Eles são selvagens, tristes,
perdidos, trancados numa vertigem de sangue, suor, som e fúria. (HC)
Inédita no Brasil, a
peça contemporânea Selvagens - Homem de Olhos Tristes, do
austríaco Händl Klaus, traduzida por Christine Röhrig, estreia para convidados no dia 29 de
outubro (quarta, às 21h) no Club Noir, sob direção de Hugo
Coelho. A temporada aberta ao público tem início no dia 30.
Os atores Rubens Caribé, Edu
Guimarães, Vitor Placca, Flavia Couto e
Henrique Taubaté Lisboa formam o elenco da peça que alterna climas de mistério, conflito, violência, ironia, acolhimento
e sensualidade. Um médico tenta chegar ao seu vilarejo tendo que conviver com a
contradição de pessoas que acabara de conhecer e com a aridez de um lugar
marcado pelo abandono e pelo esquecimento.
Com narrativa sedutora e
não linear, a montagem conta a história de Gunter de Bleibach (Rubens Caribé),
um Médico Sem Fronteiras que, a caminho de seu vilarejo, sente-se mal com o
calor asfixiante nos vagões lotados e se vê obrigado a descer do trem. Na
estação ele encontra dois homens, os irmãos Flick (Eduardo Guimarães e Vitor Placca), a
princípio extremamente simpáticos, que lhe
oferecem abrigo e ajuda, e também lhe pedem que vá ver Hedy, a irmã doente
(Flávia Couto). Sob o calor escaldante, a caminho da casa dos Flick, a paisagem
se revela árida. A cidade enfrenta racionamento de toda ordem, principalmente
de água. E Gunter insiste sempre que precisa ir para casa, urgentemente.
Segundo o diretor Hugo Coelho , o texto de Händl Klaus é muito rico na abordagem humana em meio
às vertigens do mundo contemporâneo com seus paradoxos, com sua gama de
possibilidades e impossibilidades, de respostas e perguntas soltas no ar. Selvagens - Homem de Olhos Tristes aborda a vida como um fluxo permanente que nos joga
no vazio, onde as fronteiras do real, do imaginário e do emocional se
sobrepõem. “Não existem fronteiras, só existem os limites da tridimensionalidade,
da sede, do sangue e do sexo. O homem ainda é um ‘bicho’ que procura o prazer e
foge da dor”. Completa.
Nessa história seria tudo um pesadelo? Uma metáfora? Ou seria esta a última
viagem de Gunter? Para Rubens Caribe, “quando Gunter salta do trem, ele pula
para fora do mundo e cai numa esfera fantástica e apocalíptica, onde é
subjugado de forma sutil e violenta”. Nesse ambiente claustrofóbico e
misterioso, aos poucos, os personagens se revelam e se inter-relacionam
no viés de um mundo complexo e contraditório. O diretor explica que o texto
explora a falta de acesso, explora o caráter de uma sociedade de abundância
para poucos e a escassez para muitos. “Temos necessidades e desejos de ordem
material, emocional e espiritual, portanto carregamos a condição trágica da
incompletude: uma angústia de querer chegar a algum lugar, a busca de uma
condição de bem estar, de satisfação plena”.
Aparentemente, nada faz muito
sentido em Selvagens. A
contradição e o jogo geram suspense. Uma série de fatos se sucede, carregados
de desconforto e até de humor. Um velho homem mudo (Henrique Taubaté Lisboa) é
torturado (o velho pode ser alguém muito próximo dos irmãos). Gunter se sente
acuado; fica aterrorizado ao ver a face amistosa dos irmãos transformada em
ironia e violência. Chegando à casa dos Flick, mesmo diante de tanta sede, os
irmãos esqueceram de trazer água. Eles saem em busca de água e alimentos.
Enquanto isso, Hedy e o médico ficam sozinhos. O que aconteceu no passado desta
família pouco se revela. Gunter faz uma incisão para tirar o ar dos pulmões da
jovem, mas algo dá errado. Ela ficará bem? E quem é o velho pai dos jovens que
dorme no chão, vestindo o casaco do visitante? Gunter ainda não voltou para
casa quando a noite chega. A energia está cortada e eles ficam na completa
escuridão. Será possível dormir?
A montagem
A concepção do cenário (David
Schumaker) é uma caixa branca que revela nuances e texturas que fazem a ligação
com o mundo e provoca sensações. Apenas alguns elementos ajudam a contar a
história de Selvagens - Homem de Olhos Tristes.
A música original, composta por Ricardo Severo, descreve a paisagem desolada:
ora comenta, ora pontua, ora acentua a ação dramática. Em um fluxo incessante,
a peça se desenrola no jogo teatral entre personagens, baseado na palavra, nos
duplos sentidos, na sensação, na razão e no corpo. O trabalho de Inês Aranha na
preparação corporal objetiva a formação de um repertório corporal que os
personagens trazem para cena. “Cada
sessão tende a ser um ‘quadro’ diferente nesse mundo em transformação. A caixa
branca nos dá a possibilidade de escrever uma nova história a cada dia. Não
vejo sentido em um cenário cristalizado, explícito; os signos e significados se
transformam sempre, as pessoas também”. Explica Hugo Coelho.
A encenação busca materializar a
estética proposta pelo texto de Händl Klaus, e
não responde perguntas; segue pela trilha das impossibilidades. O que os quatro
personagens procuram, realmente não importa. O trem que passa é a vida que
segue. A plataforma é o mundo numa paisagem apocalíptica. As memórias são
retalhos numa colcha disforme, contornada pela falta de água, de energia, pelo
cansaço, pela doença. O retorno à origem se revela impossível. Só é possível ir
adiante.
Para um teatro metafórico, a direção
busca prender o espectador pelas sensações físicas e pela surpresa. “A
ambiguidade do que é dito, do que é ouvido, do que é entendido (às vezes
sussurrado, desesperado, incompreendido) é a impossibilidade do real. A vida é
sonho? Pode ser um frenesi, nos silêncios. O real não existe.” Finaliza o
diretor.
Ficha técnica
Espetáculo: Selvagens – Homem
de Olhos Tristes
Texto: Händl Klaus
Tradução: Christine Röhrig
Direção: Hugo Coelho
Elenco: Rubens Caribé, Edu
Guimarães, Vitor Placca, Flavia Couto e Henrique Taubaté Lisboa.
Preparadora corporal: Inês Aranha
Assistência de direção: Fernanda Lorenzoni
Cenografia e figurino: David
Schumaker
Música original: Ricardo Severo
Iluminação: Fran Barros
Programação visual: Fernanda Lorenzoni
Fotografia: Helô Bortz
Diretor de produção: Henrique
Benjamin
Produção executiva: Fernanda Lorenzoni
Produção administrativa: Fábio Hilst
Assessoria de imprensa: Eliane Verbena
Realização: Benjamim Produções
Serviço
Estreia para convidados: 29 de
outubro – quinta – às 21 horas
Temporada: 29 de outubro a 18 de
dezembro
Dias e horário: quartas e quintas -
às 21 horas
Local: Club Noir
Rua Augusta, 331. Consolação/SP.
Tel: (11) 3255-8448
Ingressos: R$ 40,00 (meia: R$ 20,00)
– Vendas na bilheteria: 1h antes das sessões
Gênero: drama. Duração: 60 min.
Classificação etária: 12 anos.
Capacidade: 50 lugares. Aceita
dinheiro e cheque. Não aceita cartões.
PERFIS
Händl
Klaus (autor) - Händl Klaus é um premiado dramaturgo contemporâneo que
começou a carreira como ator, participando de vários filmes, para depois se
dedicar à dramaturgia. Händl recebeu vários prêmios como autor, entre os quais
se destacam o Grande Prêmio de Literatura de Tirol, em 2007, e os prêmios
Robert Walser e Rauriser Literaturpreis, em 1995. Sua obra Selvagem - Homem
de Olhos Tristes (escrita em 2003) foi convidada, em 2004, para os
festivais Berliner Theatertreffen e Mülheimer Theatertagen, onde foi agraciado
como o Melhor Jovem Dramaturgo pela citada obra. Em 2006, foi eleito o
dramaturgo do ano pelos críticos especializados na conceituada revista Theater
Heute (Teatro Hoje). Ele também dirigiu
e roteirizou o premiado longa-metragem März, em 2008. Atualmente, dedica-se
a escritura de libretos de óperas.
Hugo Coelho (diretor) - Formado em filosofia,
Hugo Coelho é ator e diretor. Começou a carreira no Teatro de
Arena. Estudou interpretação com Eugênio Kunest, foi assistente de direção de
Antônio Abujamra, inclusive na antológica montagem A Morte Acidental de
um Anarquista, com Antônio Fagundes. Sua primeira direção profissional foi O
Poema Sujo, de Ferreira Gullar, com Rubens Correa e Ester Góes. Depois
esteve à frente da direção de Me Segura Senão eu Pulo, de Luiz Carlos
Cardoso, Hoje Tem Mazzaropi, de Mario Viana, Retratos, de William
Douglas Home, Os Jogadores, de Nikolai Gogol, a ópera Treemonisha,
de Scott Joplin, O Contrabaixo, de Patrick Suskind, e Quem Casa quer
Casa, de Martins Penna. Como ator, integrou os seguintes elencos: Assim
é (se lhe parece), de Luigi Pirandello e dir. de Marco Antônio Pâmio; O
Terraço de Jean Claude Carrière e dir. de Alexandre Reineck;
e Motel Paradiso, de Juca de Oliveira e dir. de Roberto Lage, entre
outros. Com intensa atuação na TV - onde fez carreira também como
assistente de direção, editor e diretor de novelas e documentários na TV
Bandeirantes, TV Globo e SBT - participou das novelas Água na Boca (na
TV Bandeirantes) e O Direito de Nascer, Cristal, Revelação e
Amor e Revolução (no SBT), além das séries Descolados (na
MTV) e O Negócio (na HBO).
Rubens Caribé (ator) - Estreou em 1987 com Hair,
de Antônio Abujamra, e, desde então, vem se alternado entre o teatro, o cinema
e a TV, além de manter um treinamento de mais de 15 anos de dança com Mariana
Muniz. Na TV, atuou em Anos Rebeldes e Fera Ferida (Globo), Sangue
do Meu Sangue e Os Ossos do Barão (SBT) e Cidadão Brasileiro
(Record). No teatro, trabalhou com os diretores Cacá Rosset, Ulysses Cruz, Ron
Daniels e Felipe Hirsch, entre outros. Ganhou o Prêmio Apetesp 1995 de Melhor
Ator (O Melhor do Homem) e foi indicado para os prêmios Apetesp 1997 como
Melhor Ator Coadjuvante (por Hamlet) e Shell de Melhor Ator (por Rei
Lear). Entre seus trabalhos mais atuais, destacam-se as peças O
Fantástico Reparador de Feridas (dir. Domingos Nunez), A Aurora da Minha
Vida (dir. Bárbara Bruno), Berro (dir. Eduardo Tolentino de Araújo),
o longa-metragem Inversão (dir. Edu Filistoche), a telenovela Uma
Rosa Com Amor (SBT) e o espetáculo Corpo Vivo (de Ivaldo Bertazzo).
Recentemente, esteve em cartaz com o musical Cabaret Luxúria e os
espetáculos de teatro-dança UManoel e Gestos, da Cia. Mariana
Muniz. Em 2014, atuou em Assim É (Se Lhe Parece), dirigida por Marco
Antonio Pâmio, pela qual recebeu indicações como melhor ator aos prêmios Shell,
APCA e Aplauso Brasil.
Edu Guimarães (ator) - Ao longo de 22 anos de
carreira, Edu Guimarães fez cursos de especialização, estudando com nomes como
Pascoal da Conceição, Lúcia Gayotto, Wolney de Assis, Denise Assunção, Robert
McCrea, Lourival Pariz, Gabriel Guimard, Gavin Robertson, Eduardo Tolentino de
Araújo, Denise Weinberg, Clara Carvalho, Tom Zé, Luiz Tatit e outros. NO teatro
atuou em Shopping & Fucking (de Mark Ravenhill, dir. Marco Ricca), A
Audiência (de Vaclav Havel, dir. Soledad Yunge), Ricardo III (de W.
Shakespeare, dir. Jô Soares), Autobahn (de Neil Labute, dir. Soledad
Yunge), Pessoas Absurdas (de Alan Ayckbourn, dir. Otávio Martins, também
como tradutor) e O Salão de Baile Elétrico (de Enda Walsh, dir. Cristina
Cavalcanti). Trabalhou nos longas O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias
(de Cao Hamburger) e O Fim Da Picada (de Christian Saghaard). Participou
de vários curtas-metragens, como Kyrie ou O Início do Caos (de Débora
Waldman), A Bela E Os Pássaros (de Marcelo Toledo e Paolo Gregori), Cemitério
São Luiz (de Ana Paul, como ass. de direção e produtor), A Psicose de
Valter (de Eduardo Kishimoto, como ator e roteirista) e outros.
Flavia Couto (atriz) - Formada em artes cênicas
pela USP, Flávia está em cartaz com a peça O Unicórnio, adaptação da
obra de Hilda Hilst com direção de Christina Trevisan. Já trabalhou com a companhia
francesa de teatro físico Pas de Dieux, com Marco Antônio Braz em Abajur
Liláse Quando as Máquinas Param (Projeto Plínio Marcos), com Tiche
Viana, com Augusto Marin no Coletivo Commune, com Armando Sérgio, Beth Lopes e
Lèa Dant. No cinema, integrou o elenco de Amador, de Cristiano Burlan,
que estreiou na Mostra Internacional de Tiradentes; protagonizou Loveless
ao lado de Victor Hugo Carrizo, dirigido por Cláudio Gonçalves, filme premiado
com Menção Honrosa no Festival de Cinema de Porto Alegre 2009; fez uma série de
curtas, entre eles o premiado Journée. E na TV, participou da série A
vida Alheia (como Nalva). Atualmente, desenvolve seu trabalho na
interdisciplinaridade de linguagens (teatro, dança, música, cinema e video-arte),
ministra oficinas de vivencia em teatro musical no Sesi e desenvolve estudos
sobre dança moderna e flamenca. Ao lado de Thaís Almeida Prado, Flávia participa
do Filmes de Infiltração realizandio filmes como Nowhere (longa,
doc-ficção) e Passagens (vídeo-dança).
Vitor Placca (ator) - Formado pela EAD, Vitor
Placca é, desde 2012, ator integrante do grupo Teatro de Narradores. Junto à
companhia já atuou em Ensaio Sobre a Esquadronização Geral, Retrato
Calado, Ensaio Sobre o Sim e o Não e outros. Trabalhou como ator em:
O Maravilhoso Mundo de Dissocia, de Anthony Neilson e direção de André
Pink; Realismo, de Anthony Neilson e direção de André Pink; O
Assassinato do Anão do Caralho Grande, de Plínio Marcos e direção de Silnei
Siqueira; Os Cidadãos de Calais, de Georg Kaiser (exercício cênico) dirigido
por Isabel Setti; Machado Assim (exercício cênico a partir dos contos de
Machado de Assis), dirigido por Luís Damasceno; A Tempestade, de William
Shakespeare, xercício cênico dirigido por Raquel Araújo.
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