O espetáculo As Irmãs Siamesas,
texto de
José Rubens Siqueira interpretado por Cinthya Hussey e
Nara Marques, encerra temporada no dia 2 de dezembro,
domingo, no Teatro Aliança Francesa,
às 19h. A peça – dirigida por Sébastien
Brottet-Michel,
diretor francês e ator do Théâtre du Soleil - revela a complexidade e ternura da alma feminina, inserida
na relação familiar, a partir do reencontro de duas irmãs, após a morte da mãe.
As Irmãs Siamesas foi escrita em 1986, rendendo o Prêmio APCA de Melhor Autor a Siqueira.
As particularidades da alma humana, a personalidade e a individualidade
aparecem de forma natural e contundente no reencontro de Marta e Maria.
A morte da mãe provoca o encontro
e o confronto entre Marta, a irmã mais velha e cuidadora da mãe, e Maria, que
partiu para uma vida nova em São Paulo. Frias e distantes, elas entram em casa
envoltas pelo incômodo da presença uma da outra e precisam reaprender a se
comunicar. As lembranças são inevitáveis. Cada memória vem carregada de rancor,
mágoa, acusação ou mesmo ternura, leveza e humor. O passado é o fantasma de
Marta que acredita não ter tido a oportunidade de ser feliz, obrigada a
permanecer numa cidade do interior, carregando a responsabilidade da mãe doente
sem opção de viver a própria vida. Agora, sente-se ainda mais perdida, sem a
mãe e sem
o filho que vive fora do país.
É preciso restabelecer os
laços, a ligação fraterna que se perdeu. Os diálogos evoluem na mesma proporção
das emoções. A muralha vai sendo transposta à medida que as questões vão sendo
expostas, colocando-as numa posição de maior proximidade. O encontro é permeado
por momentos de ternura e delicadeza, outros de raiva e até violência, até
revelar os detalhes da vida de cada uma.
A magia de As Irmãs
Siamesas está na simplicidade em como apresenta
duas personalidades tão distintas na superficialidade e tão similares no
íntimo. O afeto é o frágil elo que une Marta - mulher forte, severa, amarga e
retraída, mas que comove por sua naturalidade - e Maria - jovem urbana, ousada,
instintiva e de alma livre. Ao espectador cabe a imersão nessa história
sensível que discute o tempo por meio das relações familiares e das
consequências das escolhas do passado, ampliado pela ótica do feminino.
Sobre a direção, Sébastien Brottet-Michel diz que
o fundamental é expor as características das personagens. “O caminho não é a
busca psicológica dessas características, mas a imaginação, tanto a minha
quanto a das atrizes, sobre o que é necessário para contar a história. O corpo
do ator deve ser uma entidade que recebe a personagem; o psicológico vem pelo
estado do corpo e da imaginação”. Sébastien afirma que não importa a
interpretação propriamente dita, mas o fato de que as atrizes vivam,
literalmente, as mulheres do texto com a máxima verdade. Segundo ele, o
espectador precisa ler o corpo do ator a partir da possibilidade que o ator lhe
dá. “Buscamos pelo melhor momento, pelo estado que trouxe a verdade para
encantar a realidade por meio do deslocamento poético. Isto é percebido pela
respiração, pela tensão interior. A emoção vem das descobertas em cena. E o
drama é vivo: oferece-nos estados e diferentes possibilidades”. E com relação
ao texto de José Rubens, o diretor
diz que espera que o público se reconheça nas personagens, pois “o luto é
inerente a todos, e a morte do pai ou da mãe é como um muro que desaba,
trazendo a consciência da nossa própria finitude”.
O Brasil não é novidade para o
diretor Sébastien
Brottet-Michel. Há 10 anos, ele se apresenta no país com o Théâtre
du Soleil. “Cinthya e eu estivemos juntos em vários projetos, sempre pensamos
em realizar um espetáculo e agora aconteceu”. Para Cinthya
Hussey, a direção de Sébastien fez um ajuste fino na obra de José
Rubens Siqueira que se encaixa perfeitamente nas emoções das cenas. “A preparação
foi um trabalho muito difícil e muito rico até chegarmos ao ponto pretendido
por ele; aquele ponto onde o corpo diz uma coisa e o texto diz outra. E o
coração? Ele também diz outra coisa”, comenta a atriz.
Cinthya conta que teve contato com
o texto, em 2005, e já pensava em montá-lo. Fez algumas leituras e, em 2009,
conheceu Nara, passando a compartilhar com ela, desde então, o desejo de levar As
Irmãs Siamesas para o palco. “Pensei em Sébastien para dirigir essa peça
porque admiro a forma como ele nos traz as imagens, fazendo a transição do real
para o poético. Ele nos guia e nos insere no universo proposto pelo autor sem
precisar do realismo material, penetrando nas camadas mais profundas das
personagens”, revela a atriz.
Para Nara Marques, ter um texto brasileiro
encenado com um olhar europeu é um privilégio, depois de anos à espera de
concretizar esse sonho. Ela conta que, para ela, o trabalho foi muito
desafiador e a tirou da zona de conforto: “Sébastien me pediu para transpor a
vida, transpor o realismo para dentro da poesia e só assim cheguei a um lugar
que eu não conhecia”. E completa afirmando que “esse processo foi fundamental
para potencializar um texto cheio de humanidade e intensidade nas relações”.
E o autor José Rubens Siqueira também fala
sobre a montagem de seu texto, mais de 20 anos após ser concebido. “Sempre que
um autor vê seus personagens saltarem da página e ganharem corpo e voz sobre o
palco, renova-se a fé na arte como instrumento de mudança pessoal e social. A
sensibilidade e coragem dessa equipe jovem e talentosa é um alento neste
momento sombrio que vivemos”.
A cenografia de As Irmãs
Siamesas, assinada por Marisa Rebollo, também é cheia de poesia e foge do
realismo: apresenta um baú dentro de outro baú para transparecer as diversas
camadas da relação entre as irmãs. O baú é a
simbologia da mãe, da vida, da morte, podendo representar as prisões internas,
as lembranças guardadas, o túmulo. O estado interior das personagens é
potencializado pela iluminação de Rodrigo Alves (Salsicha) e pela trilha sonora original de Wayne Hussey,
conhecido cantor, guitarrista e compositor da banda inglesa The Mission.
Ficha técnica - Texto: José Rubens
Siqueira. Direção: Sébastien Brottet-Michel. Elenco: Cinthya Hussey e Nara
Marques. Cenografia: Marisa Rebollo. Figurino e Visagismo: Kene Heuser. Iluminação:
Rodrigo Alves ‘Salsicha’. Trilha sonora e sonoplastia: Wayne Hussey. Produção
executiva: Maristela Bueno. Assistente de direção: Thiago Lima. Assistente de
produção: Sabrina Nask. Assistente de figurino: Léo Sgarbo. Cenotécnica:
Armazém Cenográfico. Design gráfico: Francisco Júnior (Juh Ninho). Fotografia:
Heloísa Bortz. Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação. Produção: Daniel
Torrieri Baldi. Realização: Ecoman Produções Artísticas
Espetáculo: As Irmãs Siamesas
Temporada:
5 de outubro a 2 de dezembro de 2018
Horários:
sextas e sábados (às 20h30) e domingos (às 19h)
Duração:
80 min. Gênero: Drama. Classificação: 14 anos
Ingressos: R$ 40,00 (meia entrada: R$ 20,00). Bilheteria: 2h antes das sessões
Teatro
Aliança Francesa
Rua
Gen. Jardim, 182 - Vila Buarque. São Paulo - SP
Telefone: (11) 3572-2379
230 lugares.
Ar condicionado. Acessibilidade.
Fotos de Heloisa Bortz |
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