terça-feira, 7 de outubro de 2025

Grupo 59 estreia musical original inédito no Sesc Consolação, livremente inspirado no álbum Refazenda, de Gilberto Gil

Em um momento histórico do Brasil, o Grupo 59 de Teatro entra em cena com nova montagem para o público adulto que reverencia o disco icônico, gravado há 50 anos, por um dos maiores artistas brasileiros.

Foto de Gustavo Mendes
O Sesc Consolação apresenta Jeca – Um Povo Ainda Há de Vingar, musical original livremente inspirado no disco Refazenda, lançado por Gilberto Gil em 1975, que completa 50 anos. A montagem do Grupo 59 de Teatro - dirigida por Kleber Montanheiro e escrita pelo dramaturgo Lucas Moura da Conceição e pelo poeta Marcelino Freire - estreia no Teatro Anchieta no dia 24 de outubro, sexta, às 20 horas, onde fica em cartaz até 23 de novembro, de quinta a sábado, às 20h, e aos domingos e feriados (15 e 20/11), às 18h, incluindo sessão vespertina no dia 5/11, às 15h.

A montagem de Jeca acompanha a jornada de emancipação de um homem do povo a partir da conexão com suas raízes. É nessa viagem de retorno ao seu lugar de infância - feita por quem saiu para se encontrar e agora, mais velho, regressa para se reconhecer - que o espectador acompanha a trajetória de um Brasil plural e contraditório, em busca de um sentido de vida profundamente vinculado à terra.

A dramaturgia é estruturada em uma espiral, em uma metáfora cíclica das estações da vida, da natureza e da música. O enredo é construído a partir de personagens, paisagens e situações retiradas das letras das canções do álbum, que ganham vida no palco.

É assim que, como na música Meditação, Jeca Total volta no tempo em quatro fases emblemáticas de sua vida. A cada retorno às origens ele reencontra seu Pai e Mãe, a mulher que sempre amou, o velho abacateiro da cidade e os ecos de um Brasil profundo: de feira, forró, rendeiras e baião; de pequi, de umbu, de jangadas e balão. Mas também de pau de arara, de arado, de retirantes; de fazendas, torres eólicas e violências constantes.

O texto é menos uma história linear e mais um rito de travessia, em que o protagonista - alegoria coletiva e coral de um povo - se (re)encontra e se revê por meio de sua memória afetiva, da música e da cultura popular brasileira. Para então, consciente de sua história, reencantar (em) um outro tipo de gente; replantar o passado como semente para um novo povo, uma cultura nova, uma refazenda.

Segundo o dramaturgo Lucas Moura da Conceição, o espetáculo bebe na essência desse primeiro álbum da Trilogia Re em que “tudo se trata de tecnologia sertaneja; da caminha dura que fortalece a coluna e o espírito para os garimpos da alma rumo à sede de uma terra que impulsiona o novo; da banalidade profunda contida nos retiros silenciosos das paisagens áridas ao festejo da alegria de um povo resiliente (Ê povo, ê!). Nessa celebração da tecnologia ancestral sertaneja, Jeca Total é seu mito alegórico e Refazenda sua ação revolucionária e seu hino”.

Com 10 atores e quatro músicos em cena, Jeca – Um Povo Ainda Há de Vingar vem reafirmar o trabalho de pesquisa e investigação da identidade cultural do Brasil, desenvolvido pelo Grupo 59 de Teatro, há mais de 14 anos, que encanta e surpreende pela linguagem singular, que imprime originalidade e identidade em cada realização. O espetáculo é resultado do projeto Ré: a (re)visão de um país, contemplado pela 42ª Edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo, da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa.

Encenação

A encenação de Jeca – Um Povo Ainda Há de Vingar utiliza recursos cênicos que traduzem essa narrativa espiralar e lírica. No centro do palco, um praticável circular alude ao abacateiro (parceiro solitário de Jeca, inspirado na canção Refazenda, do álbum homônimo), marco simbólico e temporal da peça; é a ele, seu “velho amigo”, que Jeca recorre como cúmplice em sua trajetória. Em volta do abacateiro, módulos de madeira mimetizam caixas de feira, onde se vendem frutas, discos e também prosas, rezas e fé.

A cenografia ambienta e também participa ativamente da dramaturgia, construindo um espaço que se transforma com o tempo da cena. Elementos naturais e rústicos remetem às estações da vida e ao ciclo da natureza, reforçando a metáfora cíclica presente no texto. A memória e a mitologia pessoal do Jeca ganham forma nos objetos simbólicos, que surgem e desaparecem como lembranças. A iluminação acompanha o fluxo emocional e temporal da narrativa, criando atmosferas ora oníricas, ora densas. A transição entre passado e presente é marcada por mudanças espaciais, como se o tempo fosse maleável.

Para o diretor artístico e encenador, Kleber Montanheiro, a encenação aposta na poesia visual para mergulhar o espectador em uma experiência sensorial. “Figurinos e adereços carregam signos culturais que ampliam a dimensão coletiva do personagem. O espaço cênico torna-se um território de passagem, memória e resistência. Assim, a cenografia e a encenação se entrelaçam para revelar o Jeca como símbolo de um povo em constante transformação.”

Assim, Jeca é, sobretudo, uma reza encenada, uma celebração das raízes, das contradições e da força de um povo que, apesar da precariedade e do esquecimento, insiste em florescer. É um teatro de encantamento, onde o real e o mitológico, o cômico e o trágico, o íntimo e o político se entrelaçam com beleza e crítica.

Para Kleber Montanheiro, Jeca – Um Povo Ainda Há de Vingar dialoga diretamente com um momento muito especial da cena contemporânea do teatro musical. “Esse gênero atravessou muitas transformações desde o teatro de revista no final do século XIX, depois o Arena nas décadas de 60 e 70 com forte teor social e político, até a explosão dos musicais influenciados pelo modelo da Broadway nos anos 2000, seguidos da ênfase em peças biográficas dos últimos anos. Se houve avanços (e houve muitos, sobretudo ligados à profissionalização dos performers), por outro lado se observa uma certa escassez de dramaturgias musicais autorais brasileiras. E é essa a qualidade e a autenticidade que uma dramaturgia como a de Jeca, ancorada em pesquisa e brasilidade, simboliza e representa.” 

Musical

O disco Refazenda é composto pelas canções Ela · Tenho Sede · Refazenda · Pai e Mãe · Jeca Total · Essa É Pra Tocar No Rádio · Ê, Povo, Ê · Retiros Espirituais · O Rouxinol · Lamento Sertanejo · Meditação. No espetáculo, todas são cantadas e tocadas ao vivo pelo Grupo 59 e banda, que também apresentam canções originais e autorais, compostas em diálogo com as faixas do álbum.

Outras músicas como Back in Bahia e Lugar Comum (do próprio Gilberto Gil), assim como Dezessete Légua e Meia e A Morte do Vaqueiro (de Luiz Gonzaga) e ainda Eu Só Quero Um Xodó (de Anastácia e Dominguinhos), compõem a trilha do musical, totalizando 20 canções performadas em cena. 

Sob direção musical de Marco França - que também assina os arranjos, além da composição musical das canções originais - todo esse cancioneiro serve a uma dramaturgia musical que compreende a musicalidade não apenas como canto e atmosfera sonora, mas sim como narrativa diretamente implicada na ação dramática e na representação teatral.

É assim que a canção Tenho Sede, por exemplo, é a trilha sedenta por uma noite de amor; que Lamento Sertanejo ganha músculo e dor na boca e no suor de um pai retirante; que a musa de Ela relembra que o canto carrega uma sina; que Pai e Mãe testemunha uma ferida na afetividade masculina; e que o pacto do ser humano com a natureza retratado em Refazenda é um voltar à origem, onde não existe cisão - somos todos do mato, “como o pato e o leão”.

Já as canções de outros autores reverenciam a fonte primeira da formação musical de Gilberto Gil (a exemplo de Luiz Gonzaga, rei do baião) e reiteram o imaginário que evoca o disco. Eu Só Quero Um Xodó, gravada pela primeira vez por Gil num compacto de 1973 (dois anos antes de Refazenda), já manifestava a estética do artista baiano em fundir o pop rock internacional com sua raiz sertaneja. É por isso que Jeca também reverencia um dos discos de maior influência do movimento tropicalista: Sargent Pepper’s (The Beatles), de 1967.

É nessa rede dramatúrgica que entrelaça personagens descritos nas letras das canções do álbum com contextos musicais e político-históricos das décadas de 60/70, que espectadores poderão relacionar livremente a trajetória de Jeca Total e a própria biografia do cantor e ex-Ministro da Cultura Gilberto Gil. Sem compromissos com narrativas documentais ou verídicas, no enredo fictício o protagonista Jeca é um cantador que, nascido no sertão, ganha o mundo com sua voz e poesia, mas não sem sofrer as dores do exílio e da emancipação.

Em uma de suas voltas às origens, rumo ao seu projeto de replantar um sentido coletivo, o personagem Jeca explica: “ter ido foi necessário para voltar” - menção não só à música Back in Bahia como à aspiração estética tropicalista manifestada na Trilogia Re: de plasmar um projeto de País de natureza múltipla, diversa e conectada. Produzidos posteriormente à temporada de Gil em Londres, cada um dos três álbuns compartilha uma característica em comum: são um olhar para si mesmo e para o Brasil vistos pela ótica de quem se externalizou.

Esta estreia é a primeira de uma série de três peças que bebem na fonte da Trilogia Re, composta também pelos álbuns Refavela (1977) e Realce (1979), um retrato musicado de um Brasil rural, negro e cintilante.

Sinopse

O musical original Jeca – Um povo ainda há de vingar é livremente inspirado no disco Refazenda, composto por Gilberto Gil em 1975 e que completa 50 anos. No espetáculo, as personagens, paisagens e situações descritas nas letras das canções do álbum ganham vida no palco. Como em uma meditação, Jeca relembra diferentes vezes em que regressou às suas raízes e à sua terra natal, encontrando seu pai e sua mãe, o amor da sua vida e o velho abacateiro da cidade. Com Grupo 59 de Teatro, dramaturgia de Lucas Moura da Conceição com poemas cênicos de Marcelino Freire, direção de Kleber Montanheiro e direção musical de Marco França, Jeca é a jornada de um homem do povo a partir de sua conexão com suas origens. Um Brasil plural em busca de um sentido de vida profundamente vinculado à terra.

Ficha técnica

Com: Grupo 59 De Teatro.
Elenco: Carolina Faria, Felipe Gomes Moreira, Fernando Vicente, Gabriel Bodstein, Gabriela Cerqueira, Jane Fernandes, Mirian Blanco, Nilcéia Vicente, Nathália Ernesto, Thomas Huszar. Direção: Kleber Montanheiro. Dramaturgia: Lucas Moura da Conceição, com poemas cênicos de Marcelino Freire. Música original, arranjos e direção musical: Marco França. Desenho de luz: Gabriele Souza. Desenho de cenário e figurinos: Kleber Montanheiro. Desenho de som e operação de som: Nicholas Rabinovitch. Assistência de direção e direção residente: Ana Elisa Mattos. Assistência de direção musical, pianista ensaiador, supervisão vocal e copista: Daniel Carvalho. Preparação vocal: Rafa Miranda. Canções originais: músicas de Marco França e letras de Lucas Moura da Conceição, Marcelino Freire, Mirian Blanco e Thomas Huszar. Músicos: Bruno Menegatti, Dicinho Areias, Lua Bernardo, Bruna Duarte, Juliano Veríssimo. Microfonista: Camila Cruz. Operação de luz: Zerlô. Desenho de movimento e coreografias: Gabriel Malo. Assistência em figurinos: Acrides. Dramaturgismo: Mirian Blanco e Thomas Huszar. Cenotécnica: Evas Carretero. Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação. Mídias sociais: Tamb Conteúdo Estratégico. Ilustrações: Nathália Ernesto. Fotos de divulgação: Gustavo Mendes. Direção de produção: Gabriel Bodstein. Produção executiva, administrativa e financeira: Núcleo 59 de Produção – Carolina Faria, Gabriel Bodstein, Gabriela Cerqueira, Jane Fernandes e Mirian Blanco. Assistência de produção: Ana de David. Idealização de projeto, coordenação de pesquisa e produção artística: Mirian Blanco. Idealização e produção: 59 Produções Artísticas e Culturais. Realização: Sesc São Paulo. 

Serviço 

Espetáculo: Jeca - Um Povo Ainda Há de Vingar 
Estreia: 24 de outubro - Sexta, às 20h
Temporada: 24 de outubro a 23 de novembro de 2025
Horários: Quinta à sábado, às 20h, e domingos e feriados, às 18h
Sessão vespertina: dia 05/11, quarta, às 15h.
Sessão com acessibilidade em Libras: dia 13/11, quinta, às 20h.
Ingressos: R$ 70,00 (inteira), R$ 35,00 (meia) e R$ 21,00 (credencial sesc)
Vendas: centralrelacionamento.sescsp.org.br e App Credencial SP (a partir do dia 14/10, terça, às 17h) e presencialmente nas bilheterias das unidades do Sesc São Paulo (a partir do dia 15/10, quarta, às 17h).
Classificação: Não recomendado para menores de 14 anos. Duração: 120 min. Gênero: Teatro musical

Sesc Consolação - Teatro Anchieta

Rua Dr. Vila Nova, 245 - Vila Buarque. São Paulo/SP.

Tel.: (11) 3234-3000 - Capacidade: 280 lugares. Acessibilidade: Sim.

Na rede: @sescconsolacao - Site: www.sescsp.org.br/consolacao 

Grupo 59 na rede: @Grupo59deTeatro

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Informações à imprensa – Espetáculo
VERBENA Assessoria | Eliane Verbena
Tel.: (11) 99373-0181 – verbena@verbena.com.br

Assessoria de imprensa – Sesc Consolação
Andréa Oliveira
Tel.: (11) 3234-3061 – andrea.rodrigues@sescs.org.br
imprensa.consolacao@sescsp.org.br

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