segunda-feira, 13 de setembro de 2021

As Aves da Noite, drama de Hilda Hilst, ganha palco virtual com direção de Hugo Coelho

A encenação, que se passa em Auschwitz, traz os atores Marco Antônio Pâmio, Marat Descartes, Regina Maria Remencius, Rafael Losso, Davi Tápias, Marcos Suchara  e Davi Tostes, além de participação especial de Genezio de Barros.

Com direção de Hugo Coelho, o espetáculo As Aves da Noite, drama teatral escrito por Hilda Hilst, há 52 anos, tem estreia online pelo canal Curadoria Hilst no YouTube, nos dias 5, 6 e 7 de outubro (de terça a quinta, às 20h). Após sessões dos dois primeiros dias, o diretor e elenco participam de bate-papo com o público. Na sequência, a montagem segue em circulação pelos canais virtuais do Teatro Cacilda Becker, Teatro João Caetano, Teatro Paulo Eiró e Teatro Arthur Azevedo, sempre com acesso gratuito.

O enredo de As Aves da Noite parte da história real do padre franciscano Maximilian Kolbe que, em um campo de concentração nazista de Auschwitz, apresentou-se voluntariamente para ocupar o lugar de um judeu sorteado para morrer no chamado “porão da fome” em represália à fuga de um prisioneiro. Segundo o diretor Hugo Coelho, “esta é uma versão contemporânea do texto de Hilda. Não é uma peça sobre Auschwitz, partimos de Auschwitz, pois nosso lugar de fala não é o da reconstituição”.

No porão da fome, a autora coloca em conflito os prisioneiros condenados a morrer na cela: o Padre, o Carcereiro, o Poeta, o Estudante e o Joalheiro, que são visitados pelo Oficial da SS, pela Mulher que limpa os fornos e por Hans, o ajudante da SS. Na montagem, eles aparecem isolados, confinados em gaiolas como um signo, uma alusão à prisão onde a história se passa, mas também à nossa impossibilidade de contato físico, nesse momento de pandemia. “A primeira coisa que os governos totalitários fazem ao prender alguém é destituí-lo da dignidade humana e submetê-lo ao sofrimento extremado, e isso os nazistas fizeram com requintes inimagináveis de crueldade”, comenta o diretor.  Segundo ele, a proposta de concepção de Hilda Hilst é muito clara, colocando as personagens em estado de reflexão sobre suas próprias condições no confinamento. A leitura que a autora faz dos aspectos éticos e humanos passam por questionamentos sobre Deus, sobre o mal e sobre a crueldade.

Nos diálogos estão o embate entre a vida e o que lhes resta, os devaneios entre o desespero e o delírio. O Poeta declama como se morto estivesse, o Estudante sonha com outro tempo, o Joalheiro ainda lembra-se da magnitude das pedras, enquanto a Mulher é humilhada em sua condição inferior. O Carcereiro, mesmo sendo um condenado, ironiza a condição dos demais e os trata com escárnio; o SS os chama de porcos e os agride e menospreza, enquanto o estado de debilidade emerge da vida e da já não existência desses humanos subjugados.

A montagem de As Aves da Noite busca elucidar a humanidade e densidade contida no texto, mergulhando nas possibilidades inesgotáveis do drama para emergir na poética da tragédia. “O discurso racional não dá conta da realidade. A arte tem o papel de traduzir esse discurso como uma segunda realidade que passa pela razão, mas também pelo sensorial e pela emoção”, reflete Hugo Coelho.

Sobre o texto, Hilda Hilst falou: “Com As aves da noite, pretendi ouvir o que foi dito na cela da fome, em Auschwitz. Foi muito difícil. Se os meus personagens parecerem demasiadamente poéticos é porque acredito que só em situações extremas é que a poesia pode eclodir viva, em verdade. Só em situações extremas é que interrogamos esse grande obscuro que é Deus, com voracidade, desespero e poesia”.

O espetáculo foi idealizado pelo produtor Fábio Hilst para ser apresentado presencialmente, mas diante da pandemia da covid-19 precisou ser gravado em vídeo, 80 anos após a morte de Maximilian Kolbe, exatamente no momento em que o mundo vive uma experiência de confinamento. O diretor explica que para colocar a peça na tela, lançou mão da linguagem cinematográfica para trazer ao público a máxima aproximação possível do teatro. “A tela de vídeo não consegue reproduzir o fenômeno do teatro ao vivo, por isso um processo híbrido de criação nos ajuda a conjugar as linguagens. E temos a sorte de reunir um elenco de extrema grandeza; o talento desses atores é um pilar fortíssimo no resultado final do trabalho”.

O cenário, que traduz o cárcere com gaiolas humanas, foi concebido pelo diretor em conjunto David Schumaker. O figurino (de Rosângela Ribeiro) faz alusão aos uniformes de presidiários, reforçando a imagem do encarceramento. A iluminação (de Fran Barros) dá foco a cada personagem, reforça o clima denso e claustrofóbico do ambiente, ajudando na ideia de isolamento, inclusive contribuindo com a impossibilidade do contato físico durante a produção da peça. A trilha sonora (de Ricardo Severo) foi criada em sequências, a partir do material captado e da concepção das cenas. Severo, inclusive, musicou a letra de uma canção original do texto, que remete à tradição judaica, cantada pelas personagens.

Hugo Coelho afirma que o propósito do espetáculo é trazer à cena o discurso artístico poderoso e contundente de Hilda Hilst. “As Aves da Noite nos faz encarar toda a barbárie do poder, do domínio, do autoritarismo, das torturas nos porões das ditaduras. Auschwitz é uma ferida aberta na humanidade para a qual não há palavras que qualifique. Não podemos permitir que a violência e a barbárie sejam normatizadas ao longo da história. Por isso esta obra de extrema qualidade literária é tão importante para o momento em que vivemos”, finaliza o encenador.

Maximilian Kolbe morreu em Auschwitz, em 1941, e foi canonizado em 1982, pelo Papa João Paulo II. São Maximiliano é considerado padroeiro dos jornalistas e radialistas e protetor da liberdade de expressão.

FICHA TÉCNICA - 
Texto: Hilda Hilst (1968). Direção: Hugo Coelho. Elenco: Marco Antônio Pâmio (Pe. Maximilian), Marat Descartes (Carcereiro), Regina Maria Remencius (Mulher), Genezio de Barros (Joalheiro), Rafael Losso (Estudante), Davi Tápias (Poeta) e Marcos Suchara (SS), Davi Tostes (Hans). Direção de produção: Fábio Hilst. Assistência de direção e de produção: Fernanda Lorenzoni. Cenografia: Hugo Coelho e David Schumaker. Figurino e objetos de cena: Rosângela Ribeiro. Desenho de luz: Fran Barros. Música original e desenho de som: Ricardo Severo. Visagismo: Jaqueline Ramirez. Estagiário (elenco): Thiago Piacentini. Cenotecnia: Wagner José de Almeida. Serralheria: José da Hora. Pintura de arte: Alessandra Siqueira. Assistência de cenotecnia: Matheus Tomé. Confecção de figurino: Vilma Hirata e Natalia Hirata. Fotografia e operação de câmera: Richard Soares. Assistência de câmera: Vinícius Câmara. Som direto: Equipe Produções. Montagem: Carla Leoni. Fotos/divulgação: Priscila Prade. Design gráfico: Letícia Andrade. Gerenciamento de mídias sociais: Tiago Vogel. Assessoria de imprensa: Eliane Verbena. Tradução em Libras: Karina Zonzini. Idealização e produção: Três no Tapa Produções Artísticas. Local de gravação: Teatro Arthur Azevedo (SP), em julho de 2021. Apoio cultural: CliniMol Diagnóstico Molecular, Engenho Espaço de Criação e Curadoria Hilst. Realização: Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, por meio do ProAC.

Serviço

Espetáculo: As Aves da Noite
Estreia: dias 5, 6 e 7 de outubro. Terça a quinta, às 20h
Onde: Curadoria Hilst
Exibição onlineYoutube/CuradoriaHilst (não ficará disponível após horário agendado)
Grátis. Duração: 75 min. Gênero: Drama. Classificação: 16 anos.
Haverá bate-papo com o público após sessões dos dias 5 e 6/10.

Temporada online
Sexta e sábado, às 21 | Domingo, às 19h
Com tradução em Libras. 


Dias 15, 16 e 17 de outubro
Teatro Cacilda Becker
Facebook/TeatroCacildaBeckerSP | YouTube/TeatroCacildaBecker 

Dias 22, 23 e 24 de outubro
Teatro João Caetano
Facebook/teatropopularjoaocaetano | YouTube/TeatroJoãoCaetanoSãoPaulo 

Dias 29, 30 e 31 de outubro
Teatro Paulo Eiró
Facebook/teatropauloeiro 

Dias 5, 6 e 7 de novembro
Teatro Arthur Azevedo
Facebook/teatroarthurazevedosp | YouTube/TeatroArthurAzevedoSP

Perfis

Hilda Hilst (1930-2004, Jaú/SP) – Hilda Hilst foi ficcionista, cronista, dramaturga e poeta, considerada uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século XX, com traduções em países como Itália, França, Portugal, Alemanha, Estados Unidos, Canadá e Argentina. Iniciou sua produção literária em São Paulo, com o livro de poemas Presságio (1950). Em 1965, mudou-se para Campinas e iniciou a construção de seu porto de criação literário, a Casa do Sol, espaço que a abrigou durante a realização de 80% de sua obra. Autora de linguagem inovadora, na qual atemporalidade, realidade e imaginação se fundem, a estreia de Hilda na dramaturgia foi em 1967 e, três anos depois, na ficção com Fluxo-floema. Em cerca de 50 anos, ela escreveu mais de 40 títulos, muitos com edições esgotadas, incluindo poesia, teatro e ficção, que lhe renderam prêmios literários importantes no Brasil. Em sua obra nos deparamos com a fragilidade humana que nos surpreende com personagens em profundos questionamentos na viagem de entender e descobrir o essencial. A partir dos anos 2000, a Globo Livros reeditou sua obra completa e, em 2016, os direitos de publicação foram para a Companhia das Letras. Mais recentemente, a L&PM Editores lançou em livro toda a sua dramaturgia. O acervo deixado pela escritora encontra-se na Sala de Memória Casa do Sol e no Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulálio da Unicamp.

Hugo Coelho (diretor) - Formado em filosofia, Hugo é ator e diretor com mais de 45 anos de carreira. Em 2015, comemorou 40 anos de profissão com a direção de Morte Acidental de um Anarquista, de Dario Fó. No teatro, recentemente, dirigiu À Espera, de Sérgio Roveri; adaptou e dirigiu O Monstro, a partir do conto homônimo de Sérgio Sant’Anna, com Genézio de Barros; dirigiu (Selvagens) Homem de Olhos Tristes, de Händl Klaus; as comédias Me Segura Senão eu Pulo, de Luiz Carlos Cardoso, e Hoje Tem Mazzaropi, de Mário Viana; Retratos, de William Douglas Home; Os Jogadores, de Nikolai Gogol; a ópera Treemonisha, de Scott Joplin; O Contrabaixo, de Patrick Suskind; Meu Primo Walter, de Pedro Haidar; e Quem Casa quer Casa, de Martins Penna. Foi assistente de direção na montagem de Morte Acidental de um Anarquista, com direção de Antonio Abujamra e protagonizada por Antonio Fagundes. Na TV, dirigiu os programas Jornal do Estudante, Brasil Corpo e Alma e o Telecurso Segundo Grau na TV Globo; a novela Cortina de Vidro, de Walcyr Carrasco, no SBT; e o programa de entrevistas Terceiro Milênio, na Rede Mulher e na Rede Vida. 

Assessoria de imprensa: VERBENA COMUNICAÇÃO
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