segunda-feira, 30 de maio de 2016

Música e Maresia, de Dulce Quental, por Mariano Klatau Filho

A realização de Música e Maresia foi motivada pelo desejo de trazer à tona canções que estavam submersas na trajetória de Dulce Quental.

 A intenção primeira era apresentar uma espécie de inéditos e dispersos da obra da cantora.  No entanto, após o levantamento de seus registros aparentemente esparsos, observou-se a força de um projeto de disco, gravado em 1994, marcado pela parceria com Roberto Frejat e com a participação de músicos como Jaques Morelenbaum, Sérgio Dias, Nilo Romero, João Rebouças entre outros. 

Grande parte desse material foi recuperada e somou-se a outros três registros ocorridos na mesma década: Púrpura com Luís Carlini do Tutti Frutti, em 1990, Dia a Dia com Frejat e Música e Maresia com George Israel, gravadas em 1991.  Unidas ao repertório parcial do disco inédito, emergiu com limpidez um conjunto de composições de intensa unidade lírica.

A escrita existencial de Dulce, embalada por referências fincadas no rock, blues e folk, revelou uma vez mais a atualidade do seu trabalho. O charme de sua voz e o poema de suas canções, trazidos novamente à linha do horizonte, revelam as assimetrias e as circularidades de um percurso particular e atemporal. O título surgiu no calor de sua emersão; na medida em que a seleção final chegava à superfície para respirar e se fazer ouvir. 

O resultado é a tradução de um tempo musical que surge em ondas sempre renovadas e se mostra um curioso híbrido: entre um conjunto de registros inéditos da década de 90 e o vigor poético de um álbum atual. Música e Maresia mergulha e flutua num espaço sem âncoras no qual o mais importante é reencontrar o frescor sonoro de quem sabe tão bem – e com acento pop - filosofar em português.


Mariano Klatau Filho

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