Com
encenação de Miguel Rocha, montagem cumpre temporada de 3 a 25 de setembro na
sede do grupo, a Casa de Teatro Maria José de Carvalho.
O espetáculo Um
Lugar ao Sol, da Companhia de
Teatro Heliópolis, reestreia no dia 3 de setembro na Casa de Teatro Maria José de Carvalho (Rua
Silva Bueno, 1533, Ipiranga), em São Paulo. O enredo foi inspirado em histórias de vida de moradores de Heliópolis.
Com encenação de Miguel Rocha e texto de Willian Costa Lima, a montagem fica em
cartaz entre os dias 3 e 25 de setembro, sempre aos sábados (20h) e domingos
(19h). O elenco é formado pelos atores Dalma
Régia, David Guimarães e Klaviany Costa.
Um Lugar ao Sol foi construída a partir de um
processo colaborativo coordenado por Miguel Rocha, no qual os artistas
envolvidos no projeto realizaram intensa pesquisa pessoal em Heliópolis, zona
sul de São Paulo. O intuito foi a coleta de depoimentos de moradores sobre o
que seria “um lugar ao sol” para cada
um deles. O eixo dramático do espetáculo discorre sobre a vida de quatro
moradores de uma comunidade que, após vivenciarem acontecimentos marcantes,
buscam compreender o sentido de suas vidas no cotidiano. Embora as histórias
dividam um espaço comum, cada uma se propõe a narrar um sonho diferente.
Na encenação, a história de Eliete dos Cachorros fala do abandono familiar.
Ela é uma idosa esquecida pelos filhos que encontra em seus 11 cachorros a
possibilidade de construir uma nova “família”. A loucura e a imaginação são as
vias encontradas pela personagem para encarar a dor da realidade e,
ludicamente, construir sua família ideal. A personagem Juvenal é um pedreiro que durante anos cumpre metodicamente seu
ofício de construir casas, mas, em determinado momento, percebe-se só. O
talento para o trabalho se contrapõe à dificuldade em erguer uma sólida relação
afetiva com alguém, agravada pelo alcoolismo. A busca por um relacionamento que
preencha este vazio é o seu grande desafio.
Uma terceira história é
contada por todo elenco, não especificamente focada em um personagem, mas em um
discurso mais social e crítico: o da realidade dos jovens estudantes das
periferias. Trata-se de uma dolorosa e divertida epopeia em busca do ingresso
numa universidade. Por fim, o espetáculo retrata o assassinato da menina Leonarda, morta no caminho entre sua
casa e a escola. A narrativa, inicialmente, retrata o ponto de vista da mãe,
mas deixa de ser subjetiva à medida em que a comunidade se envolve no caso, diante
da dor dessa mãe. Embora não seja possível o
“lugar ao sol” da mãe ser
alcançado, o triste episódio uniu a comunidade em busca de um mesmo ideal: a paz.
Segundo o diretor Miguel
Rocha, “a junção das histórias acontece em uma estrutura fragmentada,
dispondo-se à construção de uma visão
híbrida e humana do que possa vir a ser um lugar ao sol para personagens
oriundos de uma realidade social desprivilegiada”.
Um teatro dos
tempos líquidos parece boa definição para o novo espetáculo da Companhia de
Teatro Heliópolis. Prosseguindo a linha de pesquisa dramática a partir de
experiências comunitárias, o grupo chega a um plano poético que nos leva a
muitas reflexões sobre a arte na cidade contemporânea. (...) Os intérpretes - Dalma Régia, Davi
Guimarães e Klaviany Costa - apropriaram-se dessas histórias, melhor dizendo:
dessas personas. Sente-se em suas performances a busca da verdade humana, que
seus próprios personagens perseguem. Estabelecem, desde o início, uma atmosfera
de medo, que faz lembrar os “tempos líquidos” de Zygmunt Balman. São flagelados
de uma cidade onde o medo, que também é líquido, escorre pelos becos e vielas.
O medo de um vulto na esquina. O medo do caminho entre a casa e a escola. O
medo dos ruídos, o medo dos olhares, o medo do que não se vê. (...)
- Sebastião Milaré
Ficha técnica
Encenação: Miguel
Rocha
Texto: William Costa
Lima
Elenco: Dalma Régia,
David Guimarães e Klaviany Costa
Direção musical:
William Paiva
Músicos: Caio Madeira
e Juan Rogers
Preparação corporal e
direção de movimento: Lucia Kakazu
Cenografia e figurino:
Clau Carmo
Realização e
produção: Companhia de Teatro Heliópolis
Serviço
Espetáculo: Um
Lugar ao Sol
Com Companhia de
Teatro Heliópolis
Reestreia: dia 3 de setembro. Sábado, às 20h
Casa
de Teatro Maria José de Carvalho
Rua Silva
Bueno 1533, Ipiranga/SP. Tel: (11) 2060-0318
Temporada: 3 a 25 de
setembro. Sábados (20h) e domingos (19h)
Duração: 65
min. Gênero: Drama. Classificação: Livre.
Ingressos:
Pague
quanto puder (bilheteria 1h antes das sessões)
80 lugares. Não possui acessibilidade, estacionamento e ar
condicionado.
Companhia de Teatro
Heliópolis
A
Companhia de Teatro Heliópolis surgiu no ano 2000, reunindo jovens da
comunidade, sob direção de Miguel Rocha e apoio da UNAS (União de Núcleos e
Associações de Moradores de Heliópolis e Região), com o objetivo de montar o
espetáculo A Queda para o Alto, baseado no romance homônimo de Sandra
Mara Herzer. Entre a primeira peça e os trabalhos mais recentes, foram 15 anos
de conquistas, dificuldades e aprendizados. "O teatro que optamos fazer
está em sintonia com nossas vidas, em profunda conexão com elas", afirma o
diretor.
A
companhia já realizou nove espetáculos, todos criados em diálogo com os anseios
e as vivências que permeiam a realidade de Heliópolis. Depois de A Queda
Para o Alto, vieram as peças Coração de Vidro (2004) e Os Meninos
do Brasil (2007). Entre 2008 e 2009, com o patrocínio da Petrobras,
foi iniciado o Projeto Arte e Cidadania em Heliópolis, visando o aprimoramento
artístico dos jovens atores, que se constituiu de quatro fases (formação,
pesquisa, criação e apresentação), com encontros diários e aulas dadas por
profissionais convidados. O projeto teve três módulos e cada um resultou em um
espetáculo: O Dia em que Túlio Descobriu a África (2009);
Nordeste/Heliópolis/Brasil – Primeiro Ato (2011) e Um Lugar ao Sol (2013).
Passaram pelo processo nomes como Silvana Abreu, Paulo Fabiano, Raquel Ornellas
e Marcelo Lazzarato, entre outros. Nesse período, a companhia também montou a
peça Eu Quero Sexo... Será que Vai Rolar? (2010).
Depois
de várias formações, a Companhia de Teatro Heliópolis é formada hoje pelo
núcleo central constituído por Dalma Régia, Davi Guimarães, Donizeti Bonfim e
Klaviany Costa, além do diretor Miguel Rocha, todos moradores da comunidade.
Desde 2010, a trupe ocupa sede própria: a Casa de Teatro Maria José de
Carvalho, um imóvel cedido pela Secretaria Estadual de Cultura e situado no
Ipiranga, bairro vizinho a Heliópolis. Foi ali que a companhia recebeu o
diretor Mike van Alfen, do grupo holandês MC Theater, formado por jovens
descendentes de imigrantes, para uma série de workshops como parte de um
intercâmbio artístico internacional. O projeto resultou no espetáculo A Hora
Final, apresentado por atores brasileiros e holandeses na sede do MC
Theater, em Amsterdã.
E,
em comemoração aos 15 anos de sua trajetória, marcada pela resistência
artística e pela perseverança, a companhia realizou, em agosto de 2015, a 1ª
Mostra de Teatro em Heliópolis, com o objetivo de oferecer um panorama dos
espetáculos criados por grupos periféricos que desenvolvem suas atividades em
comunidades populares na cidade de São Paulo.
A
Companhia de Teatro Heliópolis foi contemplada pela 25ª edição do Programa
Municipal de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo com o projeto Onde
o Percurso Começa? Princípios de Identidade e Alteridade no Campo da Educação,
com duração 12 meses, que resultou na montagem A Inocência do Que Eu (Não) Sei indicado ao Prêmio São Paulo
de Incentivo ao Teatro Infantil e Jovem (2015) nas categorias Melhor Espetáculo
e Prêmio Especial pela Pesquisa em escolas públicas de Heliópolis. Em
2016, estreou Medo, espetáculo baseia-se nos atentados de
2006 na cidade de São Paulo e traz consigo a memória de mulheres que perderam
seus filhos,
usando a carga semântica do casarão de três níveis (sede do grupo). Foi contemplada pela
28ª edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a cidade de São
Paulo com o projeto Microviolências e Suas Naturalizações.
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