Fotos de Eliana Souza |
A violência contra a
mulher é o mote do projeto idealizado por Darson Ribeiro, que realiza residência
artística na SP Escola de Teatro, em setembro, com temporada do espetáculo e uma
série de encontros com convidados especiais para discutir o tema. São eles: Henrique Fogaça, Sérgio
Roveri, Paulo Betti, Eloisa Vitz, Aimar Labaki, Malcolm Montgomer, Kátia Boulos,
Luana Piovani e Carla Boin.
Depois
da primeira temporada, em janeiro, quando foi realizado dentro do Antiquário Verniz,
O Orgulho da Rua Parnell, de Sebastian Barry, reestreia no dia 2 de setembro
(sábado, às 21h) na SP Escola de Teatro. Esta primeira montagem brasileira tem tradução e direção assinadas
por Darson Ribeiro.
A
peça é uma compilação de monólogos interconectados – interpretados por Alexandre
Tigano e Claudiane Carvalho - onde um casal relata minuciosamente o
resultado caótico de uma relação de amor que foi ceifada por um ato medonho de
violência por parte do marido. A encenação tem ainda participação especial do
garoto Enrico Bezerra - de 10 anos – que abre a peça interpretando uma
canção.
O Orgulho da Rua Parnell narra 10 anos dessa complicada e
também bela história de amor. Em movimentos delicados – quase paralisados – as
personagens descrevem entre lágrimas, risos, tesão e orgulho tudo o que os
levou à situação atual. São lembranças pesadas e até insanas, mas permeadas de
um amor sem igual. A peça revela o grau de perigo, quase sempre perniciosamente
velado, que existe na paixão e o estrago que isso pode provocar, caso esse
sentimento seja sublimado ou potencializado em substituição às vontades
próprias, fazendo do egoísmo uma arma fatal.
Na
obra de Barry as limitações e o controle das emoções vêm no formato de prosa,
ao mesmo tempo áspera e macia. Joe Brady é
um ladrãozinho insignificante que tem o apelido de “homem-meio-dia”. Ele e sua
esposa Janet vivem na periferia de Dublin, na Irlanda, e apesar da vida
marginalizada mantêm orgulho de seu lifestyle, como ocorre com a maioria
das personagens de Sebastian Barry.
No enredo, a derrota que marcou a
desmoralizante desclassificação da Irlanda na Copa do Mundo de 1990, na Itália,
cobrou seu preço. E parece que para o casal Joe e Janet a cobrança veio com
juros altíssimos. O déficit desses dois foi maior do que o da seleção naquela
noite. Alguns anos se passaram e agora eles revelam a intimidade de um amor
eterno, mas também a ruptura desastrosa do casamento.
É um início de relação pobre, mas
feliz. Ela, mãe aos 16 anos, sofre para criar os três filhos. Ele, apelidado de
“midday man”, vive à sombra e água fresca, roubando carros. Eles vão se
aturando até que o primogênito Billy morre atropelado por um caminhão de
cerveja. Este é talvez o início do fim, não só da relação, mas até mesmo do
amor pela Irlanda. Será? Ao voltar para casa, após a quarta de final dos jogos,
Joe quase mata a esposa, espancando-a. Desfacelada, ela foge para um abrigo de
mulheres, levando as crianças. Apesar da ausência do marido - e pai - ela vai
reconstruindo sua vida, enquanto ele se afunda na heroína, nas prisões e sofre
com a AIDS.
Segundo
o diretor Darson Ribeiro, “O Orgulho Da Rua Parnell se encaixa
perfeitamente no contexto teórico e estético de montagens realizadas por ele,
como a recente Os Guarda-Chuvas, que discutia a degradação da família
culminada com a morte da esposa e mãe, interpretada por Maria Fernanda
Cândido”. Ele argumenta que a peça de Barry traz a simplicidade como aliada,
respeitando o não naturalismo indicado pelo autor, principalmente na relação
interpretativa dos atores. E a direção, então, se apropria da precisão para
contar essa trágica história de amor, brincando com o imagético e criando
camadas no arquétipo das personagens. “A história é narrada como se
‘esfregássemos’ as situações na cara do espectador”, comenta.
Sobre
o tema “violência contra a mulher”, o diretor ressalta os altos índices e o
número de prisões e de mortes que vêm aumentando em vários países, incluindo o
Brasil, culminando no dilaceramento familiar. “A sociedade dá pouca atenção
para o fato. O teatro tem a função de alertá-la. Desta forma, o Conselho
Estadual de Defesa da Mulher, por meio de sua Presidente Rosmary Correa foi o
primeiro a credenciar esse projeto”, comenta Darson.
“Vivemos
numa época em que cada vez mais o homem, ainda que inconscientemente, vem
tentando contar com seus sentidos. É nesse estado que ele, paradoxalmente,
provoca em si atitudes que ultrapassam limites da consciência. Só depois, já
com o ato consumado, é que busca a qualquer custo se livrar das armadilhas de
seu próprio desejo. Assim, empenha-se desmedidamente em valorizar o que era
simples, belo e eficaz: o viver... Quase numa espécie de sublimação”, finaliza
o diretor.
Sebastian
Barry e O Orgulho da Rua Parnell
Sebastian
Barry é dramaturgo inglês, radicado na Irlanda. Depois de ter sido interrogado
sobre a razão pela qual ainda não tinha escrito uma peça tendo como tema a
violência contra a mulher, Barry alegou que vinha insatisfeito com textos sem
embocadura para os atores. Mas, no final de 2004, atendendo ao pedido do
diretor artístico do Dublin Fishamble Theatre Company, Jim Culleton, trouxe ao
papel as lembranças da Copa de 1990, quando vivia em Dublin, na Irlanda, mais
particularmente na Rua Parnell. Segundo a pesquisa do autor, após as partidas
de futebol, principalmente as derrotadas, os maridos ainda sob uma espécie de
“euforia futebolística” chegavam às suas casas e espancavam violentamente suas
esposas. Estas mulheres superlotavam os abrigos femininos.
Assim,
com o texto, Barry tenta encontrar a razão de tamanha violência, que ainda
impera nos dias de hoje, valendo citar os altos índices do Brasil. Com ou sem
futebol. Em 2006, numa de suas aulas de teatro, a inspiração para aprimorar o
texto veio com veemência. E, assim, iniciou uma série de trocas de e-mails com
Culleton, o primeiro diretor da peça, retomando “o quão verdadeiro e preciso,
ao mesmo tempo misterioso, o teatro pode ser”. Ele completa: “quando você vai
ao teatro e vê uma peça qualquer, ainda que simples sobre pais e filhos, ela
vai te fazer avaliar o que a vida é de fato, e o quão curta ela é”. Em 2007,
com a resposta positiva do público e da crítica no Festival de Teatro de
Dublin, Barry teve a certeza de que The Pride Of Parnell Street o havia
reconectado definitivamente com o palco.
Ficha técnica
Texto:
Sebastian Barry
Direção,
tradução, Trilha, cenografia e figurino: Darson Ribeiro
Elenco:
Alexandre Tigano (Joe) e Claudiane Carvalho como (Janet) e participação
especial de Enrico Bezerra
Iluminação:
Rodrigo Souza
Assistência
de direção: Arnaldo D’Avila
Iluminotécnica:
LPL Lighting Designer
Edição/trilha:
Lalá Moreira DJ
Fotografia:
Eliana Souza
Design
gráfico: Iago Sartini
Assessoria
de imprensa: Eliane Verbena
Serviço
Espetáculo:
O Orgulho da Rua Parnell
Reestreia: 2 de setembro. Sábado, às 21h
Temporada: de
2 a 25 de setembro
Horários:
sábados (21h), domingos (às 19h) e segundas (20h)
Ingressos:
R$ 40,00 (meia: 20,00).
Bilheteria:
1h antes das sessões (aceita somente dinheiro).
Classificação:
12 anos. Duração: 75 minutos. Gênero: drama. Capacidade: 60 lugares.
Reservas:
3775-8600 ramal 19 (c/ Paulo) e 98921-4158 (c/ Giovana).
Encontros: Série de encontros com
convidados especiais, mediados pelo diretor Darson Ribeiro e pela advogada
especialista em Justiça Restaurativa Dra. Carla Boin. São quatro encontros que
ocorrem logo após as sessões das segundas-feiras:
4/9 – Henrique Fogaça e Sérgio Roveri
11/9 – Paulo Betti e Eloisa Vitz
18/9 – Aimar Labaki e Malcolm Montgomery
25/9 – Kátia Boulos e Luana Piovani
Assessoria
de imprensa:
VERBENA COMUNICAÇÃO
Eliane Verbena e João Pedro
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