Após A Terra Prometida (entre os dez melhores espetáculos de 2002,
segundo O Globo) e As Folhas do Cedro
(Prêmio APCA 2010 de melhor autor), Yazbek volta ao tema de suas origens
libanesas com esse texto. Dessa vez, discutindo a história recente do Oriente Médio, desde a fundação do Estado de
Israel, passando pelos
conflitos entre palestinos e israelenses, entre muçulmanos e judeus, a queda
das torres gêmeas etc., até chegar ao Estado Islâmico.
Evitando maniqueísmos e didatismos de qualquer espécie,
a peça é uma parábola teatral que ecoa os mais variados tipos de intolerância
nas sociedades modernas, corroborando a interpretação bíblica de que Isaac, o
pai dos judeus, e Ismael, o pai dos árabes, são filhos de Abraão, e que ambos
habitavam as mesmas terras que hoje são motivos de contendas naquela região.
Post Scriptum é um texto que parte de um fato
ocorrido com a família do autor: o reaparecimento, em São Paulo, de um imigrante
libanês dado como morto, após um acidente aéreo na Amazônia.
A peça - da Companhia Teatral
Arnesto nos Convidou, responsável por importantes montagens como O Fingidor (Prêmio Shell 1999 de melhor
autor) e As Folhas do Cedro - tem
estreia prevista para o início de 2015, em São Paulo.
Post Scriptum reúne profissionais como o
cenógrafo e figurinista André Cortez e o iluminador Domingos Quintiliano (que
já trabalhou com a Companhia em outra montagem), além da produtora e
administradora Silvia Marcondes Machado (Mecenato Moderno).
ENREDO
Invertendo o paradigma
shakespereano, presente em Hamlet, o
imigrante libanês (Helio Cicero) representa uma espécie de fantasma às avessas,
que vem clamar por paz, e não por vingança.
A ideia é que a iminência da morte,
para esse homem, o faz voltar para casa modificado, a ponto de rever seu
arraigado anti-semitismo.
Ocorre que, após seu retorno, ele
precisa lidar com o mundo que deixou ao partir, sobretudo no âmbito familiar,
consolidado segundo seus princípios.
Primeiro, tem de enfrentar seu filho
mais velho (Marco Antônio Pâmio), um professor de História que cultiva um
profundo ressentimento em relação aos judeus, incutido por seu pai desde a
infância, e que, no início da peça, se prepara para viajar ao Oriente Médio
para lutar por seus “irmãos” palestinos.
Depois, precisa aceitar que seu
filho caçula (Pedro Augusto Monteiro) se apaixonara por uma judia que vive em
Jerusalém, que ele conhecera por meio de um vídeo no Youtube, em que ela conta
que foi ferida por uma bomba jogada por um combatente islâmico.
Finalmente, tem de redescobrir sua
relação com a esposa (Bete Dorgam), uma imigrante libanesa que sacrificou seus
sonhos de vida, em função da ideologia do marido.
SIMBOLISMO
Originária do latim, a expressão “Post
Scriptum” é o extenso do “P.S.”, palavras que se colocam no rodapé de um
escrito.
O paradoxo dessa notação é ela destacar
as ideias que, apesar de estarem após o fim de um texto, costumam ser tão ou
mais relevantes do que as que constam em seu decurso.
É como se quem escrevesse dissesse
algo como: “Relembrando... Não podemos esquecer que... O que eu quero dizer é
que... Arrependo-me de... Tudo que eu disse pode não ser...” etc.
O título Post Scriptum simboliza essa peça, em que um homem, por ter estado
diante da morte, passa a repensar sua vida, a ponto de resgatar seus valores
mais essenciais.
Serviço
Leitura dramática: Post Scriptum
Texto e direção: Samir Yazbek.
Com Helio Cicero, Bete Dorgam, Marco
Antônio Pâmio e Pedro Augusto Monteiro.
10 de novembro de 2014, segunda-feira,
às 19h30
Projeto Letras em Cena
MASP - Avenida Paulista, 1578
Reservas pelo email: clovistorres@uol.com.br
Samir Yazbek
foto Fernando Stankuns |
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