segunda-feira, 5 de agosto de 2019

MARYÁKORÉ - Consuelo de Paula lança sétimo álbum: um trabalho autoral desafiador, forte e transcendente


A cantora e compositora Consuelo de Paula lança o sétimo disco da carreira, Maryákoré: uma obra provocadora naquilo que tem de mais feminina, mais negra, mais indígena e mais reveladora de nós mesmos. O título pode ser entendido como uma nova assinatura de Consuelo de Paula: maryá (Maria é o primeiro nome de Consuelo), koré (flecha na língua paresi-haliti, família Aruak), oré (nós em tupi-guarani), yakoré (nome próprio africano).

Além de assinar letras e músicas - tendo apenas duas parcerias, uma com Déa Trancoso e outra com Rafael Altério -, Consuelo é responsável pela direção, pelos arranjos, por todos os violões e por algumas percussões de Maryákoré (caixa do divino, cincerro, unhas de lhama, entre outros). A harmonia entre Consuelo e sua música, sua poesia, sua expressão e a estética apresentada é nítida nesse CD. Ao interpretar letras carregadas de imagens e sensações, ao dedilhar os ritmos que passam por Minas Gerais e pelos sons dos diversos “brasis”, notamos a artista imersa em sua história: ela traz a vida e a arte integrada às canções.

Segundo Consuelo, desde o nome, o trabalho “traduz uma arte guerreira e amorosa, que se alimenta da força dos ventos, das brisas e das tempestades; nasceu entre o dia e a noite, entre a cidade e as matas, entre raios e trovões”. Essas energias, movimentos e gestos de amor e de luta, estão condensados nas músicas, nos arranjos e na voz da cantora e compositora, de modo a reafirmar a fisionomia vigorosa de uma artista inquieta, de expressividade singular e força criativa que se renova a cada trabalho.

O violão é seu instrumento de composição que, nesse trabalho, revela-se também, de maneira ousada e criativa, como parte de seu corpo; e como koré provoca as composições ao mesmo tempo em que comanda e orienta os ritmos que dão originalidade à obra. Consuelo gravou juntos o violão e a voz, ao vivo, no estúdio Dançapé do músico Mário Gil, transpondo para o disco a naturalidade e a energia original das canções. Um desafio que pode ser conferido em cada uma das dez faixas: ora o violão silencia as cordas para servir de tambor, ora se ausenta para deixar fluir a voz à capela; em outros momentos as cordas produzem somente um pizzicato para acompanhar o movimento da melodia; e, às vezes, soa como percussão e instrumento harmônico. Tudo ao mesmo tempo.

Além do violão, um piano e vários instrumentos percussivos compõem a sonoridade de Maryákoré. Consuelo conta com o percussionista Carlinhos Ferreira para produzir paisagens e novos sons com instrumentos criados por ele, como goopchandra com arco, flautas de tubos, rabeca de lata, tambor de mar, gungas de sementes e outros. O piano de Guilherme Ribeiro enriquece esse cenário ao fazer destacar na obra, utilizando suavidade e desenhos sonoros, os contrastes imaginados por Consuelo.

O CD é apresentado em dois movimentos. Da mesma maneira que assistimos a um bom filme, acompanhar o roteiro de Maryákoré é uma experiência surpreendente. “São gestos, ventos que impulsionam ciclos, são lutas internas e externas que foram trazendo o disco e apontando o rumo das canções”, revela Consuelo. Maryákoré é uma guerreira em meio às batalhas cotidianas pela vida e pela arte, é uma obra-síntese da dedicação da artista, de sua fina sensibilidade musical, poética e social. É a voz de Consuelo de Paula frente aos desafios dos nossos tempos.

O primeiro movimento começa com “Ventoyá” (poesia de Déa Trancoso, que Consuelo musicou logo na primeira leitura). Consuelo abre o disco batucando no violão, trazendo um clima de ventos e tempestades que anunciam uma nova estação. Na sequência ouvimos o piano, o violão e a percussão que revelam a nova textura sonora, feita para a canção “Andamento”. Consuelo a compôs quando viu um instrumento feito por índios brasileiros (pau de chuva) e se lembrou de um verso do terno dos marinheiros de sua cidade natal (Pratápolis, MG): “eu vou, eu vou remando contra a maré”. Aqui ela cita também um verso do poeta Paulo Nunes (“o uivo perdido no meio da floresta, passados mil anos, virou esse canto”) e acrescenta: “um grito que a noite me empresta / um fado cigano / um índio, um banto / na voz que me resta / que por uma fresta / vazou nesse canto”. É clara a poesia contrastante da artista que traduz a comoção pelo belo. E o trio de aberturas se faz com a próxima canção: “Chamamento”- em um clima de capoeira que Consuelo realiza com o seu toque de violão-berimbau. A cantora criou um arranjo crescente, um a um os instrumentos entram - flauta de tubos, violão, piano, rabeca de lata (criada por Carlinhos Ferreira), caxixis, unhas de lhama (instrumento indígena e andino), triângulo, pandeiro e caixa do divino. É um grito de guerra, uma convocação: “vai chamar meu povo / o pajé, o capoeira / as senhoras, as meninas / ... / vai chamar o sol mais quente / a lua cheia, a ventania, o trovão fora de hora / o raio e a nossa alegria / ... /”.
 
Consuelo de Paula, por F.Cabral
Com seu violão harmônico e percussivo, Consuelo traz na quarta faixa a canção homônima ao CD, Maryákoré: “Sou a fumaça que sobe na mata na hora mais quente / a fogueira no quintal da minha gente / sou maryákoré, katxerê, marielle da maré / sou a lua, a luta e os nossos olhos brilhando horizontes”. E no final Consuelo cria um outro ambiente no qual cita Tom Jobim (“deixe o índio vivo”) e um ponto de candomblé. A canção “Separação” encerra o primeiro movimento. É a música da ausência, do silêncio. O violão em pizzicato é perfeito para o sentimento que a canção nos causa. “Esse é um poema meu, que redescobri durante o processo do disco, e musiquei”, conta Consuelo.

Abrindo o segundo movimento de Maryákoré, “Caminho de Volta” traz Consuelo cantando à capela, anunciando um recomeço com um canto limpo e forte: “avistei grande búfalo do oriente / travessei o mar / ... / morte não vai me matar / longe do meu lugar”. É um moçambique, ritmo afro-mineiro (compasso em seis por oito) de forte presença nas origens da música de Consuelo de Paula. O álbum segue com “Arvoredo” que traz o clima das paisagens mineiras: “minha casa é madeira, tronco, galho e raiz / minha casa é cordilheira / fiz pra gente ser feliz / ... /”. E aqui ela constrói ‘nossa casa’ ao lado de várias tribos (kariris, puris, guaranis, kiriris). Essa é mais uma composição na qual mostra sua forma particular de respirar, cantar e tocar ritmos, que quando ouvimos já sabemos que se trata de Consuelo de Paula. “Os Movimentos do Amor” é um samba de Consuelo tocado com caixa de congo e berimbau. Traz uma harmonia rica que passa pela sonoridade mineira mais urbana. Na abertura, um poema dela entre notas suaves de piano e berimbau: “o amor é o som do seu nome / o rastro que fica quando você some / a alga verde que o mar come entre brancas ondas / pra depois matar a fome do peixe e do homem”.

A nona faixa, “Remando Contra a Maré” (melodia de Rafael Altério, letrada por Consuelo), conversa com a segunda abertura do CD - “Andamento” - por meio do canto dos congadeiros: “eu vou, eu vou remando contra a maré” (aqui apresentado no final da canção). Impossível não se emocionar com essa bela toada. “Saudação” encerra o segundo movimento do CD e traz, ao mesmo tempo, a despedida e a abertura para um recomeço: “Vou saudar a gira do tempo / ogunhê meu pai / vou cantar despedida / ... /  e com o olhar cruzado no teu / abrirei caminho / noite afora, noite adentro / até que o sol retorne da casa de Lia / com o cheiro da terra que nossos olhos não alcançam / com aromas de um novo dia”. E, conversando com a terceira faixa de abertura do CD - “Chamamento” - Maryákoré termina com o contagiante violão percussivo de Consuelo de Paula, como uma energia que nos visita, como um ciclo que se fecha e se abre no tempo.

Lançamento/CD: Maryákoré
Artista: Consuelo de Paula
Distribuição: Tratore https://www.tratore.com.br. Ano: 2019. Preço sugerido: R$ 35,00
Disponível em todas as plataformas digitais
Teaser:  Maryákoré / Fanpage: M a r y á k o r é


Consuelo de Paula

"Uma viagem sem limites, a que a cantora nos convida e desafia, antes de nos perdermos de vez",
(Julinho Bittencourt - A Tribuna e Revista Fórum).

Elegância e inspiração popular, cuidado e erudição no modo de apresentar sua arte, originalidade e equilíbrio entre a força e a delicadeza, são elementos constantes na obra de Consuelo de Paula, o que lhe tem assegurado admiração e reconhecimento do público e da crítica especializada. Como cantora, já se apresentou no maior teatro da América Latina - Gran Rex, Buenos Aires - e seu trabalho foi destaque na capa do Guia Brasilian Music (publicado no Japão por Massato Asso) que elegeu os 100 melhores álbuns da música brasileira. Como compositora, já foi gravada por nomes como Maria Bethânia (“Sete Trovas”, no CD Encanteria e DVD Amor, Festa e Devoção) e Alaíde Costa (“Bem-me-quer”, no CD Porcelana com Gonzaga Leal) e vários artistas da nova geração têm gravado suas canções.

Consuelo é cantora, compositora, poeta, diretora artística e produtora musical de seus próprios trabalhos e de outros artistas. Samba, Seresta e Baião (1998), Tambor e Flor (2002), Dança das Rosas (2004), seus três primeiros discos, considerados referências pela crítica, estão articulados a partir de uma unidade conceitual que compõem uma trilogia. Em 2008, foi produzida e lançada no Japão a coletânea Patchworck, formada por canções dessa trilogia. Em 2011, Consuelo lançou seu primeiro livro A Poesia dos Descuidos (poesia de Consuelo e cartões de arte de Lúcia Arrais Morales) e também o seu primeiro DVD, Negra, gravado ao vivo no Teatro Polytheama de Jundiaí. O DVD, dirigido por Elias Andreato, traz canções de Consuelo com vários parceiros como Dante Ozzetti, Vicente Barreto e Socorro Lira, além de interpretações personalíssimas de outros autores (Atahualpa Yupanqui, Villa Lobos).  Em 2012, lançou o CD Casa com a orquestra À Base de Corda, de Curitiba; as canções de Consuelo de Paula e Rubens Nogueira receberam arranjos de nomes como Chico Saraiva, Weber Lopes, Luiz Ribeiro, João Egashira e outros. Em 2015, lançou O Tempo E O Branco com show no Auditório Ibirapuera, em São Paulo. O CD foi inspirado livremente pela artista no universo ‘ceciliano’ (Cecília Meireles) e tem Toninho Ferragutti no acordeom e Neymar Dias na viola caipira. Em 2019, ela produziu sua sétima obra, Maryákoré (em fase de lançamento). O título pode ser entendido como uma nova assinatura de Consuelo de Paula: maryá (Maria é seu primeiro nome), koré (flecha na língua paresi-haliti, família aruak), oré (nós, em tupi-guarani), yakoré (nome próprio africano). Nesse trabalho seu próprio violão é o instrumento de composição e de comando dos ritmos, revelando a artista inquieta, sempre em busca do aprofundamento em seu ofício.

Consuelo participou também de importantes CDs e DVDs: Senhor Brasil (cantando ao lado de Rolando Boldrin); Prata da Casa (Sesc SP); Divas do Brasil (Disco de Prata em Portugal que reúne Elis Regina, Maria Bethânia, Céline Imbert, Bebel Gilberto, Zizi Possi e outras); e Cachaça Fina (Spirit of Brazil). Ela também assina o roteiro do CD Velho Chico - Uma Viagem Musical, de Elson Fernandes, no qual interpreta a canção “O Ciúme” (Caetano Veloso), considerada a “gravação definitiva” pelo crítico Mauro Dias, no jornal O Estado de S. Paulo. Entre os projetos que participou, destaque para: Projeto Pixinguinha (Funarte), Elas em Cena, com Cátia de França e Déa Trancoso; Canta Inezita (show e CD), livro Retratos da Música Brasileira (Pierre Yves Refalo sobre os 50 anos da TV Cultura e 14 anos do programa Sr. Brasil, comandado por Rolando Boldrin, Consuelo está entre os 120 artistas que representam esse projeto cultural de grande significado para o país).

Ao longo de sua trajetória, participou de diversos programas: Ensaio (direção Fernando Faro, TV Cultura), Sr. Brasil (de Rolando Boldrin), Talentos (Giovani Souza), A Voz Popular (Luís Antônio Giron), TV Câmara de Brasília, TV Brasil e DiscoTeca (de Teca Lima - Rádio Cultura Brasil), Letra e Música (de Pascoale Cipro Neto), Contacto Brasil (Rádio Jazz – Venezuela), Club Brasil (Juan Trasmonte - Buenos Aires). Já fez shows no Theatro Municipal de São Paulo, Auditório Ibirapuera, Itaú Cultural, CCBB São Paulo (ao lado de Rolando Boldrin, Chico Pinheiro e Heródoto Barbeiro) e Brasília (com artistas da Ilha da Madeira e do Timor Leste), unidades do Sesc SP. Levou também sua música a diversas outras cidades do Brasil (Curitiba, Fortaleza, Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Velho, Rio Branco, Manaus, Palmas, Cuiabá, Campo Grande, Goiânia e outras).

Assessoria de imprensa - VERBENA COMUNICAÇÃO
Eliane Verbena / João Pedro
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