quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Peça de João Fábio Cabral reflete sobre o tempo de parar, necessário para seguir em frente

Com direção de Fabiana Carlucci, a montagem Um Passo Atrás é um projeto da atriz Camila Graziano.

O espetáculo Um Passo Atrás, do dramaturgo João Fábio Cabral, estreia no dia 25 de setembro, sexta-feira, no Instituto Cultural Capobianco, às 21h30. Com direção de Fabiana Carlucci, a peça tem em cena os atores Camila Graziano e Zemanuel Piñero.

O enredo conta a história de Vick que, após a morte de sua mãe, retorna à casa de sua infância para resolver uma simples questão burocrática. Seu encontro com o inquilino Jorge, um artista plástico, traz à tona um passado cheio de segredos e um desfecho com revelações surpreendentes.

O texto foi escrito sob encomenda, a partir de um argumento elaborado por Camila Graziano, em parceria com a diretora. O ponto de partida de Um Passo Atrás é o luto com suas infinitas possibilidades, inevitável sempre que há o fim de uma relação, seja ela amorosa, profissional ou familiar. “O João Fábio conseguiu captar a essência do que Camila queria abordar nesse trabalho e escreveu uma história que reflete sobre o que é essencial à vida, como nos momentos em que, para seguirmos adiante, precisamos dar um passo para trás, rever nossa história e resgatar o que realmente é importante”, comenta Fabiana Carlucci.

Vick é uma mulher pragmática que obteve sucesso na carreira profissional fora do Brasil, mas guarda a frustração de não ter se dedicado também ao lado artístico. A peça começa no exato momento da morte de sua mãe, quando ela volta ao Brasil e descobre que está grávida. É preciso resolver questões burocráticas de herança, motivo que a faz retornar à casa onde viveu sua infância. Ela então conhece o inquilino Jorge, um artista plástico que a confunde com a dona de uma galeria com quem conversou ao telefone e que pode ser a sua salvação nesse momento. A possibilidade de expor as obras lhe devolve o entusiasmo e lhe traz expectativas. Mas o que parece ser um simples equívoco toma outras proporções: duas personalidades de universos completamente opostos se encontram, um passado comum vem à tona e juntos eles podem encontrar um novo caminho.

A direção de Fabiana busca construir a pulsação, a descoberta dessa relação. “Os silêncios, o significado de cada gesto, tempo de cada respiração são detalhes explorados, pois é nesse ‘tempo’ que conhecemos a essência das coisas, a transição de um estado para outro e construímos nossas conexões”, explica. A diretora ainda diz que a direção deve fazer com que todas as outras funções sejam harmônicas para que os atores mergulhem no universo das memórias dessas personagens. “A peça tem três momentos muito bem construídos: o primeiro da confusão entre dois estranhos, o segundo de um possível reconhecimento e o terceiro da revelação”.

O tom realista de Um Passo atrás não nos afasta de uma construção idílica desse ambiente, já que o próprio texto condensa muitas reviravoltas e catarses. “A lacuna da paternidade vivida por Vick, que agora se vê na mesma situação em relação à sua gravidez e ao pai de seu filho, nos remete à teoria do Eterno Retorno, de Nietzsche, que diz respeito aos ciclos repetitivos da vida. Estamos sempre presos a um número limitado de fatos; fatos esses que marcaram o passado, ocorrem também no presente e se repetirão no futuro.  A opção nesse caso, na obra do dramaturgo João Fábio Cabral, é o resgate dessa história na possibilidade de resignar-se e seguir adiante, não sem antes dar um passo atrás”.

Essa complexa linha da memória que conduz a peça mostra que nenhuma relação é capaz de definir a totalidade das impressões pelas quais nos afeta. "Quantas vezes ouvimos alguém, que passa por uma fatalidade, dizer que vive um pesadelo? É como um se o tempo real se desconstruísse e imediatamente ganhasse outra forma, outro ritmo. Em Um Passo Atrás, Vick é arrebatada por um signo de infância que reconstrói sua memória e a coloca em outro lugar, em outro estado, e é a partir das revelações involuntárias de Jorge que tudo ganha novo significado”, reflete Fabiana.

A diretora explica que a concepção da montagem vibra na relação do antigo com o novo, no choque entre o que fica no tempo em contraponto com o efêmero da atualidade que é trazido por Vick. O trabalho com os atores passa pela contradição desses universos para levar à cena a relação das personagens, a partir de suas histórias pregressas.

A trilha sonora (de Fernanda Galetti) é composta por boleros, ruídos de chuva e sons não diegéticos. O cenário (de Rogério Harmitt) é realista, considerando que a ambientação é da casa desse artista plástico caótico. A luz (de Ricardo Silva) desenha o ambiente e dá temperatura aos climas estabelecidos nessa relação. “Tudo muito simples no sentido da unicidade. Nada como ornamento, tudo a serviço dos atores”. Finaliza a diretora.

A relação profissional entre Fabiana Carlucci, João Fábio Cabral e Camila Graziano vem desde o final dos anos 90. A diretora e o dramaturgo já realizaram juntos cinco trabalhos: Notícias de Morte, Flores Brancas, Me Leva Pra Casa e Karina e a Comida do Brasil. Fabiana é também cineasta, sendo que os curtas-metragens que dirigiu têm roteiros assinados por João Fábio.

Ficha técnica

Espetáculo: Um Passo Atrás
Texto: João Fábio Cabral
Direção: Fabiana Carlucci
Elenco: Camila Graziano e Zemanuel Piñero
Cenário e figurinos: Rogério Harmitt
Som: Fernanda Galetti
Luz: Ricardo Silva
Direção de movimento: Vinicius Francês
Projeto gráfico: Alex Missaka
Fotos: Fernando Gardinali
Assessoria de imprensa: Eliane Verbena
Produção: Camila Graziano

Serviço

Estreia: 25 de setembro. Sexta, às 21h30
Instituto Cultural Capobianco - Teatro da Memória
Rua Álvaro de Carvalho, 97 – Centro/SP – Tel: (11) 3237-1187
Temporada: quintas e sextas (às 21h30) – Até 30/10
Ingressos: R$ 40,00. Duração: 60 min. Gênero: Drama. Classificação: 12 anos
Capacidade - 80 lugares. Site: www.institutocapobianco.org.br
 Bilheteria: 1h antes do espetáculo.  Ar condicionado.
Aceita dinheiro e cartão. Antecipados: www.compreingressos.com

PERFIS

Fabiana Carlucci - diretora

Fabiana Carlucci, 34 anos, estudou teatro no CPT – Centro de Pesquisa Teatral Antunes Filho, na Escola de Teatro Ewerton de Castro e Teatro Escola Célia Helena. Foi fundadora da Companhia Em Nome das Coisas Boas com a qual atuou realizou três espetáculos adultos e seis infanto-juvenis.  Atuou como produtora de elenco na Mamberti Produções no espetáculo Os Penetras, de Mike Leigh, e no festival Ticket é Cultura. Como sócia proprietária do espaço Fuá Cultural organizou intervenções artísticas como shows, peças teatrais, vernissages, lançamentos de livros e leituras dramáticas. Como atriz, atuou em Medéia (de Eurípedes, direção Antunes Filho), No Recreio… Garotos e Garotas Procuram, Cena Jovem e E Agora, é a Hora?  (textos autorais, escritos em parceria com João Fábio Cabral, direção Rogério Harmitt), Em Nome das Coisas Boas, Distante e Um Inesquecível Presente de Quinze Andares (direção Rogério Harmitt, textos de João Fábio Cabral), Bem de Longe um Bolero (direção Régis Trovão, texto de João Fábio Cabral), A Festa de Abigaiu (direção Mauro Baptista Védia, texto de Mike Leigh), Piscina (sem água) (direção Felícia Johansson, texto de Mark Ravenhill; montagem vencedora do 14º Cultura Inglesa Festival de Teatro de São Paulo) e Quem Tem Medo do Escuro? (direção Evandro Rigonatti, texto de Márcio Araújo e Fernanda Morais). Como diretora, seus trabalhos são: Flores Brancas (2008, direção em parceria com Rogério Harmitt), O Tempo, O Não e Eu! (2009), Karina e a Comida do Brasil (2010), Me Leva Pra Casa (2010), Notícias de Morte (2012) – todos de João Fábio Cabral. No campo do cinema dirigiu os curtas-metragens Vazio (experimento vídeo dança), Gotas e Triste Felicidade (roteiros de João Fábio Cabral) e Do Outro Lado (de Victória Dafner). Atualmente, Fabiana curas Cinema e Áudio Visual da Faculdade Anhembi Morumbi.

João Fábio Cabral – autor

Natural de Ipanguaçu/RN, João Fábio Cabral - dramaturgo, ator, diretor e roteirista – reside em São Paulo. Foi integrante do grupo Cemitério de Automóveis, onde participou de vários espetáculos. Reconhecido representante da dramaturgia contemporânea, mais de 20 textos seus já fora encenados, entre eles: Rosa de Vidro, Flores Brancas, Um lugar Que Nunca Tive, Delicadeza, Tanto, Um Verão Familiar, Aguardo Notícias da Polônia, Sobre a Neve em Frente à Torre Eiffel, Me Leva Pra Casa e Distante. Lançou pela NVersos Editora o livro Cinzeiro - 17 Obras de João Fábio Cabral, que reúne algumas de seus textos teatrais mais importantes. Como roteirista, assina, ao lado de Leandro Godinho, o curta-metragem Darluz - adaptação da obra de Marcelino Freire com direção de Leandro Godinho, ganhador de 35 prêmios, entre eles de Melhor Roteiro nos Festival de Pernambuco e Rio Grande do Sul. Entre outros, dois curtas foram roteirizados por ele, Gotas e Triste Felicidade, dirigidos por Fabiana Carlucci.

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