quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Selvagens - Homem de Olhos Tristes, de Händl Klaus, estreia no Club Noir

Eles são selvagens, tristes, perdidos, trancados numa vertigem de sangue, suor, som e fúria. (HC)

Inédita no Brasil, a peça contemporânea Selvagens - Homem de Olhos Tristes, do austríaco Händl Klaus, traduzida por Christine Röhrig, estreia para convidados no dia 29 de outubro (quarta, às 21h) no Club Noir, sob direção de Hugo Coelho. A temporada aberta ao público tem início no dia 30.

Os atores Rubens Caribé, Edu Guimarães, Vitor Placca, Flavia Couto e Henrique Taubaté Lisboa formam o elenco da peça que alterna climas de mistério, conflito, violência, ironia, acolhimento e sensualidade. Um médico tenta chegar ao seu vilarejo tendo que conviver com a contradição de pessoas que acabara de conhecer e com a aridez de um lugar marcado pelo abandono e pelo esquecimento.

Com narrativa sedutora e não linear, a montagem conta a história de Gunter de Bleibach (Rubens Caribé), um Médico Sem Fronteiras que, a caminho de seu vilarejo, sente-se mal com o calor asfixiante nos vagões lotados e se vê obrigado a descer do trem. Na estação ele encontra dois homens, os irmãos Flick (Eduardo Guimarães e Vitor Placca), a princípio extremamente simpáticos, que lhe oferecem abrigo e ajuda, e também lhe pedem que vá ver Hedy, a irmã doente (Flávia Couto). Sob o calor escaldante, a caminho da casa dos Flick, a paisagem se revela árida. A cidade enfrenta racionamento de toda ordem, principalmente de água. E Gunter insiste sempre que precisa ir para casa, urgentemente.

Segundo o diretor Hugo Coelho, o texto de Händl Klaus é muito rico na abordagem humana em meio às vertigens do mundo contemporâneo com seus paradoxos, com sua gama de possibilidades e impossibilidades, de respostas e perguntas soltas no ar. Selvagens - Homem de Olhos Tristes aborda a vida como um fluxo permanente que nos joga no vazio, onde as fronteiras do real, do imaginário e do emocional se sobrepõem. “Não existem fronteiras, só existem os limites da tridimensionalidade, da sede, do sangue e do sexo. O homem ainda é um ‘bicho’ que procura o prazer e foge da dor”. Completa.

Nessa história seria tudo um pesadelo? Uma metáfora? Ou seria esta a última viagem de Gunter? Para Rubens Caribe, “quando Gunter salta do trem, ele pula para fora do mundo e cai numa esfera fantástica e apocalíptica, onde é subjugado de forma sutil e violenta”. Nesse ambiente claustrofóbico e misterioso, aos poucos, os personagens se revelam e se inter-relacionam no viés de um mundo complexo e contraditório. O diretor explica que o texto explora a falta de acesso, explora o caráter de uma sociedade de abundância para poucos e a escassez para muitos. “Temos necessidades e desejos de ordem material, emocional e espiritual, portanto carregamos a condição trágica da incompletude: uma angústia de querer chegar a algum lugar, a busca de uma condição de bem estar, de satisfação plena”.

Aparentemente, nada faz muito sentido em Selvagens. A contradição e o jogo geram suspense. Uma série de fatos se sucede, carregados de desconforto e até de humor. Um velho homem mudo (Henrique Taubaté Lisboa) é torturado (o velho pode ser alguém muito próximo dos irmãos). Gunter se sente acuado; fica aterrorizado ao ver a face amistosa dos irmãos transformada em ironia e violência. Chegando à casa dos Flick, mesmo diante de tanta sede, os irmãos esqueceram de trazer água. Eles saem em busca de água e alimentos. Enquanto isso, Hedy e o médico ficam sozinhos. O que aconteceu no passado desta família pouco se revela. Gunter faz uma incisão para tirar o ar dos pulmões da jovem, mas algo dá errado. Ela ficará bem? E quem é o velho pai dos jovens que dorme no chão, vestindo o casaco do visitante? Gunter ainda não voltou para casa quando a noite chega. A energia está cortada e eles ficam na completa escuridão. Será possível dormir?

A montagem

A concepção do cenário (David Schumaker) é uma caixa branca que revela nuances e texturas que fazem a ligação com o mundo e provoca sensações. Apenas alguns elementos ajudam a contar a história de Selvagens - Homem de Olhos Tristes. A música original, composta por Ricardo Severo, descreve a paisagem desolada: ora comenta, ora pontua, ora acentua a ação dramática. Em um fluxo incessante, a peça se desenrola no jogo teatral entre personagens, baseado na palavra, nos duplos sentidos, na sensação, na razão e no corpo. O trabalho de Inês Aranha na preparação corporal objetiva a formação de um repertório corporal que os personagens trazem para cena.  “Cada sessão tende a ser um ‘quadro’ diferente nesse mundo em transformação. A caixa branca nos dá a possibilidade de escrever uma nova história a cada dia. Não vejo sentido em um cenário cristalizado, explícito; os signos e significados se transformam sempre, as pessoas também”. Explica Hugo Coelho.

A encenação busca materializar a estética proposta pelo texto de Händl Klaus, e não responde perguntas; segue pela trilha das impossibilidades. O que os quatro personagens procuram, realmente não importa. O trem que passa é a vida que segue. A plataforma é o mundo numa paisagem apocalíptica. As memórias são retalhos numa colcha disforme, contornada pela falta de água, de energia, pelo cansaço, pela doença. O retorno à origem se revela impossível. Só é possível ir adiante.

Para um teatro metafórico, a direção busca prender o espectador pelas sensações físicas e pela surpresa. “A ambiguidade do que é dito, do que é ouvido, do que é entendido (às vezes sussurrado, desesperado, incompreendido) é a impossibilidade do real. A vida é sonho? Pode ser um frenesi, nos silêncios. O real não existe.” Finaliza o diretor.

Ficha técnica
Espetáculo: Selvagens – Homem de Olhos Tristes
Texto: Händl Klaus
Tradução: Christine Röhrig
Direção: Hugo Coelho
Elenco: Rubens Caribé, Edu Guimarães, Vitor Placca, Flavia Couto e Henrique Taubaté Lisboa.
Preparadora corporal: Inês Aranha
Assistência de direção: Fernanda Lorenzoni
Cenografia e figurino: David Schumaker
Música original: Ricardo Severo
Iluminação: Fran Barros
Programação visual: Fernanda Lorenzoni
Fotografia: Helô Bortz
Diretor de produção: Henrique Benjamin
Produção executiva: Fernanda Lorenzoni
Produção administrativa: Fábio Hilst
Assessoria de imprensa: Eliane Verbena
Realização: Benjamim Produções

Serviço
Estreia para convidados: 29 de outubro – quinta – às 21 horas
Temporada: 29 de outubro a 18 de dezembro
Dias e horário: quartas e quintas - às 21 horas
Local: Club Noir
Rua Augusta, 331. Consolação/SP. Tel: (11) 3255-8448
Ingressos: R$ 40,00 (meia: R$ 20,00) – Vendas na bilheteria: 1h antes das sessões
Gênero: drama. Duração: 60 min. Classificação etária: 12 anos.
Capacidade: 50 lugares. Aceita dinheiro e cheque. Não aceita cartões.
Não faz reservas. Ar condicionado. Acesso universal. www.ciaclubnoir.blogspot.com

PERFIS

Händl Klaus (autor) - Händl Klaus é um premiado dramaturgo contemporâneo que começou a carreira como ator, participando de vários filmes, para depois se dedicar à dramaturgia. Händl recebeu vários prêmios como autor, entre os quais se destacam o Grande Prêmio de Literatura de Tirol, em 2007, e os prêmios Robert Walser e Rauriser Literaturpreis, em 1995. Sua obra Selvagem - Homem de Olhos Tristes (escrita em 2003) foi convidada, em 2004, para os festivais Berliner Theatertreffen e Mülheimer Theatertagen, onde foi agraciado como o Melhor Jovem Dramaturgo pela citada obra. Em 2006, foi eleito o dramaturgo do ano pelos críticos especializados na conceituada revista Theater Heute (Teatro Hoje).  Ele também dirigiu e roteirizou o premiado longa-metragem März, em 2008. Atualmente, dedica-se a escritura de libretos de óperas.

Hugo Coelho (diretor) - Formado em filosofia, Hugo Coelho é ator e diretor. Começou a carreira no Teatro de Arena. Estudou interpretação com Eugênio Kunest, foi assistente de direção de Antônio Abujamra, inclusive na antológica montagem A Morte Acidental de um Anarquista, com Antônio Fagundes. Sua primeira direção profissional foi O Poema Sujo, de Ferreira Gullar, com Rubens Correa e Ester Góes. Depois esteve à frente da direção de Me Segura Senão eu Pulo, de Luiz Carlos Cardoso, Hoje Tem Mazzaropi, de Mario Viana, Retratos, de William Douglas Home, Os Jogadores, de Nikolai Gogol, a ópera Treemonisha, de Scott Joplin, O Contrabaixo, de Patrick Suskind, e Quem Casa quer Casa, de Martins Penna. Como ator, integrou os seguintes elencos: Assim é (se lhe parece), de Luigi Pirandello e dir. de Marco Antônio Pâmio; O Terraço de Jean Claude Carrière e dir. de Alexandre Reineck; e Motel Paradiso, de Juca de Oliveira e dir. de Roberto Lage, entre outros. Com intensa atuação na TV - onde fez carreira também como assistente de direção, editor e diretor de novelas e documentários na TV Bandeirantes, TV Globo e SBT - participou das novelas Água na Boca (na TV Bandeirantes) e O Direito de Nascer, Cristal, Revelação e Amor e Revolução (no SBT), além das séries Descolados (na MTV) e O Negócio (na HBO).

Rubens Caribé (ator) - Estreou em 1987 com Hair, de Antônio Abujamra, e, desde então, vem se alternado entre o teatro, o cinema e a TV, além de manter um treinamento de mais de 15 anos de dança com Mariana Muniz. Na TV, atuou em Anos Rebeldes e Fera Ferida (Globo), Sangue do Meu Sangue e Os Ossos do Barão (SBT) e Cidadão Brasileiro (Record). No teatro, trabalhou com os diretores Cacá Rosset, Ulysses Cruz, Ron Daniels e Felipe Hirsch, entre outros. Ganhou o Prêmio Apetesp 1995 de Melhor Ator (O Melhor do Homem) e foi indicado para os prêmios Apetesp 1997 como Melhor Ator Coadjuvante (por Hamlet) e Shell de Melhor Ator (por Rei Lear). Entre seus trabalhos mais atuais, destacam-se as peças O Fantástico Reparador de Feridas (dir. Domingos Nunez), A Aurora da Minha Vida (dir. Bárbara Bruno), Berro (dir. Eduardo Tolentino de Araújo), o longa-metragem Inversão (dir. Edu Filistoche), a telenovela Uma Rosa Com Amor (SBT) e o espetáculo Corpo Vivo (de Ivaldo Bertazzo). Recentemente, esteve em cartaz com o musical Cabaret Luxúria e os espetáculos de teatro-dança UManoel e Gestos, da Cia. Mariana Muniz. Em 2014, atuou em Assim É (Se Lhe Parece), dirigida por Marco Antonio Pâmio, pela qual recebeu indicações como melhor ator aos prêmios Shell, APCA e Aplauso Brasil.

Edu Guimarães (ator) - Ao longo de 22 anos de carreira, Edu Guimarães fez cursos de especialização, estudando com nomes como Pascoal da Conceição, Lúcia Gayotto, Wolney de Assis, Denise Assunção, Robert McCrea, Lourival Pariz, Gabriel Guimard, Gavin Robertson, Eduardo Tolentino de Araújo, Denise Weinberg, Clara Carvalho, Tom Zé, Luiz Tatit e outros. NO teatro atuou em Shopping & Fucking (de Mark Ravenhill, dir. Marco Ricca), A Audiência (de Vaclav Havel, dir. Soledad Yunge), Ricardo III (de W. Shakespeare, dir. Jô Soares), Autobahn (de Neil Labute, dir. Soledad Yunge), Pessoas Absurdas (de Alan Ayckbourn, dir. Otávio Martins, também como tradutor) e O Salão de Baile Elétrico (de Enda Walsh, dir. Cristina Cavalcanti). Trabalhou nos longas O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (de Cao Hamburger) e O Fim Da Picada (de Christian Saghaard). Participou de vários curtas-metragens, como Kyrie ou O Início do Caos (de Débora Waldman), A Bela E Os Pássaros (de Marcelo Toledo e Paolo Gregori), Cemitério São Luiz (de Ana Paul, como ass. de direção e produtor), A Psicose de Valter (de Eduardo Kishimoto, como ator e roteirista) e outros.

Flavia Couto (atriz) - Formada em artes cênicas pela USP, Flávia está em cartaz com a peça O Unicórnio, adaptação da obra de Hilda Hilst com direção de Christina Trevisan. Já trabalhou com a companhia francesa de teatro físico Pas de Dieux, com Marco Antônio Braz em Abajur Liláse Quando as Máquinas Param (Projeto Plínio Marcos), com Tiche Viana, com Augusto Marin no Coletivo Commune, com Armando Sérgio, Beth Lopes e Lèa Dant. No cinema, integrou o elenco de Amador, de Cristiano Burlan, que estreiou na Mostra Internacional de Tiradentes; protagonizou Loveless ao lado de Victor Hugo Carrizo, dirigido por Cláudio Gonçalves, filme premiado com Menção Honrosa no Festival de Cinema de Porto Alegre 2009; fez uma série de curtas, entre eles o premiado Journée. E na TV, participou da série A vida Alheia (como Nalva). Atualmente, desenvolve seu trabalho na interdisciplinaridade de linguagens (teatro, dança, música, cinema e video-arte), ministra oficinas de vivencia em teatro musical no Sesi e desenvolve estudos sobre dança moderna e flamenca. Ao lado de Thaís Almeida Prado, Flávia participa do Filmes de Infiltração realizandio filmes como Nowhere (longa, doc-ficção) e Passagens (vídeo-dança).


Vitor Placca (ator) - Formado pela EAD, Vitor Placca é, desde 2012, ator integrante do grupo Teatro de Narradores. Junto à companhia já atuou em Ensaio Sobre a Esquadronização Geral, Retrato Calado, Ensaio Sobre o Sim e o Não e outros. Trabalhou como ator em: O Maravilhoso Mundo de Dissocia, de Anthony Neilson e direção de André Pink; Realismo, de Anthony Neilson e direção de André Pink; O Assassinato do Anão do Caralho Grande, de Plínio Marcos e direção de Silnei Siqueira; Os Cidadãos de Calais, de Georg Kaiser (exercício cênico) dirigido por Isabel Setti; Machado Assim (exercício cênico a partir dos contos de Machado de Assis), dirigido por Luís Damasceno; A Tempestade, de William Shakespeare, xercício cênico dirigido por Raquel Araújo.

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