segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigo

Peça-documentário da Cia. Provisório-Definitivo, dirigida por Nelson Baskerville, foi livremente inspirada em diários de guerra.

A Cia. Provisório-Definitivo estreia As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigo no dia 25 de fevereiro, segunda-feira, no Sesc Consolação, às 21 horas. O espetáculo – cuja direção tem a assinatura de Nelson Baskerville - foi concebido a partir da livre adaptação de relatos contidos no livro Diários de Guerra - Vozes Roubadas (de Zlata Filipovic e Melanie Challenger) e no Diário de Anne Frank.

Sem obedecer a uma narrativa linear e cronológica, a peça utiliza trechos de 12 diários escritos por crianças e jovens durante conflitos de guerra. A narrativa fragmentada retrata passagens ocorridas desde Primeira Guerra Mundial até a mais recente invasão do Iraque, passando pelo Vietnã, pela Intifada palestina e por vários momentos da Segunda Guerra Mundial; como é o caso da jovem russa que ingressou no front, em 1940, atrás de um grande amor, ou da menina de Cingapura que narrou agruras de sua vida durante esta guerra. O diretor explica que “o olhar puro, sem interferência sobre a guerra, não mascara ideologicamente a verdade do que acontece”.  

As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigonasceu de um processo colaborativo entre os atores-criadores da Cia. Provisório-Definitivo (Carlos Baldim, Paula Arruda, Pedro Guilherme e Thaís Medeiros) e Nelson Baskerville. Esta peça-documentário (termo que o grupo adotou por considerar mais apropriado) faz recortes teatrais dos relatos das crianças e jovens – com direito a licenças poéticas, onde o rigor histórico cede lugar à liberdade de criação. “Esta foi a melhor forma que encontramos para contar as histórias, mais do que uma cópia fiel dos fatos históricos, nos interessou a leitura artística que poderíamos fazer sobre esses fatos”, argumenta Pedro Guilherme. Além dos textos inspirados nos diários, outros foram escritos pelos próprios atores e pelo diretor.

O Brasil não ficou de fora. O diretor e o grupo decidiram inserir também um personagem da guerra do tráfico na periferia paulistana. Neste caso, o jovem (Washington) teve sua história retratada no documentário Jardim Ângela, de Evaldo Mocarzel. “Era importante trazer esse tema da guerra também para os trópicos; é importante questionarmos sobre qual é a guerra de cada um”, comenta o diretor. 

A montagem tem linguagem épica e, para reforçar o quadro cênico, iluminação não convencional (concebida por Aline Santini e Nelson Baskerville), bonecos cenográficos confeccionados especialmente para a peça e projeções em vídeos (cenas de filmes, reportagens de guerra, imagens abstratas e cenas com os atores criadas com o auxílio de Lucas Bêda). A cenografia (de Cynthia Sansevero e Baskerville) estabelece uma atmosfera onírica que busca o distanciamento da crueza da realidade do que está sendo dito. “O cenário é lúdico para expor uma camada de ilusão sobre a verdade”, explica Baskerville, que completa: “composta por caixas que vão se alternando formas e funções, em um ambiente tomado pela neve e fumaça, a cenografia exibe um quadro pouco nítido, garantindo uma encenação não apelativa”.

Ao espectador cabe refletir e “encontrar” respostas para as perguntas desses jovens, vítimas dos conflitos de guerra. Para a Cia. Provisório-Definitivo, “a busca do entendimento sem maniqueísmos ou manipulações é um importante instrumento da arte e da educação”. Os atores ainda vêem o panorama das guerras - refletido pelos olhos de crianças - como um importante ponto de reflexão sobre o mundo atual: ainda existem utopias transformadoras? Temos como interferir na marcha real da história? Estas são algumas das indagações propostas em As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigo. “O espectador, colocado dentro desta‘caixa de guerra’, é levado pensar sobre os conflitos. Quem causa a guerra somos nós, pela posse, pela propriedade. Queremos algo que é do outro e vamos tomar à força”. Afirma o diretor.  
Nelson Baskerville cita Tennessee Williams: “Sou o contrário de um mágico. Ele faz a mentira parecer verdade e eu faço a verdade parecer mentira”. Ele diz que esta frase permeia toda a encenação. “É importante esta nevoa de fumaça para nos aproximar das histórias, porque tudo é verdadeiro”.

Ao dar identidade a anônimos, em meio a grandes conflitos do século XX e XXI, a peça exibe um profundo panorama documental dessas questões.“Muito além de eleger heróis ou vilões, parece-nos necessário indagar sobre o nosso papel nos processos evolutivos da sociedade”, refletem os membros da companhia. Segundo eles, as histórias apresentadas não falam simplesmente de crianças, mas de seres humanos que, independente da idade, origem ou crença, protagonizam histórias tão próximas e ao mesmo tempo distantes, tão coerentes e absurdas, tão belas e apavorantes. É nessa trilha de antagonismos que transita a encenação de As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigo.

O projeto nasceu de uma antiga paixão de Paula Arruda pela vida da Anne Frank. No final de 2007, Pedro Guilherme lhe mostrou outras histórias de crianças e jovens que também escreveram diários em tempos de guerra. A pesquisa teve início em 2009 e, no ano seguinte, a ideia foi compartilhada com os outros integrantes da Cia. Provisório-Definitivo, Carlos Baldim e Thaís Medeiros. Decidiram contar essas histórias e, desde então, o grupo vem trabalhando não só na montagem como na viabilização do espetáculo.“Esses anos também foram importantes para o amadurecimento do projeto”, explica Paula.

Esse espetáculo foi contemplado pelo 4º Concurso de Montagem Teatral do Centro da Cultura Judaica e ProAC ICMS (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo).

Espetáculo: As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigo
Dramaturgia: Carlos Baldim, Paula Arruda, Pedro Guilherme e Thaís Medeiros e Nelson Baskerville
Direção: Nelson Baskerville
Elenco: Carlos Baldim, Paula Arruda, Pedro Guilherme e Thaís Medeiros
Assistência de direção: Sandra Modesto
Preparação corporal: Neca Zarvos
Cenário: Cynthia Sansevero e Nelson Baskerville
Figurino: Marichilene Artisevskis
Iluminação: Aline Santini e Nelson Baskerville
Sonoplastia: Gregory Slivar
Projeto audiovisual: Lucas Bêda
Visagismo: Emi Sato
Assistência de visagismo: Valeria Gomes
Adereços: PalhAssada Ateliê (Karina Diglio e Marcos Tadeu Diglio)
Costureiras: Judite Gerônimo de Lima e Desolina
Operação de vídeo: Samuel Gambini
Operação de som: Vinícius Andrade
Design gráfico: Benoit Jeay
Assistência de produção: Maria Medeiros
Registro em vídeo: Edson Kumasaka
Contabilidade: Paula Romano e Raquel Chaves
Coordenação geral: Paula Arruda
Produção executiva: Cia. Provisório-Definitivo
Realização: Sesc São Paulo

Estreia: dia 25 de fevereiro - segunda-feira – às 21 horas
Sesc Consolação - Espaço Beta (3º andar) - www.sescsp.org.br
Rua Dr. Vila Nova, 245 – Tel: (11) 3234-3000
Temporada: segundas e terças-feiras – às 21 horas – Até 19/03/2013
Ingressos : R$ 10,00 (inteira); R$ 5,00 (usuário matriculado e dependentes, +60 anos, professores da rede pública e estudantes); R$ 2,50 (trabalhador no comercio e serviços matriculado e dependentes). Dração: 60 min - Classificação: 14 anos - Gênero: Drama

Nelson Baskerville

Ganhador, em 2012, dos prêmios Shell e da Cooperativa Paulista de Teatro como melhor diretor, prêmios APCA e Governador do Estado (Júri Popular) de melhor espetáculo para Luis Antonio-Gabriela, Nelson Baskerville é ator, diretor e autor teatral além de artista plástico. Formado pela EAD (Escola de Arte Dramática da Universidade de são Paulo) em 1983, Nelson trabalhou como ator e assistente de direção de Fauzi Arap durante os anos de 1980, quando integrou a memorável montagem de Uma Lição Longe Demais, de Zeno Wilde.

Em maio de 2011, recebeu o convite para dirigir As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigo. Um ano depois, começaram os primeiros encontros para a criação da dramaturgia. Enquanto isso, em 2012 ele estreou 17XNelson – Se Não é Eterno Não é Amore 7 Gatinhos, de Nelson Rodrigues, no Teatro de Arena, além de Brincando com Fogo (no Sesc Pompéia) e Os Credores (no Sesc Ipiranga), ambos de Strindberg, e Córtex (no CCBB). Também dirigiu o espetáculo Auto da Independência, no parque da Independência.

Cia. Provisório-Definitivo

Criada em 2001 por formandos em Artes Cênicas na ECA-USP, a Cia. Provisório-Definitivo comemora 12 anos de história. O grupo sempre trabalha com um diretor convidado a cada trabalho, o que possibilita aprendizado e ampliação do “olhar teatral”. Em 2011, a companhia foi contemplada pela 18º Edição da Lei de Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo para o projeto Cia. Provisório-Definitivo 10 anos.

As Estrelas Cadentes do Meu Céu São Feitas de Bombas do Inimigo é o décimo espetáculo do grupo, que montou também: Gangue (de Pedro Guilherme e direção de Mauro Baptista Vedia, 2012); Pelos Ares (de Pedro Guilherme e direção de Lavínia Pannunzio, 2011-10); Família Dragão (de Pedro Guilherme e direção de Soledad Yunge; 2011-2009); Tape (de Stephen Belber e direção de Mário Bortolotto, 2009-08); De Onde O Sol Se Esconde –Histórias do Japão (de Paula Arruda e Pedro Guilherme, 2011-07); Todo Bicho Tudo Pode Sendo o Bicho Que Se É (de Pedro Guilherme e direção de Hugo Possolo e Henrique Stroeter, 2011-06); O Colecionador (de John Fowles e direção de Marcos Loureiro, 2006-05); Bulgóia, Repenique & Tropeço (de Hugo Possolo e direção de Cris Lozano, 2004-03); Verdades, Canalhas (de Mário Viana e direção de Hugo Possolo, 2002-01).

Cia. premiada, o espetáculo Pelos Ares venceu o Prêmio de Melhor Peça Infantil no Cultura Inglesa Festival (2010); Gangueteve quatro indicações ao Prêmio FEMSA 2012 (Melhor Espetáculo Infanto-Juvenil, Ator Coadjuvante - Marco Barretho, Melhor Atriz Coadjuvante - Paula Arruda e Melhor Autor - Pedro Guilherme) e Família Dragão foi indicada ao Prêmio FEMSA 2009 de Melhor Ator Coadjuvante - Carlos Morelli. Já Todo Bicho Tudo Pode Sendo o Bicho Que Se É ganhou o Prêmio Funarte Petrobrás para Montagem de Textos Inéditos e indicação ao Prêmio FEMSA 2007 de Melhor Autor - Pedro Guilherme.

O primeiro trabalho do grupo - Verdades, Canalhas- recebeu vários prêmios em festivais: 11º Mostra Nascente de Talentos – TUSP; 16º Festivale de São José dos Campos (prêmios para sonoplastia, iluminação, ator revelação - Pedro Guilherme, atriz revelação - Paula Arruda e espetáculo; indicações para cenário e direção); 8º Festival de Teatro do Rio UVA (prêmios para ator - Pedro Guilherme, atriz - Paula Arruda, diretor e espetáculo; indicações para iluminação, figurino e ator - Daniel Dottori); 4º Mostra de Teatro de Jales (prêmios para cenário, sonoplastia e espetáculo; indicações para iluminação, figurino, direção, atriz - Paula Arruda, ator - Daniel Dottori e Pedro Guilherme); VII Festival Nacional Curta Teatro / SESI Sorocaba (prêmios para iluminação, ator - Pedro Guilherme, 2º melhor espetáculo e indicação para sonoplastia).

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