Hugo Possolo, Renata Zhaneta e Edgar Bustamante Foto de Renato Caldas |
Inédita no Brasil, a
comédia clássica Jacques e Seu Amo, única peça teatral do autor
de A Insustentável Leveza do Ser, o tcheco Milan Kundera, ganha a
primeira montagem brasileira pelas mãos do diretor Roberto Lage. A estreia
acontece no dia 9 de outubro, sexta-feira, no Centro Cultural Banco do
Brasil São Paulo, onde fica em cartaz até o dia 13 de dezembro.
No enredo, dois
homens - amo e seu criado - estão numa viagem a pé para um destino que só é
revelado no final. Eles vão rememorando suas aventuras e desventuras amorosas,
descritas de tal forma que, atualmente, poderiam ser consideradas politicamente
incorretas. A ação se passa no século XVIII, porém não há nenhum rigor quanto à
época ou estilo da comédia.
O elenco é formado
pelos atores Hugo Possolo, Edgar Bustamante, Renata Zhaneta,
Ando Camargo, Greta Antoine, Angelo Brandini e Felipe
Ramos. Sendo esta a primeira vez que o “parlapatão” Possolo é dirigido por
Roberto Lage. A ficha técnica tem Fabio Namatame no figurino, Kleber
Montanheiro no cenário, Wagner Freire na iluminação e Dr Morris
na trilha sonora.
Este é um projeto do
diretor Roberto Lage que vem, há mais de 50 anos, criando, produzindo e encenando
espetáculos, ininterruptamente. Para ele, “talvez esta seja a mais
revolucionária das obras de Kundera, e ainda inédita no Brasil”. Baseada em Jaques,
Le Fataliste, de Denis Diderot, este é, para o autor, um romance que
desafia todas as regras de composição do ponto de vista de um
"romance-jogo", e que busca uma liberdade formal estranha ao seu
tempo, mas herdeira da consagrada tradição da comédia clássica ocidental, pós
Idade Média, onde as mazelas do homem, com todas as suas idiossincrasias, estão
presentes. Escrita em 1971, o diretor tomou conhecimento da peça nos anos 80 e,
desde então, alimentava o desejo de montá-la. “Gosto muito da sua dramaturgia,
da reflexão sobre o comportamento hipócrita do homem na sociedade”, comenta.
Em Jacques e
Seu Amo a ação é constantemente interrompida e se passa em dois tempos
(passado e presente) que várias vezes se misturam. Os personagens também
criticam a “mediocridade” do autor, entram nos papéis uns dos outros e comentam
a peça. O texto é estruturado em três tragicomédias amorosas, no fatalismo
determinista de Jacques e no erotismo. As histórias ocorrem simultaneamente e
prendem a atenção do espectador pelo dinamismo com que os personagens as narram
e vivenciam, pelos diálogos cruzados que culminam sempre em um comportamento
hipócrita que atravessa as duas classes sociais. O criado Jacques conta como
foi que perdeu a virgindade; o fidalgo lembra a traição da amada com seu melhor
amigo; e a Taberneira conta a história de uma Duquesa vingativa que ilude seu amante
e o leva a se casar com uma prostituta. Tudo é apresentado com humor clássico,
sem nenhum rigor, onde os estilos se misturam.
O figurino segue a
referência da época em que a história se passa, mas com tal não se prende a
nenhuma formalidade misturando as épocas. A concepção do cenário parte do
conceito de um espaço “vazio” que dialoga com a questão do destino não revelado
pelo texto. Escadas que não levam a lugar algum circundam o ambiente, cujo chão
traz uma textura de sobreposição de papeis, reforçando a indefinição do lugar.
Sobre Jacques e
Seu Amo ser a única peça de Milan Kundera, Roberto Lage conta que na
época da ocupação soviética na Tchecoslováquia, o escritor foi convidado para
criar uma versão para obra do russo Dostoiévski,
mas se recusou. Foi quando propôs que a história fosse Jaques, Le Fataliste,
justamente pelo seu teor crítico. “O Jaques de Kundera quebra as regras da
sociedade em que se passa a ação, onde as pessoas não tinham a possibilidade de
alterar seu status social”. Lage ainda finaliza: “em tempos modernos é
delicioso trabalhar com um texto politicamente incorreto, um texto humanamente
e naturalmente incorreto”.
Ficha
técnica
Espetáculo: Jacques
e Seu Amo
Texto: Milan Kundera
Tradução: Aline Meyer
Direção: Roberto Lage
Assistência de
direção: Juliana Garavatti
Elenco: Hugo Possolo
(Jacques), Edgar Bustamante (Amo),
Renata Zhaneta (Taberneira / Marquesa), Ando
Camargo (Saint-Ouen / Bigre Pai), Greta
Antoine (Justine / Filha), Angelo Brandini (Bigre Filho / Comissário) e Felipe Ramos (Marquês).
Figurinos: Fabio
Namatame
Cenografia e
adereços: Kleber Montanheiro
Iluminação: Wagner
Freire
Trilha sonora: Dr
Morris
Fotos: João Caldas
Projeto gráfico:
Heron Medeiros
Vídeos: J. P. Rezek e
Graziela Barduco
Direção de produção:
Maurício Inafre
Produtor executivo:
Regilson Feliciano
Assistência de
produção: Jô Nascimento
Assessoria de
imprensa: Eliane Verbena
Roberto
Lage
- diretor
Roberto Lage começou a carreira de diretor,
em 1969, no teatro amador. Em 1974 dirigiu seu primeiro sucesso, Mrozek,
reunião dos textos Strip Tease e Em Alto Mar, de Slawomir Mrozek.
Com o espetáculo A Flor da Pele, de Consuelo de Castro, recebeu o Prêmio
Molière de melhor direção. Em 1993 dirigiu, em Portugal, Para Tão Longo Amor
de Maria Adelaide Amaral. A montagem de Clips e Clops, uma colagem de
quadros clássicos de clowns, rendeu-lhe o prêmio APCA de melhor diretor, em
1998, ano em que ao lado do ator Celso Frateschi funda o Ágora – Centro para
Desenvolvimento Teatral. Em 2002 dirigiu A Mandrágora, de Maquiavel,
para o projeto de formação de público da Secretaria Municipal de Cultura, com
curadoria de Gianni Ratto. No ano seguinte levou à cena Orgia, de Pier
Paolo Pasolini, uma produção do CCBB, além de Distante, de Caryl
Churchill, e Quase Nada, de Marcos Barbosa, textos desenvolvidos no
Royal Court Theatre, centro britânico que promove intercâmbio entre a
dramaturgia inglesa e autores de outros países (produção do Teatro Popular do
SESI). No mesmo ano estreou no Ágora a montagem inédita Os Justos, de Albert
Camus, e a seguir dirigiu Celso Frateschi em Sonho de Um Homem Ridículo,
de Dostoievski, Ricardo III, de W. Shakespeare, espetáculos produzidos
pelo Ágora.
A Flauta Mágica, adaptação de Vladimir
Capela, foi a sua primeira direção em 2007, numa produção do Teatro Imprensa e
Centro Cultural Grupo Silvio Santos. Em 2008, voltou a Portugal para dirigir Um
Merlin, de Luis Alberto de Abreu, uma produção da Seiva Trupe de Portugal.
De volta ao Brasil, o desafio foi a adaptação da obra de Milton Hatoum, Dois
Irmãos (produção do CCBB) e, em 2010, dirigiu a comédia Escola de
Mulheres, de Molière, e o monólogo Dos Escombros de Pagu, de Tereza
Freire, uma homenagem ao centenário de Pagu. Em 2011 dirigiu a ópera Carmen,
de G. Bizet, no Theatro São Pedro/SP, os espetáculos Espartilho, de José
Antônio de Souza, E o Vento Não Levou, de Ron Hutchinson, e Francesca,
de Luís Alberto de Abreu (produção própria). Em 2012, assinou a direção do
musical Enlace, da obra de Karol Wojtyla com dramaturgia de Elísio Lopes
Junior, da peças Quarto 77, de Leonardo Alckmin, do musical infantil TicTic
Tati, com textos de Tatiana Belinky e músicas de Helio Ziskind. Em 2013,
destaque para a direção de Coração Bandoleiro, de José Antônio de Souza,
e no ano seguinte dirigiu a comédia Toda Donzela Tem Um Pai Que é Uma Fera,
de Gláucio Gill, o monologo Não Existe Mulher Difícil, texto de André
Aguiar Marques e adaptação de Lucio Mauro filho com o ator André Bankoff, e A
Dama de Negro, de Stefhen Mallatrat.
Milan
Kundera -
autor
Autor de romances,
volumes de contos, ensaios, uma peça de teatro e alguns livros de poemas, Milan
Kundera, nascido na República Tcheca e naturalizado francês, é um dos maiores intelectuais
vivos. Hoje com 85 anos, ficou especialmente conhecido por aquela que é
considerada sua obra-prima, A Insustentável Leveza do Ser, adaptada ao
cinema por Philip Kaufman, em 1988. Vencedor de inúmeros prêmios, como o Grand
Prix de Littérature da Academia Francesa pelo conjunto da obra e o Prêmio da
Biblioteca Nacional da França, Kundera costuma figurar entre os favoritos ao
Nobel de Literatura. Seus livros já foram traduzidos para mais de 30 línguas.
Entre suas principais obras constam os romances A Valsa do Adeus, A
Imortalidade, A Identidade, A Ignorância e A Festa da
Insignificância. Kundera também publicou ensaios, contos e poesias e a peça
teatral em três atos Jacques e Seu Amo, em homenagem a Denis Diderot.
Serviço
Temporada: 9 de outubro
a 13 de dezembro
Centro Cultural Banco do
Brasil
Rua Álvares Penteado,
112. Centro/SP. Tel: (11) 3113.3651/52 - Metrô Sé e São Bento
Horários: quinta a
sábado (às 20h) e domingo (19h)
Sábado (10/10) não
haverá sessão.
Ingressos: R$ 10,00
(meia R$ 5,00) - Bilheteria: das 9 às 21h, de quarta a segunda.
Gênero: Comédia
clássica. Duração: 90 min. Classificação: 14 anos
Acesso e facilidades p/
pessoas com deficiência física.
Estacionamento conveniado: Estapar (R.
Santo Amaro, 272) - R$ 15,00 pelo período de 5h (necessário validar o ticket na
bilheteria do CCBB).
Transporte grátis até as
proximidades do CCBB: embarque e
desembarque na R. Santo Amaro, 272, e na R. da Quitanda, próximo ao CCBB. No
trajeto de volta, tem parada no Metrô República.
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