixas do álbum Águas Vivas, de 1982.
Composta em 1960, a música “Afinal” deu nome a um álbum que Alaíde
gravou, em 1964. A
quinta faixa, “Meu Sonho”, vem bem
acompanhada pelo talento do pianista e compositor Johnny Alf, parceiro de
música e de palco. A melodia - revela Alaíde - “foi um desafio”, e a história
merece um parêntese: “quando ele me deu a letra para musicar, mostrei-me
insegura com a tarefa de fazer melodia para um poema seu e ele apenas
respondeu: ‘vire-se’”. E ela se virou, fez uma música digna do grande compositor.
A canção “Tempo Calado” é uma linda parceria com o amigo Paulo Alberto
Ventura, que não é oficialmente um letrista e sim artista plástico. Seguindo o
roteiro, a fixa “Saída”, composta no
início dos anos 2000, também tem história que merece registro. A primeira letra
desta canção era um poema de Paulo César Pinheiro, “Navios”, que ela musicou.
Para sua decepção, ao ligar para o amigo com a novidade, soube que ele acabara
de autorizar a gravação do mesmo com letra de Francis Hime. Tratou, ela mesma então,
de fazer outro poema.
A composição “Banzo” – que tem participação especial da cantora Adyel Silva - é
uma parceria de Alaíde com José Márcio Pereira. Esta canção já foi defendida
por ela em um festival universitário. A próxima, “Choro”, tem clima de fossa,
de fim de romance. Originalmente, ela foi composta ao piano por Alaíde, mas
aqui ganhou dois violões no arranjo de Conrado Paulino. “Gostei muito dessa
versão com os violões”, comenta feliz a cantora.
“Apesar de Tudo” não poderia estar de fora desse
trabalho, pois marca o início de uma grande amizade com o compositor João
Magalhães. A próxima música também registra um momento especial na carreira de
Alaíde. Em 1961, na Casa de Vinícius de Moraes, ela cantarolou uma melodia para
Tom Jobim, que lhe deu, então, dicas de harmonia e, no mesmo dia, escreveu a
letra de “Você é Amor”. Ele ainda
constatou que ela era uma “menina de muito futuro”. “Você canta diferente”,
falou o maestro.
Muitas das músicas de Alaíde
nasceram desses grandes encontros. E não foi diferente com “Canção do Breve Amor”. Em uma das reuniões da turma da bossa nova,
bem no início do movimento musical, ela compôs a melodia. Geraldo Vandré ouviu
e fez a letra no instante seguinte. E, fechando o repertório de Canções
de Alaíde, vem outra bela parceria com Vinícius de Moraes, “Amigo Amado”, que tem impecável
participação especial de Gilson Peranzzetta ao piano.
AGENDA DE SHOWS
10 de outubro (sexta,
às 20 horas) - PINDAMONHANGABA
Teatro Galpão (221
lugares). Av. Nossa Sra. do Bom Sucesso, 2750. Parque das Nações.
Tel: (12)
3642-1080.Grátis (ingressos 1h antes)
3 de dezembro (quarta)
– São Paulo
Galeria Olido. Av. São
João, 473. República. Tel: (11) 3331-8399.
4 de dezembro (quarta)
– São Paulo
Teatro Décio de Almeida
Prado. Rua Cojuba, 45-B. Itaim Bibi. Tel: (11) 3079-3438.
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