A realização de Música
e Maresia foi motivada pelo desejo de trazer à tona canções que estavam
submersas na trajetória de Dulce Quental.
A intenção primeira era apresentar
uma espécie de inéditos e dispersos
da obra da cantora. No entanto, após o
levantamento de seus registros aparentemente esparsos, observou-se a força de
um projeto de disco, gravado em 1994, marcado pela parceria com Roberto Frejat
e com a participação de músicos como Jaques Morelenbaum, Sérgio Dias, Nilo
Romero, João Rebouças entre outros.
Grande parte desse material foi recuperada
e somou-se a outros três registros ocorridos na mesma década: Púrpura com Luís Carlini do Tutti
Frutti, em 1990, Dia a Dia com Frejat
e Música e Maresia com George Israel,
gravadas em 1991. Unidas ao repertório
parcial do disco inédito, emergiu com limpidez um conjunto de composições de
intensa unidade lírica.
A escrita existencial
de Dulce, embalada por referências fincadas no rock, blues e folk, revelou uma
vez mais a atualidade do seu trabalho. O charme de sua voz e o poema de suas canções,
trazidos novamente à linha do horizonte, revelam as assimetrias e as
circularidades de um percurso particular e atemporal. O
título surgiu no calor de sua emersão; na medida em que a seleção final chegava
à superfície para respirar e se fazer ouvir.
O resultado é a tradução de um
tempo musical que surge em ondas sempre renovadas e se mostra um curioso
híbrido: entre um conjunto de registros inéditos da década de 90 e o vigor
poético de um álbum atual. Música e
Maresia mergulha e flutua num espaço sem âncoras no qual o mais importante
é reencontrar o frescor sonoro de quem sabe tão bem – e com acento pop -
filosofar em português.
Mariano Klatau Filho
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