Michel Yuri, Natália Lima, Zora Santos, Rubi Assumpção e Renato Ihu. Foto/Jerê Nunes. |
Em cena, Zora Santos, aos 70 anos, conduz um encontro no qual os seus saberes alquímicos e ancestrais sobre o uso dos alimentos, que nutrem, envenenam, curam e enfeitiçam, estão em um jogo de relações entre as suas memórias, seus sonhos e a influência intelectual dos povos indígenas e negros, no país em tensão com o próprio passado presente colonial do Brasil.
Por meio de uma multiplicidade de instrumentos culinários e musicais, que se confundem e se reinventam no fluxo de acontecimentos, o espetáculo performático cria uma instalação sensorial permeada por cheiros, toques, sabores e sons, instaurando um universo de possibilidades tecnológicas, estéticas, poéticas e políticas a partir da reunião de uma comunidade em torno do ato de cozinhar e comer junto. Nesse sentido, a obra reelabora as temporalidades vigentes para mostrar que nessa feitura coletiva são os outros inícios, outros meios e, principalmente, outros fins que interessam imaginar em um movimento em que as presenças se retroalimentam e se provocam para muito além de apenas comer, digerir e eliminar.
Para Zora Santos, que faz sua estreia como atriz em palco paulistano, O Fim É Uma Outra Coisa quer reverenciar a presença das mulheres negras nas cozinhas brasileiras - historicamente invisibilizadas no país. “Só sei demonstrar amor cozinhando”, afirma. O espetáculo não é uma narrativa linear e ficcional, e se organiza por meio de uma articulação de acontecimentos a partir dos saberes, das vivências e das memórias de Zora - que evoca as relações entre negrura, comida, música, arte negra e performance, tendo como inspiração os pensamentos da intelectual Lélia Gonzalez.
Dentro do espaço cênico intimista, os espectadores têm proximidade com o cenário/instalação e os demais elementos da cena, bem como do elenco liderado por Zora Santos e das musicistas e dos músicos Natália Lima, Rubi Assumpção, Renato Ihu e Michael Yuri. A música se relaciona com a presença de Zora nas cenas. As composições e a trilha sonora são originais, criadas na sala de ensaio em processo colaborativo, sob a direção musical de Maurício Badé. O cenário-instalação conta com uma obra de Lúcio Ventania, referência internacional como mestre bambuzeiro, criada especialmente para o cenário do espetáculo.
A diretora Grace Passô argumenta que “o espetáculo busca elucidar que a cultura negra e a indígena não estão em um lugar de contribuição, mas sim de estruturação da identidade brasileira”. Ambas mineiras, Grace conta sobre sua relação com o trabalho de Zora: “Minha admiração passa pelas suas articulações com os coletivos e artistas negros de Belo Horizonte e pela forma como se relaciona com a cozinha. Zora é uma artista que nos lembra que a cultura negra evidencia algo menos segmentado que a separação arte x vida. O elemento, a arte e a atuação estão sempre presentes, tudo convive em seu trabalho”. E completa: “cozinha e arte é o que representa a nossa cultura, fazem parte do ‘ser negro’, e Zora traz a comida como arte, a arte como alimento”.
Sobre a direção de O Fim É Uma Outra Coisa, Gabriel Cândido comenta: “Como a Zora é uma artista interdisciplinar, buscamos ser coerentes com sua trajetória. Entender esse espetáculo como uma instalação sensorial, como são as nossas cozinhas, esses lugares de encontros, com músicas, cheiros, sabores, temperaturas, temperos, vozes, sons... Isso foi fundamental para entender a dimensão, tanto festiva como de provocações, que queremos ter em cena”.
O Fim É Uma Outra Coisa é um espetáculo performático inédito, cujo projeto foi idealizado, em 2020, por Zora Santos. Desde então, seguiu em concepção e parceria com Lucas Ferrazza (produtor artístico e cozinheiro), Grace Passô e Dione Carlos, realizando algumas ações performáticas sobre os temas que a obra agora tem como objetivo abordar. Zora é presença relevante em eventos de culinária em Belo Horizonte, onde também desenvolveu o projeto Comida de Cerca que aborda a comida afro-mineira, sobre o qual ela metaforiza: “as cercas da minha infância eram comestíveis”, sem descartar que também refere-se às mudanças geográficas, importantes de serem discutidas.
FICHA TÉCNICA - Idealização e atuação: Zora Santos. Direção geral: Grace Passô e Gabriel Cândido. Direção musical: Maurício Badé. Direção de produção: Lucas Ferrazza. Dramaturgia: Dione Carlos e Zora Santos. Musicistas/músicos: Michael Yuri, Natalia Lima, Renato Ihu e Rubi Assumpção. Obra Cenográfica: Lúcio Ventania. Confecção da obra cenográfica: Cerbambu. Figurino: Zora Santos. Costureiro: Paulo Salai Rogério. Desenho de luz: Danielle Meireles. Operação de luz: Juliana Jesus. Desenho de som: André Papi. Operação de som: André Papi e Hugo Bispo. Traquitanas Sonoras: Teo Ponciano. Preparação vocal: Josyane Lopes. Identidade visual: Thaís Regina. Contrarregra: Diego Roberto e Leonardo Oscar. Beleza (fotos/divulgação): Rapha Cruz. Hairstyle (fotos/divulgação): Paola Ferreira. Fotografias: Jerê Nunes. Assessoria de imprensa: Eliane Verbena. Social media: Anderson Vieira e Suane Padilha. Coordenação de produção e produção de campo: Ketully Oliveira. Produção executiva: Corpo Rastreado e Casa Cume Produções. Realização: Sesc São Paulo.
Serviço
Espetáculo: O Fim É Uma Outra Coisa
Estreia: 9
de março de 2024 - Sábado, às 20h
Temporada: 9 de março a 7 de abril
Duração: 75 minutos. Gênero: Performático. Classificação: 14 anos.
Local: Arte II - 13° andar.
Ingressos: R$ 40,00 (inteira), R$ 20,00 (meia) e R$ 12,00 (Credencial Plena)
Vendas: a partir de 27/02 (online), às 17h, e 28/2 (bilheterias, às 17h.
Apresentações
09 e 10 de março - sábado e domingo
20 a 24 de março - quarta a domingo
27 a 31 de março - quarta a domingo (Não haverá sessão no feriado, dia 29/03)
05 a 07 de abril - quarta a domingo
Sessões com audiodescrição: 20 e 21/03
Sessões com intérprete de LIBRAS: 22, 23 e 24/03
Sesc Avenida Paulista
Avenida
Paulista, 119 - Bela Vista. São Paulo/SP.
Transporte
Público: Estação Brigadeiro do Metrô.
Tel.:
(11) 3170-0800.
Horário de funcionamento da unidade: Terça a sexta, das 10h às 21h30. Sábados, das 10h
às 19h30. Domingos e feriados, das 10h às 18h30.
Site: www.sescsp.org.br/avenidapaulista
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Facebook: @sescavpaulista | Instagram: @sescavpaulista | Youtube: @SescAvPaulista
Sinopse: Esta é uma viagem de sabores, cheiros e sons através do espaço-tempo de um universo em que matéria e sonho não se separam, assim como as dimensões de festa e guerra, veneno e antídoto, ervas e feitiços são, na verdade, ingredientes cortados com facas perigosas e temperados com boas doses da ironia da vida para serem jogados em um panelão, mexidos com uma colher de pau antiga e aquecido por máquinas que induzem o fogo. Embora essa mistura nunca esteja suficientemente pronta, ela será oferecida para quem quiser se alimentar. No entanto, este não será o fim.
A equipe
Zora Santos - Zora é atriz, cozinheira e pesquisadora de comida Afro Mineira, há 30 anos, realizando atualmente oficinas culinárias performáticas. Venceu concurso de modelos negras em 1972 em Belo Horizonte. Como atriz atuou nos filmes: Chico Rei - 1985; Os Inconfidentes - 1972; Pare e Siga - 2017; Vaga Carne - 2019. No teatro: O Relatório Kinsey - 1973; Orfeu -1974 e no projeto Segunda Preta - 2018. Na cozinha, em 1998, foi chef do Buffet La Fete - Belo Horizonte. Em Maio de 2000, promoveu o primeiro Jantar Afro-Mineiro da Capital. Participou de eventos como: Batuque Brasil - Sesc Tupinambás, Parque Municipal/BH (2000). Coordenou a barraca de Comida Afro-Mineira (2000) no Mercado da Lagoinha, em Belo Horizonte. Foi Instrutora de cursos de culinária no Mercado da Lagoinha (2000). Dirigiu o Bar Buteco da Zora (outubro de 2006 a julho de 2007), ficando em sexto lugar no Comida de Buteco - BH. Em São Paulo, foi destaque no Dona Ruth: Festival de Teatro Negro de São Paulo e realizou o evento Churrascada - de oficinas e performance relacionadas à gastronomia. Criou os projetos Comida de Cerca e Ano que Vem Eu Vou, este resultou no espetáculo O Fim É Uma Outra Coisa, agregando olhares de outros profissionais das artes. Em 2023, também pode ser vista na peça Sortilégios (direção de Adyr Assumpção) e no filme Levante, de Lillah Halla.
Grace Passô - Grace é atriz, diretora e dramaturga. Formada no CEFART BH. Parte de sua dramaturgia está publicada pelas editoras Cobogó e Javali e fora do Brasil, traduzida em seis idiomas. Foi cofundadora do grupo de teatro Espanca, companhia criada em BH no começo de 2000, no qual permaneceu por 10 anos. Recebeu diversos prêmios teatrais, entre eles Shell SP e RJ, APCA, APTR, Cesgranrio, Questão de Crítica e Prêmio Leda Maria Martins. No cinema, atuou nos filmes Praça Paris, No Coração do Mundo, Temporada e Vaga Carne. Recebeu prêmios de melhor atriz no Festival de Cinema Rio, Candango no Festival de Brasília e Festival de Turim (Itália), além do prêmio ABRA de melhor roteiro de curta-metragem, em 2021. Durante a pandemia, Grace criou as performances Frequência 2020; Ficções Sônicas 00, Ficções Sônicas 02 e o curta-metragem República (melhor curta brasileiro no Kinoforum), criações sobre as relações entre teatro e cinema, som e palavra, negritude e sociedade brasileira. Foi artista convidada na Bienal de SP 2021. Recentemente, foi premiada no Festival de Cinema do Rio e no Festival de Brasília pela atuação em O Dia que Te Conheci, de André Novais Oliveira; atuou na série Reencarne (Globoplay); dirige a peça Herança, sobre os 50 anos da trajetória de Maurício Tizumba, em BH; e pode ser vista no filme Levante, de Lillah Halla.
Gabriel Cândido - Gabriel Cândido atua como dramaturgo, diretor, performer e produtor. Autor das dramaturgias Nossa Conquista, publicada pela Editora Entremares (2022), Socorro! Tem uma cidade entalada na minha garganta, publicada pelo Grupo Editorial Letramento (2019), e Fala das Profundezas, publicada pela Editora Javali (2018), peça na qual também é diretor da montagem que estreou em 2022; diretor do show Corpo Desobediente (2023), de Marco Antônio Fera; roteirista de Queñual (2023) e diretor e roteirista de Ato Perene (2021), espetáculos da Cia Pé no Mundo de Dança; diretor e roteirista do curta-metragem Jardim Peri Alto em Cena (2019); autor das performances Rastros (2022) e Cuidado com Nós (2019). É idealizador do Dona Ruth: Festival de Teatro Negro de São Paulo, atuando também como diretor do evento; fundador e integrante do Núcleo Negro de Pesquisa e Criação (NNPC); formado pela SP Escola de Teatro no curso de Atuação (2015), instituição com a qual colaborou, entre 2021 e 2022, como artista orientador convidado. Atualmente, é estudante de História na Universidade de São Paulo (FFLCH/USP).
Dione Carlos - Dione Carlos é dramaturga premiada, roteirista, atriz e curadora. Possui vinte e cinco peças de teatro encenadas no Brasil e em países como Portugal, Inglaterra, EUA, México, Alemanha, Bélgica e Colômbia. Tem seis livros publicados, além de textos e artigos de sua autoria publicados em sites e revistas especializadas em dramaturgia e poesia. Ministra oficinas em diversos espaços culturais. Em 2019, representou o Brasil no Dia Internacional da Língua Portuguesa na Grécia, em Atenas, onde palestrou no Museu da Acrópole. Como roteirista atuou em canais como Disney Plus, GNT e Sesc TV. Atualmente, é roteirista contratada da Rede Globo, onde desenvolve séries e novelas.
Maurício BadéN - Maurício Alves de Oliveira é pernambucano de Recife. Ainda criança, passou a viver no alto Santa Terezinha, zona norte do Grande Recife, região famosa pela grande concentração de atividades populares. Convivendo num complexo de pequenas comunidades onde ocorrem diversas manifestações populares, sempre esteve presente a ensaios, arrastões ou apresentações de maracatus, caboclinhos, cocos, cirandas, afoxés e quadrilhas juninas. Participou ativamente desse contexto como músico e dançarino desde os 12 anos, adquirindo, assim, conhecimento prático e teórico com os mais diversos grupos de Recife e Olinda. Entre os muitos projetos e grupos nos quais atuou estão: Projeto Recriança (que trabalhava com crianças de comunidades carentes), Grupo Tradição e Raça Negra, Caboclinhos Canindé, Afoxé Odolu Pandá, Grupo Daruê Malungo, Bloco Afro Àgba Imalê, Afoxé Alafim Oyo, Banda Sinfônica da Unicap, Grupo de Percussão Angaatãnàmú, Conjunto João Pernambuco de Choro e Banda Sinfônica do CPCMR.
Lucas Ferrazza - Lucas Ferrazza é produtor cultural e cozinheiro. É idealizador da Cozinha Fermenta, onde pesquisa as Cozinhas Pretas Brasileiras. Integra a Adiposa Facção enquanto pesquisador acerca das gordidades. É produtor colaborador do Núcleo Negro de Pesquisa e Criação na área do teatro e audiovisual, da Agbalá Conta, Núcleo de Pesquisa e Narração de Histórias Pretas e do Dona Ruth Festival de Teatro Negro de São Paulo. Cursou Teatro - Licenciatura e Bacharelado pela UDESC 2011 (Florianópolis - SC) e Técnicas de Palco pela SP Escola de Teatro. Assistente de produção da 4 temporada da série Sintonia (Netflix); assistente de produção da série Beijo Adolescente (HBO MAX); assistente de produção da segunda temporada da série Cidade Invisível (Netflix); produtor executivo do espetáculo Arquivo Negro e websérie Traduções Simultâneas (Cia de Dança Pé no Mundo - SP), do espetáculo Fala das Profundezas (Núcleo Negro de Pesquisa e Criação), assistente de produção do Carnaval de Rua (Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo). Produtor executivo do espetáculo Arquivo Negro (Cia de Dança Pé no Mundo, São Paulo - SP, Curador e produtor executivo da Residência Cozinha Preta, da Cozinha Fermenta - Sesc Avenida Paulista). Produtor artístico na Cia Pia Fraus; produtor de set no documentário Essa Garota Chamada Marina (direção Candé Salles, Canal Curta). Programador e coordenador de programação teatral no Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros; Coordenador de produção e montagem da instalação em Folclore Digital (VJ Suave, na CAIXA Cultural SP e RJ). Produtor executivo do duo VJ Suave; Produtor executivo e produtor de set do documentário Projetos Juventudes (Norwegian Church Aid). Captador de recurso e coordenador de projetos na plataforma de crowdfunding SIBITE.
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