Previsto para terminar no dia 29 de junho, o
espetáculo Floema – em cartaz no Viga espaço Cênico - prorroga
sua temporada até o dia 5 de julho, terça-feira, às 21 horas. O texto é uma adaptação do diretor Donizeti Mazonas para texto
contido no livro Fluxo-Floema, de Hilda Hilst.
Nesta obra de ficção ocorre o embate entre o Homem e Deus, onde um evoca o outro: o Homem quer as respostas
e Deus lhe oferece as lacunas. As personagens são interpretadas,
respectivamente, por Flavia Couto e Maurício Coronado. A cenografia é assinada
pela artista plástica Suiá Burger Ferlauto.
Em Floema
estamos diante do criador e sua criatura em uma tentativa de diálogo. Koyo, o
Homem, carrega o peso do conhecimento, o peso de saber que a essência divina na
verdade é puro pó e, assim mesmo, aceita a vida e busca um sentido para ela.
Seu desejo é tocar a espessura de Deus (Haydum), mas, ao fazê-lo, só encontra o
vazio, o nada, o deserto ao seu redor. Koyo sobe todos os dias até o alto de
uma montanha e lá fica em sua solidão, esperando respostas, tentando enxergar a
face divina. Sua incansável busca por Deus não é pacífica, é árdua. Koyo não
possui essa serenidade dos teólogos, mas sim o desconforto dos filósofos. Ele
clama, blasfema, e fracassa. Não há resposta concreta, só as lacunas. Haydum,
no entanto, em seu monólogo, afirma que nada sabe do homem, e que mesmo quando
descansa sofre da angústia de ser. Haydum-Deus, também tenta
compreender o homem e o mundo que criou para este.
Donizeti Mazonas explica que a peça já
começa com as personagens no limite da ação. “Não há desenvolvimento de enredo,
o auge é já está lá, no início. A encenação ocorre em dois planos, um vertical
onde está Koyo-Homem, preso a um pau-de-sebo (tranças douradas) e outro
horizontal, onde está Haydum-Deus, no chão em meio a uma espiral feita com
terra (palmas de mãos postas enfileiradas).
A cenografia, criada a partir de uma
instalação “Duas Palmas” de Suiá Ferlauto, representa o cerco do confinamento, onde o barro é
elemento fundamental dentro imagem arquetípica da concepção humana:
“do barro fez se o homem” (Genesis). Outros elementos primitivos reforçam a
simbologia da peça: o cerco representa a limitação da existência e o
pau-de-sebo, o elo entre o divino e o humano.
De caráter performático, Floema
explora os recursos do corpo e da voz dos atores com forte interação do teatro com
a dança e com as artes plásticas, tendo as personagens sempre em local de não
estabilidade, como se um fosse extensão do outro. “O Deus de Hilst não vive no
alto, está mais próximo do grotesco que do sublime. Suas divindades são mais
dionisíacas que apolíneas”, argumenta Donizeti. O próprio
termo “floema” significa, em botânica, fluidos de cima para baixo.
A constatação da morte é avassaladora para
koyo. Floema permeia a loucura questionadora e transgressora do
homem em sua condição bestial de condenado que recusa se adaptar à inevitável
finitude da matéria. Segundo o diretor, a sensação de confinamento é uma
provocação à reflexão sobre a liberdade, sobre as opções do homem em um mundo
construído por ele mesmo com paliçadas. O texto não aponta soluções, pois o
conflito surge da recusa da personagem em se enquadrar aos limites de sua vida
ordinária; pelo contrário, Koyo se depara com o abissal: sua natureza dual –
divina e animal.
Para abarcar toda a densidade e
poesia dessa obra-prima de Hilst, escrita em 1970, e seus potentes jogos de
linguagem, solilóquios incomunicáveis entre si, o diretor e os atores expõem a
necessidade de trazer a palavra para a carne, pois a escrita hilstiana pede
corpo, pede vísceras, e a dramaturgia corporal tem que ser integrada ao texto. O espetáculo busca traduzir cenicamente o trânsito entre estilos e
gêneros no qual escritora construiu sua obra, apontando para um formato que não
se molda aos parâmetros da cena dramática convencional, mas que se instaura no
limite entre os gêneros.
O projeto Floema – que nasceu do
encontro de Flavia, Donizeti e
Maurício, incansáveis pesquisadores da obra de Hilda Hilst, e do ensejo de realizar um espetáculo
que unisse as dramaturgias do corpo e texto – foi viabilizado com o apoio do
ProAc, Programa de Ação Cultural da Secretaria de Cultura do Estado de São
Paulo.
Ficha técnica
Texto: Hilda Hilst
Adaptação e direção: Donizeti Mazonas
Elenco: Flavia Couto e Maurício Coronado
Cenografia: Suiá Burger Ferlauto
Figurinos: Donizeti Mazonas
Música original: Gregory Slivar
Designer de iluminação: Hernandes de
Oliveira
Produção executiva: Flavia Couto e Maurício Coronado
Produção: Maya Produções
Apoio: ProAc
Serviço
Viga Espaço Cênico
(sala: Piscina)
Rua
Capote Valente, 1323. Sumaré/SP. Tel: (11) 38011843
Ingressos:
R$ 40 (meia: R$ 20)
Temporada:
segunda a quarta, às 21 horas. Até dia 5/7.
Gênero:
Drama. Classificação etária: 14 anos. Duração: 55 min.
Capacidade: 40
lugares. Bilheteria: 1h antes das sessões.
Aceita cheque e
dinheiro. Ar condicionado. Venda online.
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