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Esther Góes responde...
Respondendo ao Jair Alves
Imensamente grata pela análise lúcida que você fez do nosso espetáculo “A Coleção”, de Harold Pinter, e pela avaliação, transformada em pergunta sutil, de por que montar Pinter e encarar a dificuldade de não montar alguma coisa bem mais “fácil”.
Você pergunta o que nos leva, no momento presente, a preferir mostrar a teia de mentiras e estranhos comportamentos “naturais” dos quatro personagens de “A Coleção” – para Pinter, talvez, um desenho da lógica do real convívio humano. Não seria melhor fingir que isso nem existe?
Respondendo, prefiro citar duas afirmações de Pinter sobre o Teatro e o que ele persegue. Como sempre, o conteúdo do trabalho e o contexto de sua realização se confundem.
Ele disse:
“O Teatro é essencialmente investigador. Nem mesmo o velho Sófocles sabia o que ia acontecer na próxima cena. Ele precisava encontrar o caminho num território desconhecido. Ao mesmo tempo, o teatro sempre foi um ato crítico, um amplo olhar para a sociedade em que vivemos, tentando refletir e dramatizar essas descobertas. Não estamos falando da lua. São escavações.”
E também:
“Não posso dizer que todo trabalho que escrevi é político. Mas eu sinto a questão de como o poder é usado, e de como a violência é usada, como se aterroriza alguém, como se subjuga alguém, isto sempre esteve vivo no meu trabalho”.
Por estas questões, da investigação humana em desconhecido território, e por uma posição permanentemente crítica diante da nossa realidade social, é que criamos “A Coleção”, e que continuaremos a por em cena desafios e perguntas a qualquer plateia que tenha o desejo de responde-las e queira permanecer viva.
Você faz parte dela.
Um grande abraço
Esther Góes
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