quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Cia de Teatro Heliópolis volta ao cartaz com Um Lugar ao Sol em curta temporada

Com encenação de Miguel Rocha, montagem cumpre temporada de 3 a 25 de setembro na sede do grupo, a Casa de Teatro Maria José de Carvalho.

O espetáculo Um Lugar ao Sol, da Companhia de Teatro Heliópolis, reestreia no dia 3 de setembro na Casa de Teatro Maria José de Carvalho (Rua Silva Bueno, 1533, Ipiranga), em São Paulo. O enredo foi inspirado em histórias de vida de moradores de Heliópolis.

Com encenação de Miguel Rocha e texto de Willian Costa Lima, a montagem fica em cartaz entre os dias 3 e 25 de setembro, sempre aos sábados (20h) e domingos (19h). O elenco é formado pelos atores Dalma Régia, David Guimarães e Klaviany Costa.

Um Lugar ao Sol foi construída a partir de um processo colaborativo coordenado por Miguel Rocha, no qual os artistas envolvidos no projeto realizaram intensa pesquisa pessoal em Heliópolis, zona sul de São Paulo. O intuito foi a coleta de depoimentos de moradores sobre o que seria “um lugar ao sol” para cada um deles. O eixo dramático do espetáculo discorre sobre a vida de quatro moradores de uma comunidade que, após vivenciarem acontecimentos marcantes, buscam compreender o sentido de suas vidas no cotidiano. Embora as histórias dividam um espaço comum, cada uma se propõe a narrar um sonho diferente.

Na encenação, a história de Eliete dos Cachorros fala do abandono familiar. Ela é uma idosa esquecida pelos filhos que encontra em seus 11 cachorros a possibilidade de construir uma nova “família”. A loucura e a imaginação são as vias encontradas pela personagem para encarar a dor da realidade e, ludicamente, construir sua família ideal. A personagem Juvenal é um pedreiro que durante anos cumpre metodicamente seu ofício de construir casas, mas, em determinado momento, percebe-se só. O talento para o trabalho se contrapõe à dificuldade em erguer uma sólida relação afetiva com alguém, agravada pelo alcoolismo. A busca por um relacionamento que preencha este vazio é o seu grande desafio.

Uma terceira história é contada por todo elenco, não especificamente focada em um personagem, mas em um discurso mais social e crítico: o da realidade dos jovens estudantes das periferias. Trata-se de uma dolorosa e divertida epopeia em busca do ingresso numa universidade. Por fim, o espetáculo retrata o assassinato da menina Leonarda, morta no caminho entre sua casa e a escola. A narrativa, inicialmente, retrata o ponto de vista da mãe, mas deixa de ser subjetiva à medida em que a comunidade se envolve no caso, diante da dor dessa mãe. Embora não seja possível olugar ao sol” da mãe ser alcançado, o triste episódio uniu a comunidade  em busca de um mesmo ideal: a paz. 

Segundo o diretor Miguel Rocha, “a junção das histórias acontece em uma estrutura fragmentada, dispondo-se à construção de uma visão híbrida e humana do que possa vir a ser um lugar ao sol para personagens oriundos de uma realidade social desprivilegiada”.

Um teatro dos tempos líquidos parece boa definição para o novo espetáculo da Companhia de Teatro Heliópolis. Prosseguindo a linha de pesquisa dramática a partir de experiências comunitárias, o grupo chega a um plano poético que nos leva a muitas reflexões sobre a arte na cidade contemporânea. (...) Os intérpretes - Dalma Régia, Davi Guimarães e Klaviany Costa - apropriaram-se dessas histórias, melhor dizendo: dessas personas. Sente-se em suas performances a busca da verdade humana, que seus próprios personagens perseguem. Estabelecem, desde o início, uma atmosfera de medo, que faz lembrar os “tempos líquidos” de Zygmunt Balman. São flagelados de uma cidade onde o medo, que também é líquido, escorre pelos becos e vielas. O medo de um vulto na esquina. O medo do caminho entre a casa e a escola. O medo dos ruídos, o medo dos olhares, o medo do que não se vê. (...) - Sebastião Milaré

Ficha técnica

Encenação: Miguel Rocha
Texto: William Costa Lima
Elenco: Dalma Régia, David Guimarães e Klaviany Costa
Direção musical: William Paiva
Músicos: Caio Madeira e Juan Rogers
Preparação corporal e direção de movimento: Lucia Kakazu
Cenografia e figurino: Clau Carmo
Realização e produção: Companhia de Teatro Heliópolis

Serviço

Espetáculo: Um Lugar ao Sol
Com Companhia de Teatro Heliópolis
Reestreia: dia 3 de setembro. Sábado, às 20h
Casa de Teatro Maria José de Carvalho
Rua Silva Bueno 1533, Ipiranga/SP. Tel: (11) 2060-0318
Temporada: 3 a 25 de setembro. Sábados (20h) e domingos (19h)
Duração: 65 min. Gênero: Drama. Classificação: Livre.
Ingressos: Pague quanto puder (bilheteria 1h antes das sessões)
80 lugares. Não possui acessibilidade, estacionamento e ar condicionado.

Companhia de Teatro Heliópolis

A Companhia de Teatro Heliópolis surgiu no ano 2000, reunindo jovens da comunidade, sob direção de Miguel Rocha e apoio da UNAS (União de Núcleos e Associações de Moradores de Heliópolis e Região), com o objetivo de montar o espetáculo A Queda para o Alto, baseado no romance homônimo de Sandra Mara Herzer. Entre a primeira peça e os trabalhos mais recentes, foram 15 anos de conquistas, dificuldades e aprendizados. "O teatro que optamos fazer está em sintonia com nossas vidas, em profunda conexão com elas", afirma o diretor.

A companhia já realizou nove espetáculos, todos criados em diálogo com os anseios e as vivências que permeiam a realidade de Heliópolis. Depois de A Queda Para o Alto, vieram as peças Coração de Vidro (2004) e Os Meninos do Brasil (2007). Entre 2008 e 2009, com o patrocínio da Petrobras, foi iniciado o Projeto Arte e Cidadania em Heliópolis, visando o aprimoramento artístico dos jovens atores, que se constituiu de quatro fases (formação, pesquisa, criação e apresentação), com encontros diários e aulas dadas por profissionais convidados. O projeto teve três módulos e cada um resultou em um espetáculo: O Dia em que Túlio Descobriu a África (2009); Nordeste/Heliópolis/Brasil – Primeiro Ato (2011) e Um Lugar ao Sol (2013). Passaram pelo processo nomes como Silvana Abreu, Paulo Fabiano, Raquel Ornellas e Marcelo Lazzarato, entre outros. Nesse período, a companhia também montou a peça Eu Quero Sexo... Será que Vai Rolar? (2010).

Depois de várias formações, a Companhia de Teatro Heliópolis é formada hoje pelo núcleo central constituído por Dalma Régia, Davi Guimarães, Donizeti Bonfim e Klaviany Costa, além do diretor Miguel Rocha, todos moradores da comunidade. Desde 2010, a trupe ocupa sede própria: a Casa de Teatro Maria José de Carvalho, um imóvel cedido pela Secretaria Estadual de Cultura e situado no Ipiranga, bairro vizinho a Heliópolis. Foi ali que a companhia recebeu o diretor Mike van Alfen, do grupo holandês MC Theater, formado por jovens descendentes de imigrantes, para uma série de workshops como parte de um intercâmbio artístico internacional. O projeto resultou no espetáculo A Hora Final, apresentado por atores brasileiros e holandeses na sede do MC Theater, em Amsterdã.

E, em comemoração aos 15 anos de sua trajetória, marcada pela resistência artística e pela perseverança, a companhia realizou, em agosto de 2015, a 1ª Mostra de Teatro em Heliópolis, com o objetivo de oferecer um panorama dos espetáculos criados por grupos periféricos que desenvolvem suas atividades em comunidades populares na cidade de São Paulo.

A Companhia de Teatro Heliópolis foi contemplada pela 25ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo com o projeto Onde o Percurso Começa? Princípios de Identidade e Alteridade no Campo da Educação, com duração 12 meses, que resultou na montagem A Inocência do Que Eu (Não) Sei indicado ao Prêmio São Paulo de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem (2015) nas categorias Melhor Espetáculo e Prêmio Especial pela Pesquisa em escolas públicas de Heliópolis. Em 2016, estreou Medo, espetáculo baseia-se nos atentados de 2006 na cidade de São Paulo e traz consigo a memória de mulheres que perderam seus filhos, usando a carga semântica do casarão de três níveis (sede do grupo). Foi contemplada pela 28ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo com o projeto Microviolências e Suas Naturalizações.

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