quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Relação complexa entre Van Gogh e Gauguin aparece de forma poética em ficção de Thelma Guedes com direção de Roberto Lage

Montagem protagonizada por Alex Morenno e Augusto Zacchi estreia no dia 22 de abril, no Teatro Sérgio Cardoso.
           
De outubro a dezembro de 1888, na pequena Arles, na França, dá-se um encontro explosivo entre aqueles que viriam a ser considerados, futuramente, como dois dos maiores artistas da história da humanidade: o holandês Vincent Van Gogh (1853-1890) e o francês Paul Gauguin (1848-1903).

Escrito por Thelma Guedes para o diretor Roberto Lage, o espetáculo Van Gogh por Gauguin é uma ficção na qual Gauguin, em um agonizante delírio, vive sob o peso de sua responsabilidade em relação ao final de vida trágico do amigo Vincent. A peça, que estreia no dia 22 de abril, segunda (às 20h), na Sala Paschoal Carlos Magno do Teatro Sérgio Cardoso, personifica de forma poética, simbólica e onírica os conflitos e a admiração incondicional entre os pintores.

Como não se trata de um espetáculo biográfico, mas de um encontro ficcional entre os artistas - vividos por Alex Morenno e Augusto Zacchi, respectivamente -, a direção priorizou o trabalho de interpretação para criar um universo cênico que remeta aos padrões cromáticos dos dois pintores, levando o espectador a refletir sobre o que levou essa grande amizade a um trágico fim. Tendo como apoio a pesquisa biográfica que traz à luz, sobretudo, os pensamentos artísticos divergentes de ambos, a peça privilegia questões humanas com a força de seu alcance na vida dos criadores.

Em um febril período de apenas dois meses, em que eles dividem a pequena Casa Amarela, em Arles, na isolada região rural francesa, vivendo e pintando juntos, as profundas diferenças de temperamento e de visão artística provocam embates, muitas vezes violentos, culminando no famoso e terrível desfecho no qual, após uma forte discussão, Paul decide partir de volta a Paris e Vincent reage, intempestivamente, decepando a própria orelha.

Em 1890, o atormentado Van Gogh tenta suicídio com um tiro na barriga, que o levaria à morte no dia seguinte. Gauguin, por sua vez, em 1891, depois de uma bem sucedida exposição, realiza o sonho de ir morar no Taiti. Lá, produz vigorosamente até que, abatido por uma sífilis não diagnosticada, vai sendo excluído da sociedade e abandonado pelos seus. É sobre esse episódio mal sucedido que se pauta o espetáculo Van Gogh por Gauguin. “A intenção é trazer para cena um Van Gogh espectral, fruto do inconsciente delirante de Gauguin que, sofrendo com as consequências da sífilis, acredita estar morrendo”, comenta o diretor Roberto Lage.

Por meio de um exercício dramatúrgico de imaginação, a encenação reinventa o momento em que o efeito delirante do arsênico sobre o pintor o leva a acreditar que Van Gogh está ao seu lado, acompanhado o instante de sua morte e, ao mesmo tempo, forçando-o a se lembrar dos momentos que passaram juntos. Em um ambiente decadente, deteriorado e sujo, ele sente fome e muita dor. E seus delírios colocam o público frente às diferenças entre eles, tanto no modo de ver a vida, de agir e de fazer arte, como na evidente admiração de um pelo outro - assumida por Van Gogh, mas dissimulada por Gauguin, numa mistura de inveja com incômoda admiração.

A culpa de Gauguin em relação ao amigo morto, que fora por ele magoado, abandonado e esquecido, e cuja presença e memória servem como acusação e sentença de morte, revela sua incapacidade de comunicação e afeto com aquele que tinha tanta coisa dele mesmo, mas que também seria o seu oposto, a sua sombra. Vive uma culpa sobre aquele que lhe causou, por fim, tantos sentimentos intensos, profundos e contraditórios, como o amor e a repulsa.

Van Gogh foi considerado um artista maldito, louco; um homem incompreendido pelo seu tempo. Frente a todo o tipo de infortúnio - como miséria, fome, frio e solidão - ele conseguiu deixar um legado de pinturas e desenhos não compreendidos na época em que viveu, mas aclamado após a sua morte. Os vários episódios de sua vida construíram um artista ávido por um amor que nunca foi correspondido, fosse ele a prima que não o quis, o amigo Paul Gauguin por quem tinha profunda admiração ou mesmo a fé que durante muito tempo buscou, mas acabou se rendendo à arte como forma de expressão.

Do ponto de vista realista, a encenação se passa no atelier deteriorado de Paul, nas Ilhas Marquesas. O tratamento cênico busca, pelas nuances da luz (de Kleber Montanheiro), explorando a paleta de cores dos pintores, uma estética posterior ao impressionismo de Van Gogh ou ao pós-impressionismo de Gauguin. O cenário realista (de Paula De Paoli, também figurinista) é ambientado com moldura, cavaletes e tintas; estruturas de quadros e telas aparecem em outra dimensão, sem revelar as supostas obras. Os figurinos recebem o mesmo tratamento realista, sendo o de Van Gogh um pouco mais lúdico.

A ideia desse projeto partiu do desejo de Alex Morenno, Roberto Lage e da assistente de direção Joanah Rosa em retratá-lo no palco. “Acho que Van Gogh me escolheu”, confessa o ator Alex Morenno. “Já estive muito ruivo e as pessoas me associavam a ele. Isso despertou em mim o interesse por sua vida e obra”, completa. E resolveram, então, dar corpo a esse desejo, sendo Thelma Guedes convidada para criar o texto. “Van Gogh por Gauguin é um trabalho puramente emocional. Não passa pela ‘tese’ sociopolítica que sempre defendi no palco”, revela o diretor. Já Alex conta que sempre se interessou em falar sobre loucura, solidão e inquietação artística. “Quando penso em Van Gogh, essas três coisas me vêm à cabeça, assuntos tão pertinentes em tempos tão difíceis”, ele reflete.

Augusto Zacchi conta que não conhecia muito da história de seu personagem. Para ele, a entrega de Gauguin a uma busca incondicional pela arte é o que pauta sua composição. “Meu olhar é para o humano desse indivíduo que foi buscar sua razão de vida e pagou o preço. Ambos foram forjados na vida em função da busca, da obsessão e da paixão”, comenta o ator. E Roberto Lage finaliza: “essa é só mais uma história sobre os pintores, uma defesa do ‘homoternurismo’ (termo de Mário Prata), pois creio que o preconceito social da época seja responsável pela dificuldade que eles tiveram de se relacionarem em sociedade”.

Ficha técnica

Texto: Thelma Guedes
Direção: Roberto Lage
Diretora assistente: Joanah Rosa
Elenco: Alex Morenno e Augusto Zacchi
Cenografia e figurino: Paula De Paoli
Iluminação: Kleber Montanheiro
Trilha sonora: Aline Meyer
Projeto gráfico: Paula De Paoli
Fotos e vídeos: Leekyung Kim
Produção executiva: Regilson Feliciano
Operação de luz: Matheus Macedo
Operação de som: Anderson Franco
Direção de produção e administração: Maurício Inafre
Assessoria de imprensa: Verbena Comunicação
Realização: Roberto Lage Produções Artísticas

Serviço

Espetáculo: Van Gogh por Gauguin
Estreia: 22 de abril. Segunda, às 20h
Temporada: 22/04 a 10/06 – Sábado 18h30, domingo 19h e Segunda 20h.
Ingressos: R$ 50,00 (meia entrada: R$ 25,00)
Gênero: Drama. Duração: 75 minutos. Classificação: 14 anos

Teatro Sérgio Cardoso
Sala Paschoal Carlos Magno (144 lugares)
Rua Rui Barbosa, 153 – Bela Vista. São Paulo/SP.
Tel: (11) 5061-1132

PERFIS

Roberto Lage - O diretor paulista – também fundador, junto com Celso Frateschi, do Ágora, Centro para o Desenvolvimento Teatral, iniciou a carreira como ator, em 1962, e começou a dirigir, em 1969. Seu primeiro sucesso foi Mrozek (1974), reunião dos textos Strip-Tease e Em Alto Mar, de Slawomir Mrozek. À Flor da PeleI (1976), de Consuelo de Castro, rendeu-lhe o Prêmio Molière de Melhor Direção. Noa anos 80 e 90, dirigiu dezenas de peças, entre elas Mãos ao Alto, São Paulo! (de Paulo Goulart,1980), Besame Mucho (de Mario Prata, 1982), Escola de Mulheres (de Molière, 1984), Tanzi - Uma Mulher no Ringue (de Clara Luckhan)e O Gosto da Própria Carne (de Albert Innaurato), estas duas, de 1985, foram premiadas e o consolidaram como encenador, O Colecionador Playwrighting (de John Fowles) e Meu Tio, o Lauaretê (de Guimarães Rosa, por Walter George Durst, que deu a Cacá Carvalho o Prêmio Molière), Dores de Amores (de Léo Lama), Decifra-me ou Devoro-te (de José Rubens Siqueira e Renato Borghi), Peer Gynt (sucesso, de Henrik Ibsen), Os Amores Abandonados de Jennifer R. (de Randy Buck, livre versão da biografia de Fassbinder), Diana (monólogo de Celso Frateschi), Para Tão Longo Amor (de Maria Adelaide Amaral, em Portugal e no Brasil), Beijo no Asfalto (de Nelson Rodrigues) e A Ópera do Malandro (de Chico Buarque), Anchieta 400 Anos (performance de Arrigo Barnabé), Cheque ou Mate (de Ricardo Semler, com Raul Cortez), Anjo na Contramão (de Gianfrancesco Guarnieri), Clips e Clops (Prêmio da APCA de Melhor Diretor), Foi Ela Que Começou... (Prêmio Apetesp de Melhor Direção). Nos anos 2000, destaque, entre outras para A Mancha Roxa (de Plínio Marcos), A Mandrágora (de Maquiavel), Orgia (de Pier Paolo Pasolini, no CCBB-SP), textos para o projeto Royal Court Theatre (centro britânico de intercâmbio com o Teatro Popular do Sesi), Um Merlin (com Antonio Petrin, por Luís Alberto de Abreu, também em Portugal), Os Justos (inédita no Brasil, de A. Camus), Sonho de um Homem Ridículo (de Dostoïevski, com Celso Frateschi), Ricardo III (de Shakespeare, com C. Frateschi e Renata Zhaneta), Pente Fino (de Christopher Welzenbach, espetáculo encenado no banheiro do hotel Renaissance em SP), A Flauta Mágica (de Vladimir Capela), Don de Juan de Moliére (com Jairo Mattos), Motel Paradiso (de Juca de Oliveira), Dois Irmãos (de Milton Hatoum), O Bailado de Flavio de Carvalho (Sesi-SP) e Teatro Para Pássaros (do argentino Daniel Veronese). A partir de 2010, vieram: Zorro (de Gipsy King), Dos Escombros de Pagu (homenagem ao centenário de Patricia Galvão), Carmen (ópera de G. Bizet), Francesca (de Luís Alberto de Abreu), Quarto 77 (de Leonardo Alckmin), Tic Tic Tati (textos de Tatiana Belinky e músicas de Helio Ziskind), Coração Bandoleiro (de José Antônio de Souza), Toda Donzela Tem Um Pai que É Uma Fera (de Gláucio Gill), Não Existe Mulher Difícil (de André Aguiar Marques, adaptação de Lucio Mauro Filho, com André Bankoff), Cartola, o Musical (dramaturgia de Artur Xexéo), Diálogo Noturno com um Homem Vil (do suíço Friedrich Dürrenma).

Thelma Guedes -  É escritora, dramaturga e autora/roteirista de televisão. Thelma lançou, entre outros, os livros Cidadela Ardente (Ateliê, 1997), Pagu: literatura e revolução (ensaios, Ateliê/Nankin, 2003), Atrás do Osso (poesia, Nankin, 2007) e O Outro Escritor (contos, Nankin, 2009). Autora da Rede Globo de Televisão, desde 1997, assinou em parceria com Duca Rachid as novelas: Órfãos da Terra (atualmente), O ProfetaCama de GatoCordel Encantado Joia Rara, esta última vencedora do Emmy International Awards, em 2014. Assina também a dramaturgia do musical Garota de Ipanema - O Amor é Bossa, que estreou em 2016, inaugurando o Teatro Riachuelo (Rio de janeiro), além dos espetáculos atuais: Damas de Shakespeare e Van Gogh por Gauguin.

Augusto Zacchi - No teatro, seus espetáculos mais recentes são Gata em Telhado de Zinco Quente (Tennessee Williams, dir. Eduardo Tolentino), Chuva Constante (de o Keith Huff, dir. Paulo de Moraes), As Viúvas (de Artur Azevedo, dir. Sandra Corveloni), Anti-Nelson Rodrigues (de Nelson Rodrigues, dir. Eduardo Tolentino) e Senhorita Júlia (de August Strinberg, dir. de Eduardo Tolentino). Em 2018, Zacchi dirigiu o espetáculo Quando as Máquinas Param, de Plínio Marcos. Outros destaques como ator são: Mente Mentira (de Sam Sheppard, dir. Paulo de Moraes), 19 Centímetros (de Lauro Cesar Muniz, dir. Bárbara Bruno), Os Especialistas (de Adriano Shaplin, dir. de Barbara Bruno), A Moratória (de Jorge Andrade, dir. de Eduardo Tolentino), Bent (de Martin Sherman, dir. Luis Furlaneto), Indecência Clamorosa (de Moises Kaufman, dir. Jackeline Laurence), Laranja Mecânica (de Anthony Burges, dir. Paulo Afonso de Lima), Trainspotting (de Harry Gibson, dir. Luis Furlanetto), Fausto Gastrônomo (de Richard Scheschner, dir. Luis Furlaneto - indicado ao Prêmio Ibeu de Melhor Ator) e Um Homem Chamado Shakespeare (texto e dir. Bárbara Heliodora). Na televisão, participou das novelas Rock Story, Malhação e Lara com Z (Rede Globo), Apocalípse, José do Egito, Máscaras, Poder Paralelo e Luz do Sol (Rede Record) e Maria Esperança (SBT). No cinema, atuou em Paredes de Papel (2018/19, dir. Marco Schiavon), Mentiras Sinceras (2011, de Pedro Asberg), Era uma Vez... (2008, dir. Breno Silveira), Olga (2004, de Jayme Monjardim) e Foliar Brasil (2003, de Carolina Paiva).

Alex Morenno - Formou-se em 2002 no INDAC, curso Técnico Profissionalizante para Atores, depois integrou o Núcleo Experimental do Teatro Popular do Sesi, tendo oficinas com Juliana Carneiro da Cunha, Cacá Carvalho e Denise Stoklos, entre outros. Na televisão, atualmente, integra o elenco da novela Órfãos da Terra (personagem Robson, direção de Gustavo Fernandez) e participou também de Novo Mundo (2017, personagem Francisco Castro, direção de Vinicius Coimbra) e Cama de Gato (2010, personagem Luck, direção de Amora Mautner), produções da Rede Globo. No teatro, participou dos seguintes trabalhos: Menino Maluquinho - O Musical (2014, direção Daniela Stirbulov), Mambo Italiano (2010, direção Marcos Caruso), Advocacia Segundo Os Irmãos Marx (2009, direção João Fonseca), A Flauta Mágica (2008, musical, direção Roberto Lage), B. Encontros Com Caio Fernando Abreu (2007, direção Francisco Medeiros) e outros. Atuou também como coreógrafo e preparador corporal do musical Cartola - O Mundo É Um Moinho (direção Roberto Lage) e foi apresentador do Canal Nexo Proibído, do Youtube.


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Eliane Verbena / João Pedro

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